Há vidas que se preparam para a rendição. Outras para a vitória. E depois há a vida da Irmã Elena Tuccitto: uma vida dedicada à escuta, forjada pelo sacrifício, recompensada com uma medalha invisível que hoje se chama vocação.
Foi atleta, campeã, membro da seleção italiana e, posteriormente, missionária na Fraternidade Franciscana de Betânia. Mas, acima de tudo, foi e continua sendo filha, irmã e guardiã de um amor concreto — um amor que só é capaz de ensinar quem nasce frágil e, mesmo assim, deixa uma marca indelével.
“Venho de uma família de grande espiritualidade. A minha mãe era terciária franciscana, um tio era monge camaldulense, outro era padre. Mas a minha maior professora foi a minha irmãzinha Giovanna, que nasceu com síndrome de Down. Ela nos ensinou o amor com A maiúsculo. Ela uniu o céu e a terra.”
Numa época em que tudo exige celeridade, a Irmã Elena aprende desde cedo a desacelerar interiormente. O corpo corre, mas a alma se ajoelha. Começa com o atletismo, depois segue para o karatê. Por diversão, por desafio, por vocação.
“Entrei no dojô e vi aqueles treinos, o rigor e o silêncio. Fiquei apaixonada. Depois de uma série de títulos italianos, entrei para a seleção nacional. Com muito esforço e dedicação, conquistei primeiro o bronze europeu e depois o ouro mundial. Mas eu sentia que não estava sozinha. Entregava cada treino a Deus. Cada queda no tatame tornava-se uma oração.”
No dojô ela aprende a paciência, o respeito, o controle. Valores que, sem saber, aproximam-na cada vez mais do coração da vida consagrada.
“O karatê foi a minha primeira escola espiritual. No esporte de alta performance, confrontamo-nos todos os dias com os nossos limites. Temos de aceitar o tempo do corpo. O mesmo acontece no caminho vocacional: todos os dias aprendemos a doar-nos, a combater o egoísmo, a controlar o que nos fecha.”
Depois, uma lesão: ligamento cruzado anterior, pausa, cirurgia.
“Tive de parar. Um ano de silêncio. Compreendi que a minha carreira havia terminado. Mas, acima de tudo, começou dentro de mim uma busca, um vazio novo que exigia uma resposta diferente. Sentia a necessidade de concentrar-me. De escutar.”
É lá, no silêncio, que a voz chega. Não é um trovão, mas uma brisa. Não pressiona: convida. E a Irmã Elena responde:
“Escolhi a Cristo. Depois de me formar em ciências motoras preventivas e adaptadas, depois de ter lecionado, depois de ter tido um dojô, deixei tudo para encontrar tudo.”
Depois, o Brasil. Seis anos nas favelas de Salvador, na Bahia. Não foi para ensinar, mas para aprender. E o esporte, mais uma vez, foi a chave para a redenção.
“Construímos uma creche. Trabalhamos com dezenas de adolescentes. Ensinamos que o corpo é sagrado; que podemos cuidar dele, ao invés de comercializá-lo. Que é possível sonhar. Mas, na verdade, foram eles que me ensinaram. A fé deles ia além. Eles me mostraram a alegria pura de quem só tem Deus.”
“Atualmente, aqui na Itália, acompanho missões, angario fundos, acompanho famílias vulneráveis. Mas a lição mais importante que me acompanha desde sempre é esta: a ternura tem a força de uma disciplina. A doçura pode ser uma faixa preta de vida.”
E em cada palavra, em cada passo e em cada terço rezado, ela está presente: Giovanna. Não é apenas uma memória; é uma presença ativa, constante, enraizada.
“Quando era criança, não compreendia por que ela era tão diferente. Mamãe nos dizia: ‘Ela foi um presente do Céu.’ E era mesmo. Nunca a vi triste. Nem mesmo quando estava morrendo. Ela me acordava com abraços, me ensinava o terço, me levava para rezar. Hoje é ela quem me acompanha.”
E agora tudo faz sentido. O tatame, a luta, as quedas, a cirurgia no joelho, as favelas, o rosário, o pódio, o silêncio, a fé, a creche, o ouro verdadeiro. “Giovanna me ensinou o amor concreto. E daí nasceu tudo: a vocação, a força, o desejo de pertencer menos a mim mesma para pertencer mais aos outros.”
Muitas medalhas e depois a missão no Brasil
Elena Tuccitto nasceu em 1967, em Bibbiena, na província italiana de Arezzo. Sua irmã Pia, cantora e compositora de rock, colaborou com Vasco Rossi, Patty Pravo e Irene Grandi. O irmão Paolo é inventor na área da segurança ambiental. Professora de educação física, Elena conquistou sete títulos italianos de karatê na modalidade kumitê (categoria 53 quilos). Com a seleção italiana, ganhou muitas medalhas internacionais, com destaque para a prata na Copa do Mundo de 1992, no Japão, e o ouro na Copa do Mundo de 1993, na Argélia.
Em 2001, entrou para a Fraternidade Franciscana de Betânia. Missionária no Brasil, em Salvador (Bahia), de 2010 a 2016, depois na Suíça, de 2017 a 2019. De volta à Itália, trabalhou no serviço de “acolhimento na despensa” e na coordenação das missões da Fraternidade.
Desde 2022, vive em Monte San Savino, no santuário de Santa Maria delle Vertighe, a quem Paulo VI proclamou, em 1964, padroeira da Autostrada del Sole [a maior rodovia da Itália, que liga Milão a Nápoles, via Bolonha, Florença e Roma]. Elena é animadora vocacional junto aos jovens.
O que achou desse conteúdo?
OSS 🥋🙏🏻
Maravilhosa a vida de Elena. Apesar da minha idade mais avançada ,como gostaria de conseguir ouvir DEUS! 🙏
Maravilhoso testemunho, de uma fé viva e enraizada em Deus