Elon Musk nunca foi do tipo que evita declarações controversas. Um de seus alertas mais consistentes nos últimos anos diz respeito ao colapso das taxas globais de natalidade. Recentemente, ele publicou um mapa impressionante com dados sobre fertilidade em todo o mundo, ressaltando o que demógrafos e economistas reconhecem cada vez mais: o problema que a humanidade enfrenta não é a hiperpopulação, mas sim a subpopulação.

Esse fato contradiz frontalmente a narrativa que dominou a última metade do século XX. Em 1968, o livro The Population Bomb [“A Bomba Populacional”], de Paul Ehrlich, tornou-se um best-seller. Ele previa uma carestia devastadora, o esgotamento dos recursos e o colapso social devido ao crescimento populacional descontrolado. Essas profecias sombrias moldaram as políticas públicas e a cultura durante décadas, inspirando tanto as campanhas agressivas de esterilização como a infame política chinesa do filho único. No entanto, hoje, as previsões de Ehrlich foram completamente refutadas pela realidade. Longe de enfrentar uma explosão populacional, o mundo está caminhando para um declínio populacional.

O empresário Elon Musk.

Um colapso global da fertilidade. — Dados da ONU e dos governos nacionais confirmam o que Musk tem dito: as taxas de natalidade estão caindo em todos os lugares. Na maioria das nações ocidentais, para manter uma população estável, o país deve ter cerca de 2,1 filhos por mulher — a chamada “taxa de reposição”. Porém, muitos países estão bem abaixo desse limite. A taxa de fertilidade no Japão oscila em torno de 1,3, gerando receios de uma “bomba demográfica”. 

A Alemanha e grande parte da Europa Ocidental confrontam-se com números semelhantes, enquanto países da Europa Oriental, como a Lituânia, sofrem quedas populacionais ainda mais acentuadas. A China, que durante muito tempo aplicou a sua política do filho único com eficiência brutal, abandonou-a completamente e está tentando incentivar as famílias a ter mais filhos. Numa medida dramática, a Rússia ofereceu aos cidadãos o equivalente a 7.600 dólares por cada criança recém-nascida. 

Em 2022, as taxas de natalidade nos Estados Unidos atingiram um mínimo histórico. Os especialistas argumentam que, para uma estabilidade econômica a longo prazo, os Estados Unidos precisam de cerca de 2,2 filhos por família, mas a realidade está mais próxima de 1,6. Em 2020, cerca de metade dos estados americanos registrou mais óbitos do que nascimentos — uma estatística preocupante indicando que o problema não é hipotético; antes, já é uma realidade.

Musk alertou diversas vezes: “Se as pessoas não tiverem mais filhos, a civilização entrará em colapso. Anotem o que estou dizendo”. Sua previsão sombria se baseia não apenas em realidades econômicas — menos trabalhadores sustentando mais aposentados, declínio da inovação e redução da base de consumidores —, mas também em realidades culturais e espirituais.

A voz equilibrada da Igreja. — A Igreja Católica — frequentemente acusada de apegar-se a ensinamentos “arcaicos” sobre família e sexualidade — oferece uma resposta equilibrada e singular à crise. Ao contrário das caricaturas que se fazem dela, a Igreja nunca ordenou às famílias que tivessem “tantos filhos quanto humanamente possível”. Em vez disso, ela ensina a abertura à vida — uma abertura alicerçada no amor, na confiança e na cooperação com o plano de Deus.

João Paulo II durante Missa ao ar livre no “Yankee Stadium”, Nova Iorque, 1979.

São João Paulo II, na Carta às Famílias de 1994, lembrou ao mundo que as tendências demográficas refletem mais do que aspectos econômicos: “O futuro da humanidade passa pela família. Por isso, é indispensável e urgente que todos… se empenhem em garantir que a instituição da família seja salvaguardada e promovida.”

Em outras palavras, a queda nas taxas de natalidade não se resume simplesmente à diminuição do número de trabalhadores na força de trabalho. Ela revela uma crise de esperança, de amor e de cultura. As crianças não são vistas como bênçãos, mas como fardos. A formação das famílias é adiada ou totalmente abandonada por medo de inconveniências, despesas ou perda de liberdade pessoal.

Os santos e o chamado à vida. — Há muito tempo os santos dão testemunho da alegria e frutuosidade da abertura à vida. Santa Catarina de Sena, mãe espiritual (embora não biológica), disse a famosa frase: “Sê quem Deus quer que tu sejas e hás de incendiar o mundo.”

Para a maioria dos casais, essa vocação inclui criar filhos — não como uma escolha de estilo de vida, mas como uma participação no amor criativo de Deus. Da mesma forma, o Papa Francisco criticou o que chamou de “inverno demográfico”, que aflige muitas nações, lamentando pelas sociedades que “fecham as portas à vida” e comparando-as a lugares “desprovidos de esperança”.

O Papa Bento XVI também relacionou esse declínio demográfico a correntes culturais mais profundas, observando: “A verdadeira resposta ao declínio dos nascimentos reside numa apreciação renovada da família e do significado da vida” (Discurso aos prefeitos italianos, 2006).

O caminho a ser trilhado. — Enquanto os governos se esforçam por oferecer subsídios e incentivos para aumentar a natalidade, a Igreja Católica nos lembra que o problema não é apenas financeiro, mas também espiritual. As pessoas não vão querer ter famílias numerosas — ou mesmo famílias de tamanho modesto — se não tiverem uma visão da vida como dom e missão. Não precisamos apenas de incentivos fiscais, mas de uma renovação cultural, que valorize a vida familiar; veja os filhos como bênçãos e não como encargos; e confie na providência de Deus.

Apesar de Elon Musk não comungar dos fundamentos teológicos da Igreja, os seus alertas apontam para a mesma realidade. Uma civilização que deixa de ter filhos escolheu não ter futuro. Nas palavras de São João Paulo II: “Uma sociedade será julgada com base na forma como trata os seus membros mais fracos; e entre os mais vulneráveis estão certamente os nascituros e as crianças, que são a esperança do futuro”. A crise de fertilidade não está ligada apenas a uma questão econômica, mas também a um problema moral e espiritual. E aqui, como tantas vezes, a sabedoria perene da Igreja Católica se mostra oportuna e atemporal: precisamos ser abertos à vida, confiar em Deus e redescobrir a alegria da família.

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