O antigo Martirológio Romano diz sobre este santo o seguinte: “Em Limoges, na Aquitânia, brilhou São Leonardo, discípulo de São Remígio, o qual, de nobre ascendência, escolheu uma vida solitária e se tornou célebre por sua santidade e pelos milagres que realizou. Seu poder, no entanto, manifestou-se particularmente na libertação de prisioneiros” [1].

Leonardo, natural da França, era de linhagem muito nobre. Clóvis, o primeiro rei cristão daquele país, perante o qual seus pais gozavam de grande prestígio, foi seu benfeitor. Foi São Remígio, bispo de Reims, quem o batizou e o instruiu durante vários anos. Passado algum tempo, o rei ofereceu-lhe um cargo importante na corte, mas Leonardo já manifestara aversão a todas as coisas temporais e decidira empregar o tempo apenas no serviço de Deus e na salvação das almas

Afresco de 1748 retratando São Leonardo e a Santíssima Virgem, numa igreja de Laugna, na Baviera alemã.

Foi então ordenado sacerdote por São Remígio e começou a pregar a Palavra de Deus. Sua conduta santa conferiu às suas palavras grande força para mover os corações de seus ouvintes. Raramente havia alguém que ele não conseguisse converter ou persuadir a trilhar com perseverança o caminho do bem. Pregou primeiro em Orleans e depois percorreu toda a Gasconha, onde a maioria dos habitantes ainda era idólatra. Como Deus lhe concedeu o dom dos milagres, libertou os possessos e restituiu a vista aos cegos, a audição aos surdos e a saúde aos enfermos.

Aconteceu que, certo dia, o rei estava numa floresta caçando com a rainha, que estava grávida. Esta adoeceu subitamente, e sua vida e a de seu filho passaram a correr grande perigo. Sem saber disso, Leonardo atravessava a floresta a caminho de uma aldeia vizinha, onde iria pregar. Guiado pela Providência, chegou ao local onde a rainha jazia doente. Ao tomar conhecimento das infelizes circunstâncias, pôs-se de joelhos a rezar e, quando se levantou, a rainha tinha sido felizmente libertada. O rei agradeceu calorosamente ao servo do Senhor e ofereceu-lhe alguns presentes valiosos, que o santo recusou, dizendo-lhe que distribuísse aos pobres o valor deles. 

O rei prometeu atender ao caridoso pedido, mas insistiu para que Leonardo aceitasse como presente o bosque onde ocorrera o milagre e o utilizasse como melhor lhe aprouvesse. Mas Leonardo contentou-se em ficar com uma parte do terreno, grande o bastante para construir uma capela em honra da Santíssima Virgem e uma cabana para si e seus companheiros. O rei mandou erguer os dois edifícios; e Leonardo, após entrar alegremente em sua nova morada, levou uma vida austera e santa. 

Graças à fama de sua santidade, muitos se aproximaram dele, desejosos de servir o Todo-Poderoso sob sua orientação. Ele os acolhia com bondade e os instruía na virtude e na piedade. Alguns deles lamentavam o fato de não haver água nas redondezas e de terem de levá-la de longe. Leonardo rogou a Deus e imediatamente brotou, perto da capela, uma fonte de água puríssima, que existe até hoje. Este e outros milagres propagaram a fama do santo a países distantes, fazendo com que sua ajuda fosse solicitada com frequência por pessoas de longe. 

Deus concedeu-lhe um poder peculiar para ajudar os desafortunados, como vários prisioneiros puderam experimentar. Segundo testemunhos, muitos que definhavam em masmorras tiveram a liberdade milagrosamente restituída quando, ouvindo falar da grande santidade de São Leonardo, imploraram em seu nome a misericórdia de Deus. O mesmo se dava com outros que, estando ainda vivo Leonardo, imploravam a sua intercessão de longe e com a maior confiança, como se o santo já estivesse reinando no Céu. Muitos deles traziam-lhe, depois, as correntes e ferragens que os tinham agrilhoado, agradecendo a libertação que, com suas preces, o santo lhes alcançara.

Isto dava a Leonardo a ocasião de exortá-los a libertar-se das cadeias do pecado, por meio de um verdadeiro arrependimento, transformando suas vidas de modo a que não fossem aprisionados, um dia, naquela masmorra da qual não há escapatória. O mesmo fazia às pessoas que iam visitá-lo no ermo. Com seus sermões, procurava levar os habitantes das aldeias e lugarejos vizinhos à piedade e ao temor do Senhor.

Por fim, depois de levar uma vida santa durante muitos anos, Leonardo desejou ser liberto dos grilhões da vida e admitido na liberdade dos filhos de Deus. Sua prece foi atendida, pois no ano 549 Deus o chamou ao Céu por meio de uma morte feliz. 

“São Leonardo como padroeiro dos cativos”, óleo sobre tela. Escola austríaca do século XVIII.

Mas a libertação milagrosa dos prisioneiros não terminou com a morte do santo. Muitas cadeias foram levadas ao seu túmulo por diferentes pessoas, que diziam ter sido milagrosamente libertas da prisão pela invocação de seu nome. Das muitas centenas de casos, selecionaremos apenas alguns.

O Conde de Limoges tinha acorrentado um homem inocente com pesadas cadeias de ferro, e de tal modo que ele não conseguia se mexer sem dor. Depois de invocar São Leonardo com grande confiança, o prisioneiro foi imediatamente liberto pelo santo, o qual lhe apareceu, arrancou-lhe a corrente e ordenou que a levasse consigo. Obedecendo à ordem, o homem colocou a pesada cadeia no ombro sem dificuldade alguma e seguiu o seu guia, que o conduziu à igreja onde estava sepultado o corpo de São Leonardo. Lá o santo desapareceu, e o inocente, liberto de forma tão milagrosa, relatou o ocorrido.

Esse episódio não é muito diferente do que aconteceu a um prisioneiro de guerra. Contra toda a justiça, um nobre mandou prendê-lo num poço muito fundo, debaixo da terra, proferindo esta blasfêmia: São Leonardo era capaz de abrir as portas das prisões e libertar os prisioneiros, mas jamais se ouvira dizer que tivesse libertado alguém de um poço subterrâneo. O prisioneiro não desanimou, e invocou mais ardentemente o santo, que lhe apareceu e o conduziu de sua alcova subterrânea até as portas do mosteiro de Nouaille, onde o homem, tão ditosamente liberto, relatou o grande milagre que lhe fizera o bondoso santo. 

Já é o bastante em louvor de São Leonardo, ou melhor, em honra do Altíssimo, que é admirável em seus santos (cf. Sl 67, 36).

Considerações práticas

I. A oração feita por São Leonardo em favor da rainha teve o efeito desejado. E a sua oração, por que tantas vezes não surte efeito algum? Porque ela não é agradável ao Altíssimo, ou seja, não é como deveria ser. De acordo com São Bernardo, “três coisas tornam as orações agradáveis a Deus: atenção, devoção e reverência”. É possível que suas orações careçam desses três requisitos. Então, como podem ser agradáveis a Deus? Como podem ter o efeito desejado? 

Se você quer que sua prece seja agradável ao Todo-Poderoso, esforce-se, em primeiro lugar, por proferi-la com atenção; não dê ocasião a distrações, olhando ao redor ou conversando. Se tiver a tentação de fazer uma ou outra coisa, procure manter o recolhimento, pensando na presença do Altíssimo. 

Em segundo lugar, recite a oração com devoção e fervor, considerando-se um pobre mendigo que, em busca de alívio, se apresenta diante do melhor e mais poderoso de todos os senhores

“A Ressurreição de Cristo com São Leonardo e Santa Luzia”, por Giovanni Antonio Boltraffio e Marco d’Oggiono.

Em terceiro lugar, reze com a devida reverência. Você viu que São Leonardo se ajoelhava ao rezar. Oh! Quantas das nossas orações se tornam mais do que inúteis por nos levantarmos atrevidamente e sem reverência, ou por nos sentarmos de forma indolente, encostando-nos à parede, conversando, rindo, olhando ao redor. Tal oração não é agradável ao Senhor, e não só não produz o efeito desejado, como tende a multiplicar nossos pecados e, consequentemente, nosso castigo, porque é um horror aos olhos de Deus e uma ofensa à sua Majestade. Cuide para que sua oração não seja assim.

II. Leve a sério a admoestação dada por São Leonardo aos que lhe apresentavam suas cadeias: deveriam libertar-se dos laços do pecado por meio de uma verdadeira penitência, a fim de não serem desterrados para aquela prisão da qual não há saída. 

Se você estivesse preso e acorrentado em casa por seu inimigo, e receasse ser, em breve, aprisionado por toda a vida em um calabouço terrível, mas tivesse a possibilidade de libertar-se de seus grilhões e assim escapar do perigo, eu lhe pergunto: seria preciso pensar muito antes de agir? Não acredito nisso. Ao contrário, acho que você soltaria suas correntes de imediato, escapando assim de todo perigo. 

Veja: enquanto estiver em pecado mortal, você será prisioneiro de Satanás, acorrentado por seu pecado, e estará em contínuo perigo de ser lançado na masmorra do Inferno, de onde não poderá sair. Uma boa confissão poderá libertá-lo de seus grilhões. O sacerdote, que tem o poder de ligar e desligar, é capaz de libertá-lo das cadeias dos seus pecados e, assim, você escapará do perigo da prisão eterna. Portanto, não é uma tremenda insensatez de sua parte adiar a penitência e permanecer em perigo? Reflita sobre o que significa estar preso eternamente no Inferno. Nem por um instante você pode ter certeza de que não será precipitado nele; poderá, portanto, adiar o arrependimento por um só minuto? Preste atenção no que faz! “Temos de nos apressar”, diz Santo Ambrósio, “pois a vida é breve, e o maior dos perigos está em adiar o arrependimento.” 

O perigo torna-se ainda maior se, uma vez liberto dos grilhões do pecado, você se deixa prender de novo a eles, ou melhor, se volta a acorrentar-se por uma abominável recaída em suas antigas más ações. São Leonardo jamais admoestou qualquer um dos prisioneiros libertados a não voltar à sua antiga escravidão e acorrentar-se com novas cadeias, pois ele sabia: nenhum deles cometeria semelhante tolice. Então, por que você age de modo tão insensato a ponto de pecar novamente depois de confessar-se, entregando-se mais uma vez a Satanás? 

Quem voltasse para a prisão depois de sair dela, não seria digno da liberdade novamente, e tampouco de compaixão, se viesse a morrer em tal estado. Portanto, você não merecerá o perdão se voltar a pecar voluntariamente. Ninguém se apiedará de você, se buscar a autodestruição por meio do pecado. “Quem, depois de recuperar a saúde, volta a ferir-se de forma imprudente, não merece ser curado outra vez”, diz São Lourenço Justiniano, “e quem, depois de ter recebido o perdão, peca de novo, não merece ser purificado ou perdoado novamente.”

Referências

  • Extraído, traduzido e adaptado passim de: Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 2. New York: P. O’Shea, 1876, p. 571ss.

Notas

  1. Lemóvicis, in Aquitánia, sancti Leonárdi Confessóris, qui fuit beáti Remígii Epíscopi discípulus. Hic, nóbili génere ortus, solitáriam vitam delégit, et sanctitáte ac miráculis cláruit; ejúsque virtus præcípue in liberándis captívis enítuit. O elogio do novo Martirológio é mais breve: “Em Noblac, perto de Limoges, na Aquitânia, atualmente na França, São Leonardo, eremita.” (N.T.)

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