O sol se punha atrás de dois vulcões cobertos de neve quando Eduardo Verástegui olhou para uma multidão de adolescentes sentadas diante dele num ginásio gigantesco no México. Elas usavam saias azuis, blusas brancas, meias curtas e sapatos pretos — pareciam figuras de um desenho antigo em preto e branco, tirado de um capítulo sobre pureza do Catecismo de Baltimore.

O ex-playboy e galã sabia quem eram essas meninas. Eram as jovens maltratadas e esquecidas de sua terra natal, vítimas inocentes de Guerrero, Oaxaca, Durango, Veracruz, Puebla, Jalisco e inúmeras outras aldeias devastadas por gangues, corrupção e pela violência da pobreza. Muitas delas haviam sobrevivido a atos depravados cometidos por homens.

Verástegui sabia o que Deus havia feito. Até certo ponto, ele havia participado disso. Então, quando o homem outrora ferido olhou nos olhos dos feridos, tudo ficou embaçado. E todos ficaram em silêncio enquanto cerca de três mil adolescentes viam marejar os olhos do ator mexicano. Apenas o som dos gafanhotos e os latidos distantes dos cães quebravam o silêncio quando Verástegui, tomado pela emoção, ajoelhou-se.

Na parte de trás do ginásio, atrás de filas e filas de meninas, estavam 52 Irmãs de Maria, que notaram o coração do ator tomado pela tristeza. Aquelas religiosas tinham dedicado a vida para acolher e recuperar suas filhas espirituais. Agora, elas observavam o produtor, diretor e ator de Som da Liberdade lutando para encontrar as palavras certas.

Trecho do filme “Som da Liberdade”.

Finalmente, ele falou, com lágrimas nos olhos:

Por favor, meninas, ouçam-me. Eu cresci numa cultura muito machista. Ensinaram-me que um homem de verdade deveria ser mulherengo, um amante latino, um Casanova — e acreditei nessa mentira. Durante muitos anos, fui infiel às minhas namoradas. Eu as usei e magoei… E eu sei que muitas de vocês foram maltratadas por um homem — talvez por mais de um. Se isso for verdade, sei que muitas carregam feridas no coração que ainda não cicatrizaram. Se for esse o caso, quero lhes pedir uma coisa: em nome de todos os homens que as magoaram, por favor, perdoem-me. Lamento muito pelo que fiz com vocês.

Enquanto ele observava os presentes em silêncio, o choro começou. Três mil meninas trêmulas começaram a chorar. Algumas caíram nos ombros das colegas ao lado. As que choravam alto foram cercadas pelas religiosas. Praticamente todas as meninas estavam experimentando uma torrente de emoções, na qual memórias assustadoras vinham à tona.

Para a maioria das meninas, era a primeira vez que um homem pedia desculpas pela violência que haviam sofrido.

Quando o ator se levantou, tornou-se um só com elas. Durante a hora seguinte, todos choraram juntos, num desabafo coletivo e num reconhecimento silencioso de uma das feridas mais profundas e ocultas do México: o abuso sexual e físico sofrido com frequência em seus próprios lares.

Algumas das meninas começaram a falar com ele — vozes baixas e hesitantes, partilhando pequenos fragmentos de memórias da infância.

Cada jovem tentou agradecer a Verástegui por suas palavras antes de saírem do ginásio como milhares de filhas de Jairo. Enquanto caminhavam de volta para os seus dormitórios espalhados pela Vila das Meninas, os vulcões gêmeos pareciam mais imponentes, como pais vigilantes que mandam suas filhas para a cama, comovidos por aquele raro momento de graça.

Foi a experiência mais bonita da minha vida. Creio que as moças já não me enxergavam mais. Acho que elas viam todos os homens que as magoaram e nunca pediram desculpas... Eu sabia que seria difícil para elas perdoarem completamente. Então, pedi que fechassem os olhos e pedissem a Deus que lhes desse força para perdoar aqueles homens, para que pudessem finalmente se esforçar para serem livres... Esse é o poder restaurador do perdão.

Verástegui continuou: “A arte é poderosa. A arte que escolhi foi a do playboy e mulherengo mexicano”, disse ele sobre os seus papéis como estrela de telenovelas mexicanas no final dos anos 90.

Os jovens e adolescentes costumavam me dizer: “Eduardo, você é o meu ator favorito! Eu uso cocaína por sua causa. Fico com muitas mulheres por sua causa”... E quer saber a pior parte? Naquela época, eu não via nada de errado no que me diziam... Eu estava tomado pela arrogância e pela vaidade, e nem percebia.

Quando fez 28 anos, uma preparadora vocal em Los Angeles mudou abruptamente o seu jeito de viver. Durante seis meses de aulas, ela frequentemente fazia perguntas perspicazes — cuidadosas no início, mas persistentes. Depois de alguns meses, suas palavras se tornaram como bombas, rompendo as muralhas de sua consciência e de sua alma vazia.

Pergunta após pergunta, ela me abordava usando o método socrático: Qual é o propósito da sua vida? Está usando os seus talentos para Deus? Onde está Deus em sua vida? Quando acorda, está realmente feliz? Você faz parte da solução para o sofrimento do mundo ou faz parte do problema? Está destruindo ou construindo? Deseja ter uma família algum dia? Se sim, é o tipo de homem com quem gostaria que a sua filha se casasse, alguém leal, íntegro e sacrificial?

“Foi um despertar. Pensei: ‘Meu Deus, eu sou parte do problema. Eu sou o problema. Não conseguia pensar em nenhum filme ou personagem de novela que ajudasse o México e os seus filhos”, disse ele. “Eu tinha contribuído para envenenar a mentalidade da juventude mexicana.”

Na verdade, eu estava morrendo naquela época e não sabia. O que mais me magoava era perceber que estava ofendendo a Deus com os talentos que Ele havia me dado. Mas a fé católica não era o centro da minha vida; eu não a conhecia bem; e como é possível amar o que não conhecemos?
O ator, diretor e produtor Eduardo Verástegui.

Verástegui fez uma confissão de três horas e meia — um desabafo que marcou o início de uma conversão radical e de seu regresso à fé católica. A partir daquele dia, consagrou-se a um novo modo de vida, jurando nunca mais participar de qualquer projeto que ofendesse a Deus, desonrasse a sua família, traísse a sua fé católica ou atentasse contra a dignidade da sua herança latina. E nunca mais voltaria a maltratar uma mulher.

Ele passou a frequentar assiduamente os sacramentos, assistindo à Missa todos os dias e rezando o Rosário com devoção. Adorava Cristo nas Horas Santas. Adotou a castidade, conversava afetuosamente com mulheres na entrada de clínicas de aborto e dedicava o seu tempo a servir os pobres. 

Mas essa transformação teve um preço.

Depois de quatro anos recusando papéis lucrativos que entravam em conflito com suas novas convicções, suas finanças estavam chegando ao fim. À beira da indigência, Verástegui confidenciou ao seu diretor espiritual, Padre Juan Rivas, em Los Angeles, que planejava deixar tudo para trás, tornar-se missionário e reparar seus pecados servindo os mais pobres entre os pobres nas selvas da Amazônia; e pediu a bênção do padre.

“Ele ficou em silêncio”, recordou Verástegui. 

Então, ele finalmente disse: “O que acha disso: dê-me dois anos na selva de Hollywood, e não na Amazônia. Faça a reparação aqui mesmo, transformando de dentro para fora os programas em que atuou... E faça isso como produtor. Acredito que Deus enviará um exército para ajudá-lo.”

O resto é história. Pouco tempo depois, Verástegui conheceu outros combatentes em Hollywood: Alejandro Gómez Monteverde e Leo Severino — que, assim como ele, esperavam romper com a obscenidade de Hollywood produzindo histórias que inspirassem, em vez de degradar. Com pouco mais do que fé e determinação, formaram a Metanoia Films e produziram Bella (2006), um drama pró-vida que ganhou o prêmio de Escolha do Público no Festival Internacional de Cinema de Toronto.

Anos depois, a equipe viria a produzir Som da Liberdade (2023), um sucesso mundial de bilheteria que abalou a indústria e sinalizou que a missão deles de ajudar a conscientizar as pessoas sobre o tráfico humano estava apenas começando. O trio está agora em fase de planejamento para fazer uma sequência de Som da Liberdade.

Mais um trecho do filme “Som da Liberdade”.

É a crescente consciência de Verástegui sobre a crise global envolvendo o tráfico humano e o abuso sexual doméstico que o leva, ano após ano, a voltar à Vila das Meninas, em Chalco, no México. Lá, ele diz que fica continuamente impressionado com o trabalho incansável das religiosas — a disposição de morrer para si todos os dias, a fim de curar corações devastados por meio de Cristo e da graça restauradora dos sacramentos.

Ao todo, as Irmãs de Maria cuidam de mais de 20 mil crianças em 16 comunidades “Vila dos Meninos” e “Vila das Meninas” em todo o mundo. Cada uma das comunidades é como um terreno de salvação, um campo de benevolência e ressurreição, onde essas religiosas fiéis educam, alimentam, aconselham, catequizam, correm, praticam esportes e rezam com os alunos. Elas nunca param. “Antes de mais nada, somos mães espirituais para eles”, disse recentemente uma irmã. “Eles passaram por muita coisa.” 

Antes de morrer de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) em 1992, o Venerável Aloysius Schwartz, fundador da congregação, disse às irmãs: “Nossa forma de servir é usar uma constante coroa de espinhos.”

A lenta e terna eloquência do amor maternal das irmãs retira camada após camada de feridas e terrores, muitas vezes excessivamente explícitos para o público em geral. A fidelidade incondicional das Irmãs de Maria às suas filhas [espirituais] tem um único objetivo: dar Cristo a elas. É um trabalho árduo, mas elas conhecem o segredo dos santos: o amor perseverante traz cura e libertação aos corações atormentados.

Muitas crianças em Chalco e na escola para rapazes de Guadalajara trabalharam nos campos descalças desde os sete ou oito anos de idade, muitas vezes voltando para casa sem encontrar comida na mesa. Quase todas já sentiram o medo de não saber quando seria a sua próxima refeição. Elas são criadas em aldeias dominadas pelo tráfico humano, assassinatos, dependência química e violência doméstica.

Verástegui visitou a “Vila das Meninas”, em Chalco, no México, em dez ocasiões, onde uma mistura de tristeza, alegria e alívio o domina. Ele vê meninas em processo de cura, sabendo que, depois de formadas, elas se tornarão algumas das maiores missionárias católicas do México. Ele disse que volta frequentemente a Chalco porque é lá que vê o rosto da ressurreição como em nenhum outro lugar do mundo.

“Essas irmãs são heroínas”, disse Verástegui. “Elas são a solução de Deus na guerra para proteger e salvar as crianças.”

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