As ruas de Paris voltaram a ser palco de uma mobilização contrária à política socialista do presidente François Hollande, que pretende legitimar o "casamento" gay na França até junho deste ano. Cerca de 1,4 milhão de pessoas (algumas informações defendem 300 mil) marcharam à frente da Torre Eiffel para dizer um forte "não" à equiparação dos relacionamentos homossexuais à família natural. Em meio a um público de diferentes idades e credos, a ocasião foi também uma oportunidade para unir católicos, protestantes e até muçulmanos em torno da defesa da família. E, para desespero dos militantes esquerdistas, a manifestação que aconteceu no último domingo, 24/03, contou com o apoio de vários homossexuais, sobretudo dos membros da Homovox, a maior associação homossexual do país.
Essa é a terceira vez em que os franceses saem às ruas para repudiar o projeto da Ministra da Justiça francesa, Christiane Taubira, que busca a regularização da união civil entre pessoas do mesmo sexo. Em janeiro de 2013, a marcha teve o apoio de centenas de associações e grupos de diferentes credos que marcaram presença durante o ato para exigir do presidente François Hollande um referendo sobre o assunto. Embora a maioria dos franceses apoiem a proposta, a porcentagem dos que são contrários vêm crescendo dia após dia, em grande parte, devido a esses protestos. Foram as maiores manifestações públicas do país desde que a população resolveu protestar contra a reforma educacional em 1984.
As lideranças gays, numa tentativa fracassada de fazer oposição às marchas em defesa da família, também se organizaram em manifestações. No entanto, apesar de todo o aparato da mídia progressista e do lobby de outras organizações, o número de participantes ficou muito aquém daquele presente nas manifestações rivais. Uma derrota vergonhosa para a ideologia de gênero e seus promotores. Quem achava que a família natural poderia ser subvertida mediante uma simples canetada do presidente percebeu que estava errado. Fator que só tende a reforçar o incisivo ensinamento da Igreja de que, nas palavras do Cardeal Joseph Ratzinger, "[n]enhuma ideologia pode cancelar do espírito humano a certeza de que só existe matrimônio entre duas pessoas de sexo diferente".
Se por um lado o governo já declarou que não tem a intenção de voltar atrás no projeto, por outro, a situação é uma ótima oportunidade para os franceses perceberem a farsa do discurso socialista e o pouco caso dessa ideologia em relação aos termos democráticos. Não importa que a lei natural diga que dois homens não são capazes de gerar um filho, não importa que a população se mostre contrária à proposta. A única coisa que importa para políticos dessa estirpe é fazer prevalecer seus ideais delirantes e imorais. Nem que para isso eles tenham que perseguir, condenar ou fazer uso das famosas guilhotinas de Robespierre e Napoleão. A criação de um "Observatório Nacional da Laicidade" para combater o que eles chamam de "patologia religiosa" já é um primeiro passo nesta direção.
Uma coisa é certa, a histórica manifestação dos franceses não deixará indiferente a consciência da população, muito menos a de seus governantes. Prova disso vê-se na preocupação dos socialistas em relação à crescente atuação da Igreja no espaço do debate público. Mesmo que a absurda lei do "casamento" gay venha a ser aprovada, o presidente François Hollande não ficará imune à reprovação do país, algo que poderá se refletir nas próximas eleições. Há um despertar da fé no povo francês, isso é notório. E esse despertar é o que ajudará os franceses a perceberem que, no debate acerca da união entre pessoas do mesmo sexo, o que se está em jogo não são apenas convicções religiosas, como alguns querem fazer crer, mas a própria natureza e identidade do ser humano.
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