Escondidos nas montanhas da região central da Itália, os monges beneditinos de Núrsia estão combatendo a pandemia do coronavírus com orações e procissões diárias contra a peste.

“No período da tarde, saímos em procissão pela propriedade, portando relíquias da Vera Cruz, rezando para que sejamos libertos das ‘pragas, da fome e das guerras’, como faziam os antigos, que sabiam que essas tribulações muitas vezes surgiam juntas”, escreveu Dom Bento Nivakoff, OSB, prior da comunidade famosa por sua cerveja e por seu canto gregoriano.

“Todas as manhãs durante a Missa conventual solene, acrescentamos orações contra a peste”, explicou o monge.

O mosteiro está localizado nos arredores de Núrsia. Os monges seguem a liturgia tradicional da Igreja quando rezam o Ofício Divino e celebram a Missa. 

As orações contra a peste, encontradas na Missa votiva para a libertação da morte em tempo de peste, mostram que Deus não deseja “a morte do pecador, mas que se converta”. A Coleta pede a Deus: “Olhai benigno para o povo que a Vós retorna, e por vossa clemência dele afastai, enquanto vos é fiel, os castigos da vossa ira”.

A Secreta, oração feita antes do canto do Prefácio, implora a Deus que aceite o sacrifício da Missa oferecido pelo sacerdote, “a fim de por ela alcançarmos eficazmente o perdão de todo pecado e o sermos livres do risco de toda perdição”.

“Concedei, ó Deus e Salvador nosso, que o vosso povo seja livre dos terrores de vossa ira e protegido pela abundância de vossa misericórdia”, pede a oração final, conhecida como Pós-comunhão.

De acordo com o prior da comunidade, “a população da região da Úmbria está dispersa geograficamente, então aqui há menos casos de coronavírus do que no norte”. Porém, os monges sabem que a situação pode mudar rapidamente.

Como hoje as pessoas na Itália estão em grande medida confinadas em suas próprias casas, ele continuou, o escondimento do mundo “adquire um simbolismo quase sacramental durante essa crise extraordinária”.

Os monges estão acolhendo a celebração privada da Missa como um convite para a redescoberta do mistério “da eficácia invisível dela”, algo que foi esquecido na modernidade. “Perante essa ameaça invisível, temos de confiar num remédio invisível para nossa salvação final.”

“Durante séculos”, escreveu Dom Bento, “não foi possível ver de perto os mistérios do altar. Em certos períodos, cortinas eram usadas para ocultar os momentos mais importantes da Missa. Até hoje as orações solenes da consagração são pronunciadas num volume mais baixo — um sussurro — à medida que se desenvolve o drama da liturgia”.

A tragédia não é algo estranho para os monges de Núrsia. A vida monástica na região, terra natal de São Bento e Santa Escolástica, foi retomada apenas no ano 2000.

Até 2016, quando um forte terremoto atingiu Núrsia, os monges estavam vivendo no centro da cidade. Celebravam a Missa e rezavam o Ofício Divino na basílica de São Bento. A destruição decorrente do terremoto obrigou os monges a se transferirem para um antigo mosteiro capuchinho nos arredores da cidade, o qual havia sido danificado por um terremoto anterior. 

Em 2019, depois do início das obras e da construção da muralha, a comunidade acrescentou um lema no cume do mosteiro: Nova Facio Omnia (“Eu faço novas todas as coisas”). “Tirado do Livro do Apocalipse”, explicaram os monges em seu site, “ele descreve a Nova Jerusalém em todo o seu esplendor e enfatiza o que Cristo faz por todos os que cooperam com seu plano: ‘Eis que eu renovo todas as coisas!’”

Deveríamos estar dispostos a aprender as lições que Deus quer nos ensinar”, encorajou Dom Bento. “Uma grande tentação é exigir que Deus devolva aquilo que perdemos. Mas Deus planta sementes de vida nova no campo da tragédia. Todos nós devemos regá-las com nossas orações (tanto as públicas como as privadas), sacrifícios e, talvez, até com nossas vidas. Mas a morte não tem a última palavra.”

O autor conservador Rod Dreher afirmou que os beneditinos de Núrsia “sabem como permanecer firmes durante uma catástrofe. Temos muito a aprender com eles.”

“Como disse Dom Bento, agora todos temos de nos afastar do mundo e permanecer em nossos claustros domésticos para salvar vidas. Não devemos acomodar-nos a essa situação — quero dizer, jamais podemos achar que a igreja online seja outra coisa senão um simples fac símile da igreja de verdade”, comentou o autor do best-seller A Opção Beneditina, publicado em 2017.

“Apoio firmemente a exortação de Dom Bento para que meditemos sobre o que Deus está tentando nos ensinar com esse período de confinamento. O que significa descobrir (ou redescobrir) o mistério?”

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