“Conduza sua família na vida de oração”: partindo de uma experiência recente, posso dizer que essas palavras têm o poder de virar do avesso o mundo de um pai.
Esse desafio foi apresentado a um grupo do apostolado Fraternus, no ano passado. Como escutamos com frequência que o pai é o líder espiritual no lar, alguém poderia pensar que esse é um dos requisitos mais fáceis (jejum e penitências também eram exigidos); mas, a julgar pelas expressões de perplexidade e pelas contorções nas poltronas, a mesma pessoa poderia ter pensado que se havia pedido daqueles homens o sacrifício de seu primogênito. Perguntas do tipo: “Como faço isso?”, “Como funciona isso?” e “Como posso convencer minha família a me seguir?” circularam pelo ambiente. Foi atingido o coração de um problema com raízes profundas. Talvez muitos pais de família que estão lendo este artigo também tenham se contorcido um pouco.
Depois de uma discussão e de uma reflexão detalhadas, creio que podemos assinalar alguns motivos por que esse desafio foi recebido com tanta hesitação, mesmo entre aquele grupo de homens espiritualmente maduros, e o que ele nos diz sobre a liderança dos pais no lar.
— Em primeiro lugar, o ato de conduzir a oração em família exige vulnerabilidade.
Muitas vezes, os homens tratam a oração que é feita em comum como uma tarefa feminina: senhoras de idade piedosas que ficam o dia inteiro na igreja com seus rosários, bíblias com páginas amassadas e livros de oração gastos. Os homens não deveriam mostrar abertamente sua dependência do Pai celestial, demonstrar publicamente a necessidade de ser perdoados ou de pedir conselho e direcionamento. — Nós cuidamos do peixe frito e do transporte até a Missa, além de nos apresentarmos como voluntários para diversas obras de caridade. Que as mulheres cuidem da oração e que os homens façam as outras coisas!
No entanto, a oração é para aqueles que dependem de Deus na fé, na esperança e na caridade. Deixamos de rezar porque dependemos de nós mesmos no orgulho, no egoísmo e na vaidade. Precisamos de Deus; sem Ele, estamos condenados e, no final das contas, tornamo-nos vazios. Podemos coordenar e organizar mil eventos para a Igreja e ignorar a verdade da fé o tempo todo. Precisamos da oração não porque seja algo que nos preenche de forma vaga ou porque simplesmente faça parte de nossas atividades corriqueiras, mas porque temos necessidade dela, no sentido mais verdadeiro da palavra. Deus não precisa de nossas orações; elas não acrescentam nada ao que Ele é. Nós precisamos de Deus, pois sem Ele nos falta algo. Nós precisamos da oração.
E nós, pais, também precisamos rezar em público. Essas ações públicas mostram à nossa família como rezar; dizem a ela que nós, que muitas vezes somos a autoridade em muitos assuntos, submetemos nossa própria vida a Alguém que está acima de nós. Na verdade, conduzir nossa família na oração é uma das responsabilidades fundamentais da paternidade. Jesus Cristo nos ensinou como devemos rezar, dando-nos o Pai-Nosso como exemplo perfeito de oração. Observemos como o Pai-Nosso mostra a dependência em relação a Deus: “Pai nosso, que estais nos céus; santificado seja o vosso nome; venha a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu; o pão nosso de cada dia nos dai hoje” (essa parte expressa a nossa dependência do Pai celestial); “perdoai-nos as nossas ofensas assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” (essa parte demonstra publicamente a necessidade do perdão); “não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal” (aqui pedimos conselho e direcionamento).
— A oração exige, em segundo lugar, que um pai realmente lhe determine um período específico. Isso exige que ele dirija e lidere outras pessoas para que também determinem um período específico para a oração. Não é uma tarefa fácil num lar onde todos vivem juntos, mas fazem poucas coisas juntos. Requer-se uma mudança cultural. Dito de modo simples: a liderança exige trabalho. Quando todos estão em caminhos diferentes, quando raramente ocorre a simples atividade de uma oração em família e quando o tempo livre é gasto com algum dispositivo, a unidade familiar é bastante afetada. A oração impõe a reunificação no lar.
A missão do pai é cultivada no lar por meio da realização de coisas difíceis como o estabelecimento da ordem, da disciplina e de uma estrutura. Exige que nós nos envolvamos com a vida familiar em vez de sermos observadores casuais. A Sagrada Escritura diz: “Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão? E, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente?” (Mt 7, 9s). Quando não interagimos em nosso lar e não exercemos liderança nele, permitimos que outra pessoa ou outra coisa guie nossa família, talvez dando àqueles que amamos pedras para comer ou serpentes para brincar.
Nós, pais, estamos sendo desafiados agora mesmo a exercer liderança — se não o fizermos, entregaremos nossa família ao mundo. Temos de começar pela recuperação da prática da oração em família. Deixe de lado os controles de videogame, desligue os smartphones, pare de ficar obcecado com esportes, renuncie à pornografia e pare de abdicar ao seu direito de liderar.
Permita-me reafirmar isso de uma forma mais positiva. Para começar, talvez tenhamos de nos tornar mais presentes antes de abraçar a causa da oração. Erga sua cabeça e olhe para sua bela esposa. Apaixone-se novamente. Interaja com seus filhos. Brinque com eles. Faça refeições em família e converse sobre seu dia. Conte histórias de sua juventude e ria alto de seu passado. Então, e só então, quando tiver reconquistado a confiança deles — quando tiver conquistado o direito a ser escutado e tiver demonstrado suas vulnerabilidades —, poderá pedir que o acompanhem na oração diária. Naquela ocasião, liderar sua família na vida de oração não lhe parecerá algo tão assustador ou estranho; será o próximo passo lógico nisto que chamamos de paternidade.
— É preciso começar, enfim, pelas coisas simples. Estabeleça um horário regular e se comprometa com ele. Talvez aquelas senhoras idosas saibam de algo importante! Se você for fiel ao plano que traçou, sua família gradualmente começará a mudar e seu lugar no lar se tornará mais claro, não por estar fazendo algo certo, mas porque Deus foi convidado para, como rezamos na Missa, “ordenar na sua paz os nossos dias” [1].
Então, o que aconteceu com esse grupo de homens (contando comigo)? Desafiamos uns aos outros, responsabilizamo-nos uns pelos outros e amamos uns aos outros. Noite após noite, tornamo-nos cada vez mais conscientes da função paterna de conduzir a vida de oração. Nossas famílias começaram a confiar em nós, a nos escutar e acompanhar na oração.
Sim, às vezes nós falhamos. A vida se interpõe e caímos nos maus hábitos.
Mas podemos perseverar pela graça, e nossas famílias melhoraram graças a isso.
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