Embora não necessariamente desprovidas de valor ou veracidade, evidências anedóticas precisam de fatos concretos para se confirmarem como reais. Nos últimos anos, tem-se falado muito do aumento no número de jovens, principalmente homens, convertidos ao cristianismo ortodoxo e, em particular, à fé católica. Essas histórias agora têm uma base fatual. Na França, em 2024, mais de dez mil pessoas foram recebidas na Igreja. Em outros países europeus, e nos Estados Unidos, o número de pessoas batizadas na Vigília Pascal foi o maior das últimas décadas.
Está realmente acontecendo.
Talvez seja muito cedo, e dramático demais, falar em um “renascimento religioso” no Ocidente, tão atingido pelo secularismo. Todavia, se a Igreja deve ler os “sinais dos tempos”, o desejo por parte de muitos, que pouco ou nada sabem sobre Cristo, de descobrir as antigas verdades da fé cristã, deve ser não só acolhido como fomentado — e também os tesouros de beleza, verdade e bondade que a Igreja custodia em seus dois mil anos de história.
A familiaridade, como diz o velho ditado, “gera desprezo”. Chesterton, porém, escrevendo há mais de oitenta anos, falava do “cansaço da familiaridade” — numa época em que, mesmo não havendo uma prática generalizada da fé na Grã-Bretanha, qualquer pessoa com um mínimo de educação (nem que fosse o simples ensino fundamental) tinha um conhecimento geral dos fatos essenciais da fé cristã.
Como escreveu certa vez o romancista americano John dos Passos, “a leitura constante da Bíblia, em centenas de milhares de famílias humildes, manteve um nível básico de alfabetização na língua como um todo — e na língua inglesa”.
O argumento de Chesterton, no “caso cristão em especial”, como ele o chamava, era a impossibilidade quase total de tornar “os fatos vívidos, porque eles são familiares; e para o homem decaído, sucede com frequência que a familiaridade canse”. Ele acrescentou que, se Cristo fosse apresentado como um herói chinês (em outras palavras, como uma figura esotérica), as pessoas estariam mais dispostas a aceitá-lo.
Essa familiaridade simplesmente não existe mais, e não só na Grã-Bretanha. Em todo o mundo ocidental, três ou quatro gerações foram educadas com sucesso na ignorância, não apenas em relação à base da civilização ocidental — o cristianismo —, mas também em relação às obras literárias, musicais e artísticas que são produtos dessa civilização.
Citações da Bíblia ou de Shakespeare, cujo conhecimento podia presumir-se na época de Chesterton, são agora tão estranhas quanto versos em sânscrito. Falar em “ver como por um espelho”, ou em “cegos guiando cegos”, não faz sentido [algum] a pessoas que experimentaram, por quatro anos, a dispendiosa privação intelectual conhecida como bacharelado.
Tudo isso, porém, não deve ser visto como um obstáculo, mas, sim, como uma magnífica oportunidade — na verdade, uma ocasião providencial.
O “cansaço da familiaridade” não existe mais, porque os fatos do cristianismo não são apenas estranhos: são desconhecidos.
O sociólogo católico Stephen Bullivant disse [certa vez] que, para a fé ser proclamada de novo com melhores perspectivas de sucesso, o Evangelho precisaria de uma “imunidade de rebanho”. A menos que eu não o tenha compreendido bem, o caso me parece ser exatamente o contrário. As massas, particularmente os jovens, não são imunes a um Evangelho que nunca ouviram; elas estão prontas para ser contagiadas.
Quando São Paulo entrou no Areópago, segundo os Atos dos Apóstolos, ali as pessoas “não faziam nada, a não ser contar ou ouvir alguma novidade” (17, 21). Portanto, neste novo momento de Areópago, o Evangelho, sempre antigo e sempre novo, pode acender o mesmo fogo num grupo de pessoas surpreendentemente semelhantes, divididas pelo tempo, mas não pelo desejo.
É verdade que, como na naquela época, muitos vão zombar. Mas outros vão dizer, e já estão dizendo: “Outra vez te ouviremos sobre este assunto” (At 17, 32). Sabemos que Dionísio e uma mulher chamada Damaris foram convertidos pela pregação de Paulo: o querigma da Palavra de Deus. Hoje, não temos apenas uma Damaris e um Dionísio. Onde a Palavra é pregada de verdade, eles são muitos.
Neste momento providencial, não deveria nos surpreender que o mundo esteja ceifando vidas humanas inocentes, desde a concepção até a melhor idade; nem que o número de suicídios entre adolescentes esteja batendo recordes históricos. Como disse T. S. Eliot, estão tentando “formar uma moralidade civilizada, mas não cristã” [form a civilized but non-Christian morality] — tentativa que, segundo ele, estaria fadada ao fracasso.
A novidade do Evangelho — a Boa-nova —, da vida após a morte, do verdadeiro significado do que seja o ser humano — homem e mulher criados à imagem e semelhança de Deus —, da Encarnação e da Ressurreição, é de fato o único antídoto contra o desespero.[1]
Salvação, Encarnação e Redenção não são palavras ou conceitos presentes no léxico moderno. Mas, justamente por se tratar de um novo momento de Areópago, um Paulo, ou um exército de missionários paulinos, com o apoio e a aceitação da hierarquia [da Igreja], deve agora desenvolver um vocabulário totalmente ortodoxo, que fale com ousadia ao povo de hoje — como Paulo fez em Atenas.
Como dizia São João Paulo II, agora é o momento de a Igreja “propor” a mensagem da esperança e, mais uma vez, numa sociedade pós-cristã e pós-moderna, conquistar os corações e as mentes que esperam, ansiosas, a libertação de seus velhos adversários: a morte e o desespero.

O que achou desse conteúdo?