Pedro significa “conhecedor” ou “descalço”, ou também pode vir de petros, “firme”. Assim podemos compreender os três privilégios que possuiu o bem-aventurado Pedro.

Em primeiro lugar, foi um pregador notável, “conhecedor” perfeito das Escrituras e do que convinha utilizar delas em cada pregação. Em segundo lugar, foi virgem puríssimo, daí “descalço”, já que seus pés nus indicavam estar livre de toda afeição e amor mortais, sendo portanto virgem não apenas de corpo, mas também de mente. Em terceiro lugar, foi mártir glorioso do Senhor, daí “firme”, já que suportou inabalável o martírio pela defesa da fé.

Aos sete anos de idade, quando certo dia voltava da escola, um tio herege perguntou-lhe o que aprendera na aula. Ele respondeu: “Creio em Deus Pai, todo-poderoso, criador do céu e da terra […]”. O tio objetou: “Não diga ‘criador do céu e da terra’, pois Ele não foi criador das coisas visíveis, foi o diabo que criou todas essas coisas que vemos”. Mas o menino afirmou que preferia dizer como lera e acreditar no que estava escrito.

O bem-aventurado Pedro ainda na adolescência abandonou o mundo para evitar seus perigos e entrou na Ordem dos Frades Pregadores. Ao longo dos quase trinta anos que nela passou, alcançou todas as virtudes: era dirigido pela fé, fortalecido pela esperança, acompanhado pela caridade.

Como a ociosidade é insidiosa, é armadilha do inimigo, procurava manter-se sempre ocupado com coisas lícitas, para não ter tempo para as ilícitas, meditando assiduamente sobre os decretos do Senhor.

De noite, depois de curto descanso, ocupava as horas silenciosas com estudo, leitura e vigília. De dia, dedicava-se ao serviço das almas, ou à pregação, ou a ouvir confissão, ou a refutar por meio de argumentos racionais os dogmas envenenados da heresia. Em tudo isso ele se destacava por possuir um particular dom da graça.

“O martírio de São Pedro”, por Domenico Zampieri.

No Domingo de Ramos, Pedro pregava em Milão diante de enorme multidão de pessoas dos dois sexos, quando disse publicamente, em voz alta: “Sei com certeza que os hereges tramam minha morte e que até dinheiro já foi dado para isso, mas façam o que façam, eu os perseguirei mais estando morto do que vivo”. Os fatos mostraram que isso foi verdade.

Ao sair da cidade de Como, onde era prior da sua Ordem, para ir até Milão a fim de exercer contra os heréticos as funções de inquisidor que lhe haviam sido confiadas pela Sé apostólica, Pedro foi atacado — conforme ele mesma predissera publicamente em uma prédica — por um herege induzido e pago por seus companheiros.

Aquele homem insulta o ministro de Cristo, bate nele, vibra golpes atrozes na sua sagrada cabeça e provoca-lhe terríveis ferimentos. A espada fica molhada do sangue daquele homem venerável, que não procura evitar o inimigo, mas, ao contrário, oferece-se como vítima que pacientemente suporta os redobrados golpes do furor sacrílego de seu carrasco.

Durante todo esse tormento não se queixa, não murmura, suporta tudo com paciência e, encomendando-se, diz: “Senhor, em vossas mãos entrego o meu espírito”. Antes que o cruel carrasco cravasse o punhal em seu peito, o mártir do Senhor escreveu no chão, com o próprio sangue, a profissão da fé, consumando o ato derradeiro de sua vida: “Credo!”.

Curiosamente, seu assassino se arrependeu e empenhou inúmeras penitências pelo resto da vida. Mas essa é uma outra história…

Referências

  • Extraído e adaptado de “Legenda Áurea: Vidas de Santos” (trad. de Hilário Franco Jr.). São Paulo: Companhia das Letras, 2003, pp. 387-400.

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