A luz dos povos de que fala o Concílio Vaticano II só pode ser Jesus, porque somente Ele é capaz de iluminar as consciências humanas, trazendo-as de volta para a sua finalidade última: o encontro com Deus. A tarefa de todo cristão, por conseguinte, consiste em fazer com que essa luz "brilhe diante dos homens", a fim de que "vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus" (Cf. Mt 5, 16).
A fé cristã constitui o grande baluarte da civilização. É com base em sua doutrina que se evidencia a identidade do ser humano, principalmente no que diz respeito à vida, à família e à educação; os três princípios inegociáveis da dignidade humana que formam, por assim dizer, o "caminho para a consecução do bem comum e da paz"[1]. Foi precisamente a defesa desses princípios, além, é óbvio, do enraizamento no coração da Igreja - que fez com que os homens extraíssem dos sacramentos a graça necessária para o combate às misérias deste mundo - o alvorecer da cristandade, tida pelo historiador Daniel-Rops como "talvez o período mais rico, mais fecundo e, sob muitos aspectos, mais harmonioso de todos"[2].
Em que pese o esforço irrepreensível dos cristãos ao longo desses dois milênios de história - às vezes até entregando suas vidas em nome da verdade última que é a salvação eterna -, deve-se salientar, em contrapartida, que no cerne de todo esse progresso encontra-se uma profunda esperança na providência divina. Deus é o Senhor da história, o princípio e o fim. Com efeito, a batalha cotidiana do cristianismo alinha-se ao mistério do homem que semeia de manhã e dorme à noite - como na parábola evangélica -, não ao juízo cego de quem, crendo nas ideologias, faz de si mesmo o estandarte da própria glória e, por conseguinte, da própria condenação. Uma vez que "a razão essencial para o sucesso da missão cristã não vem de fora mas de dentro, não é obra do semeador e nem sequer principalmente do solo, mas da semente"[3], por mais adversidades que existam em seu caminho, o autêntico cristão nunca desfalecerá pois reconhece-se apenas como "um pobre e humilde servo da vinha do Senhor". É d'Ele a última palavra.
Neste sentido, a vitória dos pró-vida sobre a cultura da morte no Brasil - sepultando, na tarde desta terça-feira, 17/12, as ameaças à vida contidas no Código Penal, o totalitarismo gay do PLC 122 e a ideologia de gênero do Plano Nacional de Educação - deve ser entendida, em primeiro lugar, como uma salutar bênção de Deus. Infelizmente, não é segredo para ninguém a miséria moral na qual o Estado brasileiro encontra-se mergulhado. Há muito que este país não honra sua altíssima vocação para "Terra de Santa Cruz", de sorte que se os ovos da serpente ainda não foram chocados é porque Deus não o permitiu. Urge, portanto, uma retomada dos valores cristãos, tornando-os mais claros e arraigados na consciência da sociedade, pois "quem deseja a paz não pode tolerar atentados e crimes contra a vida"[4].
A esperança cristã é o motor que move verdadeiramente o coração do homem. E embora a confiança em Deus apareça com frequência, aos olhos do mundo, como coisa própria de alienados ou de pessoas fora da realidade, a verdade é que "já nesta vida - e não só na outra - se darão conta de serem filhos de Deus e que, desde o início e para sempre, Deus está totalmente solidário com eles."[5] A filiação divina é o fundamento da vida cristã. Os cristãos trabalham mesmo sem perspectiva humana de sucesso porque sabem que são filhos de Deus e que, por isso, nenhum mal lhes perturbará. E é assim que, na Santa Missa, o sacerdote pode suplicar em nome de toda a comunidade para que Deus não olhe o seu pecado, "mas a fé que anima vossa Igreja". Sendo ela o próprio Corpo de Cristo, a continuação histórica do mistério da encarnação neste mundo, faz-se fácil entender aquelas palavras de Bento XVI no início de seu pontificado: "Quem crê, nunca está sozinho nem na vida nem na morte"[6]. Ao lado da Igreja militante está a Igreja triunfante no céu que, com suas preces e intercessões, auxilia os peregrinos desta época no combate à carne, ao mundo e ao diabo.
Certamente, a luta contra a cultura da morte não se encerra com essas três batalhas vencidas. O mal nunca descansa. Mas como conforto, a Igreja tem como seu aliado Aquele a qual todas as coisas estão submetidas no Céu e na Terra. Deus proverá!
O que achou desse conteúdo?