Após a vitória de Macron na França, um amigo me convida a refletir sobre um fato de não pequena importância: trata-se de um governante sem filhos — de mais um governante europeu sem filhos —, assim como a alemã Angela Merkel, assim como a britânica Theresa May, assim como o holandês Mark Rutte, assim como o italiano Paolo Gentiloni, assim como o sueco Stefan Löfven, assim como o luxemburgûes Xavier Bettel, assim como muitos outros mandatários europeus, incluído o nobilíssimo Jean-Claude Juncker.

Poder chamar com plena propriedade a todas estas personagens uma récua de mulas nos causa, por certo, uma enorme satisfação; mas, além disso, resulta ser muito inquietante que os governantes europeus sejam em sua maioria "filhos sem filhos". Não parece insignificante que os encarregados de velar pelo futuro da Europa e assegurar o porvir de nossos filhos sejam pessoas que decidiram permanecer estéreis.

O pensamento político clássico, ao explicar as obrigações do príncipe com respeito aos súditos, comparava-as com as de um pai com respeito aos filhos. O príncipe estava obrigado a zelar pelos súditos com a mesma diligência exigida de um pai de família, defendendo-os ao ponto de derramar o próprio sangue; e os súditos, por sua vez, estavam obrigados a prestar-lhe a obediência afetuosa e leal que um bom filho deve a seu pai.

A Família Real no Palácio de Buckingham (1913), de John Lavery.

Este cuidado amoroso que o príncipe devia a seus súditos encontrava sua melhor escola na própria instituição monárquica, que não à toa se fundamentava na continuidade familiar. Sempre que o príncipe tinha um filho, seus súditos celebravam o acontecimento com alvoroço, pois, além de garantir um sucessor, assegurava o porvir dos filhos de seus súditos, aos quais não faltaria um outro príncipe que os protegesse.

Ora, os governos do nosso tempo já não se baseiam na continuidade familiar; no entanto, que os governantes tenham ou não filhos não é uma questão ociosa. Como escrevia o cronista Juan de Lucena, em louvor a Isabel, a Católica: "Em tudo o que os reis façam, seja bom ou mau, procuramos imitá-los. Quando jogava o rei, tínhamos todos o vício do jogo; agora, como estuda a rainha, tornamo-nos todos estudiosos".

Com efeito, em meio ao inverno demográfico que vem assolando a Europa, seria alentador que os europeus pudessem olhar no espelho de alguns governantes que, com seu exemplo, convidam à procriação.

Há algo de muito grave ocorrendo quando um continente que atravessa a etapa mais próspera de sua história, que dispõe de meios para combater doenças e prolongar a vida, que parece ter-se livrado da ameaça das guerras, pragas e catástrofes que, em outras épocas, dizimaram sua população, nega-se, apesar de tudo, a gerar descendência.

Algo muito grave está acontecendo quando cada vez mais europeus se recusam a criar uma nova geração (ao mesmo tempo em que clamam farisaicamente contra a invasão muçulmana) e, não satisfeitos com isso, elegem governantes que os ratificam nesta decisão suicida.

A Europa tornou-se vítima do que Solzhenitsyn chamava uma "sanha de automutilação": o umbiguismo consumista, o egoísmo parasitário, o tédio vital de um continente que se afoga na náusea de sua própria esterilidade mereciam, de fato, que os governasse esta récua de mulas. E poderíamos perguntar-nos também, à luz do pensamento político clássico, se os "filhos sem filhos" são mesmo os mais idôneos para assumir tarefas do governo, para oferecer seu cuidado amoroso e lutar pelo futuro de nossos filhos.

A Europa não apenas carece de recursos morais para manter sua civilização; ela nem sequer possui governantes que a estimulem a prolongar sua existência. Talvez tenha chegado a hora de fechar a banca e esperar que cheguem os bárbaros.

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