Às vezes, dizem que religião e política são tópicos que não deveriam ser discutidos com quem não temos intimidade. Logo, jamais se discute nada relevante, reduzindo a conversa entre desconhecidos ao nível da banalidade, no melhor dos casos, ou da fofoca, no pior. Ainda assim, o debate sobre religião e política na esfera pública é crucial para a vida de uma sociedade verdadeiramente livre. A razão para o silêncio pode ser o medo da “polícia do pensamento” ou o medo de ser indelicado. Qualquer que seja o motivo, o resultado é o sufocamento da livre discussão sobre duas das áreas mais importantes que governam a vida humana.

Para o cristão, religião e política são inseparáveis, por causa da inseparabilidade dos dois grandes mandamentos de Cristo: que amemos ao Senhor, nosso Deus, e ao nosso próximo. O objetivo dos “fundamentalistas seculares” de separar religião e política não é apenas uma afronta ao cristianismo, mas um esforço para banir os cristãos da vida política. Isso, porém, não é novidade. O fundamentalismo secular sempre foi intolerante com o cristianismo e sempre procurou excluir os cristãos da vida pública. Da perseguição da Igreja antiga, com o martírio de inúmeros cristãos, à Revolução Francesa e seu Grande Terror, passando pelo século XX e o extermínio de cristãos em campos de concentração do socialismo nacional e internacional, a intolerância do fundamentalismo secular tem crucificado de forma contínua o Corpo de Cristo, além de ter corrompido incessantemente o corpo político.

“O dinheiro do tributo”, de Bernardo Strozzi.

O fundamentalismo secular emprega meios malignos, que correspondem aos seus fins ignominiosos, sempre favorecendo o poder da mentira para promover seus objetivos e usando o engano e a prática obscura da propaganda. O duplipensar e a novilíngua orwellianos fazem parte da mentalidade e do vocabulário fundamentalista secular desde o início. Em nome da “trindade profana” da liberdade, igualdade e fraternidade, os revolucionários franceses e russos privaram os cristãos da liberdade em nome da liberdade; discriminaram-nos em nome da igualdade e mataram-nos em nome da fraternidade. Não é de estranhar, portanto, que a nova geração de fundamentalistas seculares seja intolerante com o cristianismo em nome da tolerância, ou que aprove o assassinato de nascituros em nome da liberdade.

No entanto, a maior hipocrisia do fundamentalismo não está no uso abusivo da linguagem, mas na insistência em excluir a religião da vida pública, embora ele mesmo seja uma religião. Se o teísmo é uma posição religiosa, o ateísmo também o é [1]. A afirmação dogmática de que Deus não existe ou de que Ele deveria ser excluído da vida humana é uma posição religiosa. Quer acreditemos ou não na existência de Deus, ela ocupa um lugar central; é a pedra de toque, a rocha conceitual na qual se baseiam todos os nossos pressupostos. Para o teísta, a presença real de Deus é o princípio determinante que está no coração da realidade; para o ateu, é a ausência verdadeira dEle. Nos dois casos, Deus é crucial e, portanto, está presente, embora de forma irônica no segundo.

É um fato que toda política tem raízes nos primeiros princípios da filosofia, dos quais os mais importantes são os pressupostos metafísicos que dizem respeito à existência ou não existência de Deus. Na verdade, como demonstra a história recente, a eliminação de Deus cria um vácuo que é preenchido por todos os tipos de disparates perigosos e mortais. A crença de Rousseau de que o homem não é naturalmente pecaminoso, isto é, de que não existe uma rebelião primordial contra Deus, provocou toda sorte de barbárie, sobretudo o já mencionado Grande Terror. As ideias radicais de Rousseau permearam a sociedade moderna, de modo mais geral, pelo desprezo generalizado à civilização. A sabedoria das eras e a herança dos sábios são descartadas com a arrogância da ignorância, e o homem moderno é assim reduzido a um dedicado seguidor de loucuras e modismos. O determinismo de Hegel, politizado por Marx, levou ao assassinato de milhões de pessoas no altar do progresso inalterável do homem em direção à ditadura do proletariado. O super-homem de Nietzsche, politizado por Hitler, levou à raça mestra dos nazistas e ao assassinato de milhões de pessoas no altar do orgulho racial.

Como nos faz lembrar Richard Weaver, ideias têm consequências, e más ideias têm más consequências. E como Chesterton nunca cansou de nos dizer: quando as pessoas deixam de crer em Deus, não passam a acreditar em nada, mas em qualquer coisa. O “Nada” não existe, ao passo que Deus, sim, existe. Consequentemente, as pessoas podem crer em Deus, mas ninguém pode crer no nada. Um ateu não consegue ser simplesmente ateu; ele deve se tornar algo mais, que geralmente é algo pior. Quer Deus seja substituído pela impiedade de Marx, ou a de Nietzsche, ou a de Stalin, ou a de Hitler ou a de Margaret Sanger e a Planned Parenthood, o resultado será sempre o mesmo: o massacre de inocentes. Falemos sem rodeios: a ausência de Deus sempre leva à presença do mal.

As lições da história são suficientemente claras para qualquer um que tenha olhos para ver. A eliminação de Deus da esfera pública leva à construção de guilhotinas para substituí-lo. A separação agressiva entre religião e política leva ao mais mortal dos divórcios. A única alternativa à submissão de uma nação a Deus é a submissão de todas as nações a qualquer coisa. Que Deus nos livre de cair nas mãos de tamanha impiedade.

Notas

  1. Se por teísmo entendemos a posição filosófica que dá por verdadeira e racionalmente justificável a proposição “Deus é, ou existe”, então não se trata de uma postura em si mesma religiosa ou necessariamente baseada em alguma fé positiva, embora, é claro, dela se possam extrair consequências de natureza religiosa, moral, vital etc. Nesse sentido, podem considerar-se teístas pessoas de cultura e religiões tão distintas como Sócrates e São João Batista (Nota da Equipe CNP).

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