Dizer hoje que um dado é “científico” equivale a dizer que não é mais objeto de discussão, pois já está no patamar das certezas absolutas.

Porém, qualquer um que transite pelo universo científico percebe que a ciência constantemente questiona suas constatações, e aquilo que era a grande descoberta de uma geração acaba sendo impugnada pela seguinte como uma explicação limitada da realidade. Basta ver, por exemplo, quão incompatíveis são a Lei da Gravitação Universal, a Teoria da Relatividade e as explicações da Física Quântica.

Mesmo assim, o mito da certeza científica povoa o imaginário popular e, justamente por isso, é um instrumento bastante eficaz de manipulação.

Recapitulação: ciência e autoridade

Ainda que sejamos católicos, fiéis à ortodoxia e à tradição, nossa Weltanschauung — a nossa visão de mundo — é moderna. Por isso a ciência moderna tem, para nós, uma grande autoridade; sobretudo pelo fato de que usufruímos, diariamente, os produtos dessa ciência. Mas esse crédito conquistado pela ciência moderna e por sua capacidade técnica ultrapassa os limites que lhe são próprios, tornando-se uma autoridade sobre a nossa cosmovisão. O que estamos fazendo neste momento, em Studiositas, é desmontar essa ideia de que a ciência tenha autoridade em matéria moral, política, metafísica ou o que o valha, para que possamos partir mais livremente para o nosso esforço de contemplação da verdade.

Primeiro, precisamos admitir que somos filhos da Revolução Francesa, este mundo que propagandeia a autoridade de uma suposta razão em contraposição à Igreja e seu mundo de “trevas medievais”. É importante destacarmos que foram os próprios ideólogos revolucionários que inventaram o nome “medieval”. Definiram a Idade Antiga como aquela dos sábios e dos clássicos; a Idade Moderna, como sua contemporaneidade, o “tempo da razão”; e ali, no meio, teria havido Mil Anos de Trevas — “Medio aevo”, uma “era que está no meio”, um “acidente de percurso”, algo que sequer mereceria nome próprio. Assim se deu a tripartição da história: tivemos a História Antiga, seguida de um fenômeno extremamente incômodo chamado Cristianismo, que finalmente teria dado lugar à Idade Moderna, quando a humanidade “voltou à luz” através do Renascimento — mais um nome eivado de preconceito. Afinal, o termo refere-se ao “renascimento” do paganismo, depois dos “mil anos de trevas” do cristianismo.

A insuficiente mentalidade moderna

Os esforços pastorais do Concílio Vaticano II foram uma clara tentativa de contentar o mundo moderno — e aqui não se trata de uma crítica, mas apenas de uma descrição histórica. Por exemplo, o famoso Esquema 13, que depois deu origem à Constituição Pastoral Gaudium et Spes, é uma manifesta tentativa nesse sentido — um esforço, evidentemente, frustrado.

No discurso de conclusão do Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI afirmou com toda clareza: “A religião, que é o culto de Deus que quis ser homem, e a religião — porque o é — que é o culto do homem que quer ser Deus, encontraram-se” [1]. E o que saiu desse encontro? Anátemas, excomunhões, maldições? Nada disso. Houve um congraçamento de paz.

O fato, porém, é que o mesmo Papa Paulo VI dirá sete anos depois: “A fumaça de Satanás entrou na Igreja”. A Igreja esperava uma esplendorosa primavera, mas o que veio foi o mais tenebroso inverno.

Evidentemente, não estamos aqui definindo o Concílio Vaticano II como herético, mas afirmando que sua “estratégia pastoral” não deu certo (lembrando que o próprio Papa João XXIII, que convocou o Concílio, definiu-o como de caráter pastoral). Em todos os aspectos, encontramo-nos em crise. Nesse congraçamento da Igreja com o mundo moderno, não foi o mundo que se santificou; foi a Igreja que se mundanizou.

Essa crise de identidade é impulsionada por uma espécie de complexo de inferioridade diante do mundo moderno. Temos receio de que nos chamem de “medievais” ou “fanáticos”. Esse complexo de inferioridade está disseminado entre grande parte dos fiéis e do clero, que, inconscientemente, sentem a necessidade de, a todo momento, mostrarem-se modernos; de provar, num mea culpa invertido, que não é tão católico assim, que não é radical e assim por diante.

Retomando o fio da meada

Quando na última aula dissemos que a ciência moderna não lida com fatos, significa que os fatos são amplos, complexos e não redutíveis às abstrações próprias e necessárias à eficácia do método científico. Ao se estudar, por exemplo, um fenômeno pela Física, aquele fato será observado apenas por aquele viés. Da mesma forma, com a Biologia, a Economia, o Direito e outras áreas. Aquilo, porém, que aconteceu na realidade, em sua inteireza, não pode ser objeto de ciência alguma.

No entanto, não experimentamos esses fenômenos recortados fora das lentes da nossa visão de mundo. E essa visão é constituída de uma cultura, que, por sua vez, contém uma interpretação filosófica da realidade. Temos, portanto, uma espécie de círculo de influência: a nossa visão de ciência influencia não só a nossa visão de mundo, mas também a nossa visão filosófica e metafísica. E a nossa visão de mundo influencia tanto a nossa filosofia como a nossa ciência.

Nesse sentido, para entendermos a cosmovisão que condiciona nossa experiência do real, é imprescindível investigarmos as origens de nossas ideias. Devemos nos questionar, por exemplo: “De onde vem essa convicção de que a Idade Média [2] foi um tempo de trevas? Realmente isso é fruto de um estudo aprofundado sobre o assunto, ou só a reprodução de essa informação?

Gravidade: uma clara incerteza

Para sairmos um pouco dessas impressões abstratas, vamos a um exemplo concreto. Já que temos investigado o pensamento de Isaac Newton, consideremos a Teoria da Gravitação Universal.

Perceba que existe um certo senso comum: as pessoas pensam que os cientistas sabem o que é a gravidade. Ledo engano. A verdade é que aqueles que estudam seriamente a Física não sabem dizer atualmente, com certeza e convicção, o que é a gravidade. E não estamos nos referindo, aqui, a um grupo específico, como os “físicos católicos” ou “físicos com conhecimento filosófico”. No entanto, o cidadão comum, ao ser questionado sobre essa definição, provavelmente dirá resoluto que a gravidade “é uma força”, talvez uma “força que atrai objetos” — pois, quando soltamos um objeto qualquer a certa altura, ele cai no chão porque “a Terra o está atraindo com uma força gravitacional”. O que muitos não sabem é que essa definição newtoniana já caiu por terra.

Com a Teoria da Gravitação Universal, Newton percebeu a relação entre a massa dos corpos envolvidos e o quadrado da distância entre eles, o que nos dá um resultado calculável. Trata-se de uma fórmula prática e aplicável, capaz até mesmo de levar o homem à Lua. Mas o problema não está na aplicabilidade deste cálculo; está em afirmar que a gravidade seja uma uma “força”. Para a questão “por que os corpos caem?”, a resposta da Física mais atual é: “um mistério”.

Para alguns, pode ser difícil receber essa informação, mas existe uma ampla e fundamentada bibliografia a respeito. Vamos apresentar duas referências: para uma visão compendiosa e mais especializada, repleta de fórmulas matemáticas, temos o livro Gravitation, de Charles Misner, Kip Thorne e John Wheeler. É uma obra complexa, e sua Matemática, para mim, é inacessível. Mas o meu foco neste livro não foi a Matemática: busquei os momentos em que eles tentam explicar o que é realmente a gravitação, a fim de entender por que Newton dizia uma coisa e Einstein dizia outra completamente diferente. Com um pouco de cultura, é possível aproveitar bastante essas definições teóricas, e enxergar aquilo que parece óbvio para os físicos contemporâneos: uma verdadeira e completa definição do que é a gravidade permanece uma incógnita. As definições de gravidade são tratadas neste livro como o que de fato são: teorias dentre outras teorias.

Para uma abordagem mais popular do assunto, recomendo o livro de Richard Panek, The Trouble with Gravity: Solving the Mystery Beneath Our Feet (“O Problema com a Gravidade: Resolvendo o mistério debaixo dos nossos pés”). Esse livro nos mostra, de modo mais acessível, que a Física não sabe o que é a gravidade.

Parece-nos estranho descobrir essa manifesta incerteza já que a Física que a maior parte de nós estudou na escola é a newtoniana. No entanto, a grande dificuldade da teoria de Newton é que seus cálculos funcionam somente em certa escala. Por exemplo, é possível com sua teoria calcular com precisão a órbita dos planetas do Sistema Solar, exceto a de Mercúrio. Esse planeta, por ser o mais próximo do Sol, é afetado de tal forma pela massa da estrela, que sua órbita possui uma distorção que escapa às fórmulas newtonianas. Os ajustes do cálculo da órbita de Mercúrio duraram até o século XX, quando surgiu a nova teoria de Einstein, que já não pensa mais a gravidade como uma força.

Mas, afinal, por que a gravidade não pode ser uma força?

Vamos partir logo de uma obviedade: a gravidade não pode ser uma força que atua à distância sobre os objetos, atraindo-os um aos outros com uma velocidade imediata e, portanto, maior que a da luz, porque não existe nada mais rápido do que a luz.

No entanto, na teoria newtoniana, a gravidade só funcionaria como uma força de atração imediata — e à distância. Ora, isso seria mágica! Afinal, como um objeto poderia influenciar outro, à distância, sem que essa suposta força tenha que percorrer, para tal efeito, essa mesma distância? Na prática: sabemos que existe uma distância entre o Sol e a Terra de, aproximadamente, 8 minutos-luz. Mas a gravidade teria um efeito instantâneo e, portanto, precisaria ser uma força mais rápida do que a luz. Isso não existe e, portanto, a gravidade não pode ser uma força.

O que é, então, a gravidade?

Ainda que a resposta mais prudente da Física contemporânea seja “não sabemos”, existe uma teoria alternativa, elaborada por Albert Einstein: segundo o físico alemão, a massa dos grandes corpos celestes deforma o espaço-tempo de tal maneira que prende o objeto naquela deformação.

Para usarmos uma metáfora, imagine que há quatro pessoas esticando um lençol, cada um puxando uma de suas pontas. Uma quinta pessoa então joga uma bola de boliche no meio do pano. Naturalmente, o peso dessa bola irá deformá-lo, criando uma concavidade onde ela estiver parada. Na teoria de Einstein, essa deformação seria o que o Sol faz com o espaço-tempo. Então, por causa dessa deformidade, corpos celestes menores, como a Terra, ficam presos naquela órbita (considere que é justamente a gravidade o que puxa para baixo a bola e o lençol).

De acordo com esse postulado, podemos inferir que se a luz viaja em linha reta então ela deve ter um desvio quando passa perto do Sol. Ou seja, a luz continua a viajar em linha reta, mas o espaço está encurvado pela massa do Sol. Einstein também estimou que isso poderia ser provado num eclipse solar. E tinha razão: durante um eclipse solar, é possível fotografar estrelas que estão atrás do Sol; depois, ao medir a posição dessas estrelas fora da influência do Sol, verifica-se que elas estão em “outro lugar”. Isso comprova que a trajetória da luz, quando o Sol está no meio, sofre uma curvatura.

Tendo visto as duas teorias, podemos dizer que alguma delas é a verdadeira? Não. Porque suas explicações só funcionam em certa escala, matematicamente falando: a teoria de Newton funciona para corpos que estão a certa distância do Sol. A de Einstein, por sua vez, abarca até mesmo objetos que estão próximos do Sol, como o planeta Mercúrio. Mas nem uma nem outra funciona na menor das escalas.

Depois de Einstein, vieram as descobertas da física quântica, que estuda os fenômenos associados à interação entre energia e partículas subatômicas. Acontece que, na escala quântica, os postulados da Teoria da Relatividade de Einstein não funcionam. Porque, ainda que pareça absurdo, as partículas subatômicas, quando não observadas, comportam-se como ondas; e quando observadas, comportam-se como partículas.

Como funcionam os paradigmas científicos

Insistimos: estamos diante do mundo do ser, da realidade, algo que as abstrações e recortes da Física não são capazes de abarcar. Não que a Metafísica necessariamente dê conta dessa realidade; apenas queremos demonstrar que o mundo da ciência é mais impreciso do que se imagina. Daí que não se possa dar crédito a qualquer ganhador do Nobel de Física que apareça no telejornal, todo cheio de si, dizendo: “Deus não existe!”

Há dois tipos de cientistas. Um famoso teórico, Thomas Kuhn, que trata das revoluções científicas, afirma que, quando pensamos em ciência, nos recordamos de grandes gênios como Einstein e Newton. No entanto, esses foram exceções, homens que conseguiram pensar fora do paradigma vigente, provando seus pontos. A maior parte dos cientistas, no entanto, age estritamente dentro do paradigma acordado pelos seus pares. São pesquisadores que fazem seus estudos e os submetem aos provectos da comunidade para saber se os publicarão em revistas especializadas. Ou seja: o pesquisador deve ser aprovado pelos guardiães dos paradigmas científicos atuais.

Esses paradigmas, naturalmente, são sempre pressupostos teóricos — por exemplo, antes de Einstein, o pressuposto era tratar a gravidade como uma força. Enquanto aquilo funciona, dificilmente é questionado, e a tendência é que a comunidade científica rejeite teorias que lhe sejam estranhas ou conflituosas. As coisas só mudam quando um determinado paradigma deixa de funcionar em certas situações. Há então uma crise naquele campo científico. É nessa situação que os cientistas começam a abrir espaço para hipóteses que fogem do consenso. Assim surgem as revoluções científicas.

Fazendo uma analogia, seria como um golpe de Estado. Há uma constituição, com um ordenamento jurídico que funciona, que mantém relativamente a sociedade em ordem. Mas, num certo momento, as leis perdem sua eficácia e instaura-se a crise. Diante disso, um grupo de insatisfeitos derruba o governo e estabelece um novo estado de coisas.

Mutatis mutandis, é também assim na Física e nos outros campos científicos.

E na Física, as revoluções não cessaram com o paradigma de Einstein. Depois dele, a comunidade científica deparou-se com o chamado Enigma Quântico, nome do livro de Wolfgang Smith publicado pela Vide Editorial, com prefácio de Olavo de Carvalho [3]. Essa obra narra como a escala quântica revelou uma série de novos enigmas para os quais as teorias de Einstein eram insuficientes.

O homem comum, porém, desconhece o grau de incerteza desse mundo científico. Por exemplo, quantas pessoas sabem que grande parte das partículas subatômicas jamais foram observadas e que sua existência é apenas presumida por fórmulas matemáticas? Há todo um mundo especulativo e, de certa forma, imaginário, sustentado por certo conjunto teórico.

Que determinadas fórmulas matemáticas apliquem-se a realidades de certa escala e partindo de condições específicas, como foi com Newton e Einstein, é aceitável. Não é aceitável, porém, um mundo contraditório em que certas leis valem para a escala macroscópica e não valem para a microscópica. Ou seja, a insuficiência desses cálculos e dessas leis talvez demonstre que o mundo é mais misterioso do que costuma supor o vulgo, bastante crédulo nos superpoderes da ciência.

Mas é importante frisar que não temos aqui a pretensão de desmontar a ciência moderna. Queremos apenas demonstrar como a ciência realmente funciona de modo a nos libertar do feitiço mental ao qual nos submeteu a propaganda cientificista.

Ciência fantástica

No prefácio de O Enigma Quântico, de Smith, Olavo de Carvalho explica as três hipóteses conceituais sobre a ciência moderna. Primeiro, a ciência poderia ser reduzida à “mera averiguação de probabilidades”. Nesse caso, ela seria uma “pergunta sem resposta” [4]. Nunca se saberia nada; apenas haveria a possibilidade de se averiguar o que é menos ou mais provável. A segunda hipótese é que existiria “por trás das probabilidades um ‘fator oculto’ desconhecido” [5]. Nesse sentido, os enigmas da Física Quântica seriam simplesmente um “mapeamento exato de uma ignorância monumental, provavelmente invencível” [6], indicativa de que há uma forma inacessível de se explicar o que ocorre no mundo.

Esses dois estados são, evidentemente, problemáticos. Ninguém aceita uma ciência que seja apenas probabilística, e a modernidade não está aberta para o transcendente, para esse oculto que é o mundo da Metafísica. Adota-se, portanto, cada vez mais, uma terceira hipótese: a de que “diferentes probabilidades estão se realizando, neste momento, em vários ‘mundos paralelos’” [7]. E, sobre essa visão, Olavo conclui: “já não há mais diferença entre ciência e ficção científica” [8]. Uma fantascienza — como dizem os italianos —, uma “ciência fantástica”, de imaginação.

Ciência e Metafísica

Tudo isso nos empurra para a seguinte constatação: não há como lidarmos com a ciência moderna, seja a Física ou qualquer outra disciplina, sem uma sólida Metafísica.

Quando chegarmos ao pensamento de David Hume, veremos que o problema maior da ciência moderna é que seus pioneiros se negaram a fazer Metafísica para se restringirem à Física, sem se darem conta de que isso é impossível. Tanto é impossível que, na busca quixotesca de uma ciência pura, deixaram de fazer Metafísica filosófica, rigorosamente refletida, para cair numa “Metafísica” pueril, irrefletida e contraditória.

A respeito desse tema, é aconselhável a leitura do livro As Bases Metafísicas da Ciência Moderna, de Edwin Burtt [9]. No capítulo sobre Isaac Newton, o autor demonstra de que forma, desde o início da ciência moderna, a visão metafísica foi sendo substituída por duas convicções de certo modo contraditórias: a de que tudo deve ser reduzido à Matemática e a de que tudo deve ser empírico. Depois disso, ele afirma que Newton, enquanto físico, é um verdadeiro gênio, mas como filósofo é um desastre. É o que se vê no Scholium Generale, ensaio em que o físico inglês faz reflexões filosóficas a respeito de suas constatações empírico-matemáticas. As descobertas newtonianas só ganharão algum vigor filosófico com os esforços de Kant [10].

Resumindo

Vimos até aqui que os físicos mais sérios não fazem ideia do que seja, realmente, a gravidade, mas apenas trabalham com as teorias disponíveis. Percebemos que a ciência, enquanto abstração e recorte da realidade, é muito útil: com a aplicação correta de certas fórmulas matemáticas, dentro de um determinado contexto, somos capazes de construir foguetes e colocar satélites em órbita. A mesma ciência, porém, é naturalmente incapaz de dar uma visão do todo, de formular explicações universais sobre a realidade — e a pretensão de que ela um dia consiga ser capaz de tal feito não passa de um sonho gnóstico.

Vimos, por exemplo, que a extrapolação dos esforços teóricos da ciência, quando insistem em explicar coisas que escapam de seu alcance, leva a conclusões fantasiosas, que contradizem a própria estrutura do ser. De certo modo, aquilo que começou como um ideal de exatidão empírico-matemática termina em teorias que, dotadas de pobre base metafísica, terminam contradizendo princípios lógicos — como a proposição infundada de que algo poderia ser e não ser ao mesmo tempo, que vemos na experiência mental do Gato de Schröedinger, usada para ilustrar a superposição quântica nas partículas subatômicas. Segundo essa experiência, um gato, posto dentro de uma caixa, poderia estar vivo ou morto, ao mesmo tempo. Conforme as teorias de Einstein ou de Newton, as partículas subatômicas teriam que apresentar um comportamento previsível matematicamente. Mas elas não se comportam assim, e são só “previsíveis” após o fim de sua trajetória. No momento em que são observadas, elas podem ser gato vivo ou gato morto, ou seja, onda ou partícula, podem estar neste ou naquele lugar.

Contudo, tais conclusões são filosoficamente absurdas, sem qualquer consistência lógica. Não pode ser essa uma explicação razoável para o universo subatômico. Mas os cientistas modernos fazem esse tipo de afirmação com tranquilidade, sem perceberem que, achando-se no cume da racionalidade, estão, na verdade, caindo no caos do irracionalismo.

A ciência como “porrete”

O perigoso desses absurdos metafísicos é que eles recebem o carimbo da autoridade científica, já que são enunciados por alguém capaz de resolver operações matemáticas dificílimas. Inclusive, um dos alunos fez um comentário interessante: alguns cientistas, exatamente porque são capazes de cálculos matemáticos impossíveis para a maior parte das pessoas, acabam usando essa habilidade como instrumento de opressão. É como se dissessem: “Já que você não consegue entender essa Matemática elevada, sua opinião não é válida.” E não é que a opinião do interlocutor seja inválida apenas em matéria de cálculo. É inválida para falar de tudo: saúde, empreendimento, moral, religião e assim por diante.

Quer dizer, a ciência que foi promovida para supostamente libertar as pessoas da “opressão obscurantista” dos católicos e da filosofia antiga, é agora usada como um porrete de autoridade que força as pessoas a admitir para si a cosmovisão de determinado cientista — que, sendo estritamente “racional”, jura não ter cosmovisão nenhuma.

Eis a importância dos nossos estudos: se não quebrarmos esse porrete, não alcançaremos jamais aquela liberdade intelectual necessária à verdadeira filosofia, que é o nosso objetivo.

Tecnocracia Vs. Desconstrucionismo

Pergunta

“Esse movimento científico moderno não está realizando apenas aquilo que se descreve no livro do Gênesis sobre a árvore da ciência do bem e do mal: ‘sereis como deuses’? Não se trata de uma tentativa de se colocar no lugar de Deus?”

Historicamente falando, de fato, o movimento que acompanhou a ciência moderna foi uma tentativa do homem de se colocar no lugar de Deus. Ainda que não seja possível dizer que todos os cientistas pioneiros fizeram isso, houve um movimento evidente nesse sentido.

Basta lembrar que, durante a Revolução Francesa, instituíram o culto à razão, pelo qual o homem foi posto no altar, elevado à condição de “divindade”.

Mas esse movimento não se restringiu ao processo revolucionário francês. Marx, por exemplo, dizia com clareza que seu objetivo era colocar o homem no lugar de Deus. Nietzsche e outros foram no mesmo sentido. Porém, exatamente porque o homem não é Deus, todo esse movimento desembocou no niilismo e na autodestruição, a que assistimos na pós-modernidade.

No início do curso, discutindo as críticas que Horkheimer fez sobre a razão instrumental, admitimos que a Escola de Frankfurt, embora não tenha razão, tem algumas razões. De fato, munido do conhecimento técnico-científico, o homem quis dominar a natureza, mas terminou dominado por ela: O que antes era instrumento do senhorio humano, tornou-se um potencial instrumento de opressão das massas.

Vejamos o que aconteceu durante o governo Bolsonaro: havia uma ala de tecnocratas positivistas, os militares, defendendo uma administração pública guiada pelos ditames da ciência. Hoje, com a oposição no poder, vemos a ascensão de simpatizantes da Escola de Frankfurt, que enxergam esse pensamento cientificista e tecnocrático, como um meio para “oprimir as massas”. Daí chamarem seus defensores de fascistas.

Não nos aprofundaremos agora se o fazem com ou sem razão; mas denunciam como fascismo essa realidade do homem científico que quer tecnicamente dominar a natureza, mas termina criando mecanismos para dominar a sociedade humana.

Por outro lado, a Escola de Frankfurt, com a sua teoria crítica, alegando um desejo de libertar as pessoas desse jugo tecnocrático fascista, propõe algo ainda pior: o caos da desconstrução da humanidade e o desmonte da civilização ocidental.

Claro que, ao afirmar isso, não estamos defendendo forma alguma de fascismo, e sequer estamos acusando os militares brasileiros de serem fascistas (parece até que eles nem teriam embasamento teórico para conseguirem ser fascistas). Estamos apenas destacando o fato visivelmente constatável de que a dialética marxista precisa de espantalhos: tem a constante necessidade de caricaturar seus opositores como cruéis e terríveis, para que a ditadura que desejam implantar fique completamente legitimada.

Conclusão: a lógica da realidade

Pergunta

“Visto que os cientistas afirmam que a gravidade é um mistério, seria correto atribuí-la a Deus?”

Resposta: sim e não. Não no sentido de imediatamente atribuída a Deus, porque não é dessa forma que Deus age no mundo físico — senão estaríamos postulando aqui uma espécie de “milagre permanente”. Existe, porém, alguma lei dentro da natureza das coisas que faz com que elas se comportem do jeito que se comportam — e essa lei foi colocada pelo Logos, ou seja, pelo Deus Criador. Existe, conforme diz a sã filosofia, uma inteligência divina no ser.

Portanto, minha visão tomista mostra que devemos olhar para a realidade e procurar a explicação dentro dela própria. E se não alcançamos uma explicação, podemos dizer: no momento não sabemos, mas pode ser que um dia saibamos. É o mais honesto a se fazer.

Junte-se a nós!