16 de dezembro de 2025 é o dia em que se comemora o 250.º aniversário do nascimento de Jane Austen. Para alguns, ela é uma autora fútil da literatura feminina; para outros, é uma criptofeminista e provocadora sutil dos estereótipos convencionais (leia-se “tradicionais”). Para mim, ela não é nenhuma das duas coisas. É simplesmente uma escritora brilhante, espirituosa e extremamente perspicaz, cujos romances expõem as fraquezas humanas e exaltam a bondade humana. O que mais podemos pedir?
Uma boa história ensina e diverte. É provável que quanto mais nos diverte, mais nos ensina. E não há dúvida de que os romances dela divertem. São bem escritos e têm personagens memoráveis, com momentos de grande humor e profunda tristeza. Mas nunca são “exagerados”. Nenhuma personagem é integralmente boa ou má. Todas têm uma curva de aprendizagem (quer aceitem isso ou não).
Elisabeth Stopp, estudiosa das obras de Francisco de Sales, disse que o grande santo foi o “inspirador do bom senso”. Penso o mesmo da Srta. Austen. Não estou afirmando que ela era uma santa, mas sem dúvida era cristã, um fato que muitos querem ignorar ou minimizar. Ela foi criada numa família devota (o pai era clérigo) e praticou a fé (anglicana) durante toda a vida.
No entanto, ela não era puritana, no sentido moderno do termo. Seus romances apresentam casos extraconjugais, filhos ilegítimos e até mesmo referências a práticas incomuns na Marinha Britânica. Ela tinha pouca paciência com a estupidez, razão pela qual creio que ficaria surpresa com algumas interpretações modernas de seus romances (por exemplo, o filme As Patricinhas de Beverly Hills, uma releitura de Emma).
As três orações noturnas compostas por ela são belas meditações. Seu cristianismo é ao mesmo tempo o gancho e o obstáculo de sua obra. Ela não estava tentando instruir ou converter ninguém, ao menos não de forma explícita. Apenas via o mundo sob uma certa perspectiva e escrevia sobre ele dessa maneira.

Todos nós queremos felicidade, mas como a alcançamos? Acho que posso afirmar com segurança que a Srta. Austen acreditava que o que determina a felicidade de uma pessoa é o seu caráter. Como Elizabeth Bennet diz à sua irmã Jane quando esta fica noiva: “Enquanto eu não tiver a sua disposição, a sua bondade, nunca poderei ter a sua felicidade.” O fato de a felicidade de uma pessoa depender do seu caráter é certamente algo que está na contramão da cultura atual.
Seus romances tratam do cotidiano: a vida em cidades pequenas, fofocas, atritos familiares, mágoas e desgostos amorosos, preocupações com os filhos e tentativas de sustentar a família e, é claro, o casamento. Certa vez, ela descreveu suas obras como “um pequeno pedaço de marfim (com cinco centímetros de largura) no qual trabalho com um pincel tão fino que produz muito pouco efeito depois de muito trabalho”. Isso, porém, faz parte de sua genialidade. Onde mais podemos aprender virtudes, senão no transcurso comum de nossas vidas tipicamente monótonas, em meio a fofocas, atritos familiares etc.?
E, sim, os enredos dos seus romances giram em torno do casamento. E por que não? Há poucas coisas mais comuns e, ao mesmo tempo, mais importantes do que o casamento. Para a maioria de nós, é a decisão das nossas vidas. Aqueles que dizem que o amor e o casamento não são temas sérios falam mais sobre si mesmos (contra si mesmos) do que sobre a Srta. Austen.
Em suas novelas, o matrimônio não está associado a um sentimento romântico, muito menos a uma atração sensual; tem a ver com respeito e admiração. Acredito que uma das razões para sua popularidade seja a forma como ela exalta o matrimônio nesse sentido. Como disse a Srta. Austen em Emma, o casamento é a “origem da mudança”. Somente algo estável pode produzir crescimento, e faz parte da nossa natureza como seres humanos o desejo de crescer. Uma cultura que destrói as possibilidades de crescimento fica estagnada e obsoleta. Basta olhar a nossa própria cultura.
Os temas centrais dos seus livros são a virtude e o vício: aprender a reconhecer o que é bom e mau em nós mesmos, nos outros e em qualquer situação, e então decidir o que fazer a respeito. Assim como na “vida real”, isso pode ser difícil. Outro tema importante em seus romances é a nossa autoilusão, e qualquer “final feliz” geralmente só acontece quando essa ilusão é desfeita.
Aqueles que tentam “desconstruir” os seus romances para encaixá-los em suas próprias ideologias modernas estão, a meu ver, na posição de seu personagem mais famoso e iludido, o reverendo Collins, que continua a pedir Elizabeth Bennet em casamento apesar de suas repetidas recusas. Exasperada, ela exclama: “Posso ser mais clara? Não me considere agora como uma mulher elegante, com a intenção de atormentá-lo, mas como uma criatura racional, que fala a verdade com o coração.”
Quais outras lições ela ensina e que são tão racionalmente atraentes a alguns e tão repugnantes a outros?

Por um lado: a mentira e a falta de sinceridade causam problemas (Wickham em Orgulho; Preconceito, William Elliot em Persuasão); o excesso de dinheiro e de tempo livre traz problemas, sobretudo para os homens (Frank Churchill em Emma, Willoughby; Edward Ferrars em Razão; Sensibilidade, Henry Crawford em Mansfield Park); a vaidade é uma falha grave e tola (Sir Walter Elliot em Persuasão, Lady Catherine de Bourgh em Orgulho; Preconceito); quem não cuida dos filhos, acaba se arrependendo (Sr. Bennet em Orgulho; Preconceito, Sir Thomas Bertram em Mansfield Park); a imaginação desenfreada pode ser perigosa (Catherine Morland em Northanger Abbey, Marianne Dashwood em Razão; Sensibilidade); é preciso ter cuidado para não confiarmos demais em nós próprios (Elizabeth Bennet em Orgulho; Preconceito, Emma em Emma); não há muito o que fazer com pessoas estúpidas (Sr. Collins; Lydia Bennet em Orgulho; Preconceito, Sr. Rushworth em Mansfield Park, John Dashwood em Razão; Sensibilidade); ninguém gosta de murmuradores (Mary Musgrove em Persuasão); zombar da religião é o pior dos males (Mary Crawford em Mansfield Park).
Por outro lado, podemos aprender o seguinte: um bom amigo diz a verdade, mesmo quando não queremos ouvi-la (Elizabeth Bennet; Darcy em Orgulho; Preconceito, o Sr. Knightley em Emma, Henry Tilney em Northanger Abbey); a responsabilidade é um verdadeiro teste de caráter (Darcy em Orgulho; Preconceito, Knightley em Emma, Frederick Wentworth em Persuasão, Elinor Dashwood em Razão; Sensibilidade); devemos nos casar com alguém que respeitamos, não com a pessoa por quem nos apaixonamos (Elizabeth Bennet em Orgulho; Preconceito, Marianne Dashwood em Razão; Sensibilidade); os mansos herdarão a terra (Coronel Brandon em Razão; Sensibilidade, Fanny Price em Mansfield Park). O autoconhecimento, a virtude e, portanto, a felicidade, vêm através do sofrimento (todos os seus romances).
É por isso que me sinto tão atraído pelos romances da Srta. Austen. Quanto mais os leio, mais eles me entretêm e mais me ensinam. Nunca terminei nenhum dos seus romances sem dar muitas boas risadas e sem adquirir uma compreensão mais profunda de mim mesmo, dos outros, do que significa ser humano e, possivelmente, sem desejar ser uma pessoa melhor.
Lord David Cecil, biógrafo da Srta. Austen, disse o seguinte:
Se eu tivesse alguma dúvida quanto à sabedoria de uma das minhas ações, não consultaria Flaubert ou Dostoiévski. A opinião de Balzac ou Dickens teria pouco peso para mim: se Stendhal me repreendesse, isso apenas me convenceria de que eu agi corretamente; nem mesmo no julgamento de Tolstói eu depositaria total confiança. Mas ficaria seriamente chateado, ficaria preocupado por semanas a fio, se incorresse na desaprovação de Jane Austen.
E eu digo: Amém.

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