São Sabas nasceu na Capadócia, no distrito de Cesareia. Com apenas cinco anos de idade, foi entregue aos cuidados de seu tio Hermes, porque seus pais foram obrigados a ausentar-se de casa por muito tempo. Depois de alguns anos, Sabas, desiludido com o mundo, no qual não via senão egoísmo e avareza, entrou num mosteiro, onde, por dez anos, serviu com grande zelo ao Senhor. 

Transcorrido esse tempo, foi a Jerusalém, com a permissão de seu superior, para visitar os lugares santos e os claustros dos eremitas da Palestina. Naquela época, o mais célebre era o mosteiro do qual Santo Eutímio era superior. Sabas, desejando atingir o mais elevado grau de perfeição espiritual, implorou para ser recebido nele, e seu anseio foi atendido. Sua conduta enquanto lá viveu foi tão exemplar, que serviu de modelo para todos os outros religiosos. Era o primeiro e o mais fervoroso nas orações; o mais laborioso no trabalho; o mais diligente na obediência; o mais severo no castigo do corpo e o mais edificante em todas as ações.

Por fim, seu superior enviou-o para Alexandria, onde residiam seus pais. Mas quando o santo percebeu que eles pretendiam mantê-lo por lá, fugiu às escondidas e voltou para o mosteiro. Contudo, pouco tempo depois, deixou-o mais uma vez e retirou-se em uma caverna isolada, onde viveu por cinco anos em uma austeridade ainda maior do que antes. Inspirado por Deus, que o escolhera como mestre de tantos outros, escolheu então outro local isolado, onde viveu com vários outros homens que desejavam viver sob a sua orientação. 

Por intermédio de pessoas generosas, Deus enviou-lhe uma quantia enorme de dinheiro, permitindo-lhe construir um grande mosteiro que, em pouco tempo, foi ocupado por 150 monges. Mal terminara a construção desse mosteiro, viu-se obrigado a construir outro, ao qual se seguiram mais cinco, tal a rapidez com que aumentava o número de seus discípulos. Os milagres por ele operados com o auxílio divino, bem como a vida de santidade que levava, espalharam sua fama por toda a cristandade. Por isso, quando o Imperador Anastácio perseguiu de forma bárbara os católicos do Oriente, o patriarca de Jerusalém pediu ao nosso santo abade que fosse até Constantinopla, acompanhado de alguns piedosos eremitas, e se esforçasse por impedir que o imperador cometesse mais crueldades. 

Ícone medieval de São Sabas. No entorno, outros santos monges de seu monastério.

Sabas, mesmo tendo já setenta anos, empreendeu com alegria a fatigante viagem. Quando chegou a Constantinopla, entrou na sala imperial e Anastácio viu um anjo luminoso caminhando à frente do santo. Estupefato, levantou-se depressa de seu trono e, indo ao encontro de Sabas, recebeu-o com toda a cortesia, ouviu-o com o máximo respeito e concedeu-lhe tudo o que pedia. 

Naquele tempo, a cidade sofria uma terrível carestia e muitas doenças contagiosas, mas, apesar disso, os habitantes eram miseravelmente oprimidos com novos impostos. Compadecendo-se deles, Sabas expôs ao imperador a miséria generalizada e exortou-o a abolir os novos impostos. O imperador atendeu imediatamente ao pedido, mas Marino, o tesoureiro-mor, resistiu e aconselhou o rei a não alterar as leis. O santo ameaçou Marino, dizendo que receberia um castigo divino caso se recusasse a abandonar o mau conselho. Marino não deu ouvidos à ameaça e não tardou a experimentar a ira de Deus. Com efeito, o povo oprimido revoltou-se, atacou sua casa e incendiou-a. Sem dúvida, se não tivesse conseguido fugir, teria perdido a vida.

Esse acontecimento fez o imperador desistir de seu intento, e São Sabas tornou-se tão amado pelos habitantes da cidade, que estes lhe prestaram todas as honras possíveis, como a seu maior benfeitor. Para evitar essa situação, o santo homem saiu às pressas da cidade e chegou em segurança ao seu lugar solitário, onde continuou a praticar boas obras até completar 89 anos de vida, quando, a pedido do patriarca de Jerusalém, fez uma segunda viagem a Constantinopla. 

Sua missão era pedir a ajuda do imperador contra os samaritanos que haviam invadido a Palestina e estavam perseguindo os cristãos. O Imperador Justiniano, que ouvira falar muito da santidade de São Sabas, pediu ao patriarca da cidade que levasse o abade ao palácio. Quando o santo entrou, o imperador viu uma coroa brilhante em sua cabeça e, levantando-se para recebê-lo, abraçou-o muito calorosamente e não só lhe prometeu toda a ajuda necessária, como também expediu de imediato as ordens necessárias aos oficiais imperiais na Palestina. 

Durante a audiência, o relógio soou às três horas, momento em que São Sabas costumava recitar uma parte de suas orações diárias. Retirou-se então para rezar e, quando lhe informaram que não era conveniente sair logo naquele momento em que o imperador atendia a uma petição sua, ele respondeu: “O imperador faz o seu dever, e eu faço o meu”

Atendidos todos os seus pedidos, o santo voltou para Jerusalém, e de lá para a sua amada solidão, onde, com o passar dos anos, cresceu em santidade. Em 531, aos 92 anos de idade, concluiu sua vida santa com uma morte feliz. Os muitos milagres realizados por sua intercessão foram a prova da bem-aventurança que ele começara a gozar no Céu.

Considerações práticas

A vida inteira deste santo foi um exercício constante de boas obras, e o mesmo podemos dizer de muitos outros. Para que você compreenda isso e siga o exemplo de São Sabas, é preciso saber que há duas espécies de boas obras: primeiro, as obras determinadas por Deus ou pela Igreja; segundo, as que não são expressamente determinadas, mas recomendadas como muito agradáveis ao Senhor.

Os santos sempre se esforçaram não apenas por realizar as boas ações explicitamente prescritas, mas também as que não o são. Todos os bons cristãos precisam fazer o mesmo. Devem servir o Senhor, não como escravos, mas como filhos. Um escravo não faz nada além do que lhe é exigido, e isso apenas por medo de punição. Um filho afetuoso, por sua vez, faz não só o que o pai manda, mas também o que sabe que é agradável a ele, mesmo não tendo recebido uma ordem expressa, porque ama o pai. Pois quem ama faz tudo o que sabe ser agradável ao amado. 

Assim agiu nosso divino Senhor para com seu Pai celestial, como Ele mesmo diz: “Porque faço sempre o que é do seu agrado” (Jo 9, 29). Assim também agiam os santos, que se esforçavam por ser verdadeiros filhos de Deus. Por isso vemos em suas vidas tantos jejuns e abstinências voluntárias, longas orações noturnas, visitas frequentes às igrejas, leitura de livros piedosos, prática de diversas penitências, renúncia às diversões em si mesmas não pecaminosas, abandono de todos os bens temporais, fuga para conventos e desertos, mortificação contínua no comer, beber, dormir, falar, ver, ouvir, e a aceitação do calor e do frio. 

Os santos sempre se esforçaram não apenas por realizar as boas ações explicitamente prescritas, mas também as que não o são. Todos os bons cristãos precisam fazer o mesmo. Devem servir o Senhor, não como escravos, mas como filhos. Um escravo não faz nada além do que lhe é exigido, e isso apenas por medo de punição. Um filho afetuoso, por sua vez, faz não só o que o pai manda, mas também o que sabe que é agradável a ele, mesmo não tendo recebido uma ordem expressa, porque ama o pai. Pois quem ama faz tudo o que sabe ser agradável ao amado. 

Assim agiu nosso divino Senhor para com seu Pai celestial, como Ele mesmo diz: “Porque faço sempre o que é do seu agrado” (Jo 9, 29). Assim também agiam os santos, que se esforçavam por ser verdadeiros filhos de Deus. Por isso vemos em suas vidas tantos jejuns e abstinências voluntárias, longas orações noturnas, visitas frequentes às igrejas, leitura de livros piedosos, prática de diversas penitências, renúncia às diversões em si mesmas não pecaminosas, abandono de todos os bens temporais, fuga para conventos e desertos, mortificação contínua no comer, beber, dormir, falar, ver, ouvir, e a aceitação do calor e do frio. 

Se você quiser ser um verdadeiro filho de Deus, siga a Cristo e seus santos. Antes de tudo, pratique as boas obras prescritas, e também aquelas que, mesmo não obrigatórias, são agradáveis a Deus. Você tem oportunidades diárias de fazer isso. Faça uso delas. Tome hoje a mesma resolução que o santo Rei Davi, que praticou voluntariamente muitas boas obras. Por exemplo, durante o dia, ele rezava sete vezes; levantava-se de madrugada para louvar o Senhor; todos os dias chorava amargamente os seus pecados; jejuava com toda a austeridade; vestia um cilício e abstinha-se de refrescar-se com um pouco de água quando sentia muita sede. “Eu te oferecerei um sacrifício voluntário” (Sl 53, 8). Essa foi sua resolução, cumprida com fidelidade. “Eu te oferecerei sacrifícios espontâneos e louvarei o teu nome.” Que esta seja também a sua resolução.

Referências

  • Extraído, traduzido e adaptado passim de: Lives of the saints: compiled from authentic sources with a practical instruction on the life of each saint, for every day in the year, v. 2. New York: P. O’Shea, 1876, p. 690ss.

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