O que têm em comum os líderes de Alemanha, França, Itália e Inglaterra, as quatro maiores potências econômicas da Europa? O que une Angela Merkel, Emmanuel Macron, Paolo Gentiloni e Theresa May?

Muitas coisas, sem dúvida, mas os quatro compartilham uma peculiaridade bastante significativa: nenhum deles tem filhos biológicos. A eles somam-se ainda o sueco Stefan Löfven e o primeiro-ministro holandês Mark Rutte.

A coincidência é extraordinária, especialmente com a onda de crise demográfica que vive a Europa, seguida de um envelhecimento acelerado da população. A pergunta é se, em igualdade de condições, importa ou não que os governantes das nações não sejam pais. Nós sabemos bem que, de acordo com a linha de pensamento oficial (politicamente correta), chamar a atenção para essa particularidade é ser "machista", "heteronormativo" e "odioso" — e a patrulha habitual sempre procura dissuadir-nos de notar o anômalo.

Por outro lado, não poucas pessoas fazem notar que o fato de não terem família permite a nossos representantes centrar-se mais intensamente nos assuntos públicos, sem preocupações alheias que os distraiam e sem as tentações de nepotismo que normalmente supõe uma descendência numerosa.

Nas redes sociais, porém, onde ainda subsistem (talvez não por muito tempo) pessoas que fogem da férrea ortodoxia que amordaça o jornalismo "de prestígio", alguém assinalou que não ter descendência supõe um menor interesse pessoal na posteridade — uma análise que me pareceu, também, bastante razoável.

Assim também pensa o filósofo alemão Rüdiger Safranski. "Para aqueles que não têm filhos, pensar em termos de gerações futuras é irrelevante", ele escreve. "É por isso que essas pessoas se comportam e se vêem cada vez mais como se fossem os últimos, como se estivessem situados no final da cadeia humana". E, se há uma mentalidade que agrava hoje todos os nossos problemas ao ponto de torná-los quase insolúveis, é essa mentalidade concentrada no curto prazo.

Quase tudo que aparentemente nos sobrevém como uma enchente ameaçando soterrar-nos é consequência do fato de as pessoas não pensarem mais além dos próximos poucos anos que virão. O próprio sistema de mandatos eleitorais, constantes de 4 e 5 anos, incentiva nos políticos, cuja meta primordial é exercer o poder e manter-se nele, a urgência de "tapar buracos" e, sobretudo, de evitar todo e qualquer sacrifício que, ainda que seja aconselhável para o futuro, possa traduzir-se, no horizonte imediato, em uma derrota eleitoral. Cite-se o que quiser: a falência programada da Previdência Social e do Estado de bem-estar social, de modo geral; a imigração massiva com o risco certo de substituição cultural e conflitos que vão muito além do mais trabalhoso de todos, que é o terrorismo; a desaceleração da inovação e criação de novas empresas (um trabalho que costumam empreender mais os jovens que os de idade avançada) etc.

O fato é que a cultura do imediato, mesmo que reforçada pelos mecanismos desse sistema, está absolutamente instalada em nossa mentalidade. E em nada se faz tão evidente esse suicídio gradual como no fato de não nos reproduzirmos. Não há sequer um país de peso no Ocidente que tenha filhos acima do nível de substituição — o mínimo para que se mantenha uma população, sem crescer nem diminuir — e, na imensa maioria dos casos, as nações se movem em médias das quais, advertem os demógrafos, nenhuma civilização na história conseguiu recuperar-se jamais.

A infertilidade dos líderes não passa, portanto, de um reflexo dos ventres da Europa. Se Merkel não tem filhos, 30% das mulheres alemãs tampouco os têm, e o número chega a 40%, no caso das que se graduaram nas universidades. O caso na Alemanha é de tal modo alarmante que a Ministra da Defesa, Úrsula von der Leyen, declarou recentemente que, a menos que as alemãs mudem essa tendência e comecem a gerar filhos, o país está prestes a "apagar as luzes".

Talvez, porém, o caso mais significativo e de maior atualidade seja o do recém-nomeado presidente da República Francesa, Emmanuel Macron. Aquilo que tanto alarma os franceses, e que levou Marine Le Pen ao segundo turno das eleições presidenciais, nomeadamente a islamização da França, não tira minimamente o sono do novo presidente. Mas Macron não precisa temer que seus descendentes vivam em uma França muçulmana, já que ele não deixa nenhum.

Sim, em meio a este vazio demográfico, é evidente quem herdará o continente europeu, e definitivamente não são os mesmos cujos valores o construíram. Os muçulmanos entendem muito melhor que nós como se ganha o jogo da história: o líder turco Erdogan animou recentemente os seus compatriotas na Alemanha a terem "cinco filhos" e os clérigos islâmicos não deixam de urgir os seus fiéis a que façam o mesmo.

O choque cultural que negam nossos líderes irresponsáveis é para os líderes muçulmanos uma razão chave para se prepararem com a melhor arma que se conhece (e de que eles já dispõem): a população.

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