A celebração dos fiéis defuntos, ao começo deste mês, trouxe aos cristãos uma verdade importante: " memento mori – lembra-te que vais morrer". Quando o homem nasce, ninguém pode dizer com certeza o que ele virá a ser: se será rico ou pobre, se seguirá uma ou outra carreira, sequer a duração de sua vida pode ser determinada. Uma coisa, no entanto, é certa para todas as pessoas: um dia, inevitavelmente, morrerão. Não há homem, por mais rico e poderoso, que possa se livrar de sua morte. "Ninguém se livra de sua morte por dinheiro, nem a Deus pode pagar o seu resgate", canta o salmista. "A isenção da própria morte não tem preço; não há riqueza que a possa adquirir, nem (...) garantir-lhe uma existência imortal" (Sl 48, 8-10).
Por este motivo, a Igreja não pode permanecer calada diante deste que é, segundo a constituição Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II, o ponto mais alto do enigma da condição humana. "Não é só a dor e a progressiva dissolução do corpo que atormentam o homem, mas também, e ainda mais, o temor de que tudo acabe para sempre"[1], escreveram os padres conciliares.
Diante deste temor, os homens podem caminhar para a estrada ilusória do materialismo, chegando à tenacidade de negar não só a existência da alma e das realidades eternas, mas o próprio sentido da vida humana. Afinal, se é só para esta vida repleta de sofrimentos e injustiças que o homem nasceu, então, definitivamente, toda a existência não passa de uma grande piada – e de muito mau gosto.
Outra atitude de fuga diante da morte consiste em lançar mão de supostas "revelações" de espíritos que, no fim das contas, não passam de um embuste para enganar as pessoas e fazê-las recuar ao trabalho difícil de buscar a salvação. Geralmente, é o drama da perda de um ente querido que se transforma em ocasião para o indivíduo se aventurar em um terreno perigoso e contaminador.
Em resposta ao espiritismo e à crença recorrente da reencarnação, a Sagrada Escritura é bem clara: "Está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo" (Hb 9, 27). E o Catecismo da Igreja Católica confirma: "Quando tiver terminado o único curso de nossa vida terrestre, não voltaremos mais a outras vidas terrestres. (...) Não existe 'reencarnação' depois da morte" (§ 1013).
Ao invés de sair à procura de um consolo apenas aparente – esperando que um familiar emita supostas "mensagens do além" ou que "se reencarne" no corpo de outro ser humano –, os católicos devem estudar melhor a sua fé e, alegrando-se por terem recebido a verdade de Jesus e de Sua Igreja, perceber que ela oferece um fundamento sólido de esperança. Ao fim desta existência terrena, espera pelo cristão uma outra muito mais elevada e nobre do que esta. Com a morte, ele se reunirá diante "da montanha de Sião, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celestial, das miríades de anjos, da assembleia festiva dos primeiros inscritos no livro dos céus, e de Deus, juiz universal, e das almas dos justos que chegaram à perfeição, enfim, de Jesus, o mediador da Nova Aliança, e do sangue da aspersão, que fala com mais eloquência que o sangue de Abel" (Hb 12, 22-24).
Como deveria exultar a alma cristã ao ler estas palavras da Carta aos Hebreus! Ao fim de uma vida servindo quotidiana e persistentemente a Deus, espera-a uma eternidade não só ao lado daqueles familiares e amigos que morreram na fé, mas ao lado do próprio Senhor, de Sua Mãe Santíssima e de todos os santos e anjos do Céu! Quanta confiança não deveria brotar no coração humano, ao ler São Paulo dizer que "o que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram, nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu" (1 Cor 2, 9)!
À luz do mistério da Ressurreição, o cristão crê firmemente que a morte não tem a última palavra. Olhando para Cristo, ele sabe que todas as pelejas e batalhas desta vida, embora passem pela morte, não culminam nela. Afinal, Jesus subiu o monte Calvário, mas, três dias depois, voltou à vida – àquela vida que todos os bem-aventurados um dia gozarão, ao Seu lado, no Céu.
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