No século IV, viveu em Roma uma virgem chamada Bibiana, célebre entre os cristãos por sua beleza e modéstia. 

No tempo em que reinava Juliano, o Apóstata, seu pai, Flaviano, despojado de todas as suas honras e banido de sua terra por causa da fé, chegou ao fim da vida na miséria — um verdadeiro mártir por amor a Cristo. Pela mesma razão, Dafrosa, sua mãe, foi encarcerada em sua própria casa, depois do desterro do marido, para que morresse de fome. 

As duas filhas, Bibiana e Demétria, também foram presas com a mãe. Mas como as três não ficaram esquálidas pela falta de comida e, ao contrário, pareciam mais fortes do que antes, não se deixando intimidar para que negassem a Cristo, a mãe, por ordem do governador Aproniano, foi desterrada e decapitada. Bibiana e Demétria foram despojadas de todos os seus bens ao mesmo tempo, na esperança de que a pobreza as levasse a abandonar a fé. 

Porém, as heroínas cristãs reagiram segundo aquilo do Apóstolo: “Aceitastes com alegria a confiscação dos vossos bens, pela certeza de possuirdes riquezas muito melhores e imperecíveis” (Hb 10, 34). Diziam alegremente: “É melhor perder os bens temporais, que não podemos possuir por muito tempo, do que os eternos.” Depois de algum tempo, o governador convocou as duas e prometeu que tudo o que lhes fora tirado seria restituído, desde que adorassem os deuses. Se, porém, não o fizessem, poderiam ser presas, sofrer um martírio cruel e a mais dolorosa morte.

Escultura em mármore de Santa Bibiana, por Gian Lorenzo Bernini.

As virgens cristãs foram tão indiferentes às lisonjas e promessas do tirano como às suas ameaças. “Nós adoramos o verdadeiro Deus”, disse Bibiana, “e estamos dispostas a morrer em vez de manchar nossas almas com sacrifícios aos deuses.” Demétria se expressou da mesma forma, mas, logo após proferir tais palavras, caiu no chão e morreu. Bibiana foi, então, entregue aos cuidados de uma mulher perversa e astuta chamada Rufina, que tinha como objetivo fazê-la renunciar à fé, pois os pagãos sabiam, por experiência, que ninguém negava a Cristo com maior facilidade do que aqueles que haviam perdido a pureza.    

Rufina, a mulher ímpia, fez de tudo para tentar corromper Bibiana. Mostrou-lhe os prazeres do mundo de tal maneira, que achou que a virgem beberia o veneno levado aos seus lábios, mas nenhum de seus truques surtiu efeito. Embora a virgem fosse mantida como prisioneira por Rufina e não pudesse escapar, ainda assim permaneceu imune ao fogo da tentação. 

Invocando sem cessar a Deus em busca de auxílio e força, foi amparada com tanta benevolência, que não apenas não sentiu o menor prazer com a conduta perversa de Rufina, como cresceu ainda mais na virtude. Enfurecida com a situação, Rufina agrediu a inocente virgem, espancando-a violentamente. Tudo o que sua ira sugeria era utilizado para alcançar seu objetivo, mas a virgem, amparada pelo Todo-Poderoso, permaneceu fiel à sua resolução, preferindo perder a vida por meio do mais cruel martírio a macular sua pureza.

Finalmente, quando Rufina percebeu, com grande desgosto, que seus esforços eram completamente inúteis, comunicou o fracasso a Aproniano e persuadiu-o a condenar Bibiana à morte o mais rápido possível. O tirano, logo em seguida, ordenou que ela fosse amarrada a uma coluna e espancada até a morte. A ordem foi cumprida, e Bibiana afirmou várias vezes que era para ela uma grande honra ser considerada digna de morrer por amor a Cristo

Com os olhos voltados para o Céu, permaneceu imóvel durante o martírio, até que seu corpo inteiro ficou repleto de feridas sangrentas e ela entregou a alma imaculada aos cuidados de seu Esposo celeste. Segundo a ordem do tirano, seu sagrado corpo foi deixado na via pública para servir de presa aos cães. Porém, permaneceu intocado até um piedoso sacerdote levá-lo em segredo e enterrá-lo junto ao túmulo de sua mãe e de sua irmã. Atualmente, existe no local uma bela igreja, construída em honra da santa mártir e em memória de seus familiares.

Considerações práticas   

“O corpo insepulto de Santa Bibiana permanece ileso por dois dias no Fórum do Touro”. Obra de Agostino Ciampelli, presente no clerestório da Igreja de Santa Bibiana, em Roma.

O perigo em que se achava Santa Bibiana era imenso, principalmente porque durou muito tempo. No entanto, a casta virgem não pecou, pois não estava em perigo por vontade própria, nem podia salvar-se fugindo. Ela fez o possível para não pecar, e Deus concedeu-lhe um auxílio especial. 

A certeza do auxílio divino deve ser um grande consolo àqueles que, contra a própria vontade, são expostos a um grande perigo, não têm meios de escapar e, tal como Santa Bibiana, fazem o possível para salvar-se. Aqueles, porém, que por imprudência se colocam em ocasião de pecado, ou voluntariamente permanecem nele, não podem esperar tal ajuda de forma razoável. “Certamente receberemos o auxílio divino se não deixarmos de fazer tudo o que está ao nosso alcance”, diz São Tiago de Nísibe. Porém, muitas pessoas não fazem isso, mas mostram claramente que não desejam com sinceridade evitar o pecado, pois não empregam os meios necessários para tanto. E, pela mesma razão, correm o risco de ir para a ruína eterna. 

Por quê? Leve bem a sério as seguintes palavras: para ganhar o Céu, nada é tão necessário quanto uma confissão verdadeiramente contrita. Mas essa confissão requer, para além da contrição, a resolução sincera de não só evitar o pecado, mas também todas as ocasiões que a ele conduzem. Quando tal resolução não existe, a confissão torna-se inválida e sacrílega. Assim não só não obtemos o perdão de nossos pecados, mas cometemos outro pecado grave. Se comungarmos depois de uma confissão desse tipo, tornamo-nos mais uma vez culpados de um grande pecado e, ao continuar nos confessando e comungando, talvez por meses ou anos, profanamos os santos sacramentos e nos lançamos ainda mais fundo no Inferno. 

Oh! Oxalá todos a quem isso diz respeito possam levar a sério este terrível mas verdadeiro artigo de fé, particularmente aqueles que não se esforçam por libertar os seus lares de todas as ocasiões de pecado; que mantêm amizades pecaminosas; que não evitam a casa onde tantas vezes ofenderam o Senhor; e também aqueles que permanecem voluntariamente num lugar onde quase todos os dias correm o perigo iminente de pecar. É possível que essas pessoas se confessem com frequência e não raramente recebam a Eucaristia, mas o fazem de forma indigna, porque na confissão não fizeram o propósito sincero de evitar as ocasiões de pecado. O arrependimento delas não é verdadeiro, mas inútil e hipócrita. São Bernardo de Claraval diz que “o sinal do verdadeiro arrependimento é a fuga de toda a ocasião de pecado”. Segundo Santo Isidoro, “é próprio do verdadeiro arrependimento evitar toda ocasião de pecado”; e mais: “Aquele que não evita toda ocasião de fazer o mal, não se liberta inteiramente do pecado.” 

Referências

  • Extraído, traduzido e adaptado passim de: Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 2. New York: P. O’Shea, 1876, p. 690ss.

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