A respeito deste testemunho, de autoria de Doug Mainwaring, esclarecemos o seguinte: as palavras “gay”, “homossexual” e “lésbica” são empregadas aqui em sentido lato, genérico, referindo-se a pessoas, homens ou mulheres, com atração pelo mesmo sexo (AMS). 

A própria Igreja diz, porém, ao falar do tema em seu Catecismo, que essas tendências podem ser “profundamente radicadas” em alguns, mas não em outros.

Além disso, a experiência mostra que, ao lado da AMS, muitas pessoas também se sentem naturalmente atraídas pelo sexo oposto. Este texto é sobre elas, e não sobre pessoas com atração exclusiva pelo mesmo sexo, as quais, por incapacidade de assumir as obrigações essenciais do matrimônio, não deveriam casar-se.)

Feito esse esclarecimento, vamos ao texto.

Quando o astro do rock cristão Trey Pearson anunciou que estava saindo do armário e, consequentemente, separando-se da sua mulher e dos seus dois filhos depois de sete anos e meio de casamento, ele disse que a esposa foi quem mais o apoiou e que, naquele momento, ela apenas o abraçou, chorou e falou para ele que estava muito orgulhosa.

Se esse relato é de fato verdadeiro, é bastante perturbador. Pensemos, por um momento, no grau de decadência social necessário, especialmente no contexto do cristianismo, para uma esposa cristã estar tão condicionada pela cultura atual a ponto de exaltar imediatamente o seu marido por abandonar a ela e seus filhos, em vez de pedir ajuda para preservar o casamento e a família. Um homem que abandona o casamento por sentir atração pelo mesmo sexo não é diferente de um homem que abdica do seu papel de marido e pai para ter relações com outras mulheres. Por isso mesmo, não devemos ver as ações de Trey Pearson como heroicas, mas simplesmente como egoístas

Um homem que abandona o casamento por sentir AMS não é diferente de um que abdica do seu papel de marido e pai para ter relações com outras mulheres.

Eu sei disso por experiência própria, porque há quase vinte anos eu também abandonei o meu casamento por causa da atração que eu tenho por pessoas do mesmo sexo. Sem dúvida, eu cometi um tremendo erro. Felizmente, o nosso casamento foi restaurado há mais de 5 anos e estamos muito felizes [i]. Durante o processo, aprendi que o casamento é mais do que uma tradição ou uma construção social ou religiosa. O casamento monogâmico e complementar é a pérola de grande valor que vale o investimento de uma vida inteira, é uma vocação que supera toda farsa ou imitação.

O que devemos saber, antes de tudo, é que muitas pessoas com tendência homossexual são atraídas pela complementaridade e solenidade do matrimônio.

A cultura atualmente adere à noção de que a heteronormatividade é prejudicial para aqueles que se sentem atraídos pelo mesmo sexo. Mas muitos que experimentam AMS não concordam com isso. Quando buscamos o casamento complementar em vez de relacionamentos anticonjugais e anticomplementares, procuramos nada mais do que nos adequar ao universo inteiro, fazer parte do maravilhoso ecossistema da humanidade e de toda a natureza. Relações sexuais não-conjugais e não-complementares fazem parte de um estilo de vida artificial, contrário à natureza e ao cosmos inteiro. Não só buscamos o casamento no único sentido verdadeiro da palavra, como somos dedicados à solenidade e santidade dos nossos votos. 

Um homem me contou recentemente:

Com o passar dos anos, tenho tido pensamentos passageiros de deixar a minha família e o meu casamento por um parceiro do mesmo sexo, mas cheguei à conclusão que de forma alguma valia a pena destruir minha família e meu casamento por isso. Já há infelicidade o suficiente neste mundo para que eu a aumente ainda mais. A vida não gira em torno de mim; eu gerei uma família e filhos e tenho uma responsabilidade com eles que nunca poderia abandonar. Com o decorrer do tempo, mesmo quando sinto atração por pessoas do mesmo sexo, escolho não focar muito nisso e permanecer fiel ao meu casamento e à minha família. Sinto uma satisfação imensa nisso.

Não me defino de acordo com a minha sexualidade ou desejos sexuais, mas antes como homem, marido e pai. Fiz muitas relações que fortalecem essa autocompreensão e estou satisfeito com isso. Suspeito que existam muitos homens casados como eu que tenham essa mesma atração, mas que escolhem se manter fiéis ao seu primeiro compromisso: a esposa e a família. Não é algo complicado. De verdade. Na realidade, é a maior honra e o maior privilégio.

Como muitas pessoas casadas que sentem AMS e que falaram comigo ao longo dos anos, esse homem deseja permanecer no anonimato porque quer proteger a felicidade e a segurança do seu casamento. Ele nunca faria algo que minasse ou prejudicasse a sua família. É um dos muitos heróis não celebrados que o mundo jamais conhecerá. Queria que muitos mais se pronunciassem publicamente, mas sem dúvida alguma entendo aqueles que escolhem não o fazer.

No ano passado, escrevi um ensaio para um livro intitulado Living the Truth in Love: Pastoral Approaches to Same-Sex Attraction [“Vivendo a Verdade no Amor: Abordagens Pastorais para a Atração pelo Mesmo Sexo”, sem tradução portuguesa]. Eis alguns depoimentos de homens casados com os quais conversei, e que têm atração pelo mesmo sexo:

Tenho 52 anos de idade, sou pai de cinco filhos maravilhosos e estou [muito] bem casado com a minha esposa, Colleen, há 20 anos. Sou ator, escritor, maratonista, e tenho atração por homens.

Não posso escolher sentir-me ou não atraído por homens, mas certamente posso escolher aprender a viver com isso de acordo com a minha própria consciência, mente e fé. Prefiro dar voz a uma escolha alternativa: a de que um homem com atração pelo mesmo sexo pode se realizar emocional, física e sexualmente em um relacionamento e matrimônio tradicionais, como provedor de uma família e patriarca do lar (Kory Koontz).

Quando estava na casa dos 20, pensava que seria impossível me casar com uma mulher um dia, e ainda mais ser feliz e realizar-me nesse matrimônio. Já estou casado há onze anos e estou mais feliz que nunca. E isso inclui os aspectos sexual, relacional e emocional.

Não culpo as pessoas que duvidam de mim. Se não tivesse passado por essa experiência, também duvidaria dela, já que é algo tão contrário à narrativa cultural dominante. Pessoas como eu sempre existiram, mas nós raramente temos motivo para falar sobre isso. Escolho fazê-lo agora não pelo desejo de me ajudar, mas para defender aqueles que se encontram na mesma situação em que eu me encontrava na casa dos 20 e 30, e ainda mais pelas crianças que merecem ser criadas por seus pais biológicos, se possível (Jeff Bennion).

Não me lembro de já ter sentido atração por pessoas do sexo oposto. Quando era criança, mantive os meus sentimentos ocultos sabendo que eu não seria aceito se alguém soubesse como eu me sentia. Entrei para a Marinha dos Estados Unidos para aprender a ser um homem e aprender características masculinas que eu não tinha. Depois de 6 anos de serviço, apaixonei-me pela única mulher por quem me senti atraído na vida e nós nos casamos. Como marido e mulher, tivemos o privilégio de ver os nossos filhos amadurecerem num lar com muito amor. A minha maior felicidade na vida veio do privilégio e da responsabilidade de criar a minha família de acordo com aquilo em que acredito. Netos nos visitam sempre, e a nossa família permanece unida há mais de trinta anos desde o nosso matrimônio.

Se eu tivesse seguido os meus desejos e impulsos, direcionando-os a outros homens, hoje a minha vida seria totalmente diferente. Amigos de meus filhos que só cresceram com o pai ou a mãe já lhes disseram o quão abençoados eles são por terem crescido numa família com os dois, pai e mãe — mesmo com os nossos papéis tradicionais invertidos (eu cozinho e odeio esporte, o exato oposto da minha querida esposa, e não há problema algum nisso) (Joseph Allen Stith).

Os meus sentimentos não… me definem. Não sou aquilo que sinto, sou aquilo que faço (Blaine Hickman).

Nós podemos escolher o nosso destino. Nós podemos escolher a direção que queremos. Não é fácil… mas as bênçãos são abundantes (Bill Seger).

E existem outros casos. Muitos outros. 

Dale Larsen, agora pai de quatro filhos e avô de nove, reconhece as atrações que sentia desde cedo. Depois de nove anos de casamento, durante um período de estresse, as suas atrações dispararam. Uma parente homossexual o convenceu de que ele precisava ser quem era e viver daquela forma. Ela providenciou para ele um encontro com outro homem, e Dale recorda:

Olhei ao redor e vi um casal, o irmão e a cunhada do rapaz, com filhos pequenos que tinham a mesma idade dos meus, e também dois meninos e uma menina, como os meus. E de repente imaginei a minha própria família sentada ali e estas palavras vieram à minha mente: “Se você continuar nesse caminho, e você pode fazê-lo, vai perdê-los.” Tomei uma decisão crucial naquele momento: eu iria voltar para casa. Eu queria muito estar com a minha família, com a minha esposa. Eu a amava.

O poder e a beleza do casamento

Na primavera de 2015, apresentei, como amicus curiæ, um memorial à Suprema Corte dos Estados Unidos que veio a ser conhecido como “Homens atraídos por pessoas do mesmo sexo e suas esposas”. O documento foi submetido ao caso Obergefell v. Hodges [de 2015] para apoiar a possibilidade de os estados manterem a definição de casamento como união entre um homem e uma mulher [ii]. Doze homens casados que sentiam AMS contribuíram para esse esforço. O nosso objetivo era fazer com que os juízes conhecessem as nossas histórias, que têm sido ordinariamente abafadas. Nós supostamente não deveríamos existir. A nossa existência e a prosperidade de nossas famílias ameaçam minar a narrativa segundo a qual o “casamento” gay é a única forma de ser feliz para pessoas com tendência homossexual.

Eis a conclusão de nosso memorial, que resume a mensagem que queríamos transmitir aos juízes:

A anulação das leis que protegem o casamento entre um homem e uma mulher com base na discriminação constitucional enviaria às pessoas com AMS a mensagem de que só existe um caminho para elas, que o casamento entre um homem e uma mulher é inalcançável, que elas estão agindo contra a sua natureza por desejar isso, e que buscar isso representará um risco para elas, seus cônjuges e seus filhos.

Mas o contrário é verdadeiro. A definição de matrimônio como união entre um homem e uma mulher não é um insulto, mas uma bandeira que mostra para todos — independentemente de orientação sexual — que a união entre um homem e uma mulher é de importância singular à luz do seu poder procriativo e da sua complementaridade.

A definição do casamento como a relação de um homem e uma mulher — o casamento complementar — é uma bandeira não só por ser uma boa ideia, ou a melhor dentre muitas. É uma bandeira inteligente porque é a verdade inegavelmente revelada pela natureza e em cada um dos nossos seres físicos. Nós somos feitos homem e mulher, como complementos um do outro. E quando o homem e a mulher se juntam, eles se unem como uma só carne. Quando dois homens ou duas mulheres tentam se unir sexualmente, eles permanecem dois homens e duas mulheres. Basear o casamento somente em interesses sexuais ou românticos implica afastar as nossas mentes da verdade, que é facilmente perceptível.

As nossas histórias não são baseadas em “terapia reparadora”, tentativas de uma suposta “cura” gay ou outros esforços para mudar a orientação sexual. Ao contrário, nós aceitamos totalmente a realidade da nossa atração por pessoas do mesmo sexo e afirmamos plenamente a nossa dignidade individual tal como somos. Nós também atestamos que as nossas atrações não ditam os nossos relacionamentos. Embora talvez não possamos escolher as nossas atrações, podemos escolher os nossos relacionamentos. E em vez de escolhermos o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, que hoje é culturalmente aceitável e popularmente celebrado, nós escolhemos o casamento. O de verdade.

Eis o que os proponentes do “casamento” gay e muitos que passivamente aceitam a sua chegada talvez nunca cheguem a compreender: o sexo dentro do casamento, e o casamento em si, é sobre a doação generosa de ambas as partes, e não sobre o que os nossos olhos e as nossas mentes cobiçam. Eu prefiro ser livre, viver de acordo com a razão e estar em harmonia com o universo, do que ser um prisioneiro confinado aos limitados ditames de meus impulsos hormonais.

O “casamento” entre pessoas do mesmo sexo não é a única opção para gays e lésbicas que buscam realização pessoal e felicidade familiar. Independentemente do que possa dizer a Suprema Corte [iii], o casamento com um membro do sexo oposto não é uma espécie de impossibilidade sem sentido para aqueles que se sentem atraídos pelo mesmo sexo. É a realização dos nossos desejos mais profundos.

Notas

  1. Conservamos a informação original, mas este texto é de 11 de julho de 2016. Portanto, a reconciliação do autor com sua esposa já tem pelo menos mais de 10 anos. (N.T.)
  2. No caso Obergefell v. Hodges, de 2015, a Suprema Corte dos Estados Unidos declarou a união entre pessoas do mesmo sexo como um direto protegido pela Constituição. (N.T.)
  3. O autor está se referindo aqui à Suprema Corte norte-americana, mas a advertência serve para o Brasil, já que em 2011 também o nosso Supremo Tribunal Federal tornou legal a união de pessoas do mesmo sexo. (N.T.)

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