Fidelidade. Talvez não haja outra palavra para descrever melhor o que Dom Eugênio significou em minha vida. Fidelidade a Deus, à Igreja, ao Papa, às amizades, aos compromissos assumidos, à fé professada, aos princípios morais, à liturgia, à disciplina canônica, aos horários, à orientação dos médicos... A lista seria grande demais para elencar. Uma fidelidade que todos viam, que saltava aos olhos, que gritava sobre os tetos.
Mas o que talvez nem todos conhecessem era a alma desta fidelidade: o querer agradar a Deus em tudo e por tudo. Sim, mesmo que isto desagradasse aos homens; mesmo que isto desagradasse aos seus projetos pessoais e justas aspirações. Quem conviveu com Dom Eugênio pôde presenciar, no dia a dia, estas pequenas ou grandes violências que o Cardeal Sales fazia sobre si mesmo, para não desagradar a Deus.
Sua vida toda foi marcada por este drama interior que só os seus íntimos tiveram o privilégio de testemunhar. Uma dócil fidelidade à vontade de Deus, mesmo quando esta vontade se revestia da aparente irracionalidade da cruz.
Nos últimos anos de vida, Dom Eugênio viveu um verdadeiro calvário – seja por razões pessoais, familiares ou eclesiais. A todos que perguntavam se ele estava bem, se estava sofrendo ou se precisava de ajuda, Dom Eugênio respondia com frequência:
“Eu estou muito bem. Meu Pai é bom! Ele pode tudo. Ele sabe tudo". Confiança de um filho que deseja agradar ao Pai, mesmo quando não o compreende.
Na noite de ontem, Dom Eugênio, viveu a sua última Páscoa. Enquanto ele se apresenta diante de Deus, nós, seus filhos espirituais, temos o dever de sufragar sua alma e pedir ao Senhor que lhe conceda o descanso eterno. Mas, como quem conheceu de perto Dom Eugênio, sinto forte a tentação de dizer que, na verdade, as nossas orações serão usadas por Deus para outra finalidade. É bem possível que ele não as necessite e que esteja desde já ouvindo o convite do Pai bondoso, no qual tanto confiou: “Eia, servo bom e fiel, entra para a alegria do teu Senhor!" (Mt 25, 21).
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