Padre Paulo Ricardo,

Quando ouvi o senhor falar sobre a idade média com que as crianças estão sendo expostas a pornografia nos Estados Unidos (11 anos), lembrei de mim mesma quando, aos 10 anos, tive contato pela primeira vez com esse mal terrível.

Moro na mesma cidade e na mesma casa, desde que nasci, e a maioria da vizinhança também é a mesma. Naquela época, eu e as demais crianças do conjunto brincávamos juntas, praticamente todos os dias, de casinha, de boneca, jogando bola na rua e outras brincadeiras saudáveis de que toda criança brinca. Havia duas irmãs, muito amigas minhas, que tinham um irmão mais velho e, certo dia, elas encontraram revistinhas pornográficas (mangás eróticos japoneses) no quarto dele.

Elas esconderam as revistas e, quando eu estava na casa delas, vieram me mostrar o achado. No primeiro momento foi um choque ver tudo aquilo, mas, com o passar das semanas, eu só ia à casa delas para ficarmos vendo aquilo, por longas horas. Toda vez tinha revistas diferentes, pois o irmão trocava com outros colegas, que também tinham coleções. A ansiedade tomava conta de mim e, sem perceber, eu já estava viciada.

Depois de um tempo, nós não nos contentávamos mais em somente ver, mas sim em “brincar de fazer sexo” (uma colocava uma toalha dentro da calça para fingir que era um homem, enquanto as outras ficavam deitadas). Que vergonha!

Bem, eu não lembro exatamente quanto tempo isso durou, mas o processo de cura e libertação desse mal se iniciou quando o próprio irmão das meninas flagrou a gente em uma dessas “brincadeiras”. Foi uma das situações mais constrangedoras e pavorosas que eu já passei em toda a minha vida, mas foi extremamente necessária! Eu fui para casa imediatamente, porque ele me expulsou de lá e, no outro dia, a mãe delas contou o ocorrido para os meus pais, que brigaram muitíssimo comigo e eu chorei um “mar de lágrimas”…

Em um segundo momento, dando continuidade a esse processo de cura, eu estava em casa, pela manhã, brincando na sala. Minha mãe sempre ouvia uma rádio católica daqui e o programa do padre Marcelo Rossi estava começando e eu continuei brincando. Em um dado momento, ele começou a descrever que uma menina, ainda criança, estava enfrentando um problema com a pornografia e meu coração disparou. Ele foi rezando e meu coração palpitava ainda mais forte, e eu tinha certeza que era comigo. Fechei os olhos e rezei também! E ali mesmo, na sala, senti o próprio Cristo me chamando a caminhar com Ele e a não sair de seus caminhos. Foi o meu querigma!

Deus me livrou de um mal ainda maior, pois eu nunca me masturbei, nem naquelas “brincadeiras” e nem depois, apesar de as tentações terem sido enormes. Foi a mão dEle que segurou a minha, literalmente. Hoje continuo virgem, com grande alegria, e rezando pela minha vocação!

No entanto, tenho consciência de que fiquei com sequelas, pois me sentia excitada com muita facilidade e frequência, tinha pensamentos impuros até na hora da Santa Missa, nos momentos em que eu fechava os olhos, o que me fazia sofrer muito. Eu pedia para que Jesus me curasse daquilo, pois eu não podia recebê-Lo com o coração tão cheio de tudo aquilo! Sei que foi Ele que me deu a força e a graça necessárias para que eu fosse afastada daquelas cenas terríveis, que me machucaram tanto…

Ouvindo tudo o que o senhor falou no curso “O Mal da Pornografia e da Masturbação”, lembrei do que passei e não tive como deixar de escrever. Entendo como as pessoas sofrem com esse mal terrível que é a pornografia, ainda mais no mundo de hoje no qual, como o senhor disse, “a gente olha para um outdoor e só furando os olhos para não ver”!

Hoje estou mais madura, tanto na fé, quanto na razão. Mas, se eu não rezar e não vigiar quanto ao que vejo e ouço, a excitação que sinto é algo que me surpreende, mesmo depois de tanto tempo!

Sou filha de pais semianalfabetos, muito simples e católicos. Eles me passaram e passam muitos valores, muitos ensinamentos, me colocaram bem cedo na catequese, mas nunca falaram sobre sexo para nós (tenho um irmão mais novo). Entretanto, não foi culpa deles, de forma nenhuma, esse acontecimento, pois mesmo não falando sobre o assunto, eles nunca nos deixaram assistir a novelas (até hoje!), porque diziam que “não é coisa de Deus”; não nos deixavam dormir tarde e nem assistir a filmes violentos, porque estavam nos protegendo… E como eu agradeço a Deus por eles, todos os dias, de joelhos, por terem me dado a vida e a base para seguir na fé católica apostólica romana, na qual encontro meu verdadeiro bem, meu caminho de felicidade, meu amor maior: Jesus Cristo!

Hoje sou católica praticante, muito ativa na minha comunidade paroquial e participante de Missas, quase que diárias. O seu apostolado entrou na minha vida em outro momento muito difícil pelo qual passei, há uns três anos. Quem sabe um dia eu ainda mande esse outro testemunho…

Deus lhe dê muita saúde, padre, e que o senhor continue transbordando esse amor e esse zelo pelo Cristo! Muito obrigada, muito obrigada mesmo pelo que o senhor faz e se deixa fazer!

Abraço fraterno!
Com carinho e orações,
S. O.

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