Se és pai ou mãe, pensa então continuamente em teus deveres para com os filhos que Deus te concedeu. É certo que o bom ou mau comportamento dos filhos procede regularmente da boa ou má educação recebida de seus pais. Deus instituiu o Matrimônio para que os filhos, com a boa direção e as advertências dos pais, se salvem. Sem esta disposição de Deus, ficariam os filhos entregues a si mesmos, e não teriam ninguém que os recordasse de seus deveres, os repreendesse de seus defeitos, os castigasse quando não se quisessem emendar. A experiência ensina que pais virtuosos educam filhos virtuosos. Santa Catarina da Suécia teve por mãe Santa Brígida. São Luís, rei da França, teve por mãe a grande serva de Deus, a rainha Branca. Esta piedosa mãe repetia muitas vezes a seu filho: “Ó meu filho, preferiria ver-te morto a cometeres um pecado mortal”. Uma outra mãe que conheci, fazia também tudo o que estava em seu poder para que seus filhos vivessem santamente, e costumava dizer: “Não quero ser mãe de filhos condenados”.

Infelizmente, porém, existem certos pais e mães que parecem não dar a mínima importância à educação de seus filhos: que sejam bons ou maus, que se salvem ou se condenem. Muitos receiam entristecer a seus filhos com suas repreensões ou castigos, e tornam-se com isso culpados de sua perdição eterna.

“A Lição Difícil”, de William-Adolphe Bouguereau.

Esses pais são verdadeiros bárbaros. Não seria bárbaro um pai que, podendo salvar da morte um filho que caiu no rio, deixasse de o fazer para não lhe causar uma pequena dor momentânea ao arrastá-lo pelos cabelos? Pois é uma crueldade muito maior deixar de corrigir ou castigar um filho culpado, para não lhe causar um aborrecimento. Não seria talvez cruel um pai que desse a seu filho uma faca afiada, pondo-o assim em perigo de ferir-se gravemente? Muito mais cruéis são, porém, os pais que dão dinheiro a seus filhos para que o empreguem a seu bel-prazer, ou que lhes permitem frequentar maus companheiros ou casas suspeitas. Por isso, esta deve ser a maior preocupação dos pais: remover os filhos das más ocasiões, pois é delas que depois vêm todos os males.

Quando não bastam as boas palavras e correções, deve-se empregar o castigo. Não se deve esperar até que os filhos se tornem grandes, pois, tendo chegado a uma certa idade, tornar-se-á quase impossível corrigi-los. “Quem poupa a vara, odeia seu filho; mas quem o ama, corrige-o continuamente” (Pr 13,24). Quem não castiga quando é necessário, odeia, e depois será castigado por Deus. Porque o sumo sacerdote Heli deixou de castigar seus filhos que procediam mal, o Senhor lhe enviou a morte no mesmo dia em que seus filhos pereciam na batalha, como nos conta a Escritura (cf. 1Sm 2,12ss).

Contudo, deve-se castigar os filhos com medida e não com ira, como costumam fazer muitos pais. Faltando a moderação, os pais não conseguirão seus fins e só induzirão seus filhos a maiores faltas. Primeiramente se deve corrigir, então ameaçar, e finalmente castigar; mas como pai, não como guarda de prisão, com prudência, e sem maldições ou palavras ofensivas. Muitas vezes bastará prender em um quarto o filho culpado, negar-lhe alguma coisa nas refeições, proibir-lhe certos brinquedos ou roupas que mais lhe agradam etc. Se for necessário um castigo corporal, use-se uma varinha e não um pau. Tome-se como regra nunca pôr as mãos num filho enquanto dura a ira ou cólera; espere-se até que se tenha aquietado por completo.

“A Lição de Tricô”, por Jean-François Millet.

Também é obrigação dos pais vigiar seus filhos: devem sempre saber onde estão e com quem andam os filhos. De forma alguma, pois, se poderá desculpar aquelas mães que, para verem suas filhas em breve casadas, permitem que sejam visitadas a toda hora por seus namorados que pouco se importam com viver em estado de pecado ou de graça de Deus. Estas são aquelas mães de que fala Davi, que sacrificam suas filhas ao demônio por proveitos materiais: “E imolaram ao demônio seus filhos e suas filhas” (Sl 105,37). Algumas mães introduzem pessoalmente rapazes em suas casas, para que se entretenham com suas filhas e, finalmente, emaranhados nas redes do pecado, vejam-se obrigados a contrair casamento com elas. Essas mães infelizes não veem que assim acorrentam-se ao inferno com outras tantas correntes quantos são os pecados cometidos nessas ocasiões. E dizem ainda: “Não acontece nenhum mal” — como se fosse possível não se queimar uma palha lançada ao fogo.

Os pais estão igualmente obrigados a dar bom exemplo a seus filhos. Estes, principalmente quando pequenos, imitam tudo o que veem; com a agravante de seguirem mais facilmente o mal, ao qual nos sentimos inclinados por natureza, que o bem, que contraria nossas inclinações perversas. Como poderão os filhos comportar-se irrepreensivelmente se ouvirem seus pais blasfemar com frequência, falar mal do próximo, injuriá-lo e desejar-lhe mal, prometer vingar-se, conversar sobre coisas indecentes e defender slogans ímpios como estes: “Deus não é tão severo como dizem os padres” — “Ele é indulgente com certos pecados”... etc.? O que se tornará uma filha que ouve a mãe dizer: É preciso deixar-se ver no mundo e não se enclausurar como uma freira em casa”...? Que bem se pode esperar dos filhos que veem seu pai o dia inteiro sentado no bar, e depois chegando em casa bêbado? Ou visitando lugares suspeitos? Ou confessando-se uma só vez no ano ou muito raramente? Santo Tomás diz que esses pais, de certo modo, obrigam seus filhos a pecar. Este é um mal donde se origina a perdição de muitas almas, pois os filhos imitam o mau exemplo dos pais, e mais tarde dão mau exemplo a seus filhos, e desta maneira pais, netos e gerações inteiras perdem-se miseravelmente.

Muitas vezes queixam-se os pais que seus filhos são maus. “Mas como se poderá colher uvas de espinheiros?”, pergunta o divino Salvador. Como poderão os filhos ser bons, se os pais não prestam? Só por milagre.

Um pai de família que quiser bem governar a sua família deverá, antes de tudo, cuidar em afastar o mal de sua casa e em promover o bem. Quanto ao primeiro ponto, atenda ao seguinte:

  1. Impeça seus filhos de conviverem com maus companheiros ou funcionários corruptos, e de se empregarem em casas de pessoas que não tenham boa fama.
  2. Afaste de sua casa todos os funcionários e funcionárias que possam ser ocasião de pecados para seus filhos ou filhas. Um bom pai, quando tem filhos adolescentes, evita contratar funcionárias jovens.
  3. Não permita em sua casa nenhum livro que contenha coisas indecentes ou histórias amorosas: tais livros são uma peste para os jovens. Certo rapaz, objeto de admiração e veneração de uma cidade inteira, leu por acaso um livro obsceno e ficou tão depravado que se tornou um escândalo para todos, tanto que o juiz foi obrigado a expulsá-lo da cidade. Um outro jovem, não conseguindo pecar com uma moça, o que fez? Fez chegar a ela um livro que falava de amores, e assim lhe fez perder a honra e a alma. E pior ainda se fosse algum livro da moda que contivesse erros contra a fé ou contra a Santa Igreja.
  4. Retire de sua casa todos os quadros imodestos, principalmente se forem obscenos.
  5. Proíba severamente que seus filhos tomem parte em divertimentos que oferecem ocasião de pecado.

Quanto ao segundo ponto, observe o seguinte:

  1. Cuide que todos os que lhe são sujeitos peçam a Deus, pela manhã, a graça de não cometer pecado algum durante o dia, e que rezem três Ave-Marias nessa intenção, pedindo a proteção da Virgem.
  2. Cuide que seus filhos se aproximem dos santos sacramentos no tempo conveniente. Contudo, não os obrigue a se confessarem e comungarem muitas vezes, nem lhes imponha a obrigação de se confessarem com determinado confessor, para se evitarem sacrilégios. Para que se acostumem a cumprir com o que lhes é rigorosamente prescrito, é muito útil acostumá-los a exercícios de piedade, que não são propriamente de preceito, como: a recitação cotidiana do Terço e da ladainha de Nossa Senhora; o exame de consciência à noite; a recitação dos atos de fé, esperança e caridade; visitar o Santíssimo Sacramento; fazer novenas em preparação às festas de Nossa Senhora; praticar pequenas mortificações e privações, como deixar de comer frutas, doces etc. nos sábados. Não deixe de mandar seus filhos à igreja quando há pregações ou exposição do Santíssimo Sacramento, retiros ou qualquer outra devoção. O Espírito Santo diz: “Tens filhos? Educa-os e acostuma-os à sujeição desde a sua infância” (Eclo 7,25). São Luís, rei da França, costumava dizer o sinal da cruz antes de começar qualquer ação: “Isto me ensinou minha mãe — dizia ele — quando ainda era pequeno”. Oxalá que todos os pais incutissem bons costumes a seus filhos! Infelizmente eles cuidam mais em procurar para os filhos bens temporais que espirituais e eternos, e assim, perdem uns e outros.
  3. Empenhe-se em inculcar a seus filhos máximas cristãs, por exemplo: a necessidade de fugir das más companhias e ocasiões perigosas; a conformidade com a vontade divina; o paciente sofrimento das adversidades da vida; a insignificância das riquezas e prazeres terrestres etc. Ponha muitas vezes diante de seus olhos a desgraça imensa dos que vivem em pecado mortal e a importância do negócio de nossa salvação. Previna-os contra a vaidade do mundo. Lembre-lhes a hora da morte, com a qual tudo se acaba. Mostre-lhes a grande importância da devoção à Santíssima Virgem. Impressas estas verdades no espírito ou no coração dos filhos, começarão a agir conforme elas e acostumar-se-ão a regular cristãmente sua vida.

Referências

  • Trecho do livro Escola de Perfeição Cristã, parte 2, cap. 4, §§ IV, “a”, “Do amor aos parentes”, n.º 1. Para esta publicação, o texto foi adaptado passim, de modo a deixar mais claro o que ensinou Santo Afonso. Este livro, a propósito, é uma compilação dos escritos deste Doutor da Igreja feita pelo Pe. Édouard Saint-Omer, CSsR.

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