Nesta aula, vamos partilhar algumas reflexões feitas a partir da leitura do livro recentemente publicado pela Vide Editorial, Karl Marx e o Diabo, do autor católico Paul Kengor [1].

A publicação deste livro ocorreu em meio a uma controvérsia que atingiu nosso país durante a última eleição presidencial (de 2022): em um vídeo, muito compartilhado nas redes sociais, um satanista, contando com a vitória do Partido dos Trabalhadores nas eleições, fez uma série de ameaças e insultos aos cristãos brasileiros.

Muitos ficaram bastante impressionados com essa manifestação, e então iniciou-se um debate sobre as possíveis relações entre o PT, um partido de ideologia socialista, e o satanismo. Seriam verdadeiras as acusações ou meras calúnias?

Não é nossa pretensão entrar nesse debate específico, até porque ele sempre estará muito contaminado pela polêmica político-eleitoral, e nossa intenção não é fazer campanha.

Mas o excelente livro de Paul Kengor e essa recente polêmica nacional dão-nos ocasião para uma reflexão mais profunda, uma meditação que nos leve a uma visão um pouco mais filosófica da realidade. Isso porque, para além das realidades passageiras das polêmicas e campanhas eleitorais, há um fenômeno bem mais permanente, que é a ideologia marxista. E podemos nos perguntar se não há uma ligação entre o marxismo e o satanismo. Existe alguma relação, historicamente comprovada, entre os dois? Há princípios filosóficos comuns entre essas duas, digamos assim, “filosofias”?

Antes mesmo de iniciarmos essa reflexão, é importante deixar claro que afirmar, como faremos, que há uma conexão filosófica entre o marxismo e o satanismo, não significa afirmar que Karl Marx era satanista, ou que os marxistas são adoradores do demônio.

Nesta aula, portanto, iremos demonstrar que há uma ligação filosófica profunda entre o marxismo e o satanismo, mesmo que muitos marxistas não estejam conscientes disso. Essa é a tese principal da nossa reflexão.

Alguns podem pensar que afirmar as relações entre o marxismo e o satanismo, num plano filosófico ou intelectual, é um modo de atenuar e minimizar essa proximidade, relegando-a a um âmbito etéreo, abstrato, inócuo. Ao contrário, não há nada mais perigoso e efetivo do que as ideias. O demônio tem nelas seu principal instrumento. Nós nos impressionamos com as possessões e manifestações diabólicas extraordinárias, mas sua ação mais constante e destrutiva se dá pela implantação de certas mentiras e erros na mente humana.

O mal é uma realidade espiritual e, portanto, a nossa principal batalha é também espiritual: no campo das ideias, da verdade que combate o erro e a mentira. Por isso, o ápice do mal está em certas ideias que são aceitas pelo intelecto e assentidas pela vontade. É por essa porta que o mal entra e destrói todas as coisas.

Portanto, repito, não é minha intenção afirmar que Karl Marx ou os comunistas em geral são pessoalmente satanistas, possessos ou cultuadores do demônio. É bem possível que alguns cultuem, sim, como veremos, mas esse não é o cerne da questão.

A tese que vamos defender é mais ampla: há algo profundamente errado na ideologia marxista, algo verdadeiramente satânico.

Houve um bispo brasileiro, Dom Geraldo de Proença Sigaud, que foi padre conciliar durante o Concílio Vaticano II e fez muitos esforços para que o Concílio condenasse a ideologia marxista. No entanto, apenas conseguiu fazer inserir algumas notas de rodapé com menção a documentos antigos da Igreja que faziam essa condenação. Ele costumava dizer, sobre esse episódio, que era melhor ter um chapéu do que não ter, mas que não era a mesma coisa ter esse chapéu na cabeça, isto é, no texto oficial do Concílio, e tê-lo apenas na mão, ou seja, em citações de notas de rodapé.

O certo é que esse bispo escreveu uma obra chamada Catecismo Anticomunista, onde expressou, com linguagem mais popular, a tese que vamos demonstrar nesta aula. Nas perguntas 58 e 59 do referido Catecismo, ao falar sobre a origem e a força do comunismo, Dom Sigaud afirmou claramente a existência de um vínculo ideológico diabólico:

58. Quem inventou esse regime? Quem inventou este regime foi Satanás, que sabe que o melhor meio de levar os homens à perdição eterna é fazê-los rebelarem-se contra a ordem constituída por Deus.

59. Como Satanás consegue adeptos para este regime? Prometendo aos homens o paraíso na terra se eles renunciarem a Deus e ao Céu, Satanás consegue enganá-los como o fez a nossos primeiros pais, e o resultado é o inferno na terra e na eternidade [2].

Como podemos expressar essa afirmação de maneira mais filosófica e por demonstrações?

Comecemos com as ideias de Karl Marx, aquele que concebeu o marxismo e, portanto, também o socialismo e o comunismo, termos sinônimos, considerados etapas de um mesmo processo, segundo o próprio idealizador.

Karl Marx professava uma versão secularizada, materialista, ateia, distorcida, da escatologia cristã. No seu pensamento, há algo como uma “fé marxista”, uma “fé materialista”. Em certo sentido, podemos dizer que o marxismo é uma religião ateia escatologista.

Se estudarmos o marxismo, verificaremos que se baseia, desde sua origem, na seguinte concepção: o mundo não está como deve ser e, se uma revolução destruir o mundo, surgirá algo novo e bom.

Nesse sentido, há uma proximidade, um parentesco distante com concepções legítimas e ortodoxas do catolicismo. O demônio não inventa mentiras do nada, mas perverte e transforma as verdades.

Qual é a concepção católica que encontramos no Catecismo da Igreja? A Igreja crê que, no fim dos tempos, haverá uma grande manifestação do mal. Ocorrerá uma grande apostasia e, então, num conflito final, numa provação última, haverá o triunfo da Igreja, no qual Deus fará sua Esposa descer do Céu como Jerusalém celeste, cheia de glória. É isso que nos apresentam os Evangelhos, o Apocalipse e o Catecismo da Igreja.

Ou seja, haverá uma deflagração última do mal, mas Deus fará justiça, e fará surgir novos céus e nova terra. Haverá uma intervenção divina para redimir esse mundo, que está perdido.

Mas, as concepções de tribulação, juízo final e instauração de novos céus e terra, foram sendo pervertidas por cristãos heterodoxos desde a Idade Média. Uma boa fonte de estudo para rastrear as origens intelectuais do marxismo é a obra-prima de Leszek Kolakowski, As Principais Correntes do Marxismo, que foi publicada pela Vide Editorial [3]. Há três volumes: “Os Fundadores”, “O Colapso” e “A Era de Ouro”. No primeiro desses volumes, o autor narra, logo no primeiro capítulo, toda essa história, desde o platonismo e Plotino, passando por Nicolau de Cusa, mostrando como foi sendo preparada a dialética de Georg W. F. Hegel, que seria a fonte de toda a filosofia de Marx.

Em outras palavras, Kolakowski mostra claramente como, já na Idade Média, alguns cristãos começaram a professar a ideia de que Deus não criou o mundo por amor, como cremos, mas que, por conta de uma incompletude, insatisfação, ou subdesenvolvimento originário do próprio Deus, Ele teria a necessidade do ato criativo para se atualizar e completar. Então, nessa visão heterodoxa, Ele criaria este não-Deus, que é o mundo, e, dessa divisão originária de Deus, surgiria, como consequência, uma espécie de desejo interno de reunião de Deus com a sua criação. Essa reunião iria acontecer por um colapso desses dois elementos que realizaria uma síntese final. Então, nessa visão heterodoxa da história da Criação, temos já uma antecipação da dialética de Hegel: tese, antítese e síntese. Deus seria a tese; o mundo, esse não-Deus, a antítese; e a síntese final, o fruto desse colapso de elementos, que seria Deus num estado atualizado e desenvolvido.

Nessas breves frases, estamos tentando resumir mil anos de história do pensamento para explicar como teve origem a filosofia de Hegel e a sua perspectiva de que a partir de um conflito poderia surgir uma síntese superior, algo melhor que o estado anterior. Hegel usa o termo “suprassumido” (aufgehoben, em alemão) para se referir a esse estado superior e melhor, que adviria do confronto dialético entre tese e antítese.

No fundo dessa perspectiva há um tipo de panteísmo, em que não há a criação do nada, ex nihilo, mas em que as coisas são emanadas de um deus incompleto, e em que essas duas partes precisam entrar em conflito, lutar, para causar uma união superior. E em certas correntes da cabala judaica, a essa perspectiva foi acrescentada a noção de que seria necessária a destruição radical de tudo para se alcançar essa síntese final, esse “mundo melhor”, esse “mundo que vem”, esse “mundo positivo”, o “deus unido ao homem”, e as muitas versões dessa mesma ideia.

Voltemos a Karl Marx, profundamente influenciado por Hegel, para entender a continuidade dessa perspectiva da dialética da destruição.

Karl Marx é filho de um judeu da cidade de Trier, na Alemanha. Trier (Tréveris em português) é uma cidade de longa história cristã. Por exemplo, Santa Helena, mãe do imperador Constantino, trouxe para Trier a túnica inconsútil de Jesus; e a catedral de Trier, onde Marx nasceu, guarda essa túnica. Foi nessa cidade também que nasceu ninguém mais, ninguém menos que Santo Ambrósio.

Marx, então, nasceu nessa cidade eminentemente católica. O seu pai, no entanto, era um judeu que, cedendo um pouco às pressões sociais da época, acabou por converter-se ao cristianismo — mas não ao catolicismo. Por quê? Ele preferiu uma versão liberal de cristianismo, que não acreditava tanto na divindade de Jesus. Era um cristianismo liberal, um luteranismo liberal, que já existia em germe no século XIX, e que depois tomará forma e expressão com teólogos como R. Bultmann e outros, para os quais Jesus não era Deus de fato; haveria o “Jesus histórico” e o “Cristo da fé”. No tempo do pai de Marx, essas ideias já começavam a aparecer. Apesar de ser um cristão liberal, o pai de Marx tinha certa crença em Deus, e até batizou seu filho. Marx, inclusive, viveu uma fase de sua adolescência como cristão devoto, mas, ao iniciar seus estudos universitários, foi bastante influenciado por um professor ateu de teologia, chamado Bruno Bauer, que contribuiu para que ele perdesse a fé.

Ao mesmo tempo, Marx desde jovem tinha um gosto pelo oculto e por temas tenebrosos. Com seus 19 anos, chegou a escrever poemas que, se não são satanistas, estão muito próximos dessa perspectiva. Essa poesia ficou perdida por muito tempo, até que foi finalmente publicada no século XX, por honestidade intelectual daqueles que editaram e publicaram as obras completas de Marx.

Entre os frutos de sua poesia, está um poema, de 1837, chamado “Pálida Donzela”, que fala de uma moça que comete suicídio [4]:

Arrancaram-me os Céus;
perdi a via estreita.
Minha alma, fiel a Deus,
ao inferno ora é eleita [5].

Ou seja, o eu-lírico está dizendo que perdeu o Céu, e que sua alma foi “eleita” ao Inferno. É com esse tipo de fogo que Marx brincava na juventude.

Em outro poema, chamado “O Jogral”, Marx descreve um tocador de viola clássica — instrumento parecido com o violino —, detalhando de maneira tenebrosa como ele foi se autodestruindo:

— Meu sabre tinto em sangue escuro
Fez em tua alma inciso furo!
Para Deus, a arte é indiferente,
fumo infernal que sobe à mente
e turba o senso até à loucura.
Obtive-o de figura obscura,
que rege o ritmo com que toco
a dança da morte, num louco
afã de luz e escuridão [6].

Ou seja, o violinista recebeu um sabre manchado de sangue, que perfurou sua alma. E de quem recebeu esse sabre? “Obtive-o de figura obscura”. Nos rituais satânicos, há o gesto ritual de receber de Satanás uma espada, como se fosse uma “força” que a pessoa obtém. Isso não significa que Marx realizou esse ritual, mas é inegável que ele escreveu a respeito.

Há outro escrito seu, um drama em versos, chamado “Oulanem”, nome que é uma mistura de letras para dizer “Emanuel”. Isto é, Emanuel às avessas, ou seja, o Anticristo. E o personagem chamado Oulanem [7] quer destruir o mundo todo, todas as coisas.

Não há provas históricas de que Marx tenha sido pessoalmente um satanista [8], e afirmar isso não é nossa intenção. O que pode ser amplamente comprovado é a presença de uma lógica satânica no pensamento de Marx.

Os seus biógrafos são unânimes em dizer que ele tinha uma fascinação pela obra Fausto, de Goethe, famoso escritor do romantismo alemão. Um dos personagens dessa obra é Mefistófeles, uma espécie de encarnação do diabo, para quem Fausto, o protagonista, vende a sua alma.

Na obra, há uma frase de Mefistófeles que Marx gostava de repetir constantemente: “tudo que está de pé, é necessário que pereça” (no original alemão, alles was entsteht ist werth daß es zu Grunde geht). E aqui chegamos à nossa tese principal: existe uma crença, subjacente às várias correntes e movimentos marxistas, de que, se eles fizerem a revolução e destruírem tudo, há de vir, a partir do próprio processo de destruição, um mundo melhor. Esse é o absurdo em que eles creem.

Nós, cristãos, no entanto, cremos que não somos nós que precisamos destruir o mundo, mas é o mundo que, em sua própria limitação, caminha para a autodestruição, e é Deus quem virá para fazer justiça e, assim, criar novos céus e nova terra.

Nossa fé, portanto, fundamenta-se numa reta proporção entre causa e efeito, em que o bem só pode ser efeito de uma causa boa: só um Agente bom, no caso Deus, pode causar a nova Jerusalém. Vemos essa proporção já no relato da Criação, no Gênesis: quando Deus, após criar, constata que “tudo era muito bom”. Nesse contexto, o mal é permitido por Deus para que, a partir dele, o próprio Deus tire um bem maior. Novamente, há uma lógica muito clara: é do bem de Deus que vem o bem, não do mal.

Diferente dos cristãos, Karl Marx que, segundo obras clássicas como a de Kolakowski, foi influenciado por correntes cristãs gnósticas e cabalísticas, entendia que o mundo é profundamente mau e precisa ser destruído para que surja de fato o bem.

Então, não há nenhuma “teoria da conspiração” em afirmar a origem gnóstica da concepção marxiana sobre o mundo e o destino. Se avançamos no tempo até os pensadores marxistas da Escola de Frankfurt, com seu famoso Instituto de Pesquisas Sociais, observamos claramente essa crença de que, pela destruição de tudo, virá uma renovação supostamente benéfica. Há uma obra chamada Imaginação Dialética, do pesquisador Martin Jay [9], na qual se demonstra ser esse o pressuposto de fundo dos principais representantes desse Instituto.

Então, essa sanha destruidora e irracional é a crença básica de todo marxista. No entanto, ela não surgiu do nada na mente de Marx, mas é resultado de um longo desenvolvimento histórico.

Se nos perguntamos como marxistas ateus podem ter essa crença absurda de que, da destruição da sociedade, surgirá uma sociedade perfeita, um paraíso terrestre, vemos que há nisso uma clara influência satânica.

Mefistófeles, na obra Fausto, define-se assim: “Eu sou uma parte daquele poder, daquela força que sempre faz o mal, mas termina dando origem ao bem”.

Aqui não interessa se Marx e os marxistas eram pessoalmente satanistas. O centro da questão é que essa lógica infra-humana, irracional, essa “dialética”, cultivada por todos os marxistas, é intelectualmente satânica.

Os marxistas creem nessa lógica, falam, escrevem e agem segundo ela. Além da frase de Mefistófeles, “tudo o que está de pé é necessário que pereça”, que Marx gostava de repetir, vemos na sua correspondência trocada com F. Engels como este último se referia ao Manifesto Comunista. Engels chamava a referida obra de “nosso catecismo”, que serviria “como uma espécie de Credo”.

Essas comparações são bastante expressivas. Vemos no Manifesto, então, os “artigos de fé” do comunismo. Ali já estão presentes, por exemplo, as ideias de abolir a propriedade privada e a família.

Lemos “abolir a família”, mas hoje vemos muitos afirmando, por exemplo, que a ideologia de gênero não faz parte do “marxismo em si”. Para essas pessoas ingênuas, o marxismo é apenas uma proposta de corrigir a má distribuição de bens entre os cidadãos e tornar a sociedade igualitária. Ora, quem diz isso precisa entender que esse discurso sobre igualdade e justiça é apenas propaganda, um meio de legitimação. Se a intenção dessa ideologia é destruir a família, obviamente eles não vão se apresentar a você dizendo isso com todas as letras. Primeiro, irão formular um discurso aparentemente nobre e misericordioso que esconda suas verdadeiras intenções. Eles dizem, por exemplo, que a mulher vem sendo oprimida e que ela precisa de divórcio, aborto, anticoncepcional e laqueadura, além de trabalhar do mesmo modo que o homem. A união homossexual passa a ser incentivada, e opor-se a ela torna-se uma forma de opressão, um tipo de patriarcalismo, machismo ou “homofobia”. E, por fim, vão mais longe e dizem que a mulher também tem direito a ser homem, e que o homem tem direito a ser mulher.

Em outra obra de Karl Marx, publicada postumamente por F. Engels, A origem da família, da propriedade privada e do Estado, ele afirma com clareza que a família é uma “invenção capitalista”.

Quando, no século XX, a Escola de Frankfurt colocou em prática a Revolução Sexual; quando Wilhelm Reich, pesquisador da Escola de Frankfurt, afirmou que precisamos dar liberdade sexual para as crianças, isso não foi um desvio ou acréscimo espúrio ao marxismo. Pelo contrário, estava cumprindo à risca o objetivo de desmontar a estrutura familiar, a partir de uma visão distorcida da sexualidade.

Wilhelm Reich, que foi aluno de Freud, conta em sua biografia que, com quatro anos de idade, já tinha relações sexuais com a empregada, tomava banho com sua mãe nua e se masturbava. Quer dizer, ele queria transformar a sua experiência pessoal, depravada, numa proposta política de “liberdade sexual” para todas as crianças do mundo. De forma semelhante, hoje, há alguns desses revolucionários propondo o que chamam de “liberdade sexual intergeracional”, ou seja, o direito à pedofilia. Nada disso é uma “deturpação” ou “desvio” do marxismo. São discursos e propostas que têm o objetivo claro de destruir a família.

Se olhamos para essas ideias, não com as vestes propagandísticas com que os marxistas as apresentam, mas como são realmente, sobretudo pelos efeitos que causam, percebemos, por exemplo, que a ideologia de gênero é um dos instrumentos para cumprir a meta estabelecida desde o início no Manifesto Comunista: destruir a família, para desmontar a “sociedade burguesa” e instaurar um “mundo melhor”.

Podemos perceber esse mesmo ímpeto destruidor na biografia dos pensadores mais relevantes e influentes da Escola de Frankfurt, como Theodor Adorno, Max Horkheimer e Herbert Marcuse. Todos saíram fugidos da Alemanha nazista para os Estados Unidos, que os acolheram e salvaram. Não obstante, dedicaram o resto de suas vidas a escrever livros que “provassem” como a sociedade americana, que os salvou dos campos de concentração, era pior do que o nazismo. Por quê? Porque, como marxistas, eles possuem um pensamento gnóstico, segundo o qual o mundo existente é mau e precisa ser destruído.

Na biografia de Horkheimer, consta que, quando ele precisava contratar um professor para o Instituto, e alguém elogiava algum candidato, ele já afirmava: “Não vou contratá-lo, eu não vi nos olhos dele aquele ódio por tudo o que existe.”

Essa crença revolucionária e satânica está presente até mesmo dentro da Igreja Católica. Quem assistiu à aula A Nicarágua e o nosso futuro, percebeu que a Teologia da Libertação tem esse pressuposto destrutivo e, por isso, promove a ideia de “abolir a fronteira entre a Igreja e o mundo”, isto é, de dissolver a Igreja no mundo.

Na concepção desses marxistas, quando as igrejas, os seminários e as Ordens religiosas estiverem vazios; quando os cristãos estiverem completamente secularizados, mundanizados, descristianizados, só então surgirá o “bem”, haverá uma “sociedade cristã”.

Portanto, mais importante que conhecer as convicções pessoais dos marxistas — sabendo se eles de fato cultuam Satanás — é entender que, historicamente, o marxismo se fundamenta na concepção satânica de que tudo que existe é mau e precisa ser destruído para que o bem surja desse processo revolucionário. Ora, essa forma de pensar é, por si mesma, destrutiva.

E é por causa do poder destrutivo dessa filosofia que a maior parte dos que se declaram satanistas são ateus. O que poderia parecer uma incoerência explica-se, na verdade, pelo objetivo de destruir os valores cristãos na sociedade. Cultuar e realizar rituais satânicos é uma forma de desfazer a cultura cristã, mesmo que pessoalmente não se creia na existência do demônio.

Um caso interessante relacionado a esse assunto é o de um aluno do nosso site. Ele relatou que, quando era marxista e ateu, aprendeu com os amigos do grupo a fazer pequenos rituais satânicos simplesmente para “quebrar o paradigma cristão”, pois vinha de uma família religiosa. Logo depois, começaram a ocorrer manifestações preternaturais e ele se assustou bastante, pois não acreditava nessas realidades. Então, começou a pesquisar o assunto de verdade, encontrou nosso site, converteu-se e virou católico.

Também o famoso revolucionário marxista Saul Alinsky, que inspirou o ex-presidente Barack Obama e boa parte da esquerda americana, manifestava apreço pela “ideia” de Satanás, dizendo que ele era o primeiro revolucionário. O demônio, para esses ideólogos, é apenas um paradigma de revolução, o símbolo da dissolução das estruturas. Mas isso não quer dizer que eles realmente creem em Satanás.

Nós sabemos, porém, que o diabo existe, que os demônios agem no mundo e que eles exercem influência sobre nossas ideias, de modo que os marxistas estão, na verdade, sendo usados para fins diabólicos, quer creiam ou não.

Não é preciso crer nos demônios para ir ao Inferno. A fé é necessária para entrar no Céu, mas não para entrar no Inferno.

Vamos encerrar esta exposição com a citação de um documento pontifício, até mesmo para esclarecer que isso não é apenas uma posição pessoal. Até aqui simplesmente apresentamos fatos históricos e interpretações filosóficas.

Faremos as citações a partir da obra A Voz dos Papas contra o Comunismo, da Editora Caritatem [10], que coligiu em um volume todos os documentos do Magistério que condenam o comunismo.

O Papa Pio XI, em sua Carta Encíclica Divini Redemptoris, que foi publicada em meio à Guerra Civil Espanhola, e após a Guerra dos Cristeros no México e a Revolução Bolchevique na Rússia, afirma o seguinte no número 77 do documento: “Deve o Estado deixar à Igreja plena liberdade de cumprir a sua missão divina e espiritual, para contribuir assim poderosamente para salvar os povos da terrível tormenta da hora presente” [11]. Isto é, o Papa ensina que a Igreja deve ter liberdade de evangelizar e pregar, pois somente ela tem capacidade de combater a ameaça comunista. Muitos pensam hoje em dia que a Igreja não deveria se envolver nesses assuntos, alegando que tratar disso seria “politizar a fé”, mas o Papa Pio XI afirma claramente que não são os partidos políticos ou os economistas que irão resolver esse problema.

Ele continua: “Por toda parte se faz hoje um angustioso apelo às forças morais e espirituais; e com toda a razão, porque o mal que se deve combater é, antes de tudo, considerado em sua primeira origem, um mal de natureza espiritual” [12]. Ou seja, Pio XI está dizendo que o marxismo é um mal espiritual, como tentamos demonstrar nesta aula. O marxismo é uma forma de revolta contra a Criação; é uma revolta contra a estrutura do ser, que está na realidade criada por Deus; é uma revolta espiritual. E quem é o líder dessa revolta? Satanás. Estamos diante de um mal de natureza espiritual, do qual brotam, por uma lógica diabólica, todas as monstruosidades visíveis do comunismo.

Algo dessas monstruosidades é relatado no mundialmente famoso Arquipélago Gulag, de Alexander Solzhenitsyn [13], ex-prisioneiro de um dos campos de concentração soviéticos, chamados gulags. Nesse livro, percebemos que os gulags conseguiram ser piores, em suas atrocidades, que os campos de concentração nazistas.

Outro livro que também descreve algo desse horror, recentemente publicado pela Vide Editorial, é O fenômeno Piteşti, de Virgil Ierunca [14]. Piteşti foi uma prisão, na Romênia comunista, considerada uma das mais terríveis que já existiram, porque nela os comunistas faziam experiências de lavagem cerebral com os cristãos, além de drogá-los, torturá-los e submetê-los a atos abomináveis: obrigavam padres ortodoxos a “consagrar” fezes e urina no lugar do pão e do vinho; “batizavam” jovens cristãos, diariamente, num balde de urina e excremento; amarravam as pessoas numa cruz e as deixavam lá penduradas por dias, com fome, e depois as colocavam no chão, obrigando outros a passar por cima delas, defecando e urinando, com os guardas escarnecendo e dizendo que era aquele o Cristo a quem eles deveriam adorar.

Nessa mesma prisão romena esteve o pastor Richard Wurmbrand, que relata sua experiência na obra Torturado por Amor a Cristo [15]. Ele registrou inclusive o sofrimento de um pai, cujo filho estava sendo torturado na sua frente, para que ele renunciasse a Cristo; mas o filho, sendo torturado, disse ao pai: “Papai, prefiro morrer a ter um pai traidor”, e o homem resistiu.

Um livro que tentou contabilizar algo dessa maldade foi o Livro Negro do Comunismo [16], cujos autores tiveram acesso a alguns dos arquivos da União Soviética (quando caiu o regime). Nesta obra, são contabilizados em mais de 100 milhões os mortos pelos regimes comunistas em todo o mundo. No entanto, as cifras mais atualizadas estimam algo em torno de 200 a 300 milhões de mortos.

Se temos horror a Hitler e ao nazismo, que mataram seis milhões de pessoas nos campos de concentração, que horror não deveríamos ter ao comunismo?

Mas esses fatos e números são escondidos. Os maiores genocídios da história — os praticados pelos comunistas — são ocultados da população. Quem, diante de tanta maldade e horror, não tem a nítida sensação de que isso é uma experiência do Inferno aqui na terra? De uma eclosão de demônios agindo neste mundo?

O Papa Pio XI, diante dessa profusão de maldade, dizia: “É um mal de natureza espiritual”. Pois não há como observar essas monstruosidades do comunismo, essa maldade tremenda, e não acreditar na existência do demônio.

E dizia ainda o mesmo Papa: “Ora, entre as forças morais e religiosas, sobressai incontestavelmente a Igreja Católica, e por isso o mesmo bem da humanidade exige que não se ponha obstáculo à sua atividade” [17]. A Igreja Católica precisa ser livre, não podemos amordaçá-la para que deixe de pregar contra esse mal, pois ela é única força espiritual capaz de se lhe a ele e deter essa avalanche destruidora.

No Céu, descobriremos se Marx, Stalin e outros comunistas eram satanistas ou possessos. Nesta exposição, esse detalhe não interessa. Importa saber que é profundamente satânica a ideia de que, da destruição de tudo que existe, brotará algo bom; como se o bem pudesse nascer da maldade.

Essa ideia — brotada diretamente do Inferno, e que está na boca de Mefistófeles — era repetida, com gosto, por Marx. Nos seus escritos e nos de seus discípulos, vemos claramente essa sanha, de destruir tudo — tudo que é bom, tudo que é belo, tudo que é ordenado.

E como fazem isso? Através da manipulação da linguagem. Acorrentam espiritualmente as pessoas numa linguagem de serpente, com a língua bifurcada das víboras, acusando e condenando como “autoritários” e “fascistas” a todos que não os servem.

Se observamos o seu modo de agir, percebemos que são, em segredo, eles mesmos os maiores apologistas do autoritarismo, pois tentam justificar a crueldade como forma de evitar um suposto mal maior para a humanidade.

Evidentemente, essas pessoas estão sendo enganadas por Satanás. E não podemos nos deixar levar por esse mesmo engano.

Por isso convidamos você que já assina o nosso site, a estudar e conhecer a fundo esse tema. Não precisa acreditar em nossa exposição. Tome a iniciativa e estude por si mesmo, pois o único fator que o impede de conhecer os fatos e fundamentos aqui expostos é a sua própria ignorância.

Esse estudo é importante para conhecermos o mal que enfrentamos, sem cairmos no erro de desumanizar as pessoas que professam e apoiam o marxismo.

É isso o que os marxistas fazem: manipulando a linguagem, desumanizam seus adversários para então destruí-los de todas as formas. Inventam mentiras, atribuem crimes, tornam a pessoa odiosa aos olhos dos desavisados, de tal modo que o primeiro desses que tentar matar o alvo desses ataques verá a si mesmo como um herói e benfeitor da humanidade.

É por isso que nós, católicos, somos chamados de “fascistas” pelos marxistas. Theodor Adorno, autor da Escola de Frankfurt, criou, inclusive, a famosa “Escala F”, uma “escala de fascismo”. É um teste, normalmente disponível em inglês na internet, em que, a depender das suas respostas, você recebe uma classificação sobre o seu “grau de fascismo”. Responder, por exemplo, que acredita numa força transcendente que criou o universo, ou que os filhos devem obediência aos pais, ou que a pátria deve ser defendida, torna você um fascista…

“Deus, pátria e família” não são, como já ouvi até padres repetirem, valores fascistas. Mas essa é a armadilha verbal que os marxistas criaram para os cristãos não poderem defender seus valores, por medo de serem comparados a Mussolini ou a Hitler.

Não é minha intenção imitar os marxistas. O objetivo desta aula não é demonizá-los. Precisamos rezar por eles, ter misericórdia deles, amá-los e não odiá-los. Não devemos desumanizá-los. Pelo contrário, devemos ter um olhar misericordioso para vê-los como são: vítimas de um pensamento terrível.

Se são vítimas conscientes, então são culpados e merecerão o Inferno; mas não são demônios encarnados. São seres humanos que podem ser convertidos e cujas almas são preciosas para Deus, porque também por eles Cristo derramou seu Sangue na Cruz; e, portanto, devemos rezar por essas pessoas e amá-las, mas sempre rejeitando e odiando o mal que fazem e defendem.

Tenhamos coragem! Esta é uma luta espiritual. Mas vale a pena lutarmos, porque há Céu para todos aqueles que, como verdadeiros cristãos, rejeitarem o caminho de Satanás. Peçamos, pois, aos nossos anjos da guarda e à Virgem Maria, que o Papa Pio XI invoca como Auxilium Christianorum, que venham nos auxiliar e defender neste combate espiritual.

Junte-se a nós!