Um documento publicado pela Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé – Carta sobre algumas questões respeitantes à escatologia – recordou oportunamente pontos basilares e imprescindíveis da certeza cristã. Naturalmente, isso suscitou surpresa naqueles que queriam que não se falasse mais sobre esses assuntos e fez explodir a ira de certos cultores da considerada teologia da "esperança" (e falamos daqueles que acenderam apenas a esperança de "acomodações" neste mundo, onde é bem notável que nada se "acomoda" perfeitamente).

Consideramos dever de nossa revista fazer algumas claras e precisas observações a esse propósito. A íntegra do documento citado retrata a "vida após a morte", ou seja, a vida eterna, que se segue necessariamente à vida terrena.

Esta vida terrena não tem nenhum sentido, destacada da vida eterna: não tem justificativa, carece de finalidade, é uma piada de mau gosto, na qual restam insolúveis os problemas postos pelo espírito humano, as suas aspirações de imortalidade, a ânsia de amor rumo ao infinito, os vínculos sagrados do sangue e da amizade – todas essas coisas que são a negação clamorosa de um "nada" após a morte.

Os materialistas de todas as espécies, mesmo aqueles (e não são poucos) camuflados de teólogos, quiseram minimizar o medo e o horror com os quais se abre o cortejo da morte: e obtiveram este efeito (triste para eles) de tornar a "vida após a morte" o mais imponente entre os problemas humanos.

Pensando bem, não é pouca coisa dizer que, sem a "vida eterna", tudo se torna piada e zombaria e a vida terrena fica sem propósito.

Apesar disso, em toda parte, como que vestidos de uma certa indiferença em relação à substância da questão, muitos procuram fazer explorações ocultas do "além": bruxaria, necromancia, espiritismo, portadores de percepções extrassensoriais e parapsicólogos; alguns, de parecer diverso, chegam a arriscar olhares libidinosos ao outro lado da grande cortina. Todos, com exceção dos porta-vozes oficiais das teses materialistas, são fascinados pelas aventuras conduzidas ao redor dessa cortina. Isso não significa que Deus não permita extrapolações nas coisas humanas, especialmente no que diz respeito às criaturas mais estultas e desobedientes, os demônios (não é por nada que existem os exorcismos).

Não é totalmente impossível – na verdade, é bem real – que Deus queira estabelecer verdadeiros contatos entre o Céu e a terra (a divina liturgia celebra alguns desses ilustres e benéficos contatos), não abrindo, porém, a nenhum mortal, a visão direta da vida após a morte. Naturalmente, não se pode incluir nessa afirmação os grandes místicos, que, voltando à dimensão do nosso vale de lágrimas, nem sempre puderam traduzir aquilo que experimentaram. Assim, é lícito dizer (ou melhor, advertir) que, em todo esse combate laico sobre os limiares da vida eterna, as pessoas em geral estão confinadas a permanecer dentro dos limites da fantasia, da imaginação.

E a razão é simples. Nenhum de nós seria capaz de perceber nada de material em cinco dimensões. Meter em nossa pequena capacidade receptiva algo de próprio da vida eterna é bem mais, infinitamente mais, que tentar conjugar um universo em cinco dimensões.

A imaginação não pode ser e não será jamais, por si mesma, uma fonte teológica.

A Teologia retira as suas informações de uma fonte que vem da eternidade, isto é, da Revelação, ou das fontes explicitamente autorizadas por ela. Ela parte de fontes oficiais e seguras.

A Teologia fala com certeza.

A afirmação da vida eterna domina toda a divina revelação: o pecado original obstrui o caminho à vida eterna; o Verbo se faz homem para reabrir a porta da vida eterna; o Reino, do qual se fala sobretudo no primeiro Evangelho, de Mateus, recolhe tudo dessa grande aventura divina e se faz perene na vida eterna; a moral é regulada por uma Lei e está sujeita a um julgamento que perderia todas as razões de ser sem a vida eterna; o prêmio está na vida eterna; o mérito existe em ordem à vida eterna. Essas não são opiniões, mas doutrina revelada.

As informações que temos sobre a vida eterna são escassas, mas suficientes para sustentar a grande fadiga de fazer-nos chegar dignamente. As afirmações relativas aos dois estados antitéticos da eternidade são breves, demarcadas por linhas que conduzem ao infinito. As informações são poucas para que possamos procurar praticar, com mais força, o exercício da Fé; as margens do mar infinito, que nos obrigam a entrar, dão força para a ascensão no mérito.

O grande respeito por esse complexo doutrinal consiste em não querer vesti-lo de fantasia para torná-lo mais humano. A imaginação se desgastaria, tentando receber coisas que ultrapassam as representações sensíveis.

As descrições da liturgia eterna no livro do Apocalipse são indicativas de um conteúdo que o intelecto pode receber apenas de algum modo; são imagens, com descrições adaptadas aos sentidos, para colocar a inteligência diante de coisas que não podem ser representadas (como é a matéria em relação aos Sacramentos). O respeito e a prudência guiam o caminho ao "além". Mas essa Teologia, quando acompanhada da reflexão orante e da contemplação, pode levar a níveis altíssimos, aos quais não podem chegar a imaginação ou a representação construída com elementos colhidos pelos sentidos... Os limites que se experimentam nessa investigação teológica são o testemunho de que a realidade, à qual devemos chegar na vida eterna, está bem além de nossa inteligência. Se fosse diferente disso (e não é), significaria que não esperamos nada muito maior do que aquilo que somos capazes de ver agora, ainda que simplesmente por representação intelectual... O mistério atesta a imensidão que nos espera!

Referências

  • Giuseppe Siri. L'aldilá tra fantasia e teologia. In: Renovatio, XIV (1979), 4, pp. 445-448.

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