Publicamos a seguir dois sonetos, o primeiro de Dom Marcos Barbosa, que nos foi “dom” como monge beneditino, e o segundo de Dom Aquino Corrêa, que nos foi “dom” como bispo (de Cuiabá). Os dois já são conhecidos de nossos leitores, por isso dispensamos mais apresentações. 

Nesses textos, homenageia-se o sacerdote católico. O de Dom Marcos fala um pouco de São João Maria Vianney, com uma introdução que ele mesmo escreveu à sua poesia. O de Dom Aquino é um soneto escrito à sua batina — aproveitando o tema com que Dom Marcos encerra seu poema.

Neste dia 4 de agosto e sempre, rezemos pelos nossos padres. Por suas mãos nos vem a Eucaristia. Por suas mãos nos vem o perdão dos pecados. Que suas vidas sejam dignas dos mistérios que suas mãos celebram.


São João Maria Vianney

Dom Marcos Barbosa [i]

João Maria Batista Vianney, que fez a sua primeira confissão com um padre disfarçado em camponês por causa da Revolução Francesa, e mais tarde foi condecorado por Napoleão apesar de desertor involuntário, ordenou-se já tarde e com grande dificuldade, pelo seu pouco brilho nos estudos. Deram-lhe uma paróquia sem importância, “uma paróquia como as outras”, como diria Bernanos, mas da qual ele faria a mais célebre paróquia do mundo, simplesmente por sua fidelidade à celebração da missa, ao confessionário e à pregação da palavra de Deus. Se seus sermões não seriam originais, inspirados nos sermonários do tempo, ele encarnava o que dizia, convertendo os paroquianos. “Ars não é mais Ars!” pôde exclamar um dia. Mas o seu nome tornou-se em breve uma legenda, e vinham a ele de toda parte. O seu exemplo lembra que as técnicas de publicidade, as estatísticas e as especializações da vida moderna podem ser muito úteis, mas de nada valerão se faltar à pastoral o coração do pastor, pronto a sacrificar-se pelas ovelhas. Morreu a 4 de agosto de 1859, dia em que é celebrado e que foi escolhido para Dia do Padre.

João Maria Batista Vianney
chegando a Ars, se prostra e beija o solo,
e então vê afluir numa visão
gente de toda a França e todo o mundo.

Em vão o clero o acusa de incapaz,
põe-lhe o demônio fogo nas cortinas,
do cabaré o dono o calunia,
mais e mais penitentes o procuram.

E passa sem comer o dia inteiro
em sua escura caixa de segredos,
a ouvir confissões e dar conselhos.

E, despindo a sotaina em plena noite,
flagela-se, cordeiro que se imola,
pelas faltas que ouviu e que perdoa.


À minha batina

Dom Aquino Corrêa [ii]

Minha pobre batina mal cerzida,
Tu vales mais que todos os amores,
Pois, negra embora, enches-me de flores
E de esperanças imortais a vida.

Com seus sorrisos escarnecedores,
Zomba o mundo de ti, de ti duvida;
Não sabe a força, que me dás na lida,
Em te eu beijando os místicos fulgores.

Tu serenas do orgulho as brutas vagas,
E, ao mostrar-me do mundo a triste sina,
Toda a volúpia das paixões apagas.

Oh! como o bravo envolto na bandeira,
Contigo hei de morrer, minha batina,
Ó minha heróica e santa companheira!

Referências

  1. Dom Marcos Barbosa, Nossos amigos, os santos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1985, pp. 132-133.
  2. Dom Aquino Corrêa, Nova et Vetera, Poética, v. 1, t. III, Edição do Centenário, pp. 121.

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