O proeminente cosmólogo Stephen Hawking sugeriu certa vez que “o céu é um conto de fadas para pessoas com medo do escuro”. 

Como eu, ao mesmo tempo, amo contos de fadas e acredito no céu, não estou muito certo se vejo isso como um insulto ou como um elogio. Embora eu não creia que o céu seja um conto de fadas, é o meu amor por essas histórias que me faz ter fé no céu. Como G. K. Chesterton, eu acredito que os contos de fadas são (ao seu modo) mais verdadeiros do que as inutilidades dos jornais; e é por causa das sólidas verdades contidas nos contos de fadas que eu creio na sólida verdade do céu

Uso a palavra “sólida” porque suspeito que o que Stephen Hawking realmente queria dizer é que o céu seria, de alguma forma, irreal e sem substância. Ele gostaria de nos convencer de que se trata de algo da nossa imaginação — um produto da vontade daqueles que temem a escuridão da morte e a aniquilação final.

Mas o que torna os contos de fadas tão reais e concretos é o fato de eles estarem enraizados em um mundo justo. O lobo que devora a vovozinha, em Chapeuzinho Vermelho, é retalhado e a velhinha, libertada. Cinderela se une a seu príncipe. Em João e Maria, a bruxa má é empurrada para dentro do forno, e nos Três Porquinhos o grande lobo mau se queima todo depois de deslizar pela chaminé. Contos de fadas podem até ser histórias inventadas, mas as verdades que elas revelam não o são. Elas nos fazem acreditar em justiça e, com isso, propõe-nos a fé não somente em um céu, mas também em um inferno.

Os contos de fadas nos ensinam que, um dia, o bem, a verdade e a beleza hão de ser recompensados, e o mal, a mentira e a brutalidade, punidos. Nesta vida, raramente se cumpre a justiça, e nós somos testemunhas disso. Entretanto, porque ela existe, nossas mentes e corações exigem um lugar onde ela seja plenamente satisfeita. Isso não é um produto ilusório da nossa vontade, mas algo claro, sólido, racional e perfeitamente realista. Esperar que a justiça se cumpra no final de tudo faz parte de nossa natureza — o bem, afinal, conduz à vida, e o mal à destruição. Trata-se de algo tão lógico e sensato quanto esperar que a água desça correnteza abaixo. 

Stephen Hawking achava que acreditar no céu é um produto da vontade, uma consolação inventada. Mas ele se esqueceu que aqueles que acreditam no céu muito frequentemente também acreditam no inferno; acreditam que cada alma prestará contas diante de Deus, o derradeiro e mais temível dos juízes. Definitivamente, não é o tipo de consolação que eu gostaria de inventar. Para ser honesto, eu preferiria não ter de dar conta de mim mesmo a ninguém que declarasse ter contados todos os fios de cabelo da minha cabeça, ou que não deixasse nenhum pardal cair no chão sem o seu consentimento (cf. Mt 10, 29-30). Olhando deste modo, a perspectiva da vida após a morte não parece assim tão agradável, e é quem diz a si mesmo que não existe nada após esta vida, nem juízo final, que acaba se apoiando em uma consolação inventada.

Se não há inferno onde pagar, então podemos viver como quisermos. Podemos viver como demônios sem nunca precisarmos nos defrontar com o diabo. Ao contrário, após uma vida de crimes, podemos escapar para um pacífico oblívio final sem nunca termos de pagar o preço de nossas ações. Isso sim me parece produto da vontade e consolação inventada por aqueles que realmente têm medo da escuridão. A pessoas assim, sejam elas eminentes cosmólogos ou criminosos errantes, é preciso lembrar a sabedoria sem papas na língua de São Padre Pio, o qual, perguntado certa vez sobre o que pensava das pessoas modernas que não acreditavam no inferno, respondeu: “Elas acreditarão no inferno quando chegarem lá”.

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