A pergunta é volátil e dá muita margem para uma grande quantidade de comentários e interpretações. De fato, nossa época parece estar repleta de interpretações extremamente diferentes sobre o significado do livro do Apocalipse. Ao abordar o tema, espero dar uma contribuição para o que deveria ser sempre uma discussão sóbria, embora muitas vezes ela ocorra de outra forma. Mesmo assim, creio que tudo o que direi sobre o assunto poderia ser resumido em uma única palavra: Sim.

Sim, estamos vivendo em tempos apocalípticos. Mas essa afirmação precisa de qualificação.  A Igreja, a Sagrada Escritura, os santos, as aparições místicas aprovadas, todos falam do fim dos tempos dentro do contexto que eu gostaria de apresentar. O Catecismo da Igreja Católica diz o seguinte numa seção que trata do retorno glorioso do Senhor:

A provação derradeira da Igreja

675. Antes do advento de Cristo, a Igreja deverá passar por uma prova final, que abalará a fé de muitos crentes. A perseguição que acompanha a peregrinação dela na terra desvendará o “mistério de iniquidade” sob a forma de uma impostura religiosa que há de trazer aos homens uma solução aparente a seus problemas, à custa da apostasia da verdade. A impostura religiosa suprema é a do Anticristo, isto é, a de um pseudomessianismo em que o homem glorifica a si mesmo em lugar de Deus e de seu Messias que veio na carne.

676. Esta impostura anticrística já se esboça no mundo toda vez que se pretende realizar na história a esperança messiânica que só pode realizar-se para além dela, por meio do juízo escatológico: mesmo em sua forma mitigada, a Igreja rejeitou esta falsificação do Reino vindouro sob o nome de milenarismo, sobretudo sob a forma política de um messianismo secularizado, “intrinsecamente perverso”.

677. A Igreja só entrará na glória do Reino por meio desta derradeira Páscoa, em que seguirá seu Senhor em sua Morte e Ressurreição. Portanto, o Reino não se realizará por um triunfo histórico da Igreja segundo um progresso ascendente, mas por uma vitória de Deus sobre o desencadeamento último do mal, que fará sua Esposa descer do Céu. O triunfo de Deus sobre a revolta do mal tomará a forma do Juízo Final depois do derradeiro abalo cósmico deste mundo que passa [i].

Observando o mundo contemporâneo, inclusive o nosso mundo “democrático”, não poderíamos dizer que estamos vivendo exatamente em meio a esse espírito de messianismo secular? E esse espírito não se manifesta especialmente em sua forma política, que o Catecismo chama (com a linguagem mais forte possível) de “intrinsecamente perverso”? Em nossa época, quantas pessoas já acreditam que o triunfo do bem sobre o mal no mundo será alcançado através da revolução ou da evolução social? Quantos sucumbiram à crença de que o homem salvará a si mesmo quando o conhecimento e a energia suficientes forem aplicados à condição humana? Creio que hoje essa perversidade intrínseca domina o mundo ocidental inteiro.

“O Dilúvio”, por Hans Baldung Grien.

O Catecismo extrai da própria Sagrada Escritura a sua autoridade para nos ensinar sobre esses assuntos. Voltando aos nossos fundamentos, então, o que a revelação divina nos diz sobre o misterioso apogeu da história, o grande clímax chamado Apocalipse, que é profetizado no último livro da Bíblia e em outros livros do Novo e do Antigo Testamento?

Em sua primeira carta, o Apóstolo São João diz, simplesmente, sem as nuances teológicas a que nos acostumamos nos últimos anos: “Filhinhos, é a última hora”, e em outra tradução: “Filhinhos, são os últimos dias” (1Jo 2, 18).

Esse é o nosso contexto, a estrutura conceitual na qual o período do fim deve ser analisado por cada geração de cristãos. Estamos vivendo a hora final e temos vivido nessa hora desde o momento em que Nosso Senhor ascendeu ao céu. Toda a história subsequente é uma espera pelo retorno dele. Os últimos dois mil anos são os últimos dias. Em sua segunda carta, o Apóstolo Pedro escreve: “Um dia, diante do Senhor, é como mil anos (diante dos homens), e mil anos (diante dos homens) como um dia (diante do Senhor)” (2Pd 3, 8).

O próprio Jesus nos fala sobre o período culminante no futuro indefinido em que toda a humanidade será submetida a uma provação final. O capítulo 24 do Evangelho de São Mateus é a seção mais extensa dos Evangelhos na qual Ele fala sobre o que há de vir. Nesse trecho Ele nos apresenta mais do que uma descrição simbólica e, alternadamente, mais do que um modelo unidimensional, uma mera predição linear-histórica do futuro próximo. Trata-se antes de uma visão que contém elementos de ambas as perspectivas, mas que penetra a própria época de Jesus, o período das perseguições nos primeiros três séculos da Igreja e toda a história subsequente até a segunda vinda dele. Ele não é um pensador linear. Ele não é um homem unidimensional. Ele é Deus e homem.

Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas só o Pai. Assim como foi nos dias de Noé, assim será também a (segunda) vinda do Filho do Homem. Nos dias que precederam o dilúvio (os homens) estavam comendo e bebendo, casando-se e casando seus filhos, até ao dia em que Noé entrou na arca, e não souberam nada até que veio o dilúvio, e se levou a todos. Assim será também na vinda do Filho do Homem (Mt 24, 36-39) [ii].

Essa passagem, inserida nas páginas do ensinamento apocalíptico de Jesus, é o núcleo do que Ele deseja comunicar a todos aqueles que procuram segui-lo. Ele quer que vamos mais fundo do que a nossa tendência humana habitual de desejar conhecimento per se do futuro, mais fundo do que uma espécie de previsão do futuro “batizada”. Jesus deseja nos levar ao manancial da sabedoria, não ao conhecimento em si, porque este não pode nos salvar. Ele sempre atrai os Apóstolos para águas profundas, em certos momentos até à beira do afogamento literal. Nessa imersão está o início da sabedoria, pois ela nos tira de uma perspectiva meramente horizontal e nos insere numa vertical, que oferece uma perspectiva verdadeiramente cósmica — muito mais elevada do que ampla.

Ele prossegue, dizendo: “Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora virá o vosso Senhor” (Mt 24, 42).

Este diálogo com os Apóstolos é repetido no Evangelho de São Lucas, com algumas palavras adicionais de Cristo. Ele começa falando da natureza de seu retorno glorioso depois das convulsões que estão por vir:

Porque, assim como o clarão brilhante de um relâmpago ilumina o céu de uma extremidade à outra, assim será o Filho do Homem no seu dia. Mas primeiro é necessário que ele sofra muito, e seja rejeitado por esta geração (Lc 17, 24-25).

Essa frase, “rejeitado por esta geração”, é altamente significativa, pois implica que há idades que virão depois de sua vida na terra. Em outra passagem, Ele diz que algumas pessoas que vivem agora em sua geração verão a chegada de seu Reino (cf. Mt 16, 28). Assim, nesses trechos aparentemente contraditórios, somos levados a entender que Ele está transmitindo uma visão multidimensional, transcendendo uma cronologia puramente linear.

Como sucedeu nos dias de Noé, assim sucederá também quando vier o Filho do Homem. Comiam, bebiam, tomavam mulher e marido, até ao dia em que Noé entrou na arca; e veio o dilúvio, que exterminou a todos. Como sucedeu também no tempo de Lot; comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; mas, no dia em que Lot saiu de Sodoma, choveu fogo e enxofre do céu, que exterminou a todos.

Assim será no dia em que se manifestar o Filho do Homem [...]. Lembrai-vos da mulher de Lot. O que procurar salvar a sua vida, perdê-la-á; o que a perder, salvá-la-á (Lc 17, 26-33).

Aqui, se me permitem, está o verdadeiro “manual de sobrevivência” para o apocalipse, aqui está o fundamento espiritual dos ensinamentos de nosso Salvador sobre o que devemos fazer e onde devemos estar, espiritual e mentalmente, enquanto passamos por tempos obscuros. É evidente que existem miniapocalipses para cada indivíduo, além de apocalipses prefigurativos que ocorreram em certos momentos da história da Igreja. O grande Apocalipse será aquele período da história em que tudo é posto à prova, quando a própria Igreja será crucificada em todo o mundo. Onde estarão, então, os nossos recursos? Será que nós, como a esposa de Lot, olharemos para Sodoma, ansiando por seu conforto e minimizando sua terrível corrupção? Talvez ela soubesse que não era a melhor cidade para se viver, mas disse a si mesma que, no final das contas, era um lugar que oferecia segurança material — comiam, bebiam, construíam e plantavam. Era óbvio que podiam ter uma boa vida lá. Sempre há argumentos razoáveis para uma concessão, para não ir para o deserto em obediência à palavra de Deus, e sem dúvida a senhora tinha alguns bons argumentos. É preciso repetir: quem tentar preservar sua vida, perdê-la-á; e quem perder sua vida por causa de Cristo, salvá-la-á para a eternidade.

“Lot e sua família fogem de Sodoma”, por Jacob Jordaens.

Jesus nos alerta no Evangelho de São Marcos:

A respeito, porém, desse dia ou dessa hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas só o Pai. Estai de sobreaviso, vigiai, porque não sabeis quando será o momento. Será como um homem que, empreendendo uma viagem, deixou a sua casa, deu autoridade aos seus servos, indicando a cada um a sua tarefa, e ordenou ao porteiro que estivesse vigilante. Vigiai, pois, visto que não sabeis quando virá o senhor da casa, se de tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã, para que, vindo de repente, vos não encontre dormindo. O que eu, pois, digo a vós, o digo a todos: Vigiai! (Mc 13, 32-37)

Escutamos essas passagens nas leituras da liturgia uma e outra vez, e ficamos cada vez mais acostumados com elas à medida que envelhecemos. É claro que são sempre interessantes, mas a familiaridade pode fazer com que a urgência das admoestações do Senhor se desvaneça em nossas mentes. Podemos dar um consentimento intelectual a elas, reconhecendo que são verdadeiras, mas subliminarmente podemos sentir (“sentir” é de fato o termo exato neste caso) que elas não são aplicáveis a nossas próprias vidas. Os alertas se misturam ao pano de fundo, tornam-se parte do grande corpo dos ensinamentos de Cristo, a maioria dos quais são menos obscuros, menos cheios de incógnitas. Assim, tendemos a deixar de lado o tema da reflexão apocalíptica, descartando-a completamente como se fosse uma representação simbólica de eventos que ocorreram há muito tempo, ou, alternativamente, de eventos que ocorrerão num futuro muito distante. Assim, vivemos como se não estivéssemos sob ameaça alguma, convencidos, em alguma medida, de que nenhuma Besta vai nos encarar e nos devorar — nem alguma besta em nível pessoal, nem alguma besta “mitológica” apocalíptica de grandes dimensões cósmicas. Nenhuma dessas abordagens é fiel ao que Cristo nos diz.

“São João em Patmos”, por Hans Baldung Grien.

Há sempre uma batalha por cada alma. Mesmo que a nossa época não seja aquela à qual se refere o Apocalipse de São João, cada um de nós deve passar por uma espécie de pequeno apocalipse com “a” minúsculo. Cada um de nós certamente experimentará um apocalipse com “A” maiúsculo quando morrermos e passarmos por nosso julgamento pessoal, quando tudo o que somos, tudo o que fizemos ou deixamos de fazer for revelado. A palavra grega apokalypsis significa revelação ou desvelamento. Durante as nossas vidas neste mundo, cada um de nós realmente enfrentará a besta, que é o diabo, nosso antigo adversário, o inimigo de nossas almas individuais e da humanidade como um todo. De uma forma ou de outra, devemos aprender a resistir pessoalmente a ele e a superá-lo em Cristo. 

Ao mesmo tempo, devemos entender que chegará um momento na história em que toda a malícia dele, todos os seus dispositivos, toda a sua raiva serão liberados em um último ataque brutal contra todo o Corpo de Cristo. Será intenso; será breve. Se nos encontrarmos no meio desses três anos e meio de perseguição total, não será tão breve. No entanto, devemos ter sempre em mente que o tempo dele está terminando; de fato, o inimigo já está derrotado pelo sacrifício de Jesus na Cruz. A guerra cósmica está ganha, e resta apenas a batalha final pela qual a Igreja e o mundo devem passar, já que a vitória de Cristo se manifesta na dimensão temporal.

Nós estamos na batalha final, no apocalipse, no livro do Apocalipse, que, de acordo com a Igreja — a começar pela maioria dos Padres da Igreja —, é uma visão de todo o desdobramento da história da salvação após a Encarnação, culminando na vitória total de Cristo sobre todo o cosmos e sua restauração ao Pai. O livro do Apocalipse não é um diagrama esquemático, uma planta nem uma cronologia puramente linear. É uma misteriosa visão multidimensional, que certamente contém aspectos cronológicos lineares, mas isso não é o todo. De fato, não é o elemento principal.

A principal graça do livro do Apocalipse é a exortação do Senhor a cada geração para que se mantenha alerta, em espírito de vigilância, a fim de abrir os olhos dos nossos corações, mentes e espíritos para a própria natureza da Realidade. As várias manifestações bizarras de apocalipticismo em nossa época — de determinados cenários selvagens em alguns círculos protestantes aos seus equivalentes em alguns círculos católicos — distorcem a intenção do Apocalipse. Sempre que não estiverem enraizadas na profunda reverência ao mistério e à sabedoria de Deus, sempre que falharem na absoluta confiança na vitória vindoura de Deus, sempre que não estiverem enraizadas na obediência e na docilidade ao Espírito Santo, invariavelmente elas se apegarão ao conhecimento como o fator salvador. Essa “salvação pelo conhecimento” é uma variação moderna do antigo gnosticismo, e embora o neognosticismo de nosso tempo não tenha uma expressão ritual, sua forma de pensar e de se comportar é um sintoma de um problema persistente na natureza humana — mesmo para os cristãos. Por que tantas pessoas correm até as livrarias para comprar os últimos cenários especulativos? Por que depositamos tanto interesse e confiança neles, e tão pouco na vida interior de união com Cristo, precisamente aquele que nos salvará? Neste ponto, convém lembrar que Ele não promete salvar as nossas vidas neste mundo em termos estritamente humanos, mas salvá-las para a eternidade, desde que confiemos nele e nos apeguemos a Ele de todo o coração. Estaríamos sendo, involuntariamente, vítimas de uma forma religiosa de salvação de nós mesmos? Será que depositamos a nossa fé em informações secretas “internas”, em técnicas de autopreservação, em manuais de sobrevivência e revistas de combate que enfatizam fortemente a preservação de nossas vidas e minimizam a nossa saúde espiritual? Se sim, é hora de fazermos uma autoavaliação. Uma atitude que dá consentimento mental a Deus enquanto em outros níveis procede como se Ele não estivesse de fato cuidando de seu rebanho é malsã em todos os aspectos.

Teto da Capela Sistina.

Por causa da nossa natureza humana decaída, mesmo da nossa natureza humana batizada, tendemos a nos enxergar e a agir como se fôssemos unidades autônomas no controle de nossas próprias vidas. Sim, nós queremos a salvação, queremos as consolações de Deus, mas as queremos do nosso jeito. Tal atitude pode até não ser consciente, mas deve ser humildemente reconhecida se quisermos ir além do gueto do eu. Sempre que dissermos a nós mesmos: “Eu decidirei o significado da Sagrada Escritura. Não me submeterei a nenhuma Igreja que me diga o que ela significa!”, adentramos o reino do eu. Estas atitudes se infiltram sutilmente em nosso pensamento e sentimento. Elas saturam a atmosfera da nossa época, especialmente na cultura ocidental. Em uma época da história dominada pelo medo e pela desconfiança, a submissão do coração e das almas à mente de Cristo e de sua Igreja é mal interpretada como contrária ao indivíduo, quando de fato a Igreja é anti-isolacionista e profundamente personalista — ou seja, ela respeita a personalidade única de cada alma, dentro de uma comunidade de pessoas no contexto da ordem divina, com os direitos e responsabilidades que isso implica. Por outro lado, o novo herói mitológico é o indivíduo autônomo que só presta contas a seu eu soberano, e o espírito da época nos encoraja a cada momento a imitá-lo e, ao fazê-lo, a nos tornarmos deuses mesquinhos.

Deve-se notar que a exaltação de uma criatura acima da autoridade de Deus é o espírito do Anticristo. Poucos devotos do eu — ou nenhum deles — imaginaria que está a serviço desse espírito diabólico, mas a verdade é que aquele que nega que Jesus é o Senhor de sua vida se torna vulnerável ao zeitgeist, o espírito dos tempos, o spiritus mundi. À medida que esse espírito é cada vez mais dominado pelas ideias do Anticristo, o eu soberano faria bem em olhar além das fronteiras de seu pequeno reino, para que não se encontre um dia, sem saber como chegou lá, numa condição de escravidão. Pois o homem se torna facilmente escravo dos impulsos de sua própria natureza caída, de seu orgulho e subjetividade e, finalmente, da manipulação de forças que estão além de sua compreensão.

O spiritus mundi de nossa época apresenta algumas características únicas, que só se tornam compreensíveis à luz das visões de Daniel, Isaías, Ezequiel, Sofonias, Malaquias e uma hoste de outros profetas, e pelas passagens escatológicas do Novo Testamento, principalmente as advertências de Cristo e a grande visão do livro do Apocalipse. Basta ler a Sagrada Escritura para constatar que a nossa época está presente nesses textos.

Em cada época, esse espírito trabalha contra a soberania absoluta de Deus. No entanto, sabemos por revelação divina que chegará um período definitivo na história em que ele se espalhará pelo mundo e, no auge de sua influência, tomará a totalidade do poder mundial por meio de mentiras, lisonjas e sedução sutil, e então lançará uma perseguição sem precedentes contra os seguidores de Cristo. 

Em 1948, Étienne Gilson, um dos grandes filósofos tomistas do século XX, deu uma palestra aos bispos da França sobre a natureza do mundo que emergiu no pós-guerra. Em seu profético ensaio de 1949, “Os terrores do ano 2000”, baseado naquela palestra, ele argumentou que o homem da nova era é dominado pelo espírito do Anti-Christus. Tendo abandonado a crença ou confiança no Deus que se fez homem e sofre conosco para nos elevar, tentamos nos transformar em Deus, pois o homem não pode viver muito tempo sem um deus e uma espiritualidade. Postulando a “grandeza demoníaca de Nietzsche” como precursora e articuladora dessa condição espiritual, Gilson adverte que a influência do Anticristo é grande porque em nosso tempo ele não tem nenhuma semelhança com a fantástica besta do Apocalipse.

A ordem humana está cambaleando. O fato de o Anticristo ser ainda o único que sabe isso, o único que pode prever o terrível cataclismo da “inversão de valores” que está sendo preparado, não o torna menos fatal, pois se a totalidade do passado humano dependia da certeza de que Deus existe, a totalidade do seu futuro dependerá necessariamente da certeza oposta, de que Deus não existe [...].

Será que finalmente compreendemos isso? Não temos certeza, pois o anúncio de um cataclismo dessa magnitude deixa geralmente apenas uma defesa: não acreditar nele e, para não acreditar, recusar-se a compreendê-lo. Se Nietzsche estiver certo, os próprios fundamentos da civilização devem ser demolidos [...].

“Quem quiser ser um criador, para o bem e para o mal, deve primeiro saber destruir e aniquilar valores”, diz Nietzsche. Eles estão de fato sendo aniquilados à nossa volta e diante dos nossos próprios olhos, por todos os lados. Já não podemos contar as mensagens inauditas que nos são enviadas sob os mais diversos nomes por tantas escolas de pensamento, cada uma das quais, como arauto de uma nova verdade que promete criar em breve, preparando o admirável mundo novo de amanhã por meio da destruição do mundo atual [...].

Uma vez que os homens se recusaram a servir a Deus, já não existe um árbitro entre eles e o Estado que os domina. Já não é Deus, mas o Estado que os julga; mas quem irá julgar o Estado? [iii]
O filósofo francês Étienne Gilson.

Se já não existe uma ordem moral absoluta, nenhum conjunto de absolutos exteriores à subjetividade do homem, nenhum padrão inabalável do bem e do mal pelo qual possamos medir a retidão ou o erro de nossos atos pessoais, nacionais e internacionais, o que nos impede de simplesmente remodelar a humanidade de acordo com caprichos e teorias estimuladas por um misto de impulsos e impressões, utopias vagas e ideologias mais específicas? O que nos impediria de redefinir uma certa parcela da humanidade e considerá-la menos humana do que outras porções da humanidade — e, portanto, indigna da vida? Isso já aconteceu, e o aborto é um exemplo óbvio. Mas nos acostumamos a isso. Sabemos que é errado, mas essa situação se normalizou em toda parte. Embora continuemos a resistir a ela, a completa institucionalização do mal em nossa sociedade foi absorvida em nossa consciência como algo corriqueiro.

Josef Pieper apresenta em seu ensaio “A arte de não sucumbir ao desespero” [iv] um argumento semelhante, citando fontes muito diversas, como São João em Patmos, Nietzsche e Marx, Thomas Mann e Robert Oppenheimer, e muito particularmente a obra “Retorno ao Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley. “Admirável Mundo Novo”, a distopia de Huxley publicada em 1931, tinha advertido que a era da organização mundial se aproximava (embora ainda estivesse distante), e que tal era aboliria a vida privada e a responsabilidade pessoal. Trinta anos mais tarde, revisitando sua obra, Huxley se mostrou muito menos otimista e expressou sua convicção de que as previsões que havia feito em 1931 estavam se materializando em um ritmo muito mais rápido do que julgara possível. No futuro próximo, advertiu, veríamos o surgimento de uma “ditadura científica” na qual haverá menos violência do que sob Hitler e Stalin, “e na qual seremos controlados sem dor por um corpo de engenheiros sociais altamente treinados”, e na qual “democracia e liberdade serão o tema de cada transmissão e editorial”, mas “a substância subjacente será um novo tipo de totalitarismo não violento”. Pieper ressalta que esta é a forma mais desumana de totalitarismo, quase impossível de ser eliminada, porque sempre pode citar argumentos aparentemente válidos para provar que não é, de fato, o que é. 

Em “O Julgamento das Nações”, obra publicada em 1942, o historiador Christopher Dawson apresenta uma reflexão sobre o mundo que começava a surgir no pós-guerra e compara o colapso do Império Romano ao colapso de uma civilização cristã. Ele acreditava que algo muito mais ameaçador estava acontecendo com o colapso da civilização cristã:

Pois a civilização que foi abalada e que agora está ameaçada pela subversão total, é uma civilização cristã, construída sobre os valores espirituais e ideais religiosos de Santo Agostinho e seus semelhantes; e seu adversário não é o simples barbarismo de povos estrangeiros que se encontram em um nível cultural inferior, mas novos Poderes armados com todos os recursos da técnica científica e inspirados por uma vontade implacável de poder, que não reconhece nenhuma lei a não ser a de sua própria força.

Aqui Dawson está se referindo às tiranias ostensivas. No entanto, ele prossegue e apresenta mais alguns alertas a todos nós:

Assim, a situação que os cristãos precisam enfrentar hoje tem mais em comum com aquela descrita pelo autor do Apocalipse do que com a época de Santo Agostinho. O mundo é forte e tem seus mestres do mal. Mas esses mestres não são autocratas cruéis como Nero e Domiciano. São os engenheiros do mecanismo do poder mundial: um mecanismo mais formidável do que qualquer coisa que o mundo antigo conhecia, porque não está confinado a meios externos, como o despotismo do passado, mas usa todos os recursos da psicologia moderna para fazer da alma humana o motor de seu propósito dinâmico. 

Dawson está descrevendo a configuração de um futuro possível, um totalitarismo global que, do ponto de vista cristão, é o mais grave de todos, porque nele o mal se torna despersonalizado, “separado do apetite e da paixão individuais, e exaltado [...] numa esfera na qual todos os valores morais são confundidos e transformados. Os grandes terroristas [...] não foram homens imorais, mas puritanos rígidos que fizeram o mal friamente, por princípio”.

O historiador britânico Christopher Dawson.

Se pensadores serenos e lúcidos como Gilson, Pieper e Dawson (poder-se-ia facilmente acrescentar uma longa lista de nomes admiráveis para acompanhá-los) falaram com certa urgência sobre o significado do caráter único de nosso tempo, certamente nós, que vivemos numa geração posterior, podemos nos dar ao luxo de uma pequena reflexão sobre a possibilidade de que a história possa estar se aproximando de sua crise definitiva. A relutância generalizada de muitos pensadores católicos em realizar uma análise profunda dos elementos apocalípticos da vida contemporânea é, creio eu, parte do próprio problema que eles procuram evitar. Se o pensamento apocalíptico é deixado em grande medida para aqueles que foram tomados pelo subjetivismo ou que se tornaram vítimas das fantasias de terror cósmico, então a comunidade cristã, ou mesmo toda a comunidade humana, fica radicalmente desfavorecida. E isso pode ser medido em termos de almas humanas perdidas. 

Boa parte dos comentários apocalípticos realizados hoje em dia pelos círculos acadêmicos se limita ao boato do primeiro milênio. “Ah, sim”, dizem-nos repetidamente, “no século X houve uma histeria coletiva em relação à proximidade do fim do primeiro milênio, e vejam só, a data passou e o mundo recuperou seu equilíbrio”. Ao se preparar para seu discurso aos bispos da França, Gilson estudou cuidadosamente esse período e encontrou poucas evidências para sustentar a teoria da febre em relação à virada do milênio no século X. A tradição relativa a uma suposta histeria generalizada era tão grosseiramente inflada a ponto de ser ridícula, e na verdade se devia em grande parte aos escritos de um único clérigo. Embora houvesse incidentes isolados, reconhece Gilson, a histeria coletiva definitivamente não era a tendência daqueles tempos.

Então, o que devemos fazer em relação à repulsa generalizada existente entre os intelectuais quando se trata de realizar uma reflexão séria a respeito de temas apocalípticos? Medo do irracional? Sim, há algo disso — aversão a um tema que está cheio de incógnitas e pronto para conjecturas provocativas. Claramente, é saudável sentir alguma aversão ao risco de alguém projetar os seus temores vagos sobre um mundo grande e perigoso. Contudo, não devemos permitir que esse receio paralise a faculdade crítica, bem como o carisma do discernimento espiritual que os cristãos devem exercer sempre que procuram compreender o mundo. Ficamos tão preocupados com o perigo da paranoia que não somos mais capazes de considerar a possibilidade de que algo da magnitude de um apocalipse possa ocorrer em nossos tempos? Não será a psicologia da negação tão perigosa quanto a psicologia da histeria — e mais ainda, uma vez que a histeria não pode ser mantida por muito tempo, mas a negação fomenta uma profunda indiferença? Como é fácil rejeitar todo o debate numa só tacada em razão do estilo pobre e dos excessos óbvios de muitos autores que tratam do “fim dos tempos”, com os seus vários cenários conflituosos ou as manchetes apocalípticas e sensacionalistas dos tabloides. Por sua própria natureza, o tema da catástrofe mundial evoca respostas irrefletidas; portanto, para muitos membros da academia, especialmente os habituados à hiperespecialização, existe uma forte tentação de se afastarem tanto do problema que praticamente rejeitam completamente o tema.   

A psicologia humana é tal que temos a tendência de perceber nosso próprio tempo como normal. Nascemos e somos criados numa determinada cultura com certas realidades espirituais e materiais ao nosso redor. As pessoas de cada geração experimentam o mundo como um ambiente imperfeito, mas esse ainda é o mundo delas. Em algum momento da história, porém, uma geração vai passar pela fase final do apocalipse, mas para ela parecerá um mundo normal. Ela terá problemas, e seus cidadãos poderão até admitir que são graves, mas a maioria terá dificuldade em compreendê-los em sua relação com a crise absoluta apresentada no livro do Apocalipse. Essa é precisamente a condição sobre a qual Jesus nos adverte em Mateus 24. A geração menos alerta, menos capaz de reconhecer o que está acontecendo, talvez até a geração mais confortável e confiante, será aquela em que o espírito do Anticristo se manifestará plenamente. É a nossa a geração predita há tanto tempo?

E, se assim for, como será consumada a nossa escravidão? Será implementada por meio do aumento do poder estatal aliado a uma diminuição gradual dos direitos civis; a abolição de responsabilidades onerosas que recaem sobre nós aliada ao aumento de recompensas agradáveis; o crescimento de uma classe de poder formada por “conhecedores”, que consagram nos órgãos de governança institucional um neognosticismo multifacetado. Se, ao mesmo tempo, a capacidade do homem de exercitar seu intelecto — especialmente no que diz respeito às faculdades analíticas e contemplativas — for limitada pela educação corrompida, pela doutrinação da mídia e por uma perda generalizada do significado e do valor da pessoa humana, a nova ordem mundial poderá ser alcançada. Deve-se notar, além disso, que ela poderá ser alcançada de forma mais eficaz na medida em que for entendida como uma causa “moral”, um grande salto adiante em nome da humanidade.

Esse processo já está em andamento em várias nações do Ocidente. Num futuro próximo, ele poderá ser completamente bem-sucedido. O que lhe serve de obstáculo? Somente a Igreja Católica. O Papa João Paulo II, em várias de suas conferências públicas e em suas encíclicas, notadamente na Centesimus Annus e na Evangelium Vitae, diz que não devemos concluir que a humanidade se emendará e todos nós prosseguiremos em direção ao novo e glorioso futuro somente porque as formas mais brutais de totalitarismo — como o fascismo e o marxismo — parecem ter sido derrubadas e porque governos democráticos têm surgido nesses antigos Estados tirânicos. João Paulo II ensinava continuamente que um futuro definido como uma restauração do mundo por meio de processos evolutivos inevitáveis é um falso pressuposto, e de fato ele chega a advertir que nós das democracias liberais ocidentais podemos, a longo prazo, correr um risco maior do que os povos da Europa Oriental e de outras partes do mundo que sofreram sob a tirania ostensiva. Seus sofrimentos foram catastróficos; nações, povos e igrejas particulares foram crucificados. Mas naquelas terras a besta foi desmascarada, revelou-se em sua essência. 

O Papa São João Paulo II, em visita a Nova Iorque, em 1979.

A besta que agora está ao nosso redor devora os inocentes em muitos níveis de nossa sociedade. Mais obviamente, devora os inocentes no útero em grande número, através de assassinatos sancionados e financiados pelo Estado. A eutanásia está agora se disseminando. Há dez anos, um parente meu quase foi assassinado em uma instituição católica. Tais incidentes estão se tornando mais frequentes. Por que, então, o impensável está se normalizando ao nosso redor? Ele se espalhou, e continuará a se espalhar, porque o pensamento está se tornando confuso dentro e fora da Igreja, e embora às vezes recorramos à consciência com fervor, ela está cada vez mais entorpecida. Infelizmente, essa anestesia da consciência é sustentada pela matização teológica da Verdade, transformando-a em abstrações ambíguas que começam criando confusão moral e terminam levando muitas pessoas a presumirem que a verdade não é aplicável à realidade prática. 

O Papa Leão XIII escreveu o seguinte em sua encíclica sobre o Espírito Santo, Divinum Illud Munus, de 1897: 

…porque, se é verdade que a ingratidão fecha a mão do benfeitor, o reconhecimento ao contrário abre-a amplamente. Há de se cuidar, porém, diligentemente que tal amor não se limite a umas áridas noções teóricas e a uma homenagem puramente exterior, mas que se distinga pela pronta ação, principalmente pela fuga do pecado, o qual de modo muito particular ofende o Espírito Santo. Com efeito, tudo o que somos, devemo-lo à divina bondade, atribuída que é preponderantemente ao mesmo Espírito: a este benigno benfeitor injuria aquele que peca, que, abusando de suas dádivas e de sua bondade, torna-se dia a dia mais insolente. Quanto a isso, um reparo: visto que o Espírito é o Espírito da verdade, se alguém se tornar culpado por fraqueza ou ignorância, poderá talvez ter algum motivo que o escuse aos olhos de Deus; mas o que por malícia resiste à verdade e lhe volve as costas, comete um gravíssimo pecado contra o Espírito Santo.

Esse pecado assumiu tais proporções na presente época, que parecem chegados aqueles perversos tempos anunciados por Paulo, nos quais os homens, obcecados por uma sentença muito justa de Deus, tomarão por verdadeiro o que é falso e darão crédito ao “príncipe deste mundo”, que é mentiroso e o pai da mentira, como se fosse mestre da verdade: “Por isso Deus lhes envia um poder de sedução, de tal modo que creiam na mentira” (2Ts 2, 11); “Ora, o Espírito diz formalmente que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, dando ouvido a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios” (1Tm 4, 1). Habitando, pois, como acima referimos, o Espírito Santo em nós como se residisse em seu templo, importa refletir no preceito do Apóstolo: “Não entristeçais (com vossos pecados) o Espírito Santo de Deus, pelo qual fostes marcados com um selo para o dia da redenção” (Ef 4, 30).

O Papa São Pio X escreveu em sua encíclica E Supremi Apostolatus (sobre a restauração de todas as coisas em Cristo), de 1903: 

Quem considera tudo isso tem razão em temer que tal perversidade da mente seja uma espécie de amostra e talvez o início dos males reservados para os últimos tempos; que já esteja no mundo “o filho da perdição”, do qual fala o Apóstolo (2Ts 2, 3). Afinal é com muita audácia e ira que se persegue por toda a parte a religião, combatem-se os dogmas da fé, procura-se descaradamente extirpar e aniquilar todo tipo de relação do homem com a Divindade! Nisso reside, segundo diz o mesmo Apóstolo, o caráter próprio do Anticristo; o próprio homem, com infinita temeridade, pôs-se no lugar de Deus, elevando-se sobre tudo o que se denomina Deus, de modo que, embora não consiga apagar completamente de si próprio o conhecimento de Deus, condenou sua majestade e, por assim dizer, fez do universo um templo no qual ele mesmo deve ser adorado: “...se sentará no templo de Deus, apresentando-se como se fosse Deus” (2Ts 2, 4).

Cinco anos depois, na beatificação de Santa Joana d’Arc, ele disse:

No nosso tempo, mais do que nunca, a principal força dos maus é a covardia e fraqueza dos bons, e toda a espinha dorsal do reinado de Satanás reside na fraqueza dos cristãos. Oh, se fosse possível para mim, como o profeta Zacarias fez em espírito, perguntar ao divino Redentor: “Que ferimentos são esses em tuas mãos?”, não haveria dúvida sobre a resposta: “Recebi estes ferimentos na casa dos meus amigos. Fui ferido por meus amigos, que não fizeram nada para me defender e que, em todas as ocasiões, fizeram-se cúmplices dos meus adversário”. Essa repreensão pode ser dirigida aos cristãos fracos e covardes de todos os países. 

Falando como um católico débil e covarde, criatura caída que precisa de salvação, em meu próprio exame de consciência contínuo tenho enxergado cada vez mais as áreas onde não consigo resistir ao espírito do mundo. Eu me pergunto: onde falhei em me tornar mais corajoso? Onde fiz concessões? Embora me considere um bom católico, que se esforça para permanecer em estado de graça, assistir à Missa diariamente e fazer minhas orações pessoais, estou sinceramente disposto a entregar tudo a Jesus? Estou disposto a dizer a cada momento: “Tomai minha vida, fazei com ela o que quiserdes”? Isso pode assumir inúmeras formas. É possível que Ele queira que você troque fraldas pelos próximos dez anos e associe essa humilde tarefa aos próprios sacrifícios dele; talvez você tenha de falar a verdade corajosamente quando se deparar com mentiras que dominam a consciência moderna. Independentemente de seu estado de vida, você deve estar disposto a se submeter a muitos tipos de provações, inclusive a alguns que poderiam impedir o progresso na sua carreira, atrasar ou frustrar seus próprios planos de fazer o bem no mundo.   

Se você permanecer firme, se permanecer fiel, quer sua tarefa seja “pequena” ou “grande”, dará muitos bons frutos no mundo, embora não do seu jeito. Os conceitos de pequeno e grande, relevante e insignificante, geralmente são distorcidos no pensamento moderno, e temos de admitir que essas medidas frequentemente contaminam tanto os que têm fé como os que não a têm. No cântico do capítulo 11 do Apocalipse, todos aqueles que estão no Paraíso glorificam a Santíssima Trindade. A passagem diz que “pequenos e grandes” estão louvando a Deus (Ap 11, 15-18). Mas quem são eles? Se prestarmos atenção a tudo o que Cristo nos ensinou, o grande não é necessariamente o que nós consideramos grande segundo padrões humanos, tampouco o pequeno. Grandeza não tem nada a ver com ter o nome impresso na capa de um livro, nem com o reconhecimento nos fóruns do mundo. A grandeza genuína pode ser trabalhar em tarefas humildes e humilhantes sem ser notado por ninguém, exceto pelo próprio Deus. Tais tarefas matam em nós o núcleo do egoísmo na natureza humana. De fato, uma vida oculta e anônima, na qual temos pouca ou nenhuma relevância, se vivida em união com Cristo, nos conduzirá a um momento em que passaremos pelos portões do Paraíso e descobriremos, para nosso espanto, que somos grandes aos olhos do Pai. Pois o Pai nos ama com um amor que hoje não podemos começar a compreender, e em cada um de nós Ele vê a imagem de seu Filho.

Se estamos vivendo nos estágios definitivos do Apocalipse, nosso caminho em meio a essa escuridão radical não dependerá da “grandeza” do status ou das forças humanas, nem de mapas, planos de ação e equipamentos de sobrevivência. Nunca poderá depender de qualquer tentativa de nos salvarmos a nós mesmos. Nossa salvação no tempo do ataque final contra o Corpo de Cristo não poderá se limitar apenas ao consentimento racional a um conjunto de doutrinas — embora, naturalmente, esta seja uma parte essencial de nossa fé. Poderíamos memorizar o Catecismo e concordar intelectualmente com cada item dele, mas por mais louvável que isso seja, não é suficiente. Nossa fé é a união com Jesus Cristo, aqui neste mundo e por toda a eternidade. Se somos batizados, já estamos vivendo nessa comunhão, que a Igreja chama de comunhão dos santos. 

O espírito terrível do Anticristo se esforça para desintegrar essa comunhão. Ele procura criar um isolamento terrível, tenta nos separar de outras almas, nos tirar do rebanho, nos impor cada vez mais um sentimento de abandono profano onde é muito mais fácil ser confundido, desencorajado e neutralizado. E sempre que somos dominados por sentimentos que nos dizem que estamos sozinhos e desprotegidos, instintivamente nos voltamos para os recursos humanos naturais: agarramos qualquer senso de controle que nos é acessível e tentamos criar um mundo isolado e seguro para nós. Dizemos a nós mesmos: “Ah, se ao menos eu conseguir dinheiro ou conhecimento, influência ou poder suficientes…” A lista de recursos continua, as muitas maneiras pelas quais tentamos nos sentir seguros. Podem não ser coisas ruins em si mesmas, mas muito facilmente a questão essencial é esquecida, minimizada ou ignorada e, no final, nunca enfrentada. A pergunta que cada um de nós deve fazer agora, neste tempo de grande graça e misericórdia, é: “Em que depositei toda a minha confiança? Onde estou me enganando em relação à segurança? Onde, talvez, estou me curvando perante ídolos e nem mesmo me dando conta disso?

“Moisés batendo na rocha”, de Tintoretto.

Na medida em que depositarmos nossas esperanças em qualquer outra coisa que não seja o próprio Cristo, ficaremos confusos e exaustos: hesitaremos, cometeremos erros, ficaremos com medo e nos desviaremos para ainda mais longe do rebanho e, muito possivelmente, seremos tomados pelo desânimo e, finalmente, pelo desespero. Não é esta a prova a que o povo de Deus foi submetido durante a Páscoa e o Êxodo? Também nós podemos encontrar argumentos convincentes para não seguir a Cristo no caminho da Cruz, que é a nova coluna de fogo sagrado. Os ensinamentos da Igreja se referem à época do fim como uma “Páscoa final”. À medida que nos dirigimos para a eterna Terra Prometida, por que devemos supor que jamais seremos testados como nossos ancestrais no deserto? Por que, além disso, devemos presumir que nos comportaremos de maneira diferente? Depois dos milagres incríveis testemunhados pelos hebreus, como os castigos dos egípcios e a abertura do Mar Vermelho, depois a coluna de fogo e os dons dos alimentos milagrosos, eles ainda foram tentados, ainda caíram na descrença. E qual foi o grito de angústia deles no deserto? “Por isso nos tirastes de lá, para morrermos no deserto!” Este não é já o nosso clamor quando nossas situações pessoais se desestabilizam e prometem se tornar radicalmente inseguras? Protestamos: “Onde estais, Deus? Vós nos abandonastes?!” Essa será a nossa resposta se depositarmos as nossas esperanças somente nas consolações e bênçãos de Deus, e não na união com Ele, incluindo a união com Ele na Cruz. Se desejarmos apenas suas garantias, o que faremos quando elas forem removidas? Cederemos ao desânimo e, em seguida, o trairemos? Rejeitaremos o que Ele deseja nos ensinar e o destino aonde deseja nos conduzir, bem como o que Ele deseja fazer através de nós? Essa é a nossa provação. Ninguém está livre dela. Pois é o único caminho para a verdadeira e eterna liberdade.

Mas o que devemos fazer se nos encontrarmos no deserto, numa situação em que todas as seguranças estão desmoronando e ficamos expostos aos perigos da existência humana? A resposta pode ser encontrada em numerosas passagens da Sagrada Escritura, mas um trecho que leio e rezo com frequência é do Salmo 56: “Ó Altíssimo, quando o temor me invadir, eu porei a minha confiança em vós”. Vale a pena meditar sobre o Salmo inteiro, pois seu autor, o rei Davi, compreendeu o que é ser humano, o que significa tremer diante do poder aparentemente esmagador de um adversário; sentir, em cada aspecto do ser, a sua fragilidade como criatura. Ele havia enfrentado Golias com nada mais que uma pequena funda, cinco pedras lisas e sua fé. Mais tarde, enfrentou inúmeros outros inimigos, sobretudo sua própria vulnerabilidade ao pecado. No entanto, sempre se voltou para o Senhor, buscando-o uma e outra vez, e aprendeu no processo que nunca devemos perder a coragem.

A confiança não nos vem automaticamente. Ela cresce à medida que a exercemos. Podemos começar a fazer isso agora, em quaisquer circunstâncias em que nos encontremos, nas provações normais e às vezes extraordinárias da vida. Cada um de nós as tem, e cada um de nós, ao invocar o Senhor para se fortalecer, pode encontrar nelas a oportunidade de reeducar os próprios pensamentos e movimentos do coração.

Os três jovens na fornalha ardente, por Gustave Doré.

Em situações impossíveis, descobri que é muito útil fazer orações a Deus glorificando-o antecipadamente por seja qual for o caminho, desconhecido para mim, através do qual Ele me fará passar pela próxima provação. Também gosto de rezar o cântico dos três jovens na fornalha ardente na Babilônia (cf. Dn 3, 56-88). É uma canção de grande beleza, mais ainda por ser um hino cantado exatamente no lugar onde é menos provável que ele seja cantado. Tais orações proferidas em um lugar “sem esperança” são muito apreciadas por Deus, e Ele não decepcionará aqueles que as rezam. Mas devemos decidir rezá-las e fazer disso uma prática. Os atletas fortalecem seus músculos e sua resistência por meio do treinamento, e nós também podemos treinar para aumentar a nossa confiança em Deus. Devemos nos lembrar com frequência que Ele deseja nos inundar com toda a graça de que precisamos para esse tipo de crescimento, para o trabalho profundo de amadurecimento nele. As dificuldades particulares da vida comum e as grandes provações da vida são exatamente as situações em que aprendemos melhor. Ele nos ama, e jamais devemos nos esquecer disso. Todos os santos nos amam também, e intercedem constantemente por nós. A intercessão deles e a ajuda dos santos anjos aumentará conforme precisarmos deles. Mas eles não nos obrigarão a nada, e assim devemos desenvolver o hábito de pedir e confiar na graça. Vivemos atualmente num período da história em que é possível — para aqueles de nós que não vivem sob tiranias — aprender, sem oposição extrema, essas profundas lições no coração, na mente e na alma. O céu está derramando graças particulares para os cristãos perseguidos, mas há também muitos caminhos de graça para nós que ainda não fomos postos à prova. Muito especialmente devemos nos voltar para a Santa Eucaristia com renovado foco e fervor. Podemos também pedir a Nossa Senhora para desempenhar um papel maior em nossas vidas, consagrando a nós e a nossas famílias a seus cuidados maternais. E podemos desenvolver o hábito de ler a Sagrada Escritura regularmente e de modo orante.

Também podemos buscar formas de contribuir para a nova evangelização, pois até o fim (seja daqui a mil anos ou apenas a alguns anos) o desejo de Deus é trazer todas as almas para si. Este não é o momento de desistir do mundo, mas de renovar nossos esforços para trazer esperança a ele. Como o Papa João Paulo II afirmou em sua encíclica sobre a Divina Misericórdia, ainda que os pecados da humanidade mereçam hoje um segundo dilúvio, somos chamados a implorar pela misericórdia dele por cada alma no mundo. Temos de evitar as tentações alternativas do falso otimismo e do terrível pessimismo. Os cristãos são os principais realistas. Somos pessoas que podem olhar para a realidade de uma era sombria e encontrar aí a próxima vitória de Cristo. E isso também requer prática. 

Retornemos às palavras dos nossos Santos Padres sobre as características apocalípticas da nossa época.

Numa homilia de Missa em 29 de junho de 1972, o Papa Paulo VI disse que “através de alguma fenda a fumaça de Satanás entrou no templo de Deus”. Numa alocução de 1977, ele chegou ao ponto de dizer: 

A cauda do diabo está operando na desintegração do mundo católico. A escuridão de Satanás penetrou e se espalhou em toda a Igreja Católica até o seu ápice. A apostasia, a perda da fé, está se disseminando em todo o mundo e nos mais altos níveis dentro da Igreja (Discurso no 60.º Aniversário das Aparições de Fátima, 13 de outubro de 1977).

A escolha dessa descrição incomum é significativa, pois “a cauda do diabo” alude a uma passagem do livro do Apocalipse: 

Depois apareceu no céu um grande sinal: Uma mulher vestida de sol, e a lua debaixo de seus pés, e uma coroa de doze estrelas sobre a sua cabeça; e, estando grávida, clamava com dores de parto, e sofria tormentos para dar à luz. E foi visto um outro sinal no céu: era um grande dragão vermelho, que tinha sete cabeças e dez pontas, e nas suas cabeças sete diademas; e a sua cauda arrastava a terça parte das estrelas, e as precipitou na terra; e o dragão parou diante da mulher, que estava para dar à luz, a fim de devorar o seu filho, logo que ela o tivesse dado à luz (Ap 12, 1-4).

A mulher vestida com o sol é um tipo ou símbolo de Nossa Senhora e da Igreja e, portanto, a passagem é multidimensional. A tentativa de Satanás de destruir o Menino Jesus por meio do Rei Herodes é seu significado literal-histórico; o papel da Mãe de Deus no final dos tempos é outro nível de significado, alegórico e profético, que se desdobrará como literal-histórico em algum momento no futuro. Nesse sinal também pode ser visto o papel da Igreja em cada época, seu trabalho para gerar o fruto da salvação no mundo. Cada criança, em certo sentido, é filha dela. Nesse sentido, a frase usada no contexto da “desintegração do mundo católico” é uma linguagem muito forte de um Papa.

Naquele mesmo ano, um cardeal polonês chamado Karol Wojtyla proferiu um discurso durante uma visita aos Estados Unidos:

Estamos agora diante do maior confronto histórico pelo qual a humanidade já passou. Não creio que círculos amplos da sociedade americana ou da comunidade cristã tenham se dado conta disso plenamente. Estamos agora diante do confronto final entre a Igreja e a anti-Igreja, o Evangelho e o anti-evangelho. Esse confronto está nos planos da Divina Providência. É uma provação que toda a Igreja [...] deve assumir [v].
O Cardeal Karol Wojtyla.

É altamente significativo que o homem que o Espírito Santo colocou na Cátedra de Pedro apenas um ano depois tenha falado do confronto “final” como uma realidade atual. É uma palavra pequena, mas um mundo de significado está embutido nela.

Numa conferência proferida em Palermo, Sicília, em março de 2000, o Cardeal Joseph Ratzinger falou sobre a destruição da paternidade espiritual na modernidade: “A crise da paternidade que enfrentamos hoje é um elemento — talvez o mais importante — que ameaça a humanidade em sua essência. A dissolução da paternidade e da maternidade está relacionada à dissolução da nossa condição de filhos e filhas.”  

Mais adiante na conferência, o cardeal refletiu sobre a paternidade de Deus. Ele chamou a atenção para o fato de que o livro do Apocalipse fala do eterno e primordial antagonista do Pai: “a Besta”, ou seja, o demônio. Tal como está descrita no Apocalipse, a Besta não tem nome; tem número. Em seguida, o Cardeal Ratzinger se referiu ao Holocausto da Segunda Guerra Mundial e estabeleceu uma conexão entre os campos de concentração/extermínio e a nossa época, particularmente no que diz respeito ao elemento que define a nova civilização global: a presença esmagadora da tecnologia e todo o potencial subsequente para a corrupção e desumanização das almas:

Em seu terror, [os campos de concentração] eliminaram rostos e história, transformando o homem em um número e reduzindo-o a uma engrenagem numa enorme máquina. O homem não passa de uma função [...].

Hoje não deveríamos nos esquecer de que eles prefiguraram o destino de um mundo que corre o risco de adotar a mesma estrutura dos campos de concentração, caso a lei universal da máquina seja aceita. As máquinas que foram construídas impõem a mesma lei. Segundo essa lógica, o homem deve ser interpretado por um computador, e isso só é possível se for traduzido em números. A besta é um número e transforma [as pessoas] em números. Deus, no entanto, tem nome e chama pelo nome. Ele é pessoa e procura pela pessoa [vi]. 

O Cardeal Ratzinger não se referia aos horrores evidentes de tais campos, mas à essência deles. Esses campos prefiguraram o que o mundo se tornará se a lei universal da máquina for aceita. Os seres eternos amados por Deus serão reduzidos ao nível de objetos que podem ser usados ou descartados por capricho de governos irresponsáveis e das forças sociais controladas por tais governos. Seguir-se-á, inevitavelmente, a desumanização radical da humanidade. Nesse “admirável mundo novo”, quaisquer vestígios de “espiritualidade” serão falsos, levando não ao nosso Pai, mas ao próprio Satanás.

Eu gostaria de concluir com uma citação de um famoso autor espiritual, que comenta o cântico de louvor no capítulo 15 do Apocalipse:

De fato, a história não está nas mãos de poderes obscuros, deixada ao acaso ou unicamente às opções humanas. Contra o desencadear-se de energias malévolas que vemos, contra a irrupção veemente de Satanás, contra o surgir de tantos flagelos e males, eleva-se o Senhor, árbitro supremo da vicissitude histórica. Ele a conduz sabiamente para o alvorecer dos novos céus e da nova terra, cantados na parte final do livro sob a imagem da nova Jerusalém (cf. Ap 21, 22).

O orador é o Papa Bento XVI, o discurso é de sua audiência geral de 11 de maio de 2005, proferido alguns dias depois de sua eleição ao papado. Eis a nossa primeira e última palavra. A vitória de Cristo é o primeiro e o último tema do livro do Apocalipse e, portanto, também deve ser a primeira e a última palavra em nossas próprias vidas. Não estamos sozinhos, não fomos abandonados à malícia dos poderes das trevas nem às energias malignas de seus agentes humanos. Jesus Cristo é o Senhor da história. É aquele a quem devemos nos apegar enquanto trilhamos o nosso caminho num período de trevas. Devemos fazê-lo como criancinhas, com o espírito da criança que se agarra à mão do pai. Ainda que tenhamos mais mil anos de história, ou cem, ou dez, ou mesmo uns poucos anos, a verdade permanece a mesma: “Se não vos tornardes como criancinhas, não entrareis no Reino dos céus” (Mt 18, 3).

Representação de Apocalipse 4 na Catedral de la Purísima Concepción, em Tepic, no México.

A perda do senso de paternidade espiritual e, portanto, a perda da infância espiritual, são os principais vácuos do mundo moderno; eles também podem afetar nossas vidas como fiéis. Aqui está, então, a tarefa que cada um de nós tem pela frente, o “manual de sobrevivência” para o Apocalipse.

O Senhor está sempre pronto para nos receber, nos alimentar, guardar e guiar. Abram e leiam, tomem e comam, venham e bebam. A vida brota das páginas impressas da Escritura. Não são letras mortas, nem mesmo verdadeiras letras mortas, pois são palavras vivas. Nelas o Senhor diz à Igreja em Sardes: “Sê vigilante e confirma (na fé) os restos (do teu rebanho) que estão para morrer” (Ap 3, 2). Cada uma das igrejas particulares deve estar atenta a essa afirmação, pois ela contém uma exortação e uma admoestação.

O livro do Apocalipse chega ao seu clímax com as palavras finais de Cristo: “E eis que venho (diz o Senhor) sem demora” (Ap 22, 7). A Sagrada Escritura termina com a resposta de São João, sua voz clamando por toda a Igreja: “Vinde, Senhor Jesus!” (Ap 22, 20).

O Senhor brada também aos nossos ouvidos as palavras que, no Apocalipse, dirigiu à Igreja de Éfeso: “Se não te arrependeres, virei ter contigo e retirarei o teu candelabro da sua posição” (2, 5). Também de nós pode ser tirada a luz, e agimos bem se deixarmos ressoar esta admoestação em toda a sua seriedade na nossa alma, bradando ao mesmo tempo ao Senhor: “Ajuda-nos a converter-nos! Concede-nos a todos a graça de uma verdadeira renovação! Não permitas que se apague a tua luz no meio de nós! Reforça a nossa fé, a nossa esperança e o nosso amor, para podermos produzir bons frutos!” (Papa Bento XVI, Homilia, 2 de outubro de 2005)

Referências

  • Este texto foi desenvolvido a partir de uma palestra dada pelo autor na Basílica de São Patrício, em Ottawa, no Canadá, a 20 de setembro de 2005. Serviram de base para a presente tradução tanto o texto do autor no site Catholic Culture quanto o primeiro e último capítulos de: Michael D. O’Brien, The Apocalypse: Warning, Hope, and Consolation. Wiseblood Books, 2018 (com tradução portuguesa em vias de ser publicada).

Notas

  1. Ver também Catecismo da Igreja Católica, nn. 678-680. (N.A.)
  2. Os ensinamentos de Cristo sobre as tribulações do fim dos tempos, imediatamente antes de sua segunda vinda, encontram-se em Mt 24, 3-44; Mc 13, 1-37; Lc 17, 24-37; Lc 21, 25-36. (N.A.)
  3. Étienne Gilson, “Os Terrores do Ano 2000” (Les Terreurs de l’An Deux Mille), baseado num discurso que ele fez aos bispos da França em 1948, intitulado “Os Intelectuais e a Paz”, e em conferências que ele deu ao Pontifício Instituto de Estudos Medievais naquele mesmo ano. (N.A.)
  4. Disponível em: Josef Pieper, Josef Pieper: An Anthology. Ignatius Press, San Francisco, 1989. (N.A.)
  5. Esse discurso foi amplamente disseminado depois de sua eleição ao papado, quando foi republicado em 9 de novembro de 1978, no The Wall Street Journal. (N.A.)
  6. Cardeal Joseph Ratzinger, Discurso a Padres e Seminaristas em Palermo, Sicília, 15 de março de 2000 (como reportado pela Agência Zenit). (N.A.)

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