“Mamãe, por que você e papai se divorciaram?”, perguntei pela centésima vez. Eu estava acostumada a ouvir minha mãe responder: “Nós não podíamos mais viver juntos”. Mas desta vez ela não disse isso. Estávamos a caminho da lavanderia e posso me lembrar exatamente onde estávamos quando ela respondeu.
“Porque o seu pai é gay”.
“Ah, eu já sabia disso…” Assim eu menti, tentando esconder o meu choque. Mas eu não sabia disso. Eu tinha só nove anos de idade.
Eu não sabia de nada.
Embora meus pais tivessem me criado com uma visão de mundo cristã e eu conhecesse bem a Bíblia, meu mundo começou a mudar radicalmente depois que meu pai explicou o porquê de seus relacionamentos com homens. Em pouco tempo, tanto o apartamento dele quanto nossas visitas começaram a mudar. Um calendário com homens praticamente nus apareceu no banheiro, junto com alguma arte indecorosa [aqui e ali]. Era muito desconfortável visitá-lo, mas tentei não deixar que isso me incomodasse.
Nos fins de semana em que o visitava, meu pai e eu íamos para o bairro do Castro, em San Francisco. O lugar era cheio de cores, e logo eu descobri que precisava cuidar para onde eu olhava, a fim de que meus olhos não vissem mais do que eu gostaria de ver. Aprendi a andar pelo bairro, sabendo quais eram os bares gays e quais eram os bares lésbicos. Até participei das Gay Olympics para apoiar um membro da família [i].
Eu era “descolada”. Eu tinha a mente aberta. Eu era esclarecida.
Mas eu também estava dividida. Quando alguém em posição de autoridade, especialmente alguém de confiança, diz a uma criança que algo é verdade, essa criança vai acreditar nela. Na verdade, essa criança provavelmente tomará isso como base na qual construir a sua visão de mundo. Foi o que eu fiz. Por isso são tão insidiosas as paradas do orgulho gay, a drag queen story hour e o ensino de gênero como uma construção social [ii].
Por lealdade ao meu pai, eu nunca compartilhei as dúvidas instintivas que tinha sobre o seu estilo de vida, mas lembro-me claramente de ter ficado perturbada com isso. Seja como for, dei de ombros para os meus sentimentos e ignorei o meu desconforto para ser uma filha solidária. Fui crescendo e me tornando uma boa guerreira da justiça social na minha escola. Aprendi a colocar preservativos em bananas e fui educada para a importância do sexo seguro, independentemente de quem fosse o seu parceiro. Estava certamente longe de mim julgar.
Meu pai morreu de AIDS quando eu tinha 17 anos, na manhã do meu baile de formatura. Presenciei os sofrimentos dos seus últimos meses sem um companheiro, e ouvi-o dar voz a seus arrependimentos.
Pouco antes de minha mãe se casar novamente, ela e eu nos tornamos católicas. Mas, em nossa paróquia ultra-progressista da Califórnia, havia pouquíssima catequese precisa sobre o que a Igreja Católica ensina a respeito dessas questões. Eu certamente abraçara o que imaginava ser o ensino da Igreja sobre sexualidade: “abertura de mente”, tolerância e aceitação. Eu buscava desesperadamente um modo de disfarçar o que a Bíblia dizia com tanta clareza, e a ala progressista da Igreja Católica estava ansiosa por me ajudar.
Minha universidade jesuíta fez um trabalho fantástico não só isentando de culpa, mas celebrando o comportamento de meu (então falecido) pai, abraçando e legitimando por completo o estilo de vida homossexual. Em minha aula de Teologia Matrimonial, em vez de dar voz a um casal heterossexual, o instrutor convidou um “casal gay” para falar da sacralidade de seu “casamento”. Na época, eu me dizia muito feliz com [o fato de] a Igreja estar mudando suas visões ultrapassadas sobre a homossexualidade; lá no fundo, porém, a ideia me deixava inquieta.
Essa ilusão da “Igreja em mudança” continua hoje. Em um texto para o site Outreach, o Pe. James Martin, S.J., explica por que o orgulho [LGBTQ+] e o mês do Sagrado Coração de Jesus são não só compatíveis, mas complementares [iii]. Ele argumenta que Nosso Senhor ama a todos — o que de fato é verdade. Mas seu argumento duvidoso de que o mês do orgulho [gay] é algo a ser celebrado pelos católicos está repleto de aprovação implícita aos relacionamentos homossexuais. Primeiro, ele diz: “Imagine um jovem LGBTQ que não está em nenhum tipo de relacionamento sexual, mas quer simplesmente ser aceito. Onde está o pecado [nisso]? Em segundo lugar, [o preconceito] ignora o fato de que todos nós somos pecadores. Quem de nós nunca pecou?”
Obviamente, uma pessoa casta que luta contra a atração pelo mesmo sexo não está em pecado. Em seguida, porém, o Pe. Martin recorre ao argumento de que somos todos pecadores. Bem… sim. Mas nós também precisamos parar de pecar. Esse argumento de que “você odeia indivíduos LGBTQ castos” logo dá lugar a “somos todos pecadores”, e então o leitor pode preencher as lacunas como bem entender: mas Deus me ama de qualquer jeito; ou: então a Igreja está errada; ou: talvez [ela esteja], então nós nunca devemos julgar as ações de ninguém.
Esse tipo de artigo é exatamente o tipo de “evidência” à qual eu me apegava, quando era progressista e de esquerda, para justificar não só a homossexualidade ao meu redor, mas também as minhas próprias escolhas pecaminosas. Se de um lado o Pe. Martin está correto em dizer que somos chamados a amar todas as pessoas, às vezes a coisa mais amorosa que podemos fazer [para com elas] é tentar tirá-las do pecado mortal.
Depois que [formei minha própria família e] tive os meus filhos, várias mulheres de visão católica mais tradicional ofereceram-me a sua amizade e gastaram o seu tempo para me ensinar a doutrina da Igreja sobre a homossexualidade. O que as tornou tão eficazes [nessa catequese] foi que elas compartilharam a verdade no contexto mais amplo de nosso relacionamento [de amizade]. Embora nossa família não tivesse optado pela educação doméstica (homeschooling), essas mães que educavam [seus filhos] em casa me acolheram. Nós jantávamos fora uma vez ao mês e ocasionalmente nos reuníamos à noite para conversar abertamente sobre a nossa fé. Foi nesses encontros que nos tornamos capazes de ter discussões e debates, mas isso só depois de compartilharmos nossas receitas favoritas e lamentarmos as noites mal dormidas com nossos bebês — e antes de marcarmos o próximo dia de parque para que nossos filhos brincassem juntos.
Essas discussões (às vezes acaloradas) sobre homossexualidade não definiram a nossa amizade. Elas eram apenas uma faceta do nosso relacionamento, e essas mulheres se importaram comigo mesmo quando eu era uma relativista. Como nós podíamos [mudar de assunto e] passar para outros tópicos sobre os quais tínhamos o mesmo ponto de vista, isso foi me dando espaço para baixar a guarda e refletir sobre o que elas diziam. Muitas vezes, o que eu lhes dizia enquanto nós discutíamos não era mais o que eu pensava ser a verdade. Às vezes, mesmo acreditando no que elas me diziam, eu sentia que precisava rebater todos os seus argumentos.
Por influência de minhas amigas e pela graça de Deus, minha família [e eu] começamos a nos conformar aos ensinamentos da Igreja. Mas eu me pergunto se teria mudado, não fosse a coragem delas em dizer a verdade.
Rod Dreher descreveu uma vez a experiência de uma artista progressista que ele chamou de Jane [iv]. Certa noite, no auge da depressão e nas garras do transgenerismo, aconteceu de ela clicar em um vídeo do Jordan Peterson que apareceu no feed de sua rede social. Ela ficou chocada ao descobrir que concordava com tudo o que ele dizia. Sua voz solitária em meio ao mar de insanidade para o qual ela havia sido arrastada (assim como as vozes corajosas de minhas amigas) foi o que lhe deu permissão para se libertar. [No fim] ela desistiu de sua carreira artística, pois percebeu que aquilo exigia “consciência social” [wokeness] demais, o que não valia a pena.
Ouvir a verdade [era algo que] importava para Jane e [foi algo que] fez a diferença para mim. A quem se encontra na posição de ensinar aos outros a verdade sobre a homossexualidade, o matrimônio ou a ideologia de gênero, por favor, fale. Compartilhe sem medo a beleza da verdade, pois a sua voz pode ser a única de sanidade que os seus amigos e familiares escutarão. Saiba: as pessoas talvez fiquem com raiva, talvez se sintam atacadas, talvez fiquem na defensiva. Mas em um mundo onde as escolas, a mídia, as corporações e até muitos dentro da Igreja (como o Pe. Martin) estão ensinando meias-verdades ou mentiras inteiras, como é que as pessoas encontrarão a verdade, se não a mostrarmos nós? Os frutos da sabedoria e do conselho são, muitas vezes, invisíveis, mas nem por isso deixará de crescer a semente da verdade que você semeou.
No fim das contas, eu tive de reconhecer: as pessoas que me disseram a verdade e que defendiam os verdadeiros ensinamentos da Igreja eram as pessoas que se importavam comigo. Eram elas que me amavam e queriam que eu conhecesse o plano de Deus para a sexualidade humana. Eu nem sempre reagi com gentileza às correções delas, e nós tivemos muitas discussões e desentendimentos, mas minhas amigas — minhas verdadeiras amigas — sempre enfrentaram pacientemente meus argumentos com a verdade, apresentando-a com [misericórdia e] compaixão. Elas não recuaram nem me condenaram ao ostracismo quando eu estava no auge da minha ignorância. Elas falaram a verdade com caridade e, com o tempo, amoleceram meu coração endurecido.
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