Dom Charles Chaput, Arcebispo da Filadélfia, fez um ardente discurso a respeito dos problemas que o mundo ocidental tem de enfrentar e encorajou os católicos empenhados na reconstrução da cultura a casar-se, ter filhos e educá-los na fé. Em discurso no Instituto Napa, d. Chaput lamentou a atual crise dos Estados Unidos.
"A natureza e o ritmo das mudanças culturais hoje em dia não têm precedentes", observou. "Elas ocorrem de maneira extraordinariamente rápida. E seguem em passo acelerado." Tais mudanças são verdadeiras "transformações — no âmbito de nossa filosofia legal, de nossa moral sexual, de nossa demografia, filosofia da educação, economia e tecnologia", disse.
"A pílula contraceptiva e a cisão entre sexo e procriação modificaram o sentido fundamental da sexualidade", disse d. Chaput. E o ativismo a favor do "casamento" homossexual passou a exigir não só aceitação, mas também aprovação, disse. "O ativismo homossexual alimenta-se agora de uma paixão moral pelos direitos gay e pelo reconhecimento da sociedade", advertiu. "De um ponto de vista bíblico, trata-se de um paixão profundamente viciada. Os argumentos a favor da liberdade religiosa e da liberdade sexual baseiam-se em duas concepções diferentes do homem e do sentido de nossa sexualidade. Mas uma paixão moral, ainda que esteja errada, é sempre poderosa."
"É por isso que as concessões a uma aparente igualdade gay já não são o bastante", continuou, ao observar que o principal ativista e financiador do movimento LGBT, Tim Gill, afirmou recentemente querer "punir" aqueles que discordam.
D. Chaput elogiou ainda a Becket Law (antigo "Fundo Becket para a Liberdade Religiosa") e a Alliance Defending Freedom ("Aliança de Defesa da Liberdade"), dos Estados Unidos, por seus trabalhos de proteção ao direito de objeção de consciência.
"A influência da Bíblia na sociedade americana é muito menor do que era no início. E a nossa percepção moral de quem somos e do sentido de nossas vidas encontra-se muito mais fragmentada", disse d. Chaput. "A única maneira de criarmos vida nova em nossa cultura é vivermos alegre e fecundamente, como indivíduos orientados por convicções maiores do que nós mesmos e compartilhadas por pessoas que conhecemos e amamos. Trata-se de um caminho ao mesmo tempo muito simples e muito árduo. Mas é o único caminho para uma mudança efetiva."
E continuou:
Quando jovens me perguntam como transformar o mundo, digo-lhes que se amem uns aos outros, que se casem, permaneçam fiéis, tenham muitos filhos e os eduquem para ser homens e mulheres de caráter cristão. A fé é uma semente. Ela não floresce da noite para o dia. Precisa de tempo, amor e dedicação. O dinheiro é importante, mas não é nunca o mais importante. O futuro pertence às pessoas que têm filhos, não coisas. As coisas quebram e se enferrujam. Mas toda criança é um universo de possibilidades que alcança a eternidade, unindo nossas memórias e esperanças, como um sinal do amor de Deus ao longo das gerações. É isto o que importa. A alma de uma criança existirá para sempre.
Se você quer saber como será o rosto da Europa daqui a cem anos, a não ser por um milagre, olhe para o rosto dos jovens imigrantes muçulmanos. O Islã tem futuro porque acredita nas crianças. Sem uma fé transcendente que faça a vida valer a pena, não há nenhuma razão para ter filhos. E onde não há filhos, não há imaginação, não há motivo para sacrificar-se e não há futuro. Pelo menos seis dos líderes nacionais europeus mais velhos não têm filhos. O mundo deles se encerra com eles. É difícil evitar a sensação de que boa parte da Europa, ou já está morta, ou está morrendo sem dar-se conta disso.
D. Chaput citou também as palavras do Cardeal Robert Sarah em seu novo e elogiado livro, A Força do Silêncio.
"Deus renova o mundo ao renovar primeiro cada pessoa, preciosa e imortal, no silêncio de sua alma", disse ele. "Deus não está ausente do mundo. Somos nós que tornamos impossível escutá-lo. Por isso, o primeiro desafio da vida cristã hoje em dia é desconectar-se, é fomentar o silêncio que nos permite ouvir a voz de Deus e abrir espaço para aquela conversa a que chamamos oração.
D. Chaput disse que a internet pode tornar-se "uma fonte de isolamento". "O espírito humano começa a morrer de fome pouco a pouco" quando confiamos apenas na tecnologia, disse. "Usamos nossas ferramentas, mas elas também nos usam. Elas moldam o nosso modo de pensar, de agir e de ver o mundo. O homem tecnológico vê o mundo, não como um dom de Deus — com a sua própria finalidade e sentido, para ser guardado e administrado —, mas como um conjunto de coisas mortas a serem organizadas e utilizadas."
Uma tal atitude "acaba por difundir a maneira com que tratamos o meio ambiente, os outros seres vivos, as pessoas, a nós mesmos e os nossos próprios corpos."
"Nós não vemos todos os efeitos do bem que praticamos nesta vida", concluiu d. Chaput, lembrando-se de como um amigo viu certa vez um bordado que, de perto, não passava de uma "centena de nós feios e emaranhados num caos de formas confusas e sem sentido". Na verdade, era o Tapiz do Apocalipse de São João, uma conhecida obra de arte europeia. "É uma das mais belas e surpreendentes expressões da civilização medieval e uma das maiores realizações do patrimônio artístico europeu", disse d. Chaput. "Grande parte do que fazemos parece um emaranhado de frustrações e fracassos. Não vemos — deste lado do bordado — o padrão de sentido que sobre ele tece a nossa fé."
"Um dia, porém, nós veremos tudo do outro lado", disse. "E naquele dia, enxergaremos a beleza que Deus permitiu-nos acrescentar à grande história da criação, a revelação do seu amor que perpassa geração após geração, não importa o quão bons ou maus sejam os tempos. E é por isto que a nossa vida tem importância."
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