O autor da Carta aos Hebreus concebe a fé como "substância das coisas que se esperam; prova das coisas que não se veem" (11, 1). É uma definição que destoa muito das formulações modernas, tendentes a olhar para a fé como para um ato irracional, meramente subjetivo, fruto do sentimentalismo ou das instabilidades humanas – ou mesmo para um mero ato da vontade, sem alteração concreta em nossa vida ou transformação efetiva das realidades sociais.
Ao contrário, Santo Tomás de Aquino, confirmando as palavras da Escritura, explica que "o começo das coisas que esperamos está em nós pelo assentimento de fé, que encerra em sua substância todas as coisas esperadas. Esperamos, de fato, ser felizes pela visão imediata da verdade, à qual nós aderimos agora pela fé" (Summa Theologiae, II-IIae., q. 4, a. 1). O Papa Bento XVI, comentando este ensinamento do Doutor Angélico, afirma, em sua encíclica Spe Salvi, que "a fé não é só uma inclinação da pessoa para realidades que hão de vir, mas estão ainda totalmente ausentes; ela dá-nos algo".
A fé dá-nos algo. A esperança de fruir das coisas que não se veem "derrama-se" na história, diz o Papa. O maior exemplo disto é o testemunho de fidelidade dos mártires e a coragem incansável dos missionários, que não pouparam - e não poupam - esforços para atravessar grandes porções de terra e cumprir o mandato de Cristo: anunciar a Palavra a todos os povos (cf. Mt 28, 19). Eles são fortificados pela fé que não esmorece e pela esperança que não decepciona: a estrutura de suas vidas é completamente modificada pelo Evangelho, a ponto de, por ele, não temerem derramar seu próprio sangue ou renunciar a todos os confortos de uma vida abastada.
Neste sentido, a relação que se estabelece entre a esperança cristã e a nossa vida é precisamente o contrário do que pensava Karl Marx. Para este, a "superestrutura" – as ideias e princípios morais que regem a sociedade – seria apenas uma invenção para legitimar condições socioeconômicas injustas – o que ele chamou de "infraestrutura". Daqui a relativização da verdade - que seria concebida unicamente para enganar ou, para usar um termo marxista, "alienar" as pessoas - e a crítica à religião como sendo "o ópio do povo". Ao contrário, Bento XVI indica que, na vida dos cristãos, o alicerce é a fé e esta, por sua vez, modifica total e profundamente sua existência. "A fé confere à vida uma nova base, um novo fundamento, sobre o qual o homem pode se apoiar, e, consequentemente, o fundamento habitual, ou seja, a confiança na riqueza material, relativiza-se".
Para quem crê em Jesus e está incorporado na Igreja, o materialismo histórico não é só uma resposta insuficiente, mas também profundamente falsa. Se fosse verdadeiro, toda a história do Cristianismo, com seus apóstolos, mártires e santos, não faria sentido algum. E a nossa fé e esperança seriam vãs.
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