O Natal é um dos melhores períodos do ano. E não é para menos: depois da Páscoa, trata-se da maior festa do ano litúrgico. (Noutros tempos, poderíamos até sugerir que Pentecostes compete com o Natal em importância, mas hoje não mais: o fim de sua oitava pô-lo definitivamente abaixo da Natividade de Cristo, que com sua oitava nos conduz como por uma ponte até o início de todo ano civil.)

Exatamente por isto, e talvez mais do que qualquer outra época do ano, os cristãos sempre celebraram magno cum gaudio esta solenidade, compondo e cantando louvores a Deus, por tão grande misericórdia manifesta em nosso favor.

Indicamos aqui nove desses hinos mais famosos, oriundos das mais diversas culturas e adaptados às mais diversas línguas, todas celebrando este acontecimento portentoso que é o nascimento, na carne, do Filho eterno de Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Veni, veni, Emmanuel

Comecemos por este canto, bastante tradicional no repertório natalino, embora seu lugar próprio seja o Advento, por conter ele várias súplicas ao Redentor, na expectativa de sua vinda. Seu refrão, aliás, fala do nascimento de Cristo no futuro: Gaude, gaude, Emmanuel nascetur pro te, Israel! — “Alegrai-vos, alegrai-vos! Emanuel nascerá por ti, ó Israel!”

Nas estrofes do Veni, veni, Emmanuel, encontramos uma paráfrase metrificada das célebres “Antífonas do Ó”, que o Ofício Divino prescreve, todos os dias imediatamente anteriores ao Natal, para o cântico de Nossa Senhora (Magnificat) — e que a atual liturgia da Missa prevê como versos aleluiáticos destes mesmos dias.

Em suma, além de possuir uma melodia belíssima, esta composição tem tudo a ver com a divina liturgia. Por isso, confira abaixo sua versão gregoriana:

Gaudete

Gaudete, gaudete! Christus est natus ex Maria Virgine. Gaudete! — “Alegrai-vos, alegrai-vos! Cristo nasceu da Virgem Maria. Alegrai-vos!” Eis o que diz o refrão deste outro canto latino, cuja letra e melodia aparecem publicadas pela primeira vez no livro Piæ cantiones, uma coleção finlandesa de hinos sacros (de 1582!). 

Este é um típico cântico medieval de louvor, feito a várias vozes e com um texto bastante singelo. A primeira estrofe, por exemplo, diz: Tempus adest gratiæ, hoc quod optabamus. Carmina lætitiæ devote reddamus! — “É chegado o tempo de graça, que [tanto] esperávamos. Cantos de alegria devotamente ofereçamos!”

Puer natus in Bethlehem

Também esta canção se encontra no livro Piæ cantiones, acima mencionado (só que numa edição do século XVII), mas muito provavelmente remonta ao século XIII–XIV. Sua mensagem é igualmente simples: Puer natus in Bethlehem (alleluia), unde gaudet Ierusalem (alleluia, alleluia). In cordis iubilo, Christum natum adoremus, cum novo cantico. — “Um menino nasceu em Belém, e por isso se alegra Jerusalém. Com júbilo de coração, adoremos a Cristo nascido, com novo cântico.”

Cristãos, vinde todos

Adeste, fideles é talvez a mais famosa das canções latinas para o Natal. Sua autoria é atribuída a Dom João IV, rei lusitano do século XVII, razão por que é chamada, no mundo anglófono, de “Hino Português”. A Igreja chegou a incluí-la no Liber Usualis, famoso livro de cantos litúrgicos, no início do século passado.

Em português, ele também é conhecido pelas palavras iniciais da tradução (atribuída ao frei Emílio Scheidt): “Cristãos, vinde todos” — e as ideias centrais são praticamente as mesmas, tanto no original quanto aqui. O refrão, por sua vez, traduz literalmente o latim: Venite, adoremus — “Oh! vinde, adoremos”.

Noite feliz

Em 1818, na cidade austríaca de Oberndorf, um padre teria saído atrás de seu amigo músico, Franz Gruber, para que este transformasse em melodia um poema que fizera, e o entoasse na Missa do Galo (a tradicional celebração na Noite Santa). Assim teria nascido Stille nacht (“Noite silenciosa”), vertida em português para “Noite feliz”, na conhecida letra do frei Pedro Sinzig. No Brasil, é sem dúvida a mais famosa de todas as canções natalinas:

Vinde, cristãos, vinde à porfia

De origem francesa (Les anges dans nos campagnes), esta é outra conhecidíssima canção natalina. Em vários lugares, é chamada simplesmente “Glória do Natal”, pois seu refrão, muitas vezes entoado em latim, repete o coro dos anjos na Noite Santa: Gloria in excelsis Deo — com o “o” do Gloria sustentado em 16 notas de uma sequência melismática ascendente e descendente.

Mas os grupos que cantam na liturgia devem tomar cuidado de não substituir a letra litúrgica do Glória por esta canção. A Instrução Geral sobre o Missal Romano é bem clara quando dispõe: “O Glória é um hino antiquíssimo e venerável, pelo qual a Igreja, congregada no Espírito Santo, glorifica e suplica a Deus Pai e ao Cordeiro. O texto deste hino não pode ser substituído por outro.” (n. 53)

Já é bem conhecida a tradução portuguesa deste hino: “Vinde, cristãos, vinde à porfia, hinos cantemos de louvor…” — Ir à porfia significa ir sem descanso, obstinadamente. É um convite à aproximação perseverante dos mistérios que vamos celebrar.

O Menino está dormindo

Menos conhecida no Brasil, “O Menino está dormindo” é uma bela canção portuguesa, da cidade de Évora. Data possivelmente do século XVIII e teria sido encomendada por religiosas clarissas, para ser cantada diante do presépio de seu convento. Seu tema é o sono do Menino Jesus e a adoração que lhe fazem os anjos. Segue uma interpretação do hino pelo Coro “Audite Nova”, de Lisboa, com a letra, para apreciação:

O Menino está dormindo,
Nas palhinhas despidinho.
Os anjos lhe estão cantando:
“Por amor tão pobrezinho.”

O Menino está dormindo,
Nos braços de São José.
Os anjos lhe estão cantando:
Gloria tibi, Domine!

O Menino está dormindo,
Nos braços da Virgem pura.
Os anjos lhe estão cantando:
“Hosana lá na altura!”

O Menino está dormindo,
Um sono de amor profundo.
Os anjos lhe estão cantando:
“Viva o Salvador do Mundo!”

Tu scendi dalle stelle

Esta bela canção italiana, Tu scendi dalle stelle (“Tu desces das estrelas”), foi escrita por ninguém menos que Santo Afonso Maria de Ligório, fundador dos redentoristas. Nela temos uma reflexão profunda, feita em forma de prece ao Menino Jesus, sobre a salvação da humanidade. Seu texto já foi meditado pelo Padre Paulo Ricardo em uma mensagem de Natal: 

Vale muito a pena não só ouvir a canção (que já foi entoada inclusive durante a liturgia de Natal na Basílica de São Pedro, em Roma), mas também meditar sobre cada um de seus versos, pois constituem uma verdadeira oração ao Deus infante — o que não podia ser diferente, vindo da pena de um santo.

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