“Eu não sei mais como lidar com a Igreja Católica”, “Há escândalo e corrupção demais”, “A Igreja está cheia de hipócritas e eu a estou deixando”.

Nós todos já ouvimos comentários assim de irmãos católicos (ou chegamos, nós mesmos, a ponderá-los). Não é difícil encontrar exemplos de escândalo e corrupção dentro da Igreja. Para os fiéis católicos, pode às vezes ficar cansativo ler sobre as falhas humanas de leigos e líderes religiosos. Talvez seja mais fácil sair. Talvez devamos simplesmente “entregar os pontos” e ir embora.

O Venerável Arcebispo Fulton Sheen refletiu certa vez sobre essa preocupação dos católicos: 

A Igreja é como a Arca de Noé, que estava repleta tanto de animais limpos quanto de animais sujos. Ela certamente tinha um terrível mau cheiro, mas estava transportando oito pessoas para a salvação. O mundo hoje está rasgando as fotografias de uma boa sociedade, de uma boa família, de uma vida pessoal individual feliz. Mas a Igreja está guardando os negativos. E quando chegar o momento em que o mundo quiser uma reimpressão, nós os teremos.

Imagine você a vida na Arca de Noé: os espaços apertados, os animais querendo comer uns aos outros, os barulhos, os fedores, uma tempestade constante de quarenta dias agitando a embarcação, o enjôo causado pelo mar, a família numa proximidade asfixiante... Quem jamais gostaria de ter vivido um episódio semelhante?

“A Arca de Noé no monte Ararat”, por Simon de Myle.

Agora imagine o tempo que Noé passou construindo a arca. Imagine esse homem e sua família edificando esta barca grande e espalhafatosa. Imagine os vizinhos zombando desta família maluca: se eles soubessem o que nós sabemos hoje, imagino que teriam pulado a bordo; teriam alegremente subido na arca. A outra alternativa seria nadar — e ela não funcionou muito bem.

Você alguma vez já se sentiu como a “família maluca” de Noé? Seus vizinhos já olharam para você e balançaram a cabeça? Talvez você seja “esquisito” por confessar seus pecados a um padre. Talvez receba olhares estranhos por se abster de carne nas sextas-feiras, especialmente durante a Quaresma. Talvez se tenha aferrado à doutrina moral da Igreja numa sociedade que está constantemente gritando o contrário. É com razão que Fulton Sheen nos diz: a Igreja Católica é a Arca de Noé. A Igreja nos conduzirá ao porto seguro do Céu.

“Mas a música na minha paróquia é horrível.”

“Mas meu padre faz homilias terríveis.”

“Não há grupos para os jovens e as crianças.”

“A igreja protestante tem música legal, pregação legal e atividades em família.”

“Será que não deveríamos simplesmente pegar outra estrada no próximo domingo?” Com todo respeito: não, nós não devemos. É o próprio Jesus quem diz: “Ninguém que põe a sua mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus” (Lc 9, 62).

Arar o campo, isto é, ser discípulo de Jesus e um membro obediente de sua Igreja, pode ser uma tarefa solitária e difícil. A agricultura é um trabalho duro. O Sol aquece, o suor escorre, seus braços doem, você pode estar fazendo todo o trabalho sozinho. Mas Jesus nos manda não olhar para trás. S. Paulo nos urge a manter fixos “os olhos no autor e consumador da nossa fé” (Hb 12, 2).

O que fazer, então, se somos oprimidos e desmoralizados por causa de nossa pertença à Igreja? O Papa emérito Bento XVI diz: 

O que deve ser feito? Talvez devêssemos criar outra Igreja para que as coisas funcionem? Bom, essa experiência já foi feita e já fracassou. Somente a obediência e o amor a Nosso Senhor Jesus Cristo podem indicar-nos o caminho (A Igreja e os abusos sexuais, III). 

A obediência indicará o caminho. Pode ser difícil praticá-la no mundo de hoje. Não se trata de sugerir uma capitulação completa ao “pague, reze e obedeça”. Ao contrário, somos chamados a seguir o modelo de Nosso Senhor mesmo, que nos mostra a última forma de amor através do ato sacrificial de sua obediência. “Humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte da cruz” (Fl 2, 8). 

Neste mundo, teremos tribulações, mas tenhamos ânimo: Ele venceu o mundo (cf. Jo 16, 33). Permaneça na Arca, e deixe que Nosso Senhor acalme as tempestades.

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