À medida que nos encaminhamos para o fim do ano litúrgico, as famílias começam a preparar-se para o Advento e o Natal, estes tempos tão belos de expectativa pela vinda do Senhor. E um dos itens que mais se recomendam nos lares, nascido na espiritualidade franciscana, é o presépio, onde dispomos todas as personagens da Noite Santa, de modo a lembrar o Evangelho da Natividade e preparar um ambiente para a meditação deste grande mistério

O poema abaixo, de Dom Marcos Barbosa [1], escrito em 1973, pode ajudar-nos ainda mais a “rezar o presépio”. Nele cada figura se apresenta, desde São José até o Menino Jesus, falando de sua identidade e missão junto ao protagonista da festa. O texto pode tornar-se, também, um recurso bem interessante para introduzir as crianças nos mistérios que iremos celebrar.

As personagens do presépio

Ao cumprir o edital e a profecia,
deixei minha oficina em Nazaré;
não encontro lugar na hospedaria,
venho ver esta gruta como é...
Vou abrigá-la aqui, pobre Maria.
Já sabeis quem eu sou. Eu sou JOSÉ.

Tem direito à comida quem trabalha;
mas quero que o Menino me abençoe;
vou por isso ceder-lhe a minha palha,
e contarei aos bichos como foi
que lhe dei cama e o sopro que agasalha.
Já sabeis o meu nome. Eu sou O BOI.

Do lado oposto ao boi vou colocar-me
e soprarei mil coisas num sussurro,
pois, para que o menino não se alarme,
prenderei minha voz, isto é, meu zurro:
no momento da fuga há de encontrar-me.
Já sabeis quem eu sou. Eu sou O BURRO.

Convocando os pastores de Belém,
esta noite meus cânticos esbanjo.
Os músicos do céu não se contêm:
um traz a sua flauta, outro o seu banjo.
E cantamos na terra: “Paz e Bem!”
Sabeis quem eu sou. Eu sou O ANJO.

“Adoração dos Pastores”, por Gerard van Honthorst.

Deixei o meu rebanho sem cuidado,
que hoje o lobo retém todo furor.
Tomei um cordeirinho imaculado,
venho depô-lo aos pés do Redentor.
Era o mais belo, e o entrego de bom grado...
Já sabeis quem eu sou. Sou O PASTOR.

Em busca do Menino nós viemos,
trazendo-lhe os presentes que sabeis:
o ouro, o incenso e a mirra oferecemos;
seguiremos agora as suas leis.
A seus pés nada somos, nada temos.
Sabeis quem somos nós. Somos OS REIS.

Outra virá depois de maior brilho,
mas vou ficar aqui e conhecê-la.
Só de vê-la chegar, me maravilho,
e sinto-me ofuscada, só de vê-la!
Pois se eu vos trouxe os reis, traz o seu Filho,
o Rei dos Reis. Sabeis: eu sou A ESTRELA.

A terra virginal vai dar seu fruto,
e vai cumprir-se agora a profecia:
a treva se desfaz, termina o luto,
a noite será clara como o dia!
Ele chega chorando, e paro, e escuto...
e o ergo para o Pai. Eu sou MARIA.

Cheguei. Pequeno assim não faço medo.
Quem pode se esconder vendo essa luz?
E o presépio, essa espécie de brinquedo,
a manjedoura, que ainda esconde a cruz...
Nossa mãe vos entrega o meu segredo:
eis que sou vosso irmão… Eu sou JESUS.

Notas

  1. Dom Marcos Barbosa, Poemas do Reino de Deus. 3. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1980, pp. 132-133.

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