Você sabia que a instituição que conhecemos pelo nome de hospital foi inventada exclusivamente pela Igreja Católica?
Bem, ela foi. O mundo antigo tinha todos os componentes materiais necessários para uma instituição desse tipo. Tinha profissionais da medicina e pessoas doentes. Tinha uma tradição centenária de ciência e tecnologia médicas. Mesmo assim, não conseguiu reunir tudo aquilo para criar um hospital. Não era possível tornar rentável um empreendimento desse tipo; portanto, não havia um motivo convincente para mantê-lo em funcionamento durante uma epidemia.
Em vez do hospital, os antigos tinham médicos independentes, que se deslocavam de um lugar para outro como caixeiros-viajantes — geralmente fugindo de seu fracasso mais recente. Transmitiam seus conhecimentos entre os familiares (como se fossem segredos comerciais) e jamais arriscavam divulgá-los em público.
Os pagãos tinham a medicina; o que não tinham é caridade, como passou a expressar-se em hospital-idade, a virtude que deu nome à instituição de saúde.
Foram os cristãos que inventaram o hospital, e fizeram-no para responder a uma necessidade real e urgente — numa época de pandemia.
Em meados do século III, o mundo de repente se viu subjugado por uma epidemia. Os estudiosos não sabem ao certo se a doença era varíola ou gripe. Alguns dizem que era ebola. Independentemente de qual tenha sido o vírus, ele rapidamente atingiu o grau de pandemia — e assim permaneceu por treze anos. Naquela época, a população do império diminuiu 30%, e houve um declínio proporcional em todos os setores da economia, sem falar nos militares.
A prática do cristianismo era ilegal. Na verdade, era um crime capital, punido com mais severidade durante a epidemia. Por quê? Porque os romanos tradicionais atribuíam sua má sorte à recusa dos cristãos em sacrificar aos deuses.
Naquela época, um bispo chamado Cipriano governava a igreja na África do Norte. Ele fora um importante procurador na cidade de Cartago, tendo-se tornado célebre por seu trabalho nas cortes. E ele, até que enfim, pôde utilizar toda a sua colossal inteligência para lidar com os problemas da Igreja em sua época.
Cipriano convocou seu rebanho para atuar com caridade heroica durante a epidemia, insistindo em que os médicos cristãos tinham o dever de cuidar não apenas de seus irmãos na fé, mas também de seus semelhantes pagãos — as mesmas pessoas que estavam tentando matá-los.
Cipriano exortou assim seus fiéis: “Não há nada de extraordinário em cuidar apenas do nosso próprio povo. (...) Também deveríamos amar os nossos inimigos. (...) O bem deveria ser feito a todos, não apenas aos irmãos na fé”.
E dessa exortação de um bispo surgiu a assistência médica tal como a conhecemos. O maior especialista em história dos hospitais, Dr. Gary Ferngren, afirmou esse ponto de modo enfático em sua recente pesquisa pela Universidade Johns Hopkins:
O hospital foi, em sua origem e concepção, uma instituição tipicamente cristã, enraizada nos conceitos cristãos de caridade e filantropia. No mundo antigo, não houve nenhuma instituição pré-cristã que servisse ao propósito para o qual os hospitais cristãos foram criados (...). Nenhum dos serviços de assistência médica no período clássico (...) se pareciam com hospitais.
Esse não foi um fenômeno local. Temos testemunhos semelhantes de Alexandria no Egito e em outros lugares. O grande sociólogo Rodney Stark observou que a Igreja Católica cresceu durante esse período num ritmo constante de 40% a cada década, e acredita que esse crescimento deveu-se, pelo menos em parte, ao seu profundo e inédito testemunho de caridade.
Esse padrão manifestou-se com ainda mais clareza no século seguinte, durante a epidemia de 312. Até aquele momento, havia muitos cristãos em todas as grandes cidades. Portanto, seu empenho era mais eficaz, amplo e visível. Eusébio, que foi testemunha disso, relata que os cristãos “reuniam o grande número de pessoas que haviam sido reduzidas a espantalhos em toda a cidade e distribuíam pães a todas elas”.
Mais uma vez, Gary Ferngren afirma de modo enfático que “o único cuidado com os doentes e moribundos durante a epidemia de 312-13 foi oferecido pelas igrejas cristãs”. E acrescenta: “Nenhuma assistência caritativa de qualquer tipo, pública ou privada, existia além da cristã, porque não havia bases religiosas, filosóficas ou sociais para isso”.
As epidemias estavam entre os grandes terrores do mundo antigo. Médicos eram capazes de identificar as doenças, mas não sabiam como impedir a disseminação delas. Medicamentos antibióticos e antivirais ainda eram parte de um futuro distante.
Então, quando uma epidemia atingia uma cidade, os médicos eram os primeiros a abandoná-la. Eles conheciam os sintomas por causa de seus manuais, sabiam o que estava por vir e sabiam que não havia nada que pudessem fazer para deter o horror inevitável.
Os cristãos também não podiam acabar com as epidemias. Mas podiam arriscar suas vidas para servir canja de galinha aos doentes (e de fato o faziam). Podiam criar um lugar limpo e bem iluminado onde os doentes pudessem descansar (e de fato o faziam). E como resultado, alguns daqueles doentes se recuperavam e se tornavam cristãos.
Com o tempo, aquelas instituições cristãs estáveis — aqueles hospitais — tornaram-se verdadeiros locais de pesquisa médica. Somente neles os profissionais da medicina podiam ganhar experiência juntos, comparar anotações abertamente e progredir.
Muitas vezes escutamos as pessoas afirmarem que ao longo da história a Igreja travou uma “guerra contra a ciência” ou “contra as mulheres”. Isso é um erro inequívoco, e a história do hospital explica por quê. Muitos dos pioneiros da área foram mulheres — por exemplo, Fabíola em Roma e Olímpia em Constantinopla. Elas mudaram a sociedade de um modo que as mulheres pagãs não podiam. A Igreja criou possibilidades que eram impossíveis na antiguidade clássica.
Portanto, deveríamos agradecer aos nossos predecessores na fé por podermos combater a pandemia deste ano por meio da medicina. E talvez possamos perguntar que maravilhas Deus realizará por meio das circunstâncias atuais.
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