Em 1976, o obstetra e ginecologista Dr. Anthony Levatino tinha acabado de receber a sua graduação em medicina e era, sem sombra de dúvida, a favor do aborto. Ele defendia convicto o chamado "direito ao aborto" e acreditava que o tema não passava de uma decisão a ser tomada apenas entre uma mulher e o seu médico.

"Muitas pessoas se identificam como sendo contra (pro-life) ou a favor do aborto (pro-choice), mas, para a maior parte delas, nada disso as afeta pessoalmente, nada disso impacta as suas vidas do modo como eu queria que as impactasse", diz Levatino em uma palestra para a associação Pro-Life Action League. "Mas, quando você é um obstetra ou ginecologista e se diz a favor do aborto, a coisa se torna bem mais pessoal, porque é você quem realiza os abortos e é você quem deve tomar a decisão de fazer aquilo ou não."

Defensor do "direito da mulher sobre o próprio corpo", Levatino tomou a sua decisão e aprendeu a fazer abortos no primeiro e segundo trimestres de gravidez. À época, trinta a quarenta anos atrás, o procedimento para interromper a gestação no segundo trimestre era a perigosa prática da injeção salina.

Nesse mesmo período, Levatino e sua esposa estavam lutando com problemas de fertilidade e começaram a pensar na possibilidade de uma adoção. O procedimento, porém, era complicado, sem falar da dificuldade em encontrar uma criança recém-nascida. "Foi a primeira vez em que comecei a ter dúvidas sobre o que estava fazendo, porque eu sabia bem que um dos motivos pelos quais é tão difícil achar crianças para adotar é que médicos como eu os estão matando em abortos", disse Levatino.

Finalmente, em 1978, o casal adotou a sua primeira filha, Heather. Pouco depois disso, eles descobriram que estavam esperando outro filho. Até então, Anthony descreve uma vida "perfeitamente feliz" e diz que, apesar das primeiras dúvidas a respeito do aborto, ele voltou a realizá-los, sem maiores problemas.

Em 1981, depois de terminar a sua residência, Levatino fez um curso de obstetrícia e ginecologia que incluía um novo método de fazer abortos. Até então, o envenenamento salino era o método mais comum para os abortos de segundo trimestre, mas sempre trazia o risco de bebês nascessem vivos. Os procedimentos também eram caros, difíceis e exigiam que as mulheres entrassem em trabalho de parto. Levatino e seus companheiros foram treinados, então, para realizar o método chamado de "dilatação e evacuação" (D&E), que ainda é o mais comum hoje em dia.

Em sua palestra, ele descreve exatamente como é realizar esse tipo de procedimento:

"Você pega um instrumento como esse, chamado fórceps, e você basicamente, a operação consiste em você literalmente dilacerar uma criança em pedaços. A sucção é apenas para o fluído. Todo o resto [do procedimento] consiste literalmente em desmembrar a criança, pedaço por pedaço, com esse instrumento de aborto."

Ao longo dos quatro anos seguintes, Levatino realizaria em torno de 1.200 abortos, sendo 100 deles abortos tardios realizados por "dilatação e evacuação".

Em um belo dia de junho de 1984, no entanto, sua vida viraria de ponta cabeça. Sua família estava em casa se divertindo com alguns amigos, quando, de repente, Levatino escutou o barulho de pneus freando na pista. As crianças tinham corrido para a rua e Heather havia sido atingida por um carro.

"Ela estava destruída", ele explica. "Fizemos tudo o que podíamos, mas, naquela mesma noite, ela morreu, literalmente em nossos braços, no caminho para o hospital."

Depois de um tempo, Anthony tinha que voltar ao trabalho. Um dia, agendaram para ele um aborto por "dilatação e evacuação". Era o primeiro que ele iria fazer depois do acidente. Na cabeça de Anthony, nenhuma preocupação. Para ele, seria mais um procedimento de rotina que ele já tinha realizado várias vezes antes. Mas, não foi bem isso o que aconteceu.

"Eu comecei aquele aborto, peguei o fórceps, e literalmente quebrei um braço ou uma perna, e eu simplesmente parei naquele movimento", ele diz. "Mas, sabe de uma coisa, quando você começa um aborto, você não pode parar. Se você não remove todos os pedaços – e não os 'estende' literalmente do lado da mesa de operação, sua paciente vai voltar, ou com uma infecção, ou com uma hemorragia, ou morta. Então, eu segui em frente e terminei aquele aborto."

Quando concluiu, porém, Anthony estava começando a sentir uma mudança dentro de si:

" Pela primeira vez na minha vida, depois de todos aqueles anos e todos aqueles abortos, eu olhei para aquele pilha de resíduos do lado da mesa e a única coisa que eu conseguia enxergar era o corpo de um filho. Eu não conseguia ver o grande médico que eu estava sendo. Não conseguia ver como tinha ajudado aquela mulher em sua crise. Não conseguia ver os 600 dólares que tinha acabado de fazer em 15 minutos. Tudo o que eu conseguia ver era o corpo do filho de alguém. Depois de perder a minha filha, tudo aquilo estava parecendo muito, muito diferente para mim."

Anthony parou de realizar abortos tardios, mas continuou a prover abortos de primeiro trimestre nos meses seguintes, até ele finalmente perceber que matar um bebê com 20 semanas de gestação era exatamente o mesmo que matar um com nove ou mesmo duas semanas de gravidez. Ele tinha entendido que não importa quão grande ou pequeno seja um bebê, ele não deixa de ser uma vida humana. Desde fevereiro de 1985, Levatino nunca mais realizou um aborto e, diz ele, "não há absolutamente nenhuma chance" de que ele volte a fazer algum.

Teimando que nunca faria parte do movimento pró-vida – que, para ele, não passava de um "bando de loucos" –, Levatino foi eventualmente convidado a um jantar onde, ao contrário do que imaginava, ele conheceria pessoas inteligentes, homens que trabalhavam voluntariamente gastando o seu tempo – e a sua vida – para defender a vida dos que ainda não nasceram.

Hoje, Levatino faz conferências públicas sobre o assunto, especialmente para jovens, descrevendo-lhes com detalhes em que realmente consiste um aborto. Ele já deu o seu testemunho no próprio Congresso Federal, pedindo que o "aborto legal" acabe de uma vez por todas nos Estados Unidos da América.

Que o seu testemunho também ajude o Brasil a perceber a maldade da prática do aborto e a importância que há em uma sociedade defender os seus membros mais frágeis e indefesos: os não-nascidos.

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