O Advento é um tempo de novos começos — de esperança, expectativa e renovação. É também um momento oportuno para as paróquias aprofundarem e renovarem a sua oração cantada, especialmente explorando as riquezas das antífonas da Missa — mesmo que seja pela primeira vez.

O Concílio Vaticano II chamou à tradição da música sacra “um tesouro de inestimável valor, que excede todas as outras expressões de arte” (Sacrosanctum Concilium, 112). No entanto, este tesouro permaneceu muitas vezes enterrado. Mas pastores e músicos em todo o mundo o estão redescobrindo, e começando a implementar o que a Igreja sempre nos deu como parte integrante da liturgia cantada: as antífonas — os textos designados para as procissões de Entrada, Ofertório e Comunhão.

Estes breves cantos bíblicos fazem mais do que preencher o silêncio; são as palavras da própria Missa. Colocam a Palavra de Deus nos lábios e nos corações dos fiéis e expressam uma parte essencial do mistério de cada celebração. Quando as antífonas são cantadas, junto com as outras partes da liturgia, nossas celebrações terrenas prefiguram mais claramente a liturgia da Jerusalém celeste.

Apesar desta visão elevada que a Igreja nos apresenta, a implementação das antífonas não precisa ser um peso esmagador. Várias ferramentas pastorais permitem uma introdução gradual delas, levando a uma maior participação na plenitude da liturgia cantada ao longo do tempo.

Neste Advento, procure dar o próximo passo. Confira a seguir três maneiras práticas e pastorais de começar a introduzir antífonas na sua paróquia.

1. Comece pela antífona de Comunhão

A antífona de Comunhão é, muitas vezes, o ponto de partida mais fácil e natural para as paróquias que querem introduzir pela primeira vez os textos próprios da Missa cantados. A antífona não requer nenhuma interrupção significativa na experiência comum da maioria das paróquias hoje em dia, e pode ser facilmente cantada como acréscimo a um hino de Comunhão já conhecido. Ela acompanha um dos momentos mais íntimos e contemplativos da Missa, quando os fiéis fazem procissão para receber o Corpo e o Sangue de Cristo.

A antífona de Comunhão une de forma belíssima a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. Muitas vezes ela ecoa os temas, ou mesmo as próprias palavras, do Evangelho do dia, ajudando os fiéis a estabelecer uma conexão mais profunda entre a escuta de Cristo nas Escrituras e sua recepção na Eucaristia.

A Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) afirma que o canto da comunhão começa “enquanto o sacerdote recebe o Sacramento… [e] se prolonga enquanto é ministrada a Comunhão aos fiéis” (n. 86). Portanto, ele pode ser entoado uma única vez por um cantor e seguido por um hino; ou muitas vezes pela assembleia, em alternância com versículos do Salmo cantados pelo cantor ou pelo coro, tal como um salmo responsorial. Essa antífona proporciona uma enorme flexibilidade, sendo por isso um primeiro passo conveniente para as paróquias que introduzem pela primeira vez as antífonas cantadas.

Há também uma sabedoria pastoral em começar por pequenos passos. Quando a antífona de  Comunhão é cantada toda semana, mesmo que seja com um único versículo ou o Glória ao Pai, ela introduz um padrão consistente de canto sacro rapidamente interiorizado pelos paroquianos. Com o tempo, essa repetição forma um hábito e uma memória: o que começa desconhecido logo se torna familiar, uma segunda natureza.

Assim, a paróquia aprende fazendo. A catequese mistagógica pode então convidar os fiéis a aprofundar mais o significado do mistério ao longo do tempo.

Quando a Igreja canta as palavras da liturgia, ainda que com simplicidade, nós nos unimos à oração do Logos, da Palavra eterna, que oferece continuamente o canto perfeito de louvor ao Pai pela salvação do mundo através do seu Corpo místico na terra. A antífona de Comunhão abre a porta para uma nova forma de cantar e rezar com música na liturgia, para além do que pode oferecer a música meramente devocional.

2. Combinar antífonas com hinos: a sabedoria da continuidade pastoral

Muitas paróquias hesitam em introduzir antífonas porque os hinos são um veículo familiar, de longa data, para o canto comunitário. Os coros, cantores e assembleias geralmente os sabem de cor. O segredo para uma renovação eficaz, no entanto, não é a substituição abrupta, mas a continuidade paciente. A implementação pastoralmente sensível é mais bem-sucedida quando as novas práticas se enraízam por uma integração suave, e não com uma reforma repentina.

Uma das formas mais eficazes de começar, portanto, é combinando as antífonas com os hinos, durante as procissões da Missa. Essa abordagem permite que os textos próprios da liturgia entrem na vida paroquial sem substituir o repertório que as pessoas já conhecem.

Trata-se de um passo natural e pastoral: em vez de uma forma substituir repentinamente a outra, as duas podem coexistir por um tempo, permitindo que as antífonas encontrem o seu lugar através da repetição e da familiaridade, até que terminem por substituir os hinos por completo.

Na prática, isso pode se dar de várias formas:

  • Na Entrada: Cante a antífona de entrada após um hino de abertura, especialmente durante a incensação do altar. Isso permite que a antífona introduza o tema da liturgia, ao mesmo tempo que se mantém um hino conhecido pela assembleia.
  • No Ofertório: Quando os fiéis estão menos propensos a cantar com vigor, a antífona pode ser cantada por um coro ou um cantor antes de um hino.
  • Na Comunhão: Comece com a antífona de Comunhão — idealmente com um ou dois versículos do Salmo — e prossiga com um hino familiar à assembleia. Por outro lado, a antífona de Comunhão pode até cobrir toda a recepção da Comunhão, sendo seguida, depois, por um hino de louvor, seguindo a disposição da IGMR, n. 88 [“Terminada a distribuição da Comunhão, se for oportuno, o sacerdote e os fiéis oram por algum tempo em silêncio. Se desejar, toda a assembleia pode entoar ainda um salmo ou outro canto de louvor ou hino”].

Esses pequenos ajustes ajudarão a paróquia a ouvir e entoar os textos cantados pela própria Igreja nos momentos em que se costuma cantar hinos e canções que não fazem parte da liturgia. Eles também ensinam por meio da experiência. Os paroquianos começam a reconhecer que esses refrões das Escrituras são parte integrante da própria liturgia — os textos que a Igreja propõe para cada celebração, para benefício espiritual dos fiéis.

A combinação de hinos e antífonas também ajuda a resolver uma tensão pastoral mais profunda. Muitos ministérios de música percebem a tensão entre a fidelidade litúrgica e as realidades práticas da vida paroquial. O método em questão resolve os dois problemas. Baseia-se no que já é familiar, permitindo gradualmente uma expressão mais completa da Missa, tal como ela é apresentada nos livros litúrgicos. Com o tempo, as antífonas se parecerão menos com acréscimos e mais com âncoras — momentos breves e luminosos que iluminam a liturgia como um todo.

Abordada dessa forma, a mudança para os textos próprios cantados deixa de parecer uma perturbação e passa a ser, cada vez mais, um aprofundamento natural. Pouco a pouco, essa continuidade oferece um ponto de entrada acessível aos cumes da oração cantada da Igreja.

3. Introduzir antífonas por tempo litúrgico

Para muitas paróquias, a ideia de introduzir três antífonas próprias a cada semana pode soar algo impossível. Os coros podem estar sobrecarregados, e as assembleias podem ter dificuldade em aprender músicas totalmente novas entre um domingo e outro.

A solução prática, então, é começar por tempo litúrgico.

Como ferramenta pastoral, as paróquias podem selecionar uma ou mais antífonas de cada tempo litúrgico e cantá-las várias vezes ao longo desse tempo, em vez de tentar o conjunto de textos próprios de cada domingo. Essa abordagem é sustentável e catequética, dando aos fiéis o tempo necessário para aprender bem as antífonas e rezar profundamente com elas.

Esse método é apoiado pela introdução ao Ordo Cantus Missae, segundo o qual, “por razões pastorais, o texto próprio de um dia pode ser substituído por outro do mesmo tempo” [pro textu diei proprio alium textum eiusdem temporis licet pro opportunitate substituere]. Na prática, isso significa que uma paróquia pode escolher uma antífona de entrada do Advento para usar durante as quatro semanas desse tempo litúrgico — talvez Ad te, Domine, levavi animam meam [“A vós, ó meu Deus, eu elevo a minha alma”], do 1.º Domingo — e depois passar para uma antífona de Natal quando chegar o tempo do Natal.

A introdução por tempo litúrgico também respeita a curva de aprendizagem tanto do coro quanto da assembleia. Na verdade, muitas antífonas são mais fáceis de cantar do que muitos hinos contemporâneos e, uma vez internalizado o seu estilo, é possível aprender novas antífonas com facilidade. À medida que se tornam familiares, elas começam a moldar a identidade musical da paróquia — enraizando-a mais profundamente nas Escrituras, no ritmo do ano litúrgico e no canto da própria liturgia.

Ao introduzir antífonas por tempo litúrgico, as paróquias não só tornam a transição mais fácil, como redescobrem a beleza da repetição litúrgica: um som que regressa ano após ano, formando os corações para rezar com a própria voz da Igreja.

“No coro”, pintura de Vicente Borrás Abella.

Um apelo para começar. — A liturgia cantada não é um ideal inatingível — é a forma normal de culto da Igreja. Todas as paróquias podem começar a implementá-la, um passo de cada vez. E o Advento é o momento perfeito para começar.

O mais importante é a consistência, não a perfeição.

A tradição musical da Igreja não se destina apenas a especialistas — ela também pertence a cada paróquia e a cada voz. 

Comece neste Advento. Deixe que as antífonas levem a sua comunidade a uma oração e unidade mais profundas. Ajude sua paróquia a realmente cantar a Missa, e não apenas cantar na Missa.

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