A história das Antífonas do Ó

São incertas a história e as origens das Antífonas do Ó. Embora tenhamos uma grande quantidade de textos litúrgicos antigos, somente alguns datam de antes do século VII. É possível que tenha havido uma menção passageira às antífonas por Boécio (ca. 480–524), em sua obra A Consolação da Filosofia [i] — o que indicaria que as antífonas eram conhecidas no norte da Itália por volta do século VI.

O que podemos afirmar com certeza é que as antífonas eram conhecidas por Amalário de Metz, um monge e erudito do século IX (ca. 780–850). Amalário atribui a autoria delas a um cantor anônimo que provavelmente viveu nos séculos VII ou VIII. No século IX, elas já eram conhecidas em Roma há algum tempo, pois aparecem nos antifonários romanos deste período. Outros numerosos livros litúrgicos da Idade Média, a partir do século IX, também contêm as antífonas.

O número e a composição das antífonas variaram ao longo da história, com alguns livros litúrgicos adicionando uma ou mais à lista de sete. Por exemplo, a antífona O Virgo Virginum, em honra da Virgem Maria, é citada por Amalário [ii]:

O Virgo Virginum, quomodo fiet istud? Quia nec primam similem visa es nec habere sequentem. Filiæ Jerusalem, quid me admiramini? Divinum est mysterium hoc quod cernitis. — Ó Virgem das virgens, de que modo se fará isto? Pois nunca houve quem a ti se igualasse, nem haverá depois de ti. Ó filhas de Jerusalém, por que vos admirais de mim? É divino este mistério que vedes.
Desenho mostrando cada uma das Antífonas do Ó, por sua palavra latina inicial.

Outras igrejas e localidades, como São Galo (Sankt Gallen), na Suíça, e Paris, na França, tiveram nove ou doze antífonas em vários momentos da história. No entanto, as sete principais, que conhecemos hoje, permaneceram constantes em todas as fontes litúrgicas.

Os dias para os quais as antífonas foram designadas também variaram ao longo dos séculos. Um dos antifonários romanos antigos prescrevia o seu uso desde a festa de São Nicolau, a 6 de dezembro, até a festa de Santa Luzia, no dia 13. O Ordo Romanus do século XI mandava cantá-las repetidamente desde 6 de dezembro até a véspera de Natal. Com o tempo, as antífonas passaram a ser colocadas nos sete dias anteriores ao Natal (de 17 a 23 de dezembro).

As Antífonas do Ó são cantadas antes e depois do Magnificat, nas Vésperas, e têm sido utilizadas neste lugar do Ofício por muitos séculos. Na verdade, as evidências históricas sugerem que as Vésperas eram seu lugar original: seu uso aqui é mencionado, entre outras fontes, por Amalário de Metz, um dos antifonários romanos do século IX e a Vida de Alcuíno. Algumas igrejas começaram a usá-las como antífonas para o Benedictus nas Laudes — uma prática compreensível, dadas as ressonâncias bíblicas entre as Antífonas Maiores e o cântico de Zacarias [iii]. Todavia, seu uso no Magnificat ilustra-nos melhor o aspecto mariano do Advento [iv]: através do fiat de Maria, de seu “sim” ao plano de Deus, o Filho de Deus encarnado entra no mundo — como nos dizem as antífonas — a fim de nos ensinar, libertar, iluminar e salvar.

A teologia das Antífonas do Ó

As Antífonas do Ó são um magnífico mosaico de passagens bíblicas, que ligam a Lei, os profetas e os escritos do Antigo Testamento ao seu cumprimento no Novo [veja-se o Apêndice ao final, com as várias alusões bíblicas presentes nas antífonas]. Para a etapa final de nossa preparação de Advento, todo dia a liturgia nos oferece um ponto de partida para meditar sobre o Verbo Encarnado, o Filho de Deus que incarnatus est de Spiritu Sancto ex Maria Virgine et homo factus est, “se encarnou pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, e se fez homem” (Credo niceno) — ajudando-nos assim a concentrarmo-nos no verdadeiro significado dos tempos do Advento e do Natal.

A partir do nosso ponto de vista na história, as antífonas nos direcionam de volta para o feliz evento da Encarnação, a primeira vinda de Cristo, que torna possíveis os eventos salvíficos da Semana Santa e da Páscoa. No entanto, elas também nos apontam para a segunda vinda de Nosso Senhor; ajudam-nos a estar sempre vigilantes (cf. Lc 21, 36). Nossa preparação de Advento para a vinda de Cristo, no Natal, é um modelo de como podemos nos preparar para a sua segunda vinda; e, com as Antífonas do Ó na liturgia, a Igreja nos oferece uma ajuda nessa preparação — ajuda singela, mas vital ao mesmo tempo.

Para ilustrar isso, olhemos para três antífonas de forma mais detalhada: O Sapientia, O Oriens e O Emmanuel, [dos dias 17, 21 e 23, respectivamente].

“A Santíssima Trindade”, por Antonio de Pereda.
O Sapiéntia, quæ ex ore Altíssimi prodiísti, attíngens a fine usque ad finem, fórtiter suavitérque dispónens ómnia: veni ad docéndum nos viam prudéntiæ. — Ó Sabedoria, que, saindo da boca do Altíssimo, atinges o universo de uma extremidade a outra e dispões, ao mesmo tempo com força e suavidade, todas as coisas: vem ensinar-nos o caminho da prudência.

Essa antífona nos conduz à literatura sapiencial do Antigo Testamento, partes da qual são citadas quase palavra por palavra na primeira metade da antífona: “Eu saí da boca do Altíssimo, primogênita antes de todas as criaturas” (Eclo 24, 5); “[A sabedoria] estende-se poderosa desde uma extremidade à outra, e dispõe todas as coisas com suavidade [lt. suaviter]” (Sb 8, 1).

Algo que precisamos ter em mente com as Antífonas do Ó é que elas não só citam ou apontam-nos textos bíblicos específicos, mas, com efeito, conduzem-nos a temas bíblicos e teológicos. Para começar a entender as antífonas — e, de fato, a liturgia da Igreja em geral —, nós devemos entrar na Bíblia, tornar-nos cada vez mais familiarizados com os seus textos. Na antífona em análise, portanto — O Sapientia —, devemos olhar não só os versículos citados explicitamente, mas também as passagens implícitas nela, como Provérbios, cap. 8:

O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde o princípio, antes que criasse coisa alguma. Desde a eternidade fui constituída, desde o princípio, antes que a terra fosse criada [...]. Quando ele preparava os céus, eu estava presente; quando, por uma lei inviolável, encerrava os abismos dentro dos seus limites; quando firmava lá no alto a região etérea, e quando equilibrava as fontes das águas; quando circunscrevia ao mar o seu termo, e punha lei às águas, para que não passassem os seus limites; quando assentava os fundamentos da terra, eu estava com ele, como arquiteto; cada dia me deleitava, recreando-me continuamente diante dele, recreando-me sobre o globo da terra, e achando as minhas delícias em estar com os filhos dos homens (22-23.27-31).

Essa personificação da sabedoria no Antigo Testamento nos prepara para a revelação da Trindade no Novo Testamento (cf. também 28; Br 3–4; Eclo 1; 4, 11-19; 6, 18-31; 14–15; Sb 6–10). O Evangelho de João em particular identifica Jesus com a personificação da sabedoria divina. No Antigo Testamento, a sabedoria é “uma pura emanação da glória do Onipotente” (Sb 7, 25); Jesus possuía glória com o Pai antes da criação do mundo, e manifesta essa glória aos homens na terra (cf. Jo 1, 14; 17, 5.22.24). [Com a Encarnação] a Sabedoria [mesma] percorre as ruas, procurando as pessoas e clamando por elas (cf. Pr 1, 20-21; 8, 1-4; Sb 6, 17); Jesus sai à procura dos homens e faz-lhes publicamente o seu convite (cf. Jo 1, 43; 5, 14; 7, 37; 9, 35; Lc 19, 10). E, citando o Eclesiástico, [a antífona] O Sapientia nos diz que a sabedoria saiu da boca do Altíssimo (cf. Eclo 24, 5); João nos diz que não só Jesus estava no princípio “junto de Deus”, mas que Ele é “o Filho unigênito do Pai” (Jo 1, 1-2.14; cf. 1Jo 4, 2).

Esta primeira antífona nos mostra, portanto, o Creatórem cæli et térræ, visibílium ómnium et invisibílium, “Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis” (como diz o Credo niceno), e revela para nós a Sabedoria de Deus, que é o Cristo. 

Fotografia de Missa celebrada “ad orientem”.
O Oriens, splendor lucis ætérnæ, et sol iustítiæ: veni, et illúmina sedentes in ténebris et umbra mortis. — Ó Sol nascente, esplendor da luz eterna e Sol de justiça; vem e ilumina os que jazem nas trevas e na sombra da morte.

Esta é a antífona do dia 21 de dezembro, que marca no hemisfério norte o solstício de inverno, dia mais curto do ano. É apropriado, portanto, que no dia em que a escuridão e as trevas atingem o seu cume no mundo natural, a liturgia chame a nossa atenção para a luz de Cristo, a aurora do Filho de Deus. De fato, na Missa, o povo de Deus, guiado pelo sacerdote, volta-se junto ad orientem, na direção do sol nascente, esperando com constância a segunda vinda de Cristo, na adoração, na súplica e no sacrifício. Essa é uma prática que remonta aos primeiros tempos da Igreja, e foi só a partir do Concílio Vaticano II que essa orientação foi interrompida pela prática de o sacerdote voltar-se para a assembleia (sem o mandato dos documentos do Concílio, vale acrescentar) [v].

Códice antigo, com as Antífonas do Ó.

Embora este poderoso simbolismo litúrgico esteja em urgente necessidade de resgate na Igreja contemporânea, os textos da liturgia, especialmente no Advento, orientam-nos espiritualmente para o Sol nascente, o Oriens, Jesus Cristo. Por exemplo, a Epístola para o 4.º Domingo do Advento no rito romano tradicional, tomada da Primeira Carta aos Coríntios (4, 5), diz o seguinte: “Pelo que não julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não só porá às claras o que se acha escondido nas trevas, mas ainda descobrirá os desígnios dos corações” (cf. Hb 2, 3) [vi]. Esse tema da iluminação e da vinda do Filho de Deus na glória permeia o tempo do Advento. E, nesta antífona, as palavras sol iustítiæ indicam-nos parte do contexto bíblico para a vinda do Senhor: “Mas para vós que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça, que traz a salvação sob as suas asas” (Ml 4, 2a [3, 20 na Vulgata]).

Vale a pena analisar esta frase no contexto mais amplo de Malaquias, que fala sobre “o dia” do Senhor, o dia em que Ele retornará, o dia em que tanto os bons quanto os maus serão julgados por Deus. Os maus, mesmo que agora prosperem (cf. Ml 3, 15), serão consumidos pelo Senhor, e para eles esse será um dia de destruição. Mas o “sol da justiça”, Jesus Cristo, virá e salvará aqueles que servem ao Senhor. O Advento não é só uma preparação para celebrar a primeira vinda de nosso Salvador ao mundo, mas [também] um tempo de preparação para a sua segunda vinda, quando sua luz porá a descoberto todas as nossas ações, estejamos prontos ou não [para isso] (cf. Jo 3, 16-21). E Nosso Senhor mesmo nos alertou sobre esse dia que está por vir:

Velai, pois, sobre vós, para que não suceda que os vossos corações se tornem pesados com as demasias do comer e do beber, com os cuidados desta vida, e para que aquele dia vos não apanhe de improviso; porque ele virá como um laço sobre todos os que habitam sobre a face de toda a terra. Vigiai, pois, orando sem cessar, a fim de que vos torneis dignos de evitar todos estes males que devem suceder, e de aparecer com confiança diante do Filho do homem (Lc 21, 34-36).

O ato de dirigirmo-nos a Cristo dizendo: O Oriens faz parte da ajuda e do estímulo constantes da liturgia para que orientemos as nossas vidas para Deus neste tempo de Advento e recebamos a sua graça, não só em preparação para celebrar sua primeira vinda no Natal, mas também a fim de estarmos prontos para a sua segunda vinda no fim dos tempos.

“A Adoração dos Pastores”, por Guido Reni.
O Emmánuel, Rex et légifer noster, exspectátio Géntium, et Salvátor eárum: veni ad salvándum nos, Dómine, Deus noster. — Ó Emanuel, nosso Rei e Legislador, esperança das nações e seu Salvador; vem salvar-nos, Senhor, nosso Deus.

O contexto bíblico para essa antífona é conhecido de todos: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porão o nome de Emanuel” (Mt 1, 23; cf. Is 7, 14). Emanuel significa “Deus está conosco”; portanto, é apropriado que esta antífona venha logo antes de celebrarmos o mistério da Encarnação — momento da história em que se realizou verdadeiramente o nome Emmanuel.

Além de ser uma profecia cumprida por Jesus, a citação de Isaías por Mateus (aliás, o único evangelista a citar a profecia) serve a outro propósito no contexto de seu Evangelho. Se formos até as últimas palavras de Cristo em Mt 28, 20, leremos: “Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”. Vemos assim que o nome Emmanuel envolve todo o Evangelho de Mateus, de uma ponta a outra. No início, a promessa é cumprida do modo mais maravilhoso possível através da Encarnação e do Natal de Nosso Senhor; e, no fim, esse cumprimento mostra-se eterno, em virtude de sua Morte, Ressurreição e Ascensão. 

De fato, Jesus também nos diz, em Mt 18, 20: “Onde se acham dois ou três congregados em meu nome, aí estou eu no nome deles”. A presença do Senhor em sua Igreja, especialmente no Santíssimo Sacramento da Eucaristia, mostra que esta antífona tem um escopo muito mais amplo que o tempo do Advento. Nossa preparação para celebrar a primeira vinda do Senhor significa que a antífona tem um significado especial para o Advento, mas ela também nos leva ao presente: Deus está conosco agora, em sua Igreja e nos sacramentos, para que possamos ser salvos por Ele.

As Antífonas do Ó e a espiritualidade católica

Como, então, podemos aplicar tudo isso em nossa vida diária? Para começar, podemos tirar grande proveito do fundamento bíblico para as Antífonas do Ó. Já deve ter ficado claro, a essa altura, que as antífonas estão impregnadas de Escritura e temas bíblicos. Cada uma delas é uma oportunidade de entrar na Bíblia, para lermos as Escrituras através da liturgia da Igreja — que, como disse o Vaticano II, é “simultaneamente a meta para a qual se encaminha a ação da Igreja e a fonte de onde promana toda a sua força” (Sacrosanctum Concilium, 10) — e também para sermos conduzidos por elas a uma “participação plena, consciente e ativa” na liturgia (Ibid., 14).

Falando de participação na liturgia, também devemos prestar atenção especial aos textos litúrgicos do tempo do Advento (que incluem as Antífonas do Ó no Ofício Divino). Os temas das antífonas também perpassam toda a liturgia do Advento. Atentar-se de forma especial à liturgia e familiarizar-se com as orações e leituras antes da Santa Missa é uma ótima maneira de nos tornarmos mais abertos às graças que Deus nos concede no santíssimo sacrifício da Missa.

As Antífonas do Ó também podem nos ajudar com o sacramento da Confissão. Em meados do século XV, um sacerdote brigidino chamado Magnus Unnonis compôs um auxílio para a recepção frutuosa deste sacramento, tomando por base as Antífonas do Ó [vii]. Ele usou cada antífona para descrever os sete “adventos” de Cristo, levando a um exame de consciência baseado nos sete pecados capitais, que são depois contrastados com os sete dons do Espírito Santo (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1830-1831):

O esquema de Magnus pode nos parecer um tanto artificial, mas há muita verdade em sua aplicação pastoral das antífonas ao sacramento da Confissão. Cada uma delas pode ser usada de maneira frutífera para nos ajudar em nosso exame de consciência diário. Ao longo dos sete dias antes do Natal, através das Antífonas do Ó, nós imploramos a Cristo que nos salve (Emanuel), liberte (Adonai), redima (Radix Iesse), ensine e ilumine (Sapientia, Oriens). Ora, em que áreas de nossas vidas precisamos particularmente de sua graça? Em que momentos nos recusamos a ser ensinados por Ele? Onde em nossas vidas precisamos que Jesus dissipe a escuridão de nossos pecados, perdoe os nossos pecados e nos conduza com o socorro da sua graça a não pecar mais, como rezamos no tradicional ato de contrição após a Confissão (cf. Jo 8, 11)?

Há muito mais a ser dito sobre as Antífonas do Ó, e realmente só ficamos na superfície do que elas têm a nos oferecer espiritualmente, mas espero que esta breve introdução encoraje os leitores a mergulhar mais profundamente na Bíblia e na liturgia destes últimos dias do Advento [viii].

Apêndice: Alusões Bíblicas nas Antífonas do Ó

1. O Sapiéntia, quæ ex ore Altíssimi prodiísti, attíngens a fine usque ad finem, fórtiter suavitérque dispónens ómnia: veni ad docéndum nos viam prudéntiæ. — Ó Sabedoria, que, saindo da boca do Altíssimo, atinges o universo de uma extremidade a outra e dispões, ao mesmo tempo com força e suavidade, todas as coisas: vem ensinar-nos o caminho da prudência.

É por ele que estais em Jesus Cristo, o qual foi feito por Deus, para nós, sabedoria, justiça, santificação e redenção (1Cor 1, 30).

Isto vem do Senhor dos exércitos, admirável nos seus conselhos, excelso na sua sabedoria (Is 28, 29).

Eu saí da boca do Altíssimo, primogênita antes de todas as criaturas (Eclo 24, 5).

[A sabedoria] estende-se poderosa desde uma extremidade à outra, e dispõe todas as coisas com suavidade [lt. suaviter] (Sb 8, 1).

A sabedoria é mais ágil que todo o movimento; tudo atravessa e penetra por causa da sua pureza (Sb 7, 24).

O Senhor me possuiu no princípio de seus caminhos, desde o princípio, antes que criasse coisa alguma. Desde a eternidade fui constituída, desde o princípio, antes que a terra fosse criada (Pr 8, 22-23).

2. O Adonái, et Dux domus Israel, qui Móysi in igne flammæ rubi apparuísti, et ei in Sina legem dedísti: veni ad rediméndum nos in bráchio exténto. — Ó Adonai, Chefe da casa de Israel, que apareceste a Moisés na sarça em fogo e deste-lhe no Sinai a lei: vem resgatar-nos com o teu braço poderoso.

Com efeito, o Senhor é o nosso juiz, o Senhor é o nosso legislador, o Senhor é o nosso rei, é ele que nos há-de salvar (Is 33, 22).

E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais [cidades] de Judá, porque de ti sairá um chefe, que apascentará Israel, meu povo (Mt 2, 6; cf. Mq 5, 2).

O Senhor apareceu-lhe numa chama de fogo [que saía] do meio de uma sarça (Ex 3, 2a).

Lembra-te que também serviste no Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou de lá com mão poderosa e com braço estendido (Dt 5, 15a; cf. 9, 29; 26, 8).

Manifestou o poder do seu braço, dispersou os homens de coração soberbo (Lc 1, 51).

3. O Radix Iesse, qui stas in signum populórum, super quem continébunt reges os suum, quem Gentes deprecabúntur: veni ad liberándum nos, iam noli tardáre. — Ó Raiz de Jessé, que te ergues como um estandarte para os povos, diante de quem se calarão os reis, e a quem as nações pedirão clemência: vem libertar-nos, não tardes.

Sairá uma vara do tronco de Jessé, e um rebento brotará da sua raiz… Naquele dia, o [Messias] rebento da raiz de Jessé, posto por estandarte dos povos, será invocado pelas nações, e será gloriosa sua morada (Is 11, 1.10).

Isaías também diz: Sairá o rebento de Jessé, aquele que se levanta para governar as nações. Nele esperarão os gentios (Rm 15, 12; cf. Is 11, 10).

Então um dos anciões disse-me: “Não chores; eis que o leão da tribo de Judá, a estirpe de Davi, venceu de maneira a poder abrir o livro e os seus sete selos” (Ap 5, 5).

Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos atestar estas coisas a respeito das Igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a estrela resplandecente da manhã (Ap 22, 16).

4. O clávis David, et sceptrum domus Israel; qui áperis, et nemo claudit; claudis, et nemo áperit: veni, et educ vinctum de domo cárceris, sedéntem in ténebris et umbra mortis. — Ó Chave de Davi, e Cetro da Casa de Israel, que abres e ninguém fecha, fechas e ninguém abre; vem e tira do cárcere o agrilhoado, que está nas trevas e na sombra da morte.

Porei a chave da casa de Davi sobre os seus ombros; ele abrirá, e não haverá quem feche; fechará, e não haverá quem abra (Is 22, 22; cf. Ap 3, 7).

E clamaram ao Senhor no meio das suas angústias, e ele os livrou das suas tribulações. Tirou-os das trevas [do cárcere] e da escuridão, quebrou as suas cadeias (Sl 106, 13-14).

[Eu] te pus para seres a aliança do povo e a luz das nações; para abrires os olhos dos cegos, para tirares da cadeia os prisioneiros, e do cárcere os que estão sentados nas trevas (Is 42, 6b-7).

Eis o que diz o Senhor: Eu ouvi-te no tempo da graça, auxiliei-te no dia da salvação: conservei-te e constituí-te aliança do povo, para restaurares a terra e repartires as heranças devastadas; para dizeres aos que estão em cadeias: Saí — e aos que estão nas trevas: Vinde à luz (Is 49, 8-9).

Este povo, que jazia nas trevas, viu uma grande luz; e uma luz levantou-se para os que jaziam na sombra da morte (Mt 4, 16; cf. Is 9, 2).

Para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte; para dirigir os nossos pés no caminho da paz (Lc 1, 79).

O Espírito do Senhor repousou sobre mim; pelo que me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres; me enviou a sarar os contritos de coração a anunciar aos cativos a redenção, e aos cegos a recuperação da vista, a pôr em liberdade os oprimidos, a pregar o ano favorável do Senhor (Lc 4, 18-19; cf. Is 61, 1-2).

5. O Oriens, splendor lucis ætérnæ, et sol iustítiæ: veni, et illúmina sedentes in ténebris et umbra mortis. — Ó Sol nascente, esplendor da luz eterna e Sol de justiça; vem e ilumina os que jazem nas trevas e na sombra da morte.

Então romperá a tua luz como a aurora, e a tua saúde mais depressa nascerá (Is 58, 8a).

Eu, Jesus, enviei o meu anjo, para vos atestar estas coisas a respeito das Igrejas. Eu sou a raiz e a geração de Davi, a estrela resplandecente da manhã (Ap 22, 16).

Graças à terna misericórdia do nosso Deus, que nos trará do alto a visita do sol nascente (Lc 1, 78).

Não terás mais [necessidade do] sol para luzir de dia, nem do resplendor da lua para te alumiar: o Senhor te servirá de luz eterna, o teu Deus será a tua glória (Is 60, 19; cf. Ap 21, 23; 22, 5).

Mas para vós que temeis o meu nome, nascerá [o Messias] o sol da justiça, que traz a salvação sob as suas asas (Ml 4, 2a).

6. O Rex Géntium, et desiderátus eárum, lapísque anguláris, qui facis útraque unum: veni, et salva hóminem, quem de limo formásti. — Ó Rei das nações e Desejado delas, Pedra angular, que unificas os dois povos; vem, e salva o homem que formaste do limo da terra.

Quem não te temerá, ó Rei das nações? (Jr 10:7a)

Porque Deus é o rei de toda a terra, cantai um hino. Deus reina sobre as nações, Deus está sentado sobre o seu santo trono (Sl 46, 8-9).

Graça a vós e paz, da parte daquele que é, que era e que vem, da parte dos sete espíritos que estão diante do seu trono, e da parte de Jesus Cristo, que é a testemunha fiel, o primogênito [o primeiro que ressuscitou] dentre os mortos, o soberano dos reis da terra (Ap 1, 4-5).

Abalarei todas as nações, afluirão riquezas de todos os povos, e encherei de glória esta casa, diz o Senhor dos exércitos (Ag 2, 8).

Jesus disse-lhes: “Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que fora rejeitada pelos que edificavam, tornou-se pedra angular; pelo Senhor foi feito isto, e é coisa maravilhosa aos nossos olhos?” (Mt 21, 42; cf. Sl 117, 22-23; Mc 12, 10-11; Lc 20, 17; At 4, 11; 1Pd 2, 7).

Portanto, estas coisas diz o Senhor Deus: Eis que coloquei nos fundamentos da [nova] Sião uma pedra, uma pedra provada, angular, preciosa, assentada em [solidíssimo] fundamento; aquele que crer, não se apressará [a fugir] (Is 28, 16; cf. Rm 9, 33; 1Pd 2, 6).

Porque ele é a nossa paz, ele que de dois povos fez um só, destruindo a parede de inimizade que os separava (Ef 2, 14).

O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou no seu rosto um sopro de vida, e o homem tornou-se alma vivente (Gn 2, 7).

Deus criou o homem da terra, e formou-o à sua imagem (Eclo 17, 1).

7. O Emmánuel, Rex et légifer noster, exspectátio Géntium, et Salvátor eárum: veni ad salvándum nos, Dómine, Deus noster. — Ó Emanuel, nosso Rei e Legislador, esperança das nações e seu Salvador; vem salvar-nos, Senhor, nosso Deus.

Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porão o nome de Emanuel (Mt 1, 23; cf. Is 7, 14).

Formai planos, e eles sairão frustrados; proferi alguma palavra de mando, e ela não será executada, porque Deus é conosco! (Is 8, 10)

Porque onde se acham dois ou três congregados em meu nome, aí estou eu no meio deles (Mt 18, 20).
Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo (Mt 28, 20b).

Com efeito, o Senhor é o nosso juiz, o Senhor é o nosso legislador [lt. legifer noster], o Senhor é o nosso rei, é ele que nos há-de salvar (Is 33, 22).

Notas

  1. Est igitur summum… bonum quod regit cuncta fortiter suaviterque disponit — “É o sumo bem aquele que rege com força todas as coisas e dispõe-nas com suavidade” (Boethius, De consolatione philosophiæ III, 12.63-64. Compare o trecho com a antífona “Ó Sabedoria” (de 17 de dezembro): O Sapientia, quæ ex ore Altissimi prodisti, attingens a fine usque ad finem, fortiter suaviter disponensque omnia… — “Ó Sabedoria, que, saindo da boca do Altíssimo, atinges o universo de uma extremidade a outra e dispões, ao mesmo tempo com força e suavidade, todas as coisas…”.
  2. Essa antífona também tem uma longa história de uso na Inglaterra. No uso de Sarum — variante medieval do rito romano usada em Salisbury por volta do século XI —, ela tinha lugar no dia 23 de dezembro. Com isso, todas as outras antífonas eram antecipadas em um dia, com o conjunto de oito Antífonas do Ó começando em 16 de dezembro. Esse costume fora adotado pelo Book of Common Prayer, e foi só em tempos recentes que a comunhão anglicana se afastou desse hábito local.
  3. Tome-se como exemplo Lc 1, 78b-79a: “que sobre nós fará brilhar o Sol nascente, / para iluminar a quantos jazem entre as trevas / e na sombra da morte estão sentados”, as antífonas O Oriens e O Clavis David, bem como as inúmeras referências à salvação ao longo das antífonas e do Benedictus.
  4. O persistente uso local da oitava antífona, O Virgo Virginum, também demonstra essa tradicional ênfase mariana do Advento.
  5. Para mais informações sobre a história e a importância litúrgica do culto ad orientem, cf. Uwe Michael Lang, Turning Towards the Lord: Orientation in Liturgical Prayer. San Francisco: Ignatius Press, 2004; Joseph Ratzinger, “O altar e a orientação da oração na liturgia” em: O Espírito da Liturgia. São Paulo: Edições Loyola, 2013, pp. 65-73; Padre Paulo Ricardo, “O centro da Missa é Deus” em: História da Missa, 16 dez. 2022.
  6. No Novus Ordo, em vez de ser lida no Advento, essa passagem foi transferida (no Próprio do Tempo) para o 8.º Domingo do Tempo Comum (ano A) e a Sexta-feira da 22.ª Semana do Tempo Comum (ano par).
  7. O texto tem o título Epistola de devote modo vivendi ad Christophorum regem e foi escrito por volta de 1447, em antecipação à visita do Rei Cristóvão da Baviera à abadia de Vadstone. Cf. T. J. Knoblach, “The ‘O’ Antiphons” in: Ephemerides Liturgicæ 106.3 (1992), p. 197.
  8. Esta é uma versão ligeiramente revisada de uma palestra catequética proferida pelo autor, Matthew Hazell, em dezembro de 2015.

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