O Doutor Angélico, ao falar do sacramento da Eucaristia, ensina que este é o maior de todos os sacramentos, porque, “ao passo que nos outros sacramentos está contida uma certa virtude instrumental participada de Cristo”, “nele está contido o próprio Cristo substancialmente” (STh III 65 3c.). Por esse motivo, a Igreja sempre prestou a este sacramento o culto de adoração, reconhecendo que, debaixo do véu das espécies eucarísticas, está escondido, realmente, ninguém menos que o próprio Deus.

Ao falar de Comunhão eucarística, então, é preciso reconhecer com coragem o primado de Deus. Na celebração da Santa Missa, quando os fiéis se aproximam da mesa eucarística, devem ter em mente que aquele ato é apenas o sinal visível de algo que já acontece invisivelmente em sua alma, em estado de amizade com o Senhor. São João Paulo II ensina que “a integridade dos vínculos invisíveis é um dever moral concreto do cristão que queira participar plenamente na Eucaristia, comungando o corpo e o sangue de Cristo”. E acrescenta: “Não basta a fé; mas é preciso perseverar na graça santificante e na caridade” (Ecclesia de Eucharistia, 36).

Por isso o Apóstolo já advertia aos fiéis da comunidade de Corinto que se examinassem antes de aproximar-se da Eucaristia, pois “quem comer o pão ou beber do cálice do Senhor indignamente será réu do corpo e do sangue do Senhor” (1Cor 11, 27). Na mesma linha, São João Crisóstomo levantava a sua voz, pedindo aos fiéis que não se abeirassem “desta mesa sagrada com uma consciência manchada e corrompida”: “De fato, uma tal aproximação nunca poderá chamar-se comunhão, ainda que toquemos mil vezes o corpo do Senhor, mas condenação, tormento e redobrados castigos” (Homilias sobre Isaías VI 3: PG 56, 139). O Concílio de Trento corroborou este costume da Igreja, afirmando que “é preciso um exame para que ninguém, por mais contrito que ele considere, se aproxime da sagrada Eucaristia sem antes confessar sacramentalmente, caso esteja consciente de algum pecado mortal” (s. XIII, Decretum de Eucharistia, c. 7).

Hoje, no entanto, algumas pessoas têm, senão negado esse ensinamento, pelo menos obscurecido sua importância. Tratam a Eucaristia com irreverência e desrespeito, distribuem a Comunhão como quem distribui qualquer coisa no meio da rua e querem porque querem que todas as pessoas comunguem, mesmo que nem todas estejam verdadeiramente em comunhão com Cristo, isto é, em estado de graça.

Não se quer, com isso, negar o grande dom que é participar da Comunhão frequente, nem criar uma “casta” dentro da Igreja, transformando-a numa “alfândega”. Como escreveu o Papa Francisco, “a Eucaristia… não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos” (Evangelii Gaudium, 47). E ainda Santo Ambrósio: “Devo recebê-lo sempre, para que sempre perdoe os meus pecados. Se peco continuamente, devo ter sempre um remédio” (De Sacramentis IV 6, 28: PL 16, 446). A cada pessoa, porém, deve ser dado o remédio adequado à sua enfermidade, como indica o Aquinate:

Não é qualquer remédio que convém a qualquer doente. Assim, o remédio para fortificar os que já não têm febre, faria mal aos febricitantes. Assim também o batismo e a penitência são remédios purificativos, para tirar a febre do pecado. Ao passo que este sacramento [a Eucaristia] é um remédio fortificante, que não deve ser dado senão aos que se livraram do pecado (STh III 80 4, ad 2).

Por isso, São João Paulo II sublinha a íntima união entre o sacramento da Eucaristia e o sacramento da Penitência: “Se a Eucaristia torna presente o sacrifício redentor da cruz, perpetuando-o sacramentalmente, isso significa que deriva dela uma contínua exigência de conversão” (Ecclesia de Eucharistia, 37).

Aqueles que se encontram em estado de graça, mas feridos por pecados veniais e defeitos pessoais, no caminho da purificação, não devem deixar de recorrer ao sacramento da Eucaristia, tomando-o como “remédio fortificante", para que os ajudem na luta contra o mal e na própria santificação.

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