A fim de preparar você para “A Divina Eucaristia e seus Milagres”, o mais novo curso de nosso site (cujas inscrições já estão abertas e cujo lançamento acontece dia 9 de novembro), deixamos a seguir dois breves relatos — retirados do excelente livro Eucharistic Miracles [1] — contando os extensos e milagrosos períodos de jejum eucarístico que experimentaram dois santos católicos: Catarina de Siena e Nicolau de Flüe.

Quando Nosso Senhor disse, no Evangelho de São João, que quem comesse de sua carne dada em alimento não mais sentiria fome, Ele estava se referindo à nutrição da alma, a um sustento espiritual. Mas para estes santos medievais, dos séculos XIV e XV respectivamente, o Santíssimo Sacramento foi muito mais. Por uma ação maravilhosa da graça de Deus, a própria vida natural deles era mantida pela Eucaristia. 

Diga-se de passagem que não foram eles os únicos a viver assim, se alimentando somente do pão eucarístico, por tão longo tempo. Mais próximas de nós — e ainda em processo de canonização —, passaram pela mesma experiência a Beata Ana Catarina Emmerich († 1824) e a mística Teresa Neumann († 1962), alemãs, bem como a portuguesa Beata Alexandrina de Balasar († 1955):

Em nosso Brasil, merece honrosa menção a Serva de Deus Floripes Dornelas de Jesus (ou, simplesmente, Lola, como era chamada), que morreu em 1999, na cidade de Rio Pomba (MG), e ficou famosa por viver cerca de 60 anos de sua vida alimentando-se apenas de Jesus sacramentado.

Olhando para esses homens e mulheres, verdadeiros milagres de carne e osso, aprendamos a reconhecer e valorizar o milagre que se dá todos os dias na Santa Missa.


O jejum de Santa Catarina de Siena

O jejum de Santa Catarina de Siena († 1380) foi registrado por ninguém menos que um de seus confessores, o Beato Raimundo de Cápua. Na biografia que escreveu de Santa Catarina, ele informa-nos que, após ter uma visão de Nosso Senhor, o alimento material não era mais necessário à santa:

Quando era obrigada a tomar comida, ela ficava tão incomodada que o alimento não permanecia em seu estômago e era impossível descrever suas dores atrozes em tais ocasiões.

No início do jejum, o confessor que na época a assistiu ordenou-lhe que comesse diariamente, mas depois de um tempo a santa lhe perguntou:

Se vês, pelas numerosas experiências de que tens sido testemunha, que estou me matando por tomar o alimento, por que não me proíbes, como me proibirias de jejuar, se o jejum produzisse um resultado semelhante?

Conta-nos o Beato Raimundo que o confessor não conseguiu responder a este argumento e disse a ela: “Doravante, age de acordo com as inspirações do Espírito Santo, pois percebo que Deus está realizando maravilhas em ti” .

Algum tempo depois, quando seu confessor perguntou se ela não tinha apetite, a santa respondeu: “Deus me satisfaz tanto na Santa Eucaristia que é impossível desejar qualquer espécie de sustento corporal”. Ao perguntar se ela não sentia fome nos dias em que não comungava, a santa respondeu: “Só a presença dele é capaz de me saciar, e reconheço que, para ser feliz, basta-me ver um padre que acaba de rezar a Missa”.

Quando o jejum de Santa Catarina se tornou conhecido, muitos a criticaram, e até pessoas religiosas se lhe opuseram. Alguns atribuíram o jejum a “um tipo de vaidade, [diziam] que ela não jejuava realmente, mas se alimentava bem às escondidas”. Outros diziam que ela desejava aparecer e que estava sendo enganada por um demônio. Escreve seu biógrafo:

Catarina estava disposta a apaziguar os murmúrios, e decidiu que todos os dias ela iria ao menos uma vez se sentar à mesa em comum e se esforçar para comer. Embora ela não comesse carne, nem vinho, nem bebida, nem ovos, e nem mesmo tocasse no pão, o que ela tomava — ou melhor, o que ela tentava tomar — causava-lhe tantos sofrimentos que os que a viam, por mais duros que fossem, compadeciam-se dela: seu estômago não conseguia digerir, e rejeitava qualquer coisa que ela ingeria; depois ela sofreu dores terríveis e todo o seu corpo parecia estar inchado; ela não engoliu as ervas que mascou, apenas bebeu de seu suco e rejeitou a sua substância. Ela então tomava água pura para refrescar a boca, mas todos dias era forçada a colocar para fora o que tinha ingerido, e com tanta dificuldade que era necessário ajudá-la de todas as formas possíveis.

O bem-aventurado Raimundo acrescenta: “Como eu testemunhava com frequência esses sofrimentos, senti uma compaixão extrema dela, e aconselhei-a a deixar as pessoas falarem, e a parar com aquela tortura...”

O jejum de São Nicolau de Flüe

O caso de São Nicolau de Flüe, na Suíça, em 1487, é interessante e bem documentado. Nicolau era filho de camponeses e, para uma criança, muito piedoso e progredido espiritualmente. Aos 21 anos ingressou no exército e participou de quatro grandes batalhas.

Seguindo o conselho de seus pais, casou-se aos 25 anos e tornou-se pai de dez crianças. Depois de 25 anos de casados, obteve o consentimento de sua esposa para deixar sua família e viver como eremita. Estabeleceu-se em um vale a apenas uma hora de caminhada de sua casa. Conhecido por lá como Irmão Klaus, viveu na região por 20 anos, até a hora de sua morte, sem ingerir qualquer alimento corporal ou bebida.

Um ano depois da morte de São Nicolau, o padre Oswald Isner, cura de Kerns, revelou que, quando o santo começou sua vida de abstinência total e atingiu o 11.º dia:

Mandou me chamar e perguntou-me privadamente se devia comer algo ou continuar a abster-se. Ele queria viver totalmente sem comida para afastar-se do mundo. Eu toquei seus membros e encontrei apenas pele e osso; toda a carne tinha morrido, suas bochechas estavam ocas, e seus lábios espantosamente magros. Eu disse a ele para perseverar enquanto pudesse, sem colocar sua vida em risco. Porque se Deus o tinha sustentado por 11 dias, Ele poderia sustentá-lo por 11 anos. Nicolau seguiu meu conselho; e daquele momento até o dia da sua morte, por um período de 20 anos e meio, ele não tomou nenhum tipo de comida ou bebida. Como estava mais familiarizado comigo do que com qualquer outra pessoa, eu sempre falava com ele sobre o assunto. Ele me dizia que recebia o sacramento uma vez por mês e sentia que o Corpo e o Sangue de Cristo comunicavam as forças vitais que lhe serviam de comida e bebida; caso contrário, ele não poderia sobreviver sem alimento.

Para testar a autenticidade do completo jejum do santo, o bispo de Ascalon fixou residência numa cela adjacente para observá-lo. Após muitos dias, o bispo mandou Nicolau comer um pãozinho e beber um pouco de vinho. Mas a agonia do santo, após obedecer à ordem, foi tão grande que o bispo não o pressionou mais, e declarou que a obediência de Nicolau provava que ele era um “filho da graça”.

O Arquiduque Sigismundo da Áustria enviou o médico real, Burchard von Horneck, para examinar o caso. Até o Imperador Frederico III enviou delegados para investigar a matéria. Ambos comprovaram ser autêntico o jejum do santo.

Referências

  1. Joan Carroll Cruz, Eucharistic Miracles and Eucharistic Phenomena in the Lives of the Saints. Charlotte: TAN Books, 2010, pp. 234-237.

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