Antes que o anjo de Portugal preparasse Lúcia, Francisco e Jacinta para as aparições de Nossa Senhora de Fátima, a Providência divina velou por suas almas, desde os primeiros anos de suas vidas.
E de que modo? Fazendo-os crescer em um ambiente cristão exemplar, rodeados de famílias devotas e tementes a Deus.
Sobre seus pais, por exemplo — António dos Santos e Maria Rosa —, a Irmã Lúcia narra que nunca deixavam que um pobre lhes pedisse algo e saísse de mãos vazias.
As esmolas eram variadas: “umas vezes, um punhado de batatas; outras, uma tigela de feijão ou de grão-de-bico”; às vezes, saía até “um pedaço de pão com um queijinho de ovelha ou uma tigela de azeitonas doces para eles comerem” [i].
Mas um dia desses em particular ficou gravado na memória de Lúcia. Deixemos que ela mesma nos conte:
O pai estava em casa, sentado — a descascar favas —, nos degraus duma escada que dava acesso ao sótão. A mãe estava sentada em frente, encostada ao canto da lenha, a descascar batatas. Eu era pequena, andava fora no pátio, a brincar [...]. Vi que, junto do portão, chegou um pobre a pedir esmola. Corri a entrar em casa e disse ao pai:
— Está ali um pobre a pedir esmola.
O pai levantou-se, foi à lareira, e com o canivete, cortou o cordão duma morcela, das que estavam na chaminé a curtir, e com ela na mão perguntou à mãe:
— Olha lá, posso dar isto a esse pobre? Não nos vai fazer falta?
A mãe respondeu:
— Podes. Nunca o que nós demos aos pobres nos fez falta.
O pai, contente, foi junto do portão levar a morcela ao pobre. Este, ao vê-la, levantou as mãos e rezou um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Enquanto o pobre rezava, o pai permanecia diante dele, de pé, com a cabeça descoberta. O pobre, quando terminou, disse:
— Pelo senhor e por sua menina, para que Deus lhes dê sorte.
[...] Eu corri, indo atrás do pai, e disse à mãe:
— O pobrezinho rezou pelo pai e por mim, para que Deus nos dê sorte.
A mãe respondeu:
— E por mim, nada?
Eu fiquei sem saber o que dizer. Então o pai disse:
— Por ti também, porque tu e eu somos um; tudo o que é meu é teu e é dos nossos filhos.
A mãe sorrindo, respondeu:
— Assim está bem!
E ficaram os dois no seu humilde trabalho e conversa amiga [ii].
Lúcia anota que, na ocasião, não compreendeu todo o alcance do que acontecera; só depois se atentou para o “grande valor moral e espiritual” do que presenciara em seu lar.
Essa história belíssima, passada numa vila humilde de Portugal, é só um preâmbulo do que iremos contar a você ainda este ano, em nossa história em quadrinhos sobre Nossa Senhora de Fátima. Junte-se a nós na expectativa por esse conteúdo, cadastrando seu e-mail em nossa lista de interessados.
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