Ela foi erguida sobre o antigo sítio romano conhecido como Mons Vaticanus. A Colina do Vaticano fica no lado oeste do rio Tibre, de frente para as sete colinas de Roma e, para contextualizar, é o local onde foi sepultado Pedro, o homem a quem nosso Senhor disse: “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).

A Basílica de São Pedro, tal como a conhecemos hoje, é um edifício relativamente novo, construído principalmente durante o Renascimento, ou seja, mais de 1400 anos após o martírio do Apóstolo nesse mesmo lugar, por volta de 68 d.C.

O local era muito apreciado pelos primeiros cristãos, mas só quando o Imperador Constantino I (272-337) pôs fim à perseguição a eles e abraçou a fé (in hoc signo vinces, “sob este sinal vencerás”) é que foi possível construir uma igreja sobre o túmulo de Pedro. É a que hoje chamamos antiga Basílica de São Pedro. Não existem imagens do século IV que revelem a sua aparência, mas Shawn Tribe, em artigo publicado no Liturgical Arts Journal, apresentou uma maquete digital mostrando “como ela poderia ter sido na época de Constantino”.

A antiga igreja levou cerca de 40 anos para ser concluída. E resistiu por mais de mil anos.

Leon Battista Alberti († 1472), muitas vezes considerado o primeiro “homem do Renascimento”, foi um dos primeiros a pedir a construção de uma nova estrutura no local, porque a igreja do século IV estava em ruínas.

A construção da atual basílica, no entanto, só começou em abril de 1506, sendo concluída em novembro de 1626. Cento e vinte anos podem parecer muito tempo para construir uma basílica, mas Notre-Dame de Paris levou 180 anos e a Sagrada Família de Antoni Gaudí, em Barcelona, foi iniciada há 143 e ainda não está concluída.

Maquete do Vaticano: em destaque, a Praça e a Basílica de São Pedro.

O projeto de uma nova Basílica de São Pedro foi iniciado com o retorno do papado de Avignon a Roma. E foi um momento propício, uma vez que trabalhava na cidade um tal conjunto de gênios que provavelmente nunca mais veremos novamente: o já citado Alberti, Bernardo Peruzzi, Donato Bramante e outros; até que, em 1547, e a mando do Papa Paulo III, a obra foi confiada ao grande Michelangelo Buonarroti, que parecia nunca ter gostado do seu trabalho no Vaticano. “Faço-o apenas por amor a Deus e em honra do Apóstolo”, disse. Antes disso, Michelangelo já tinha tentado dissuadir o Papa Júlio II de lhe confiar a pintura do teto da Capela Sistina (1508-1512), mas, aos 71 anos, foi ele que se tornou o arquiteto-chefe da Basílica de São Pedro.

Segundo o historiador James Lees-Milne, Michelangelo afastou o grupo de artesãos preguiçosos que haviam sido contratados em São Pedro e contratou novos “trabalhadores basilicais, com um gosto e entusiasmo renovados para a grande e santa tarefa que tinham pela frente”.

Michelangelo baseou-se no trabalho do arquiteto Bramante, mas, tal como Gaudí, não viveu para ver a consagração da basílica. Isso, porém, é irrelevante. Como escreveu a historiadora de arte americana Helen Gardner: “Sem destruir as características centralizadoras do plano de Bramante, Michelangelo, com algumas pinceladas, converteu a sua complexidade, semelhante à de um floco de neve, numa unidade enorme e coesa”.

E de fato ela é enorme. A Basílica de São Pedro é a maior igreja do mundo. O templo e a colunata cobrem cerca de 24 mil metros quadrados — quase um alqueire paulista.

Isto nos leva à cúpula da Basílica de São Pedro — de certo modo, o feito mais extraordinário de Michelangelo e, sem dúvida, a sua caraterística mais marcante, sobretudo pela forma como se destaca de modo tão magnífico quando iluminada, dominando as noites romanas [1]. 

A cúpula da Basílica de São Pedro, com sua bela iluminação.

O diâmetro da cúpula é de 42 metros, e a altura a partir da sua base é de 136 metros, em cujo topo se encontra a lanterna, em cima da qual estão um globo e uma cruz, acrescentando mais 17 metros.

Leonardo da Vinci, contemporâneo mais velho de Michelangelo, é muitas vezes citado como o maior gênio do Renascimento, senão de todos os tempos. Mas não estou certo de que seus feitos se equiparem aos de Michelangelo. Sim, Leonardo pintou o quadro mais famoso do mundo (a Mona Lisa), e sabia escrever de trás para a frente; mas, para os padrões de Michelangelo, era um fracassado.

Acima do túmulo de Pedro, no interior da basílica, e pairando sobre o altar-mor, está o baldaquino de Gian Lorenzo Bernini, construído entre 1623 e 1634. É uma das obras que, junto com as pinturas de Caravaggio, definem o período barroco na arte. E foi Bernini quem desenhou a colunata em forma de “braços acolhedores”, tão familiar nas pinturas e fotografias da Praça de São Pedro. O tamanho do baldaquino, com quase 30 metros de altura, corresponde à grandeza da basílica e domina o local. Situa-se exatamente abaixo da cúpula de Michelangelo.

A imensa nave central da Basílica de São Pedro. Ao fundo, o célebre baldaquino de Bernini, sobre o túmulo do Apóstolo.
A Praça de São Pedro, vista a partir da Basílica e envolta pelas colunatas de Bernini.

Não posso deixar de dizer que a fachada da basílica foi desenhada por Carlo Maderno, depois de ter sucedido Michelangelo como arquiteto-chefe, e é graças a ele que temos o balcão de onde os novos Papas saem para proferir os seus discursos [e dar as bênçãos] Urbi et Orbi [2] (tal como fez recentemente o Papa Leão XIV).

A crença de que o Apóstolo jaz sepultado sob o altar remonta aos primeiros anos da comunidade cristã em Roma, mas só foi ratificada em 1968 pelo Papa São Paulo VI, com base em trabalhos arqueológicos. É justo acrescentar, no entanto, que o arqueólogo-chefe da equipe que descobriu as ossadas, Antonio Ferrua, S.J., afirmou — até a sua morte em 2003 (aos 102 anos) — que não estava convencido de que as ossadas fossem, de fato, os restos mortais do santo. A afirmação de Paulo VI de que são, baseia-se, como muitos vereditos, em fortes indícios circunstanciais.

Seja como for, o que está claro é que a morte de Pedro, crucificado, ocorreu naquela região, e é muito improvável que ele esteja enterrado em qualquer outro lugar.

A abside da Basílica de São Pedro, vista desde cima.

Falando a novos cardeais no consistório de 2012 (também festa da Cátedra de São Pedro), Bento XVI disse:

A grande cátedra de bronze [localizada na abside da basílica e também projetada por Bernini] contém dentro dela uma cadeira em madeira, do século IX, que foi considerada durante muito tempo a cátedra do apóstolo Pedro e, precisamente pelo seu alto valor simbólico, colocada neste altar monumental. Na realidade, exprime a presença permanente do Apóstolo no magistério dos seus sucessores.

Notas

  1. Nota do Autor: “Estive em Roma em novembro de 2023, jantando num restaurante localizado em uma cobertura e fiquei triste por não ter visto a sua beleza. Com sua mentalidade mais ecológica, o Papa Francisco tinha chegado à conclusão de que a iluminação era um desperdício de energia.”
  2. Nota do Tradutor: A expressão latina urbi et orbi significa “para a cidade [de Roma] e para o mundo”. Dá nome a uma bênção pontifícia tradicional, há muito indulgenciada pela Igreja, e indica a um só tempo a sua universalidade e a sua “romanidade”.

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