A história de conversão do São John Henry Newman à Igreja Católica não é exatamente a mesma da subsequente descoberta que ele teve do catolicismo.
Havia então bem poucos lugares católicos de adoração e, de qualquer modo, para evitar a acusação de que o Movimento de Oxford não passava de uma etapa de pré-conversão à Igreja de Roma, Newman havia cuidadosamente evitado católicos e cerimônias católicas — mesmo em seu tour pelo Mediterrâneo, de 1832 a 1833, quando ele dificilmente conseguia evitar ser exposto às duas coisas.
Assim, o aspecto que mais o surpreenderia em sua nova vida religiosa como católico surgiu como uma completa novidade: a reserva do Santíssimo Sacramento nas igrejas católicas. Em carta a uma amiga próxima, ela mesma prestes a se tornar católica alguns meses depois, ele escreveu:
Nós nos convertemos sem nos darmos conta dos privilégios que ganharíamos com isso. Eu nunca permiti à minha mente imaginar as graças que receberia, mas certamente, mesmo se tivesse pensado muito sobre o assunto, eu não conseguiria imaginar o grande e inefável conforto de estar na mesma casa que Ele, que curou os doentes e ensinou seus discípulos…
Quando estive em igrejas no exterior, eu havia religiosamente me abstido de atos de adoração, embora fosse o mais suave dos confortos tomar parte neles — mas eu não sabia nem o que estava acontecendo, tampouco entendia ou tentava entender o rito da Missa —, e eu não sabia, ou não havia observado, a lâmpada do sacrário — mas agora, depois de saborear o prazer indescritível de adorar a Deus em seu templo, quão indescritivelmente fria é a ideia de um templo sem aquela Divina Presença! Sentimo-nos quase que tentados a dizer: para que existe, para que serve um templo assim?
É impressionante como, mais do que qualquer coisa, a reserva do Santíssimo Sacramento nas igrejas católicas impactava e movia Newman, mais até do que a própria Missa. E esse fato nos diz algo muito importante não só sobre Newman, mas também sobre um aspecto central do impacto que tinha o catolicismo na imaginação desse inglês do século XIX, convertido do protestantismo à Igreja Católica. Por isso, Newman não estava apenas fazendo uma observação devocional e espiritual quando escrevia a um amigo anglicano:
Estou escrevendo de um aposento contíguo a uma capela. É uma bênção incompreensível ter a presença corporal de Cristo em casa, dentro das próprias paredes, superando quaisquer outros privilégios…; saber que Ele está assim perto; ser capaz de, repetidamente, durante o dia, ir até Ele…
Newman está dizendo algo muito significativo sobre objetividade e realidade. Pois era essa presença concreta de Jesus em um sacrário material o que, acima de tudo, produzia em Newman aquela “impressão profunda da religião como um fato objetivo”; era isso que o impressionava tanto na Igreja Católica. Ele era capaz de admirar, “em todos os lugares, os sinais de um sistema admirável e real”.
Quando chegou um ano depois à Itália a fim de se preparar para o sacerdócio, Newman se tornou imediata e vividamente consciente de uma realidade que impactou poderosamente sua imaginação, mas da qual ele não havia se dado conta em sua última visita ao lugar. Chegando a Milão, ele logo notou que possuía, a partir de então, um motivo a mais para preferir a arquitetura clássica à gótica: a simplicidade daquela fazia do altar principal o ponto focal da igreja, dando particular proeminência à reserva do Santíssimo — porque “ali nada se move, a não ser a distante lâmpada cintilando e indicando a Presença de nossa Vida imortal, escondida mas sempre operante”.
A preocupação que ele tinha, quase obsessiva, com essa “Presença Real” era mais do que uma simples devoção: “É realmente a coisa mais maravilhosa que existe ter essa Divina Presença como que ‘inundando’ as ruas abertas desde as várias igrejas… Eu não sabia o que era a adoração como um fato objetivo até entrar na Igreja Católica.”
O que Newman havia descoberto, afinal, era que a objetividade da adoração que tanto o impressionou só refletia a objetividade do catolicismo, que ele percebeu ser uma religião bem diferente do anglicanismo e do protestantismo. Agora, ele estava encantado por descobrir, em suas próprias palavras, “uma religião real — não uma mera opinião, que nem o seu vizinho de porta talvez sustente, mas um credo e uma adoração substanciais, externos e objetivos”.
O fascínio de Newman pela reserva do Santíssimo reflete sua aclamada distinção filosófica entre o “nocional” e o “real”, o primeiro referindo-se às abstrações do intelecto e o segundo ao que nós experimentamos de modo pessoal e concreto. Os católicos, insistia, adoram não definições dogmáticas, mas “o próprio Cristo”; crêem na “Presença Real no sacrário não como uma forma de palavras” ou “como uma noção, mas como um Objeto tão real quanto nós somos reais”.
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