Os ossos de um mártir foram encontrados entre as ruínas do Mosteiro de Santo Elias, na cidade síria de Al-Qaryatain, retomada das mãos do Estado Islâmico no último domingo (3). Fotos tiradas no local mostram um sarcófago destruído contendo ossos e um crânio.
As imagens, tiradas por uma repórter britânica, mostram as relíquias amontoadas no chão em meio aos destroços. Acredita-se que elas pertençam justamente ao santo que deu nome ao convento: o médico Elias, natural de Emessa (atual cidade de Homs), que foi martirizado em 284 d.C. por se recusar a negar a própria fé. A história diz que o santo foi cruelmente torturado e morto pelo próprio pai, que era um oficial romano.
Partes do Mosteiro de Santo Elias tinham 1.500 anos e, por hospedar os restos mortais de um santo, o local já foi destino de muitas peregrinações. No último dia 20 de agosto de 2015, porém, o lugar sagrado foi devastado por tropas do ISIS.
Capturado três meses antes pelos jihadistas, o padre Tiago Murad, então prior do convento, considerou um verdadeiro "milagre" ter sobrevivido e escapado das mãos de seus perseguidores:
Ainda que os cristãos no Oriente Médio nunca tenham experimentado tempos tão difíceis, a jihad islâmica contra os seguidores de Cristo existe desde os tempos de Maomé. O Islã chama os territórios em que ainda não vigora a lei da xariá dar al-harab, isto é, "casa da guerra": o combate dura até que os "infiéis" se convertam, paguem um imposto religioso ou pereçam pelo fio da espada.
O mosteiro católico de Al-Qaryatain, na Síria, não foi o único a ser destruído pelos terroristas do Estado Islâmico. No Iraque, uma comunidade antiquíssima, de mesmo nome, foi devastada na cidade de Mosul, em 2014. O crime só foi detectado por imagens de satélite.
É digno de nota que o monastério em cujas ruínas foram encontradas as supostas relíquias de Santo Elias esteja construído sobre o exato lugar em que ele provavelmente ofereceu a sua vida a Deus.
A terra que recebeu o sangue dos primeiros mártires da Igreja continua testemunhando o escândalo da nossa fé. Ainda que as circunstâncias sejam outras e os perseguidores sejam diversos, o sangue que se derrama sobre o Oriente Médio é o mesmo que Tertuliano chamou de "semente de novos cristãos". O que pode explicar, afinal, tantas conversões de muçulmanos a Cristo na Europa, quando nem os próprios europeus sabem mais o que significa ser cristão?
À luz do mistério do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja, podemos ir além e dizer que o sangue dos mártires feitos pelo ISIS realmente atualiza e continua o sacrifício redentor da Cruz. Nós sabemos, pela fé na comunhão dos santos, que os sofrimentos desses homens e mulheres de Deus não são em vão, mas redundam em benefício de todas as pessoas unidas pelos laços da fé e da caridade fraterna. A exemplo de São Paulo, elas completam em sua carne o que falta à paixão de Cristo (cf. Cl 1, 24).
Do mesmo modo, as relíquias de Santo Elias de Emessa têm um valor inegável. Agora, elas estão misturadas aos destroços de um mosteiro que talvez nunca mais venha a existir. Pela fé, no entanto, nós sabemos que o dono desses ossos ressuscitará dos mortos, e esses mesmos restos que hoje são profanados sobre o pó da terra serão transformados e elevados à glória do Céu — viverão para sempre! As relíquias preciosas que hoje beijamos e veneramos participarão, no fim dos tempos, da bem-aventurança eterna!
Rezemos, pois, para que cesse de vez a profanação das relíquias e dos lugares santos no Oriente. Que o respeito que os muçulmanos têm pela Virgem Santíssima os conduza ao seu divino Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em quem reside toda a razão da nossa esperança.
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