Nota do editor: L. J. e Joan Helferty acreditavam que tinham os melhores motivos para usar a contracepção em seu matrimônio católico. Mas então tudo começou a desmoronar. A história deles, publicada com exclusividade por LifeSiteNews, é um dos melhores testemunhos sobre a cegueira espiritual causada pelo pecado da contracepção e sobre a misericórdia de Deus que acompanha o verdadeiro arrependimento.

Domingo, 10 de dezembro de 2000. Cerca de 7h da manhã. Uma manhã de domingo fria e nublada. Fui o primeiro a acordar e a me levantar da cama. Era algo normal. Antes de chamar todos, eu costumava alimentar a fornalha e esquentar a sede da fazenda. A Missa começava às 9 da manhã. Havia tempo suficiente para nos prepararmos. Tínhamos onze filhos, nove em casa e dois mais velhos, que estavam na faculdade.    

Eu dormira naquela manhã. Havíamos instalado uma nova fornalha naquele final de semana, algo que me deixara exausto após a finalização do trabalho na noite de sábado. Quando desci até a cozinha a caminho da fornalha, vi sobre a mesa um bilhete escrito à mão, no lugar onde nosso filho Matthew, de 15 anos, costumava sentar-se durante as refeições em família.

Curioso, li a primeira linha.

— “Quando estiver lendo isto, já estarei morto. Ei, é o Matthew. Encontrará meu corpo na área da frente…”.

Fiquei paralisado. “Não é possível”, pensei. Tudo ia bem para esse garoto: brilhante, atencioso, cheio de amigos…. “Ok, isso deve ser uma piada ou um experimento terrível, porque simplesmente não é possível”.

Subi as escadas em direção ao quarto dele. A cama estava cuidadosamente arrumada. Ninguém havia dormido nela. Acordei minha esposa. Pedi que fizesse uma chamada de emergência e corri até o lado de fora da casa gritando o nome dele na esperança de que ele estaria sentado em algum lugar, incapaz de concretizar seu plano. Era tarde demais — apenas por alguns minutos —, pois ele já havia usado um rifle de caça num ato decisivo. 

Quando voltei para casa com a notícia devastadora, minha esposa Joan fez as chamadas telefônicas necessárias, enquanto eu fiquei sentado nos degraus da cozinha sem crer no que acontecia. 

Quando ela desligou o telefone, veio até mim e disse: “Foi por causa da ligadura de trompas”.

Não consegui acreditar que ela estava dizendo aquilo.

Depois do nascimento do nosso 11.º filho, Joan realizou de forma secreta a cirurgia de ligadura de trompas. Não contamos para ninguém porque sempre havíamos declarado nossa adesão à doutrina da Igreja Católica sobre o uso dos ciclos naturais para limitar o tamanho da família, caso houvesse motivo grave para fazê-lo.   

Aparentemente, não tínhamos a disciplina necessária para que isso funcionasse conosco; além disso, achávamos que já tinha chegado o ponto em que deveríamos parar de ter filhos. Portanto, escolhemos a ligadura de trompas. Nós dois nos confessamos depois disso, mas o sacramento não tem efeito se não houver contrição e a intenção de reparar o dano causado.

Joan e L.J. Helferty segurando uma foto de seu falecido filho Matthew.

O cuidado e a generosidade do nosso pároco, da polícia, dos outros paroquianos, dos amigos e de nosso agente funerário ficaram evidentes assim que a terrível notícia se espalhou, e também nos ajudou a permanecer firmes nos dias, semanas e meses seguintes. É impossível descrever o impacto de um suicídio em cada membro da família, particularmente nos pais e nos irmãos mais próximos. Felizmente, em sua generosidade, Deus nos deu várias consolações, permitindo que tivéssemos confiança na salvação eterna de Matthew.   

Depois do velório e do funeral, fiquei determinado a tentar entender por que havíamos perdido nosso filho de uma forma tão terrível.

Finalmente, ficou evidente que Matthew mergulhara numa profunda depressão, além de escutar em seu aparelho de som músicas que agravariam ainda mais sua depressão e apresentariam a solução definitiva. Também vinha jogando jogos eletrônicos violentos e um jogo de cartas chamado Magic: The Gathering com alguns amigos. Mas… essa explicação estava incompleta. Muitos jovens escutam músicas terríveis, jogam aqueles jogos e têm vidas depressivas, mas não cometem suicídio. Matthew pertencia a uma família amorosa. Só percebemos que ele estava deprimido quando olhamos para trás e enxergamos os sinais óbvios. 

À medida que os meses passaram, Joan continuou a insistir que a ligadura de trompas era a explicação para a perda de Matthew.

Eu não estava convencido.

Para resolver o assunto, decidimos visitar nosso antigo diretor espiritual e amigo da família, Pe. Jim Duffy, do Apostolado Madonna House. Ele nos telefonara no dia da morte de Matthew para oferecer orações e manifestar condolências. Estava perplexo com o ocorrido. Eu disse que aceitaria que a ligadura era a explicação, se assim dissesse o padre. Era o Domingo da Misericórdia do ano de 2001. Quando chegamos à Madonna House em Toronto — uma viagem de 4h partindo de nossa casa —, Pe. Jim celebrou Missa na capela deles por nossas intenções e, em seguida, fomos a um restaurante almoçar. 

Quando Joan lhe disse que havia feito ligadura de trompas, ele parou de comer e seu semblante mudou.

Explicou com seriedade que nossa experiência era simplesmente uma nova versão das histórias do Antigo Testamento. Quando os judeus se desviavam dos caminhos de Deus e rejeitavam seus ensinamentos, experimentavam o sofrimento e a perda. Quando se davam conta de seus erros e se reaproximavam de Deus, suas vidas eram restauradas.     

Fiquei arrasado.

Porém, eu sabia que Pe. Duffy, um sacerdote piedoso, santo e com décadas de experiência, não nos enganaria. Durante o trajeto para casa, decidimos agendar a reversão da ligadura de trompas e confessar nosso pecado novamente, desta vez com verdadeira contrição.

Hoje, percebemos que, quando fizemos a ligadura de trompas, tiramos de nossa família muitas graças de Deus, além de sua orientação e proteção. Estávamos cegos. Matthew foi quem mais sofreu, e nem sequer havíamos percebido. Estamos convencidos de que, se estivéssemos vivendo segundo a ordem de Deus, as tumultuosas circunstâncias e eventos que levaram Matthew a mergulhar com tanta rapidez numa depressão tão profunda não teriam ocorrido, ou teríamos percebido a gravidade de sua situação, podendo assim salvá-lo. 

Desde a reversão e a confissão daquele pecado, nossa família tem sido tremendamente abençoada. Há ainda muitos desafios, mas a busca de uma vida segundo a ordem de Deus nos dá proteção espiritual e paz de espírito, coisas que valorizamos afetuosamente.

Padre Stephen Helferty, o sexto dos 11 filhos do casal L. J. e Joan Helferty

Depois da reversão da ligadura de trompas, esperávamos ter mais filhos, mas todas as gestações terminaram em aborto espontâneo. Aceitamos que há consequências naturais quando agimos contra a Lei natural. Dezenove anos depois, muitos dos nossos filhos estão casados, e atualmente temos quase 20 netos. Um dos nossos filhos é sacerdote, e uma das nossas filhas é religiosa. Todas essas coisas fazem Joan e eu muito felizes.  

As consequências do nosso pecado foram graves, mas Deus restaurou nossas vidas de forma milagrosa. Deo gratias

Esperamos que, ao compartilhar nossa experiência, ajudemos outras pessoas a evitar os pecados relacionados à contracepção e à esterilização artificiais. Aprendemos que os caminhos de Deus são os melhores, por mais difíceis que possam parecer. Por favor, sigam os ensinamentos da Igreja Católica sobre paternidade e família contidos na Humanae Vitae. 10 de dezembro de 2000, data da morte de nosso filho, foi o pior dia de nossas vidas. O Domingo da Misericórdia de 2001 foi, de fato, o dia em que nossas vidas foram restauradas.

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