O texto a seguir, escrito para crianças, foi extraído do livro Sixty Saints for Boys [“Sessenta Santos para Meninos”, sem tradução portuguesa], de Joan Windham. Conta a história de São Martinho de Tours, o primeiro confessor da história da Igreja a ser honrado pela liturgia. Sua memória é celebrada no dia 11 de novembro. A mesma autora escreveu Sixty Saints for Girls. Ambos os livros estão publicados nos Estados Unidos pela Angelico Press.


Era uma vez um rapaz chamado Martinho. Seu pai era um soldado romano reformado, a mãe era muito bondosa e eram todos pagãos.

Um dia, quando Martinho voltava da escola, viu um monte de gente entrando num grande edifício.

“O que será que estão fazendo?”, pensou. “Talvez seja um concerto ou algo parecido. Acho que também vou entrar e ver.”

Então ele entrou e sentou-se num banco perto da porta e esperou para ver o que aconteceria.

Ora, na verdade, não se tratava de nenhum concerto, mas de uma igreja cristã, e todos estavam lá para as Vésperas, e enquanto Martin observava e escutava, ficou muito interessado. Ficou tão interessado que, no final, foi perguntar ao padre do que se tratava.

Depois que o padre lhe explicou, Martinho ficou tão mais interessado que disse que queria ser cristão.

“Bem”, disse o padre, “não posso fazer de você um cristão agora porque ainda não é adulto, e seus pais podem não gostar”.

“Pedirei a eles”, disse Martinho. Ele pegou sua bolsa e foi para casa.

“Mamãe”, disse ele enquanto tomava chá, “sabe de uma coisa?”

“O que é, querido?”, disse a mãe, pondo mais açúcar na xícara.

“Gostaria de me tornar cristão. A senhora se importaria?”

“Acho que não me importo, querido”, disse a mãe, “contanto que saiba o que está fazendo”.

“Oh, que bom!”, disse Martinho alegremente; “receava que a senhora e o papai se opusessem”.

“Não me oponho propriamente”, disse o pai, “mas você é muito novo, Martinho. Quero que espere até ficar mais velho, e então poderá fazê-lo se ainda quiser”.

“Está bem”, disse Martinho, “mas posso ir à igreja cristã e aprender sobre ela enquanto isso?”

“Oh, sim”, disse o pai, “pode fazer isso”.

Assim fez Martinho, e em pouco tempo já sabia tanto quanto os cristãos, mas ele mesmo ainda não era cristão.

Quando saiu da escola, Martinho juntou-se ao antigo regimento do seu pai no exército romano, e o imperador romano chamava-se Juliano.

Num dia muito frio, Martinho cavalgava com o seu regimento. Todos tremiam de frio e, embora os cavalos estivessem cansados, os cavaleiros os faziam trotar, porque o vaivém para cima e para baixo mantinha os animais aquecidos. O vento era cortante e os soldados cobriam-se com suas grossas capas, mas o que eles queriam mesmo era aquecer os dedos dos pés diante de uma boa fogueira.

De repente, Martinho viu, um pouco mais à frente, um homem pobre e maltrapilho encostado numa árvore para se proteger do vento cortante. Vasculhou a bolsa. Não tinha nada! (Ele mesmo não era muito rico.)

“Ei, rapazes!”, gritou para os soldados da frente. “Alguém tem dinheiro para dar àquele pobre homem junto à árvore? Pago vocês quando voltarmos para casa, se algum de vocês lhe der alguma coisa!”

“Não seja tolo, Martinho!”, respondeu um deles. “Com o que quer gastar o seu dinheiro? Você também não tem muito! O homem vai morrer em breve com este vento cortante. Seria um desperdício terrível dar-lhe qualquer coisa!”

Entretanto, Martinho já tinha se aproximado do pobre e maltrapilho.

“O que posso dar a ele?”, pensou. “Ele deve estar morrendo de frio!”

Foi então que teve uma ideia…

Tirou o seu manto grosso e cortou-o ao meio com a sua espada afiada!

“São Martinho de Tours dividindo seu manto com um mendigo”, por Antoon van Dyck.

“Aqui está, senhor!”, disse ele ao homem pobre e maltrapilho. “Isto vai mantê-lo aquecido. Você não é muito grande. Por isso, este pedaço do manto vai cobri-lo muito bem. Não posso oferecer-lhe o manto inteiro porque, se eu pegasse uma pneumonia (uma doença que provoca tosse), o meu comandante ficaria desprovido de efetivo!” E Martinho esporeou o seu cavalo a fim de alcançar os outros, que o ridicularizaram porque, disseram, ele ficava ridículo só com metade do manto. O que, sem dúvida, era verdade.

Naquela noite, Martinho teve um sonho.

Sonhou que Nosso Senhor viera até ele acompanhado de muitos anjos. O mais engraçado é que Nosso Senhor estava usando um manto pela metade! Enquanto Martinho esperava para ver o que aconteceria a seguir, Nosso Senhor virou-se para os anjos e disse:

“Sabeis onde consegui este meio manto? Ganhei-o de Martinho, que o deu a mim mesmo não sendo cristão!”

Quando Martinho acordou de manhã, ocorreu-lhe o seguinte pensamento:

“É melhor eu me apressar e ser batizado logo! Quero ser um verdadeiro cristão para Nosso Senhor!” Por isso, procurou um padre e foi imediatamente batizado.

Passado algum tempo, achou melhor tornar-se sacerdote e servir as pessoas a ser soldado e matá-las. Por isso, dirigiu-se ao Imperador Juliano e disse-lhe:

“Por favor, posso deixar de ser soldado? Já o sou há vários anos!”

Ora, Juliano era um apóstata, o que significa que tinha sido educado como cristão, mas que, quando chegou à idade adulta, abandonou Nosso Senhor e tornou-se pagão, adorando os deuses romanos. Isso, evidentemente, é uma coisa terrível. Os pagãos que nascem pagãos não podem fazer nada para evitar isso, e não são de modo algum maus por causa disso. Mas os cristãos que se transformam em pagãos cometem um dos piores pecados que existem. Porque conheceram Nosso Senhor, zombaram dele e o abandonaram. E isso é uma coisa má e assustadora. Além de ter se tornado pagão, Juliano costumava perseguir os cristãos, matando-os e prendendo-os.

(Se alguém que está lendo este livro se chama Juliano, não deve se importar nem um pouco em ser parecido com o Imperador Juliano. Porque há um santo muito simpático chamado Juliano que construiu um hospital à beira de um rio e depois tornou-se um barqueiro para transportar os doentes numa embarcação. E, certa vez, um dos doentes era Nosso Senhor, que se fazia passar por leproso, o que foi uma bela surpresa para Juliano. Por isso, não se preocupe com o fato de ter o mesmo nome que o Imperador Juliano, o Apóstata.)

Bem, agora temos de voltar a Martinho.

Quando ele perguntou ao imperador Juliano se podia deixar de ser soldado, Juliano deu uma risada.

“Ha-ha!”, riu maliciosamente. “Eu sei por que você veio falar disso hoje!”

“Por que acha que vim hoje?”, perguntou Martinho em tom de surpresa. “Não vim hoje por nenhuma razão em particular.”

“Oh, sim, você veio!”, disse o Imperador Juliano, apontando o dedo a Martinho. “É porque amanhã haverá uma grande batalha e você é um covarde!”

“Mas eu já estive em inúmeras batalhas”, disse Martinho, “parece-me que estamos sempre  em batalha!”

“Bem, não se preocupe com as outras batalhas”, disse Juliano, irritado, “eu digo que desta vez você é um covarde!”

Ora, ninguém gosta de ser chamado de covarde, sobretudo soldados corajosos como Martinho. Por isso ele respondeu um tanto irritado:

“Muito bem. Provarei que não sou covarde. Marcharei na frente do exército sem capacete, escudo, peitoral ou espada. A única armadura que terei será o sinal da cruz, e verá que não serei ferido!”

“O sinal da cruz não vai ajudar você, seu covarde”, disse o Imperador Juliano, “mas vou acreditar na sua palavra!”

E deu ordens para que Martinho marchasse à frente do exército sem o elmo e as outras coisas.

Mas, de manhã, o inimigo mandou uma mensagem dizendo que se renderia sem batalha. O que mostra que Deus estava cuidando de Martinho!

Muitas outras coisas interessantes aconteceram com ele. De fato, ele se tornou padre, como queria. E depois, já mais velho, foi bispo de um lugar chamado Tours, na França, e as pessoas gostavam tanto dele que, desde então, ele é chamado de São Martinho de Tours. Uma das coisas importantes que fez foi a construção do primeiro mosteiro da França, perto de Poitiers.

O dia especial de São Martinho é o Dia do Armistício, 11 de novembro [i], e há inúmeras pessoas batizadas com o nome dele, além das que fazem aniversário nesse dia. E como não há uma história sobre São Juliano neste livro, as pessoas que receberam este nome podem considerar esta história como sua. Porque acabei de me referir a ele. O dia de São Juliano é 9 de janeiro.

Notas

  1. O Dia do Armistício, 11 de novembro, marcou o fim da I Guerra Mundial em 1918. (N.T.)

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MF
Marco Floriano
25 Nov 2024

Muito inspirador mesmo para adultos

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MS
Manoella Santos
11 Nov 2023

Na Alemanha ele é muito celebrado junto às crianças. 

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