Está acontecendo neste exato momento, na Nicarágua, o que já aconteceu no passado, e ainda acontece com todo e qualquer país governado por um regime socialista: a Igreja Católica está sendo duramente perseguida.
Segundo o jornal Gazeta do Povo, “os católicos da Nicarágua sofreram mais de 190 ataques e profanações” nos últimos quatro anos, incluindo “um incêndio na Catedral de Manágua, capital do país localizado na América Central, prisões de padres, fechamento de emissoras de rádio e canais de televisão católicos, além da expulsão de 16 freiras missionárias da ordem [fundada por] Madre Teresa de Calcutá”.
A prisão do bispo de Matagalpa Dom Rolando Álvarez, no último dia 19 de agosto, é uma das últimas notícias que nos chegam, coroando a série de desmandos de Daniel Ortega. Com o prelado foram detidos padres, seminaristas e leigos que desde 4 de agosto eram mantidos em cárcere privado na casa episcopal. Segundo o presidente socialista da Nicarágua, a Igreja estaria tramando um “golpe” contra ele. Daí a sua reação antecipada, como uma espécie de “legítima defesa” de seu governo. (Legítima defesa contra homens e mulheres pacíficos, cujas únicas armas são as espirituais, diga-se de passagem.)
Mas, permitam-nos voltar à linha com que começamos: é assim em todos os lugares onde impera o socialismo. As coisas se desenrolam como n’O Processo, de Franz Kafka. Um dia de manhã alguém é detido “dentro de sua própria moradia”, vítima de “um processo sem sentido” e sem que tenha feito mal algum. Mandado de prisão não existe e, quando se pergunta aos carcereiros qual a acusação que enseja um ato tão arbitrário, a resposta é tão arbitrária quanto: “Não posso lhe dizer que o senhor está sendo acusado, ou melhor, nem mesmo sei se o senhor está sendo acusado. O senhor está detido, isso é certo, mas mais do que isso eu não sei”.
Assim aconteceu também na Romênia, em meados do século passado, no que ficou conhecido como Experimento Pitesti. (Pitesti é a cidade romena onde o “experimento” aconteceu.) A ideia do Partido Comunista Romeno era “reeducar” presos políticos e religiosos, para que eles se tornassem absolutamente leais ao regime vermelho. A forma de recrutar prisioneiros era exatamente como as apresentadas acima:
Meu nome é Tertulian Langa, e 82 são os anos de minha vida que não voltarei a ver. Destes, dezesseis foram passados nas prisões comunistas.
Aos 24 anos de idade, em 1946, eu era um jovem professor assistente na faculdade de filosofia da Universidade de Bucareste. As tropas russas haviam ocupado quase um terço da Romênia, e recebi a sugestão, como membro da faculdade, de me filiar urgentemente ao sindicato dos professores, manipulado pelo Partido Comunista [...].
Eu já conhecia a posição firme do Magistério da Igreja Católica contra o comunismo, definido por ela como intrinsecamente mau. Portanto, não havia lugar em minha consciência para uma acomodação. Renunciei à minha carreira universitária e retirei-me para o campo como trabalhador agrícola, mas isso não foi suficiente, pois eu já era conhecido na faculdade como católico militante e anticomunista. Um dossiê acusatório foi rapidamente improvisado contra mim, e como as acusações se fundavam em circunstâncias ainda não criminalizadas pelo Código Penal (relações com bispos e a nunciatura, apostolado leigo), meu dossiê foi juntado ao dos grandes empresários. Após interrogatórios acompanhados de um tratamento atroz, o procurador declarou, com perfeita lógica comunista: “Não há nenhuma prova de culpa do acusado no dossiê, mas pedimos no entanto a pena máxima: quinze anos de trabalhos forçados. Afinal de contas, se ele não fosse culpado, não estaria aqui”. Protestei: “Mas vocês não podem me condenar sem provas!” E ele: “Não podemos? Eis como podemos: vinte anos de trabalhos forçados por ter protestado contra a justiça do povo”. E esta foi a sentença.
O escritor americano Rod Dreher (autor de “A Opção Beneditina”) também conta um pouco dessa experiência romena em um livro recente, cujos excertos ele reproduziu em seu site (aos leitores de estômago fraco, recomendamos que não prossigam):
A Romênia que as tropas soviéticas ocuparam no final da Segunda Guerra Mundial era um país profundamente religioso. Depois que os stalinistas romenos tomaram o poder e implantaram sua ditadura, em 1947, teve início uma das perseguições anticristãs mais cruéis da história do comunismo soviético.
De 1949 a 1951, o Estado conduziu o Experimento Pitesti. A prisão de Pitesti foi estabelecida como uma fábrica de reengenharia da alma humana. Seus carcereiros submetiam os prisioneiros políticos, inclusive o clero, a métodos insanos de tortura para destruí-los por completo psicologicamente e transformá-los em cidadãos totalmente obedientes à República Popular.
Richard Wurmbrand, preso desde 1948 até ser libertado para o exílio no Ocidente em 1964, foi prisioneiro em Pitesti. Em 1966, em testemunho perante uma comissão do Senado dos EUA, Wurmbrand falou de como os comunistas quebravam ossos, usavam ferros quentes e praticavam todo tipo de tortura física. Eles também eram espiritual e psicologicamente sádicos, quase além do imaginável.
Wurmbrand contou a história de um jovem cristão prisioneiro em Pitesti, que ficou amarrado a uma cruz durante dias. Duas vezes por dia, a cruz com o homem era deitada no chão, e uma centena de outros reclusos eram forçados pelos guardas a urinar e defecar sobre ele.
Então a cruz era novamente erguida e os comunistas blasfemavam e zombavam: “Olhai para o vosso Cristo, olhai para o vosso Cristo! Como ele é belo! Adorai-o, ajoelhai-vos diante dele! Como ele cheira bem, o vosso Cristo!” Chegou então o domingo de manhã e um padre católico, conhecido meu, foi algemado, posto na sujeira de uma cela com 100 prisioneiros, e deram-lhe dois pratos, um com excrementos e outro com urina, e ele foi obrigado a dizer a santa missa sobre estes elementos. Ele o fez.
Wurmbrand perguntou ao padre como ele podia consentir em cometer tal sacrilégio. O padre católico estava “meio fora de si”, recordou Wurmbrand, e implorou a ele que tivesse misericórdia. Todos os outros prisioneiros foram espancados até aceitar esta comunhão profana, enquanto os guardas comunistas os ridicularizavam.
Evidentemente, esse mesmo tratamento não era dispensado a todos os encarcerados de Pitesti. Havia gente tratada de forma ainda pior. Esperamos publicar dentro dos próximos dias alguns desses relatos, mas o que consta acima é o suficiente para ilustrar o que tem de enfrentar a Igreja nos países onde penetrou o socialismo — seja por vias “democráticas”, seja por vias revolucionárias. O que a mídia internacional anuncia não é nem 1% do que as vítimas do comunismo realmente enfrentam no silêncio dos cárceres e no frio das celas do regime.
Por isso, rezemos pela Nicarágua e por todas as nações que padecem sob esse flagelo. E que Deus nos livre de experimentos como o de Pitesti. Deus nos livre dos experimentos socialistas.
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