A minha memória mais viva da primeira Missa a que assisti foi aquele momento poderoso do Rito da Comunhão em que o povo diz: “Cordeiro de Deus, que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós”. “Cordeiro de Deus”. “Cordeiro de Deus”. Depois as pessoas se ajoelharam, e o padre ergueu a hóstia dizendo: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” — em menos de um minuto, o “Cordeiro de Deus” aparece quatro vezes.
Eu me encontrava sentado no banco de trás como um simples observador. Mas, de repente, dei-me conta de onde eu estava: era no livro do Apocalipse, onde Jesus é chamado Cordeiro de Deus nada menos que 28 vezes em 22 capítulos. Em todo o Novo Testamento, Ele só é chamado de “Cordeiro” num outro livro: o Evangelho de João, e apenas duas vezes. Mas, no Apocalipse, esse é o seu título principal, mais do que todos os outros — Senhor dos Senhores, Rei dos Reis, Alfa e Ômega etc.: Ele é o Cordeiro de Deus.
Voltei à Missa no dia seguinte, levando comigo um bloco de notas, um lápis e a minha Bíblia. Desta vez, deixei-a aberta no Apocalipse e vi coisas que nunca tinha visto antes. Vi uma ligação entre esses atos litúrgicos. Não apenas uma ou duas. Nem sequer oito ou dez, somente. Fiz uma lista de 30 elementos: sacerdotes de vestes brancas, um altar, uma congregação que cantava “Santo, Santo, Santo”, os Aleluias, o Amém, os cálices de ouro, o livro, a invocação dos anjos e dos santos. Eu mal sabia no que me concentrar — se nas ações descritas nas páginas do Apocalipse ou no que estava acontecendo sobre o altar. Após cerca de 15 ou 20 minutos da segunda Missa, percebi de repente que se tratava de uma única e mesma ação. O que eu estava lendo na Bíblia era exatamente o que estava vendo acontecer sobre o altar.
Voltei então e mergulhei com renovado vigor no estudo da liturgia da Igreja primitiva e no que tinham escrito os seus bispos e teólogos. E descobri que não se tratava de nenhuma descoberta — eu é que estava “reinventando a roda”. Encontrei imagens litúrgicas em todos os capítulos do livro do Apocalipse, mas também eles as tinham encontrado. Encontrei elementos do Apocalipse em cada um dos momentos da Missa, e eles também. E, assim, fui examinando estes escritos dos Padres da Igreja, consultando o Apocalipse e indo à Missa um dia, outro dia, e mais outro, sem contar nada a ninguém, nem mesmo à minha mulher.
Tornou-se óbvio para mim que duas coisas eram inequivocamente verdadeiras. Por um lado, a liturgia celeste é o fio de ouro que une todas as pérolas apocalípticas da revelação de João, a começar pelo capítulo primeiro, em que Jesus aparece com uma túnica branca e um cíngulo dourado. Era isso o que o sumo sacerdote usava no Templo de Jerusalém. Ele está ali entre os sete castiçais de ouro — é a menorá do Templo. Assim, à medida que avançamos para o capítulo 2, ouvimos: “Arrepende-te, arrepende-te” oito vezes, tal como no Ato Penitencial, quando começa a Missa. Nas sete cartas às sete igrejas, ouvimos isto oito vezes, juntamente com a promessa de que, se nos arrependermos e vencermos, haverá um maná à nossa espera.
E então, perto do fim da sétima carta, vêm as palavras que tantas vezes já tinha ouvido da boca de Billy Graham: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, eu entrarei” (Ap 3, 20). Reparei que [o pregador evangélico] Billy Graham parava sempre ali mesmo. Eu entrarei — mas onde? No seu coração? Se continuarmos a ler, Jesus diz: “Eu entrarei [em sua casa] e tomarei refeição com ele, e ele comigo”. Mas de que ceia Ele está falando? Quando passei para os capítulos 4 e 5 do Apocalipse, ficou óbvio para mim: Cristo está se referindo à ceia da Comunhão.
Eu me dei conta de que, na Missa, estava realmente contemplando na terra o que se dava na liturgia celeste, descrita por João no Apocalipse. E depois, nas páginas do livro bíblico, percebi quão significativo, quão dramático — e quão transformador — é o culto sacrificial da Igreja na terra. Estamos ladeados pelos anjos e pelos santos, entoando os mesmos cânticos, oferecendo as mesmas orações e vendo Deus entrar na história e intervir decisivamente para libertar o seu povo, amenizar a [sua própria] cólera [sobre nós] e expandir no mundo o seu Reino.
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