[Este texto é de autoria do Pe. Dwight Longenecker. Foi vertido à língua portuguesa por nossa equipe.]
Vou-lhe contar uma visão que tive.
Fico hesitante em chamá-la de visão porque posso soar como uma espécie de místico mariano. Provavelmente, é melhor chamá-la de “imagem mental” ou “imagem onírica”.
Seja como for, ela veio à minha mente quando estava num estado em que não sabia ao certo se estava rezando ou cochilando. Mas isso realmente não importa. O que importa é o conteúdo e o contexto da visão.
Ela ocorreu em novembro de 1989, quando o mundo estava entusiasmado com a queda do Muro de Berlim. Para aqueles que não se lembram, o Muro de Berlim foi a barreira construída ao longo da cidade de Berlim para separar a parte comunista da cidade (oriental) da parte democrática e livre (ocidental).
O comunismo desmoronava por toda a Europa, e o meu sonho-visão foi muito simples. Vi um urso pardo gigante e pesado a certa distância, movendo-se rapidamente e de forma desajeitada. Era aterrorizante, tinha olhos vermelhos e uma boca cheia de baba com dentes afiados e sangue escorrendo. Dirigiu-se a um muro que desmoronava e escalou nele. Então entendi que o urso — a Besta do Oriente — era o espírito do ateísmo e que, enquanto o comunismo desmoronava, essa besta avançava em direção a um novo território: do Oriente para o Ocidente.
Ao longo dos últimos 25 anos, refleti muito sobre esse sonho-visão, e tenho a impressão de que minha visão foi profética.
Nesse período, vimos no Ocidente aquilo que só poderia ser descrito como a nossa própria forma de ateísmo violento e virulento.
Ao longo desses anos, apareceu não somente o “neoateísmo”. Muitas outras formas implícitas de ateísmo (ainda mais potentes e venenosas por causa de sua aparente invisibilidade) têm-nos assombrado.
O que vimos nesses 25 anos? Pergunte a si mesmo. Vimos um declínio ainda mais rápido em direção ao relativismo niilista. Mas o que é o relativismo senão uma forma de ateísmo? Por que o relativismo é uma forma de ateísmo? Porque nega a existência de um sentido ou verdade objetiva. Não é possível ser relativista e teísta ao mesmo tempo, pois quem crê em Deus deve crer na Verdade objetiva. Quem não crê na Verdade objetiva é ateu, ainda que não saiba disso.
E esse relativismo também contaminou a Igreja de Cristo.
Eis uma segunda forma de ateísmo implícito: religiões orientais. As técnicas de meditação orientais levam seus seguidores para o hinduísmo ou o budismo, que em suas formas “superiores” ensinam que não existe um Deus pessoal e objetivo. Em vez disso, a verdadeira “iluminação” é a compreensão de que nada existe, e a paz é a aceitação de que não há nada fora de nós mesmos.
E essas religiões também contaminaram a Igreja de Cristo.
Eis uma terceira forma de ateísmo implícito: o materialismo, uma filosofia que não se reduz apenas ao “vá ao shopping e gaste à vontade”. A prodigalidade e a cobiça são apenas os sintomas exteriores de uma filosofia que ensina que as coisas materiais não somente causam satisfação, mas são as únicas coisas que fazem isso, e são as únicas coisas que satisfazem porque são as únicas coisas que existem realmente.
O materialismo diz: “Só existe aquilo que vemos.” Não há vida após a morte, anjos, demônios, céu nem inferno. O que os materialistas não conseguem fazer é levar seu argumento às últimas consequências, pois eles também devem crer que Deus não existe. O materialismo é a posição padrão em nossas escolas, faculdades e universidades laicas. É a posição padrão da maioria dos nossos jovens hoje. Portanto, eles são ateus ainda que não o saibam.
Essa cobiça, que tem raízes no materialismo, também contaminou a Igreja de Cristo. Também assumiu nova forma na Igreja porque muitos que se dizem cristãos se preocupam mais com a salvação do planeta do que com a salvação da própria alma. Importam-se mais com boas ações do que com a fé em Cristo e se preocupam mais com política e com a criação de uma utopia na terra do que com a espera do lar celestial.
Isso também é uma forma de ateísmo, e ela se veste com as batinas de cardeais.
Uma quarta forma de ateísmo implícito é o cientificismo. Trata-se de outra forma de materialismo que ensina que a única forma legítima de conhecimento é a que obtemos por meio do método científico e que fornece evidências físicas. Esta é uma forma de ateísmo.
Isso também contaminou a Igreja de Cristo por meio daqueles que rejeitam o sobrenatural, desprezam a oração e negam a realidade dos milagres.
Uma quinta forma de ateísmo é o utilitarismo, segundo o qual as escolhas morais devem ser feitas com base na conveniência, na eficiência e na economia. Nada é superior ao resultado final, e isso também é uma forma de ateísmo.
Isso também contaminou a Igreja de Cristo, nos casos em que paróquias, escolas e dioceses são gerenciadas como negócios que sempre se preocupam com o resultado final, com financiamento mundano e com burocracias cada vez maiores.
Uma sexta forma de ateísmo é o historicismo, segundo o qual a história não possui uma narrativa abrangente, sendo apenas uma sucessão de eventos aleatórios e de disputas de poder. É uma forma de ateísmo porque diz, essencialmente, que não pode haver história porque não há um contador de histórias. Não pode existir um plano divino porque Deus não existe.
Isso também contaminou a Igreja de Cristo, porque há membros da hierarquia que creem que devem dirigir o curso da história por meio do envolvimento com a política, em vez de confiar na divina Providência e viver pela fé, e não pela visão.
A sétima forma de ateísmo em nossa sociedade é o sentimentalismo: a realização de escolhas morais principalmente a partir dos sentimentos, emoções e reações subjetivas. Por que isso é uma forma de ateísmo? Porque nega qualquer conjunto objetivo de regras para guiar o comportamento. Só existem instintos, impulsos, emoções e reações porque não há um conjunto de regras e não pode haver, porque não existe alguém que estabeleça essas regras. Isso também é o urso escravizador do ateísmo, ainda que tenha a aparência de um credo agradável e adorável.
Isso também contaminou a Igreja, na medida em que as regras que governam a moral muitas vezes são substituídas por uma ética sentimentalista e casuística.
A forma final de ateísmo dominante em nossa sociedade é o individualismo, não aquele que propõe o desenvolvimento de uma personalidade forte e de uma mente criativa, mas o que põe o ego no centro do universo porque não existe um Deus para ocupar o “meu” lugar.
Isso também contaminou a Igreja de Cristo, na medida em que muitos cristãos se determinam a seguir em tudo apenas a sua própria vontade e justificam sua rebelião com o discurso da “autoexpressão”.
Por que afirmo que esse ateísmo que se moveu rapidamente do Oriente para o Ocidente é sanguinário e cruel? Porque ele é tão cruel e assassino quanto o comunismo no Oriente. Por que milhões de nascituros são assassinados? Porque somos tiranos tão utilitaristas e materialistas quanto os comunistas. Por que vendemos membros dos corpos de bebês abortados? Porque é algo lucrativo e porque somos ateus.
Por que fazemos guerras e nossos jovens são enviados para a realização de matanças? Por que há uma epidemia de vício em drogas, de suicídio e de crimes? Porque somos ateus e niilistas insanos que creem que não há nada além daquilo que vemos. E, se realmente não há, por que não, então, rumar para o nada?
E qual é a resposta para essa ausência? A transcendência.
O que preencherá esse vazio? Deus.
O que iluminará nossa escuridão? Somente a Luz do Mundo.
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