À luz da ação de Deus na história humana, sobretudo em Pentecostes, de cuja solenidade nos aproximamos, vamos tratar nesta aula sobre a missão da família do nosso site, que é, na verdade, uma pequena porção da família maior que é a Igreja Católica, Corpo Místico de Cristo. Nesse sentido, para que este apostolado gere verdadeiros frutos, além de ouvir os paternos conselhos do Padre Paulo Ricardo, nós precisamos receber em nossos corações a graça do Espírito Santo, como aconteceu com os Apóstolos reunidos no Cenáculo.

Chegamos a essa conclusão pela própria prática de Nosso Senhor. Jesus, o melhor dos mestres, passou três anos ensinando aos Apóstolos e, ainda assim, na Última Ceia, Ele lhes disse: “Muitas coisas ainda tenho a dizer-vos, mas não as podeis suportar agora” (Jo 16, 12). Ou seja, o problema não estava no mestre, mas nos discípulos, que precisavam ser transformados desde dentro. Embora Cristo tivesse ensinado tudo aos Apóstolos, se Ele não enviasse o Espírito Santo em Pentecostes, seus ensinamentos tornar-se-iam absolutamente passageiros. Isto é, ainda que os Apóstolos O seguissem sinceramente, foi somente a ação do Espírito que lhes deu profundidade.

A partir disso, olhando a situação atual da Igreja, percebemos que muitos estão preocupados com o que será dela e de seus fiéis após a pandemia. É necessário esclarecer, porém, que os males que nos afligiam antes da pandemia continuarão depois dela, caso não tenhamos um verdadeiro aprofundamento no Espírito Santo.

A crise da Igreja não é simplesmente um problema de formação, mas de espiritualidade. Um exemplo contundente é o Concílio Vaticano II, ao qual muitas pessoas creditam todos os males atuais por que passa a Igreja. Na opinião dessas pessoas, se voltássemos para o contexto anterior ao Concílio, em que havia uma formação teológica melhor, uma disciplina mais firme e uma liturgia mais centrada no sacrifício eucarístico, todos os problemas atuais seriam sanados. O que essas pessoas não percebem é que nenhum desses aspectos importantíssimos impediu a implosão dos valores católicos, dentro e fora da Igreja, nos últimos 60 anos. Ou seja, a raiz última da crise que vivemos não se deve tanto a um acontecimento histórico do último século, mas a um mal que já havia afetado os Apóstolos: a falta de aprofundamento no Espírito Santo.

Se fizermos uma retrospectiva histórica, veremos que, desde o final da Idade Média, a educação católica foi perdendo, lenta e gradualmente, a sua essência espiritual, que é levar ao discipulado de Cristo. A Regra de São Bento, por exemplo, orientava o Abade a verificar se o candidato à vida monástica realmente estava buscando a Deus, isto é, se possuía uma vida de intimidade com Nosso Senhor, renunciando a si mesmo e tornando-se cada vez mais dependente dEle. Nos dias atuais, porém, essa verificação é geralmente negligenciada: supõe-se uma reta intenção em todas as pessoas, ainda que suas atitudes digam exatamente o contrário.

Para além do âmbito eclesiástico, mas também dentro dele, apresenta-se como um ideal a ser atingido aquilo que se denomina como “ter personalidade”, consistente na atitude de quem desenvolve suas características pessoais “sem depender de ninguém”. Ora, se tal independência se refere a não viver em função da opinião dos outros, de instintos torpes, de futilidades ou de vícios, isso obviamente é louvável. No entanto, é preciso ter claro que só desenvolvemos de fato nossa personalidade quando a nossa pessoa (persona) humana se torna dependente da Pessoa divina de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele próprio descreve essa necessária relação de dependência usando a metáfora da videira e dos ramos: “Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5).

Nesse sentido, é perceptível que muitos membros da Igreja estão doentes porque cada vez mais se desligaram da Cabeça, que é Cristo. E por não buscarem um progresso na vida espiritual que os leve à intimidade com Deus, acabam negando Nosso Senhor diante da primeira ameaça que surge, assim como Pedro ao ser confrontado pela empregada do sumo sacerdote.

Essa realidade se estende, inclusive, aos alunos do nosso site que, muitas vezes, são tentados a não buscar a Deus, mas a si próprios ou a sua autopromoção, por meio do domínio de determinado conteúdo teológico-cultural, sem o devido aprofundamento e progresso na vida espiritual. Tal aprofundamento só pode ser alcançado pela ação do Espírito Santo que nos leva ao conhecimento da verdade e mobiliza nossa vontade para que, de fé em fé, busquemos uma união íntima com Cristo. Foi isso que ocorreu com os Apóstolos em Pentecostes e fez com que, não apenas sobre a Cabeça, mas também sobre os membros do Corpo místico, as portas do inferno não prevalecessem.

Essa união dos membros com a Cabeça, por meio do Espírito Santo, possibilita que a Igreja perdure ao longo dos séculos, mesmo que, numa visão imanente, alguns a considerem apenas um empreendimento humano que se originou, há dois mil anos, a partir de doze homens simples da Galileia.

Sabemos, portanto, que a Igreja não será derrotada, mas prevalecerá sobre todas as ameaças terrenas e ataques espirituais, até o dia em que se unirá ao seu divino Esposo, no seu triunfo final. Para que participemos desse triunfo, precisamos progredir em nossa relação de amor com Deus, saindo do amor servil, de quem age apenas por temor, e até mesmo do amor filial, de alguém que se dedica com generosidade, para vivermos um amor esponsal, como a esposa que deseja se unir ao seu esposo.

No apostolado do nosso site, buscamos transmitir a doutrina da Igreja, levar ao conhecimento da verdade, converter os que não conhecem a Cristo, ensinar as pessoas a ter uma vida de oração e proporcionar uma cultura verdadeiramente católica. Esses objetivos, porém, não constituem nossa finalidade última, mas são apenas o caminho inicial para alcançar a santidade.

A missão última do site, enquanto família, é buscar uma profunda união com Cristo, a fim de que, pela ação do Espírito Santo, consigamos caminhar pela via da perfeição. Isso é o que devemos ter em mente, porque, se não soubermos onde queremos chegar, jamais iremos nos predispor a atingir tal meta.

Assim, no nosso site, só viverá a vocação à santidade quem estiver verdadeiramente buscando a Deus. E se ainda não O buscamos, peçamos ao Espírito Santo que suscite em nós esse desejo. Somente assim conseguiremos ser uma família edificada em Cristo e na qual nada se antepõe a Ele (Christo nihil præponere). Então, mesmo que venham a empregada do sumo sacerdote, o coronavírus, a cultura da morte ou qualquer tipo de perseguição, ainda assim, as portas do inferno não prevalecerão, portæ inferi non prævalebunt.

Junte-se a nós!