À medida que eu crescia, estava confiante de que minha vocação era para a vida religiosa. Quando adolescente e jovem adulta, visitei vários conventos e conversei com muitas, muitas irmãs religiosas. Com o tempo, Deus revelou meu chamado para o casamento, mas aqueles primeiros encontros com o estilo de vida monástico abriram meus olhos para sua riqueza, profundidade e beleza sublimes.
Embora o casamento e a vida religiosa sejam vocações bem diferentes em muitos aspectos, existem várias práticas amplamente características do monasticismo que um casal pode incorporar na vida familiar. Aqui estão algumas das práticas que se mostraram frutosas (e possíveis!) em meu casamento.
Defina um cronograma. — A vida monástica está alicerçada e centrada na Liturgia das Horas. Com seus dias dependendo das Laudes, pela manhã, e das Vésperas, à noite, todas as outras orações e trabalhos religiosos inserem-se em seus lugares apropriados.
Ter uma programação compartilhada — com horários para oração, refeições em família, trabalho e recreação — pode dar uma ordem revigorante ao dia da família também. Certo grau de flexibilidade aqui, em nossa vocação leiga, é bom e até necessário. Mas ter uma programação pode nos ajudar a viver de modo consciente e a priorizar as coisas que são realmente importantes em nossos dias.
Meu marido e eu tentamos manter nossas rotinas em sincronia, levantando de manhã e indo para a cama à noite juntos. Uma pedra angular em nossos dias são os 30 minutos ou mais, todas as noites, nos quais fazemos as nossas leituras diárias e rezamos juntos o Rosário. Em muitos fins de semana, tentamos fazer algo ao ar livre e em família, como uma caminhada ou um passeio de bicicleta. Ter essa estrutura em comum oferece o benefício adicional de nos levar para o mesmo cômodo de nossa casa várias vezes ao dia. A conversa e a conexão são fáceis quando ambos estamos escovando os dentes, na expectativa da hora de dormir, ou pondo a mesa, antes de uma refeição em comum!
Rezem juntos e sozinhos. — Uma das coisas que mais me surpreendeu sobre a oração pós-casamento é o quanto ela, como tudo na minha vida, tornou-se uma atividade “nossa” em vez de uma atividade “minha”. Rezar juntos, como casal, é a chave para um casamento saudável. Entretanto, reservar um tempo para ficar a sós com Deus também é indispensável.
Mesmo nas comunidades religiosas, cujos membros passam tanto tempo em oração comunitária, muitas vezes ainda há certas devoções que são praticadas individualmente. Em algumas comunidades, esta devoção é o Rosário diário; em outras, é a Via-Sacra. Espera-se que os membros reservem um tempo para suas orações pessoais e se esforcem por praticar essa devoção de uma maneira e em uma hora do dia que considerem particularmente adequadas. Enquanto uma religiosa pode preferir rezar o Rosário durante uma caminhada pelo jardim, outra pode descobrir que rezar sozinha, em sua cela ou na capela, atrai sua mente e coração mais plenamente a Deus.
Da mesma forma, maridos e esposas não precisam ter medo de cultivar seu relacionamento pessoal com Deus da maneira que considerarem individualmente frutuosa. Tudo bem se essas maneiras forem diferentes entre os cônjuges!
Eu acho que rezar com os Salmos orienta meu coração mais apropriadamente a Deus, então me esforço por rezar as Laudes todas as manhãs. Meu marido gosta de refletir sobre a vida e o coração de seu santo padroeiro, São José, enquanto trabalha e se sacrifica para sustentar nossa família. Embora essas sejam devoções que buscamos individualmente, em geral podemos dizer quando o outro não tem rezado bem! Nossos relacionamentos pessoais com Deus realmente afetam todos os aspectos de nossa vida em comum.
Observe os conselhos evangélicos. — Pobreza, castidade e obediência têm seu lugar no casamento. Embora os casais não sejam obrigados, por profissão pública, a seguir esses conselhos em sua plenitude como fazem muitos religiosos, a observância dos conselhos evangélicos de maneira adequada à vocação matrimonial é, no entanto, um excelente meio pelo qual os cônjuges podem crescer e imitar mais plenamente a Cristo.
A maneira como um casal vive os conselhos evangélicos é muito diferente da maneira como um religioso o faz. No entanto, em seu esforço por amar com pureza, os esposos encontram um modelo na castidade de Cristo. Reconhecendo que tudo o que recebem vem de Deus e que não devemos ser apegados, mas dar com generosidade, eles imitam sua pobreza. Ao buscar seguir a vontade de Deus em todas as coisas, eles se recordam de sua obediência.
Mantenha o silêncio. — Muitas comunidades religiosas observam um “grande silêncio” após as Completas, a última oração comunitária do dia. O silêncio se estende até as Matinas, a primeira oração comunitária da manhã seguinte [N.T.: esta hora canônica antiga deu lugar ao atual Ofício das Leituras]. Como o próprio nome sugere, não é permitido falar na comunidade durante essas horas da noite — é um momento para o religioso descansar, a sós, com Deus.
Uma versão muito reduzida do grande silêncio também pode ser praticada no casamento. Meu marido e eu descobrimos que dedicar um tempo, cerca de uma hora, à noite, a uma interação livre de eletrônicos, é extremamente benéfico para nosso relacionamento. Durante esse tempo, podemos rezar ou ler juntos, resolver um quebra-cabeça ou jogar um jogo, ou apenas conversar e trocar afetos. O importante é que este é um momento para simplesmente estarmos juntos, sem distrações externas. É a hora de nos reconectar, um com o outro e com Deus, antes de dormir.
Os cônjuges, certamente, não são chamados a observar todos os rigores e devoções características de um mosteiro. Como disse Santa Francisca Romana, ela mesma esposa e mãe: “Uma mulher casada, muitas vezes, deve deixar Deus no altar para encontrá-lo nos cuidados de casa”. Visto que o objetivo final da vivência de qualquer vocação é a união com Deus, no entanto, os casais podem buscar inspiração e encorajamento no estilo de vida monástico, enquanto procuram cultivar uma vida doméstica que honre a Deus e o torne conhecido pelo mundo.
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